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MMA RESPONDE A CRÍTICAS
DA ASIBAMA SOBRE O PL DE GESTÃO DE
FLORESTAS PÚBLICAS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Março de 2005
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Para o diretor do
Programa Nacional de Florestas é preciso
garantir que o projeto de lei tenha um trâmite
rápido com toda discussão possível
"para não ficar parado por dez anos
como outros aí estão"
Entrevistado pela
equipe do Amazonia.org.br, o diretor do Programa
Nacional de Florestas (PNF) do Ministério
do Meio Ambiente (MMA), Tasso Azevedo, fez questão
de responder às críticas da Associação
dos Servidores do Ibama no Distrito Federal (Asibama)
ao Projeto de Lei 4.776/05 sobre Gestão de
Florestas Públicas. No início do mês,
a associação enviou carta aos parlamentares
pedindo a retirada do caráter de urgência
constitucional do PL e a realização
de audiências públicas para discussão
do projeto.
Segundo Azevedo: "A decisão [de solicitar
o regime de urgência] foi do presidente da
República. A urgência constitucional
é do Brasil, e não do ministério
do Meio Ambiente. É preciso garantir que
o projeto de lei possa ter um trâmite rápido
com toda discussão possível para não
ficar parado por dez anos como outros aí
estão. A sociedade quer resposta e o Congresso
quer tempo".
Confira abaixo as respostas do diretor do PNF às
críticas da Asibama:
Falta de discussão
com o Congresso e dentro do próprio governo
Com relação
às críticas quanto à suposta
falta de discussão, Azevedo afirma: "O
PL não é uma unanimidade, é
a construção de um consenso".
Segundo ele, as discussões sobre o projeto
tiveram início em dezembro de 2003 com a
participação de representantes de
ONGs, empresas, governos estaduais, academia, MMA
e o próprio Ibama. Em fevereiro de 2004 o
Ibama e o MMA realizaram seminário internacional
em Belém para discutir o projeto. Além
disso, foram organizadas consultas por grupos de
interesse, como ONGs, empresários e governos
estaduais, e realizados dois grandes estudos sobre
o que já havia sido feito no mundo em concessões
florestais e sobre o funcionamento de outros sistemas
de gestão de bens públicos no Brasil,
como os setores de petróleo e água.
A estrutura final foi aprovada na Comissão
Coordenadora do Programa Nacional de Florestas (Conaflor)
para então ser discutida internamente no
MMA, com a participação do Ibama.
Depois disso o anteprojeto foi para a Casa Civil
para ser discutido com outros ministérios.
Falta de Zoneamento
Ecológico-Econômico integrado
A Asibama afirma
também que falta um Zoneamento Ecológio-Econômico
(ZEE) integrado. O diretor do PNF rebate dizendo:
"Se não houver processo de zoneamento,
não podemos começar. Mas também
não podemos ficar esperando que o ZEE esteja
totalmente finalizado". O diretor explica ainda
que o Plano Anual de Outorga - plano que define
anualmente as áreas que poderão ser
objeto de concessão - deve estar, necessariamente,
de acordo com o processo do ZEE.
Hipotecar as florestas
brasileiras
Quanto à afirmação
de que o PL abre a "possibilidade de hipotecar
as florestas brasileiras", Azevedo diz que
esta é uma interpretação errônea
do projeto. Segundo o artigo 30, o ganhador da concessão
pode, ao realizar contratos bancários, oferecer
como garantia o serviço a ele cedido: "Por
exemplo, uma empresa que conseguiu o direito de
extrair mil metros cúbicos de madeira numa
área pode oferecer este direito como garantia.
Ninguém recebe o direito sobre a área
- não se trata de posse".
Regularização
de terras expropriadas
Segundo a associação
dos servidores do Ibama, o PL abre a "possibilidade
de que as concessões gerem a regularização
de terras públicas expropriadas por grileiros".
Azevedo afirma que o projeto regulamenta justamente
o contrário. "Até 2003 o Ibama
aprovava planos de manejo baseados em documentos
de posse. O artigo 75 do PL prevê a vistoria
destas áreas e o cancelamento dos planos
de manejo mal executados. Nas áreas em que
o manejo florestal ocorre de forma correta, o detentor
do plano de manejo atual tem a opção
de continuar o manejo até o resultado da
licitação através de assinatura
de contrato em que fica devedor do volume explorado
a partir de então, devendo posteriormente
pagar o valor decidido na licitação".
Fragmentação
de competências e mais despesas à União
Às críticas
de que o PL geraria a "fragmentação
de competências com criação
de um novo órgão, gerando mais burocracia
e despesas à União" e de que
se trata de uma "tentativa de dar super poderes
ao Ministério do Meio Ambiente, com a apropriação
de competências legais e regimentais do IBAMA",
Azevedo responde que caberá ao Sistema Florestal
Brasileiro: ser um órgão regulador,
uma competência nova; fomentar atividades
florestais, uma competência que já
é do MMA e, por último, gerir o Fundo
Nacional de Desenvolvimento Florestal, também
uma competência nova. "Nenhuma competência
foi tirada do Ibama. Esta afirmação
não é honesta. Por que criar o Sistema
Brasileiro de Florestas? Seria absurdo o órgão
que faz o contrato de concessão ser o mesmo
que licencia. O Ibama tem que ter independência
para licenciar".
De acordo com o diretor do PNF o orçamento
da diretoria de florestas do Ibama dobrou de 12
para 24 milhões de reais do ano passado para
este ano. Além disso, deve ser lançado
nesta semana um edital de contratação
de 900 técnicos para o Ibama, sendo 150 engenheiros
florestais. "A idéia é justamente
fortalecer o Ibama para que possa responder às
demandas geradas pelo sistema de concessões.
Com relação aos gastos do governo,
as estimativas do plano de negócios indicam
que o Sistema Florestal Brasileiro já seja
auto-suficiente por volta do 4º ou 5º
ano, gerando ainda recursos para o Ibama, estados
e municípios", afirma.
Modelo econômico
restrito à exploração florestal
Quanto à afirmação
de que o PL define um "modelo de desenvolvimento
econômico para a Amazônia restrito à
exploração florestal", Azevedo
diz que sua maior decepção foi saber
que o primeiro deputado procurado pela Asibama para
receber as críticas da associação
foi Ronaldo Caiado (PFL-GO), justamente um dos líderes
da bancada ruralista e fundador da UDR (União
Democrática Ruralista). "Ora, se o PL
é sobre gestão de florestas públicas,
tem que tratar de florestas e tem que tratar de
terras públicas", diz Azevedo.
Internacionalização
da Amazônia
Ainda segundo a associação
dos servidores do Ibama, o PL abre a "possibilidade
de internacionalização da Amazônia,
por meio de contratos de exploração
florestal, de até 60 anos, às grandes
corporações econômicas nacionais
e internacionais". Azevedo afirma que o PL
prevê justamente o contrário: "Hoje
qualquer empresa, nacional ou internacional, pode
comprar terras na Amazônia. Este projeto impede
que isso aconteça - ninguém terá
a posse da terra, apenas o direito ao manejo. A
terra permanece sob o controle do Brasil. Por isso
é que até o Ministério da Defesa
apóia o PL. O que pode ser salutar é
adicionar ao PL a restrição das concessões
a empresas brasileiras".
Fonte: Amazônia ORG (www.amazonia.org.br)
Assessoria de imprensa (Daniela Kawkami)