 |
PRODUTORES
ENCONTRAM CAMINHOS SUSTENTÁVEIS NA
AMAZÔNIA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Abril de 2004
|
 |
A recuperação
de áreas degradadas é uma nova realidade
na Amazônia e também um dos caminhos
para resolver o problema da conservação
dos recursos naturais. De acordo com estudos científicos,
a Amazônia Legal brasileira já tem
cerca de 65 milhões de hectares desmatados
que poderiam ser otimizados e reincorporados ao
sistema produtivo com a adoção de
tecnologias alternativas ao uso do fogo e acessíveis
a pequenos, médios e grandes produtores.
A experiência tem mostrado que apenas as medidas
restritivas e o isolamento não são
capazes de conter a devastação da
floresta.
Algumas experiências bem sucedidas mostram
que a modernização dos sistemas de
produção reduzem a pressão
pelo desmatamento, que no período de 2002/2003
chegou a 23.1000km². No Acre, por exemplo,
25 pequenos produtores dos municípios de
Xapuri e Acrelândia investiram num programa
de pecuária sustentável.
Com o apoio da Embrapa Acre, empresa ligada ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
e diversas outras instituições públicas
e não governamentais, os produtores partiram
para o consórcio de capins e leguminosas
como o amendoim forrageiro e a puerária;
melhoramento genético; correção
do solo; manejo da área com uso de cerca
elétrica alimentada por energia solar e cuidados
com a sanidade animal. Resultado: há três
anos, eles não fazem uso do fogo e já
trabalham com a perspectiva de aumento da capacidade
de suporte das pastagens.
Aos poucos, os produtores estão percebendo
que nem sempre a derrubada e a queima são
as saídas mais eficientes. O fogo transforma
em fumaça nutrientes como nitrogênio,
potássio e fósforo e toneladas de
carbono são lançadas na atmosfera.
As queimadas constantes esgotam a capacidade da
terra e o produtor é obrigado a fazer novas
derrubadas num ciclo sem fim.
Esta tradição pode ser quebrada se
o produtor souber que existem alternativas como
a correção dos solos, enriquecimento
e proteção de sua camada fértil
com plantas leguminosas, técnicas de manejo,
recuperação de matas ciliares, uso
de sistemas de plantio direto
e controle biológico.
Projeto Reca
entra no mercado europeu
O Projeto Reca é
outro bom exemplo. Depois de anos padecendo com
a baixa produtividade da terra, as cerca de 300
famílias de Vila Extrema (RO) perceberam
que o padrão sulista de produção
era incompatível com o da Amazônia.
Uma das saídas foi o investimento em sistemas
agroflorestais onde se consorcia numa mesma área
diferentes culturas como pupunha, cupuaçu,
açaí, café e espécies
florestais. O domínio da técnica e
a organização levaram o Reca para
um processo agroindustrial de polpa de frutas e
palmito de pupunha, tornando a iniciativa uma referência
de peso na região. Hoje, as famílias
do Reca colocam seus produtos em vários estados
brasileiros e começam a exportar para o mercado
europeu através de negócios fechados
com a França.
Pecuaristas
plantam 50 mil árvores
Outra mudança
de perspectiva é o fato dos pecuaristas estarem
investindo no plantio de árvores, algo inimaginável
até há alguns anos. No Acre, mais
de 50 mil mudas de espécies florestais nativas
estão sendo cultivadas em diversas propriedades.
A iniciativa faz parte de um projeto de arborização
de pastagens (Arbopasto) incentivado pelo governo
do Estado do Acre, Embrapa Acre e Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
atendendo a uma demanda dos próprios produtores.
É que a os produtores observaram que a melhoria
genética do rebanho com sangue europeu exigia
algumas adaptações do gado em relação
ao clima tropical. Pesquisas mostraram que o sombreamento
nas horas mais quentes do dia reduz o estresse térmico
e aumenta a produtividade de leite e carne. Além
disso, as árvores enriquecem o ecossistema
das pastagens com a ciclagem de nutrientes e aumentam
a diversidade de fauna e flora. Num ambiente mais
rico, caem as incidências de pragas e doenças
e o produtor economiza recursos. De acordo com as
projeções, até 2006, os pastos
estarão comportando cerca de um milhão
de árvores, o que mudará completamente
a paisagem local.
Tipitamba
transforma capoeira em área produtiva sem
queima
Um dos grandes desafios
na recuperação de áreas já
abertas é lidar com capoeiras antigas com
mais de quatro anos. O processo regenerativo da
vegetação deixa como única
opção a queimada para incorporação
da área ao sistema produtivo. Com o apoio
do governo alemão, a Embrapa Amazônia
Ocidental (Belém/PA) desenvolveu um equipamento
capaz de triturar a capoeira, deixando o terreno
pronto para o plantio direto. O solo protegido pela
biomassa retém umidade e preserva nutrientes
e microorganismos importantes para sua fertilidade
e conservação.
Em Igarapé-Açu, norte do Pará,
uma comunidade de pequenos produtores é testemunha
dos resultados. A região era conhecida pela
alta produtividade de arroz, mas as queimadas sucessivas
esgotaram a terra e o arroz desapareceu. O Tipitamba
está revertendo este quadro e dos campos
já se colhem mandioca e feijão em
quantidades satisfatórias sem o uso das queimadas.
Fonte: Embrapa (www.embrapa.gov.br)
Assessoria de imprensa (Soraya Pereira)