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DIA NACIONAL
DA MATA ATLÂNTICA: NOVOS DADOS E PROJETOS
PELA CONSERVAÇÃO DO BIOMA
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2004
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Pacto
pela conservação da Mata Atlântica
Nordestina e Atlas dos Municípios da
Mata Atlântica são as mais recentes
iniciativas relacionadas ao bioma, que, apesar
de ser um dos mais ameaçados do planeta,
permanece sem uma lei para protegê-lo.
Em tramitação há 12 anos,
o projeto de lei da Mata Atlântica foi
aprovado na Câmara em dezembro no ano
passado, mas, desde então, está
travado no Senado. Movimento ambientalista
lança mais uma campanha, entre as inúmeras
já realizadas, de apelo aos parlamentares.
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Divulgado
na semana passada, o Mapa de Biomas do Brasil,
resultado de um termo de cooperação
entre o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) e o Ministério
do Meio Ambiente firmado em agosto de 2003,
aponta que a Mata Atlântica se estendia
originalmente por 1.110.182 km2, ou 13,04%
do país, e que ocupava inteiramente
o Espírito Santo, o Rio de Janeiro
e Santa Catarina, 98% do Paraná e parcialmente
outros 11 Estados. Hoje, reduzida a menos
de 10% desse total, resultado de diversos
ciclos econômicos predatórios
e concentração populacional
em sua extensão, é considerado
um dos biomas mais ameaçados do planeta,
segundo estudos da ONG Conservation Internacional.
Na manhã desta quarta-feira (26/5),
véspera do Dia Nacional da Mata Atlântica
(27/5), a Fundação SOS Mata
Atlântica, em parceria com o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), lança
o Atlas dos Municípios da Mata Atlântica.
O mais recente desdobramento do monitoramento
realizado há 15 anos pelas instituições
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apresenta a situação
do bioma em 2.815 municípios de Bahia, Minas
Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Espírito
Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, 10 dos 17 Estados
de ocorrência do bioma. Com mapeamento de
áreas a partir de 10 hectares, os dados,
disponíveis no site da instituição,
www.sosmatatlantica.org.br,
foram elaboradoras a partir da interpretação
de imagens dos satélites da série
Landsat, na escala 1:50.000.
De acordo com Márcia Hirota, diretora de
projetos da SOS Mata Atlântica, a expectativa
é que o Atlas dos Municípios não
sirva apenas ao monitoramento do bioma, mas seja
um instrumento de pressão da população
e de planejamento de gestores locais de políticas
públicas voltadas à proteção
da Mata Atlântica.
Para marcar a data, também há expectativa
de que seja anunciada amanhã a criação
do Parque Nacional do Vale do Itajaí, em
Santa Catarina, área de mais de 50 mil hectares,
um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica
ainda não protegidos. A criação
da UC de Proteção Integral foi originalmente
proposta ao Ministério do Meio Ambiente pelo
Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica em 2000. Ainda nesta quinta-feira,
será realizada a primeira reunião
do Grupo de Trabalho Mata Atlântica – criado
em novembro do ano passado para propor ações,
políticas e programas para a Mata Atlântica
-, quando deverão ser anunciados novos recursos
destinados à conservação do
bioma.
Ainda sem
uma lei para sua proteção e uso sustentável
O que não
deveria mais ser uma preocupação,
continua perturbando corações e mentes
do movimento ambientalista. Destacado pela ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, como prioritário
e aprovado pela Câmara dos Deputados em dezembro
do ano passado, o Projeto de Lei (PL) da Mata Atlântica,
que tramita há 12 anos, ainda não
foi aprovado pelo Senado.
A Fundação SOS Mata Atlântica
abriga em seu site uma nova campanha pela aprovação
do PL, direcionada aos senadores, desenvolvida em
parceria com a Rede de ONGs da Mata Atlântica
(RMA), que reúne 257 ONGs. O ato cidadão
exige apenas o preenchimento do nome e e-mail referendando
o apelo aos parlamentares.
“O PL foi amplamente discutido e negociado com todos
os setores interessados ao longo desses 12 anos.
O projeto que se encontra hoje no Senado tem caráter
suprapartidário, multi-setorial, de interesse
não apenas de ONGs e governo federal. Por
isso, não agrada totalmente nem aos ambientalistas,
nem a oposição, mas é resultado
de negociações, e as instituições
que integram a RMA mantêm os acordos estabelecidos.
Não sabemos o que está impedindo a
votação no Senado”, afirma Betsey
Neal, secretária-executiva da Rede de ONGs
da Mata Atlântica.
“Hoje, não existe uma política nacional
para a Mata Atlântica. O PL apresenta vários
avanços em relação ao Decreto
1000/93, que dispõe sobre o corte, a exploração
e a supressão do bioma. Traz uma visão
moderna de conservação e oferece alternativas
ao desenvolvimento sustentável, como um fundo
para contemplar projetos de conservação
e recuperação do bioma”, destacou.
Novas iniciativas
da sociedade civil
Apesar dessa lacuna,
não param de surgir iniciativas inovadoras
do movimento ambientalista pela conservação,
uso sustentável e, devido à gravidade
da degradação, pela recuperação
do bioma. Há uma semana, a Fundação
SOS Mata Atlântica, a Conservation Internacional
(CI), a WWF-Brasil, o Centro de Estudos e Pesquisas
Ambientais do Nordeste (CEPAN), a Sociedade Nordestina
de Ecologia (SNE), o Instituto Amigos da Reserva
da Biosfera da Mata Atlântica (IA-RBMA); a
The Nature Conservancy (TNC) e a Birdlife International
(BI) lançaram o Pacto Murici em prol da proteção
da biodiversidade da Mata Atlântica Nordestina,
área situada acima do Rio São Francisco,
que envolve remanescentes da Paraíba, Pernambuco
e Alagoas.
Segundo o ecólogo Marcelo Tabarelli, coordenador
da CEPAN, a Mata Atlântica Nordestina é
a mais degradada de todo o bioma. Reduzida a cerca
de 5% de sua área original (56 mil km2),
está distribuída em pequenos fragmentos
localizados em meio a grandes áreas de plantação
de cana-de-açúcar, próximos
a áreas urbanas. Além de ter sido
especialmente comprometido pelo ciclo da cana-de-açúcar,
a floresta restante está sendo atualmente
também impactada pela pecuária e,
em menor proporção, pela população
de baixa renda em busca de lenha e de caça
para subsistência.
Portanto, Tabarelli ressalta que os esforços
para salvar a floresta da região deverão
ser concentrados em parcerias com os proprietários
privados, particularmente com o setor sucroalcooleiro,
incluindo a reprodução regional de
iniciativas já realizadas pela CEPLAN e pela
Universidade Federal de Pernambuco, como o projeto
de manejo de recursos naturais na Usina Serra Grande,
localizada nos municípios de São José
da Laje e Ibateguara, em Alagoas. A usina abriga
aproximadamente 3.500 hectares de floresta, considerado
um dos maiores remanescentes da região.
Neste sentido, o trabalho conjunto das oito ONGs
prevê ainda ações para estimular
a criação de Reservas Particulares
de Patrimônio Natural (RPPNs), a implementação
de modelos de reflorestamento com nativas e projetos
de fixação de carbono, a promoção
de atividades econômicas sustentáveis
com comunidades rurais, entre outros.
A ações do pacto serão definidas
em junho, quando também deverá ser
formalizado um termo de cooperação
técnico-científico entre o Ibama e
o Cepan, para o desenvolvimento conjunto do desenho
do corredor de biodiversidade da Mata Atlântica
Nordestina.
Segundo Tababarelli, a região abriga 10 áreas
de extrema importância biológica e
conta com cerca de 50 Unidades de Conservação
(UCs), sendo que 40 delas estão na Região
Metropolitana do Recife e ainda não foram
implantadas.
Criada em 2001, a Estação Ecológica
de Murici, localizada a 50 quilômetros de
Maceió, com seis mil hectares, foi escolhida
pelas organizações doPacto Murici
como “Unidade de Conservação bandeira”.
Apesar de abrigar uma das maiores diversidades de
aves do bioma, local onde foram descoberta nas últimas
décadas quatro espécies – o limpa-folha-do-nordeste
(Philydor novaesi), o zidedê-do-nordeste (Terenura
sicki), a choquinha-de-Alagoas (Myrmotherula snowi)
e o cara-pintada (Phylloscartes ceciliae), a UC
ainda não possui um plano de manejo, conta
com apenas três funcionários do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) para fiscalizá-la
e não foram iniciadas as desapropriações
das propriedades situadas na área.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)
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