 |
MP QUE PROÍBE O
DESMATAMENTO EM 8,2 MILHÕES DE HECTARES
NO PARÁ PARA CRIAÇÃO
DE Ucs PODE SER DERRUBADA
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2005
|
 |
A informação
de que a bancada ruralista estaria tentando rejeitar
ou flexibilizar a Medida Provisória nº
239 mobilizou as organizações da sociedade
civil, que estão divulgando carta em defesa
da medida. As ONGs consideram-na fundamental para
conter o desmatamento nas áreas prioritárias
destinadas a criação de Unidades de
Conservação (UCs). Participe da mobilização
enviando a carta das ONGs (veja abaixo) aos deputados
e acompanhando a votação marcada para
amanhã.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) está
trabalhando contra o tempo para impedir a derrubada
na Câmara dos Deputados de um dos pilares
do “Pacote Verde”, lançado em fevereiro pelo
governo. Corre risco de ser rejeitada a Medida Provisória
239/05, que possibilitou a proibição
dos desmatamentos em 8,2 milhões de hectares
ao longo da rodovia BR-163, no Pará, para
permitir a realização de estudos visando
a criação de Unidades de Conservação
(UCs) na região. A iniciativa é considerada
fundamental para conter o corte indiscriminado das
árvores e a grilagem de terras em uma das
áreas de maior conflito fundiário
e desmatamento da Amazônia e é extensiva
a todo o País. O relator da matéria,
deputado Nicias Ribeiro (PSDB-PA), fez um parecer
contrário à MP, que deverá
ser votado em plenário na próxima
terça ou quarta feira.
A ameaça de desaprovação do
texto proposto pelo governo paira sobre o Palácio
do Planalto pouco depois de ser anunciado, no último
dia 18 de maio, o número alarmante de 26
mil quilômetros quadrados de florestas desmatadas
na Amazônia, de agosto de 2003 a agosto de
2004. Trata-se do segundo maior índice da
história, que só perde para os 29
mil quilômetros quadrados desmatados no período
entre 1994 e 1995. O anúncio repercutiu negativamente
na imprensa nacional e internacional e a taxa apresentada
foi interpretada como uma séria derrota para
a administração Lula.Na última
quarta-feira, dia 25 de maio, no MMA, a ministra
Marina Silva esteve com Ribeiro e tentou convencê-lo
a mudar o teor de seu relatório. Não
chegaram a um acordo, mas as negociações
prosseguirão até a véspera
da votação. A assessoria do deputado
deverá apresentar uma nova proposta ao ministério
na segunda-feira, dia 30 de maio. O encontro com
Marina aconteceu por exigência do parlamentar
paraense, que se recusou a discutir o problema com
representantes de escalão inferior. Também
estavam presentes o secretário de Biodiversidade
e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco,
e o deputado Luciano Zica (PT-SP), um dos principais
negociadores do governo para o tema.Na noite da
terça-feira, dia 24, o governo havia fechado
um acordo com Ribeiro ao aceitar modificar o texto
da MP para deixar claro que, nos empreendimentos
legalizados (agricultura, pecuária e garimpos)
em áreas já alteradas, poderia ser
feito o corte de vegetação em processo
de regeneração, arbustos nativos daninhos
ao pasto, por exemplo. No dia seguinte, o deputado
voltou atrás e atacou de forma contundente
a medida e o governo. “A MP dá ao presidente
da República um poder discricionário,
autoritário, ditatorial e imperial. Ela paralisa
uma série de empresas e atividades econômicas
como fazendas, garimpos e madeireiras, mesmo que
elas estejam legalizadas”, afirmou Ribeiro à
TV Câmara. Pouco depois, ele reuniu-se com
a ministra Marina Silva.
Existe a suspeita
de que o deputado Nicias voltou a endurecer o discurso
por pressão de seu partido, o PSDB, e da
bancada ruralista na Câmara, que estaria interessada
em derrubar ou pelo menos flexibilizar ao máximo
a MP. Cogitou-se, por exemplo, limitar o alcance
da medida à Amazônia e a um período
de tempo menor – o texto atual estipula um prazo
de seis meses, que pode ser renovado por mais seis
meses, para a realização dos estudos
que poderão legitimar a criação
das UCs. A oposição também
propôs a retirada do regime de urgência
constitucional do Projeto de Lei (PL) nº 4.776/05,
que pretende regulamentar a gestão de florestas
públicas e também poderá ser
votado durante a semana.
Por outro lado, o
PSDB estaria tentando desgastar o governo no maior
número possível de frentes. O motivo
seria a “guerra” que envolve a chamada CPI dos Correios,
aprovada na quarta-feira, dia 25, e que poderá
investigar denúncias de corrupção
que pesam sobre o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ),
presidente de seu partido e um dos principais aliados
do Palácio do Planalto.
“O ex-presidente
FHC, do PSDB, editou medida muito mais drástica
e impopular para os ruralistas, quando do lançamento
dos dados recordes de desmatamento, entre 1994 e
1995, com o aumento da reserva legal de 50% para
80% na Amazônia”, lembra o advogado André
Lima, do ISA. Ele conta que, depois disso, o governo
tucano também conteve energicamente, em 2001,
a pressão ruralista que tentou a rejeitar
Medida Provisória que previa a alteração
(MP nº 2166/01).
“Não há
acordo em relação a tentar limitar
o alcance da medida apenas à Amazônia
ou retirar o pedido de urgência do PL nº
4.776 (da gestão de florestas públicas).
Isso nós não vamos aceitar. Também
não está em discussão a tentativa
de diminuir os prazos”, garantiu João Paulo
Capobianco, ao término da reunião.
Ele confirma que a MP corre riscos, mas considera
que é possível chegar a um consenso
antes da votação. “O deputado Nicias
concorda que é necessário manter a
essência do texto, ou seja, nas áreas
de floresta primária, a vegetação
deve continuar intocada.”
A MP e o
Pacote Verde
Publicada em 18 de
fevereiro deste ano, a MP 239 prevê o instrumento
legal da “limitação administrativa
provisória” que autorizou o governo a paralisar
todas as atividades econômicas efetiva ou
potencialmente causadoras de degradação
ambiental em uma área de florestas primárias
(ainda intocadas) de 8,2 milhões de hectares,
no Pará, ao longo da BR-163. Em outras palavras,
ficou proibido o corte raso de floresta no local.
A intenção é de realizar estudos
com vistas à criação de Unidades
de Conservação na região. O
território abrangido pela medida inclui terras
nos municípios de Altamira, Itaituba, Jacareacanga,
Novo Progresso e Trairão, todos localizados
no sudoeste do Pará.
A publicação
da MP faz parte do chamado “Pacote Verde” apresentado
pelo governo federal para tentar conter a violência,
a grilagem de terras e o desmatamento em toda a
Amazônia, sobretudo no Pará. O conjunto
de medidas foi tomado em resposta ao assassinato
da missionária Doroty Stang, no dia 12 de
fevereiro, em Anapu (PA). A freira estadunidense
foi morta a mando de fazendeiros por defender trabalhadores
rurais e pequenos agricultores que disputam terras
com latifundiários da região. Além
da MP 239, o governo também criou 5,2 milhões
de hectares de áreas protegidas, localizadas
em vários estados da Amazônia e enviou
ao Congresso o PL nº 4.776. (Para saber mais
clique aqui).
Organizações
da sociedade civil se mobilizam
Uma carta assinada
por mais de 27 instituições, entre
elas o ISA, já está circulando em
Brasília e pela Internet pedindo a aprovação
da MP nº 239 (confira a íntegra abaixo).
Contando as organizações filiadas
à Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA),
mais de 1000 entidades estão apoiando a mobilização.
A idéia é pressionar os parlamentares
pela aprovação da medida. Os responsáveis
pelo documento estão recomendando que todos
aqueles interessados na questão enviem-no
aos deputados por e-mail (veja lista abaixo).
“A eventual rejeição
da MP nº 239 representará uma vergonha
sem precedentes para a sociedade brasileira às
vésperas da Conferência das Partes
(COP) da Convenção da Diversidade
Biológica (CDB), que será sediada
aqui no Brasil, no ano que vem”, constata André
Lima. O advogado do ISA também avalia que
o Congresso Nacional não aprovou nada de
relevância estratégica e de dimensão
nacional para a proteção da biodiversidade
durante o mandato atual. “Esta legislatura poderá
entrar para a história como uma das piores
dos últimos 20 anos em matéria socioambiental,
infelizmente”.
Carta ao Parlamento
Brasileiro em 30 de maio de 2005
Assunto: Medida Provisória 239/05 - Áreas
Protegidas
As organizações
abaixo assinadas manifestam seu integral e veemente
apoio à aprovação na íntegra
e sem modificações da Medida Provisória
239/05 que “Acrescenta artigo à Lei no 9.985,
de 18 de julho de 2000, que regulamenta o art. 225,
§ 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição
Federal e institui o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza”, e cria
a figura da "limitação administrativa
provisória” de áreas em estudo para
criação de Unidades de Conservação,
onde houver risco justificado de degradação
dos atributos socioambientais que justificam a proteção
especial.
Trata-se de instrumento
de extrema relevância no plano dos compromissos
brasileiros para com a Convenção da
Diversidade Biológica, cuja Conferência
das Partes será sediada no Brasil no próximo
ano.
As áreas de
interesse para conservação e uso sustentável
da biodiversidade são importantes sumidouros
e estoques (reservatório) de carbono, e consequentemente
exercem papel valioso no sistema climático.
Por isso, tal medida é consistente também
com os compromissos brasileiros no âmbito
da Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre Mudanças de Clima, assinada
também em 1992 e cuja ratificação
foi aprovada pelo Congresso Nacional em 1994.
Os dados de desmatamentos
na Amazônia Legal Brasileira anunciados pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais na semana
retrasada, assim como a situação em
que se encontram a Mata Atlântica, o Cerrado
e a Caatinga, que possuem percentuais insignificantes
de áreas protegidas, mais que justificam
a urgência e relevância desse instrumento.
A aprovação
desta Medida Provisória merecerá destaque
como uma das principais respostas positivas do Congresso
Nacional Brasileiro (nesta legislatura) para a sociedade
nacional e para os demais signatários da
Convenção de Diversidade Biológica
que, ressalte-se, foi concebida no Brasil, em 1992
e ratificada por este Congresso Nacional em 1994.
Vale destacar, por
fim, que esta é a primeira e única
matéria legislativa de dimensão nacional
relacionada à conservação da
biodiversidade brasileira a ser apreciada, até
o presente momento, pelo Plenário do Congresso
Nacional durante esta legislatura, o que acentua
a importância estratégica e simbólica
dessa votação para o parlamento e
para a sociedade brasileira.
Diante do exposto,
apelamos para o bom senso e o espírito público
dos parlamentares e respectivos partidos políticos
para que esta MP seja aprovada tal como foi encaminhada
pelo Presidente da República.
Assinam esta
Carta:
Rede de Ongs da Mata
Atlântica (RMA) (295 Ongs integrantes)
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) (430 entidades
filiadas)
Ambiente Brasil
Amigos da Terra - Amazônia Brasileira
Anjos do Tempo (SC)
Associação de Defesa do Meio Ambiente
de Araucária (Amar)
Associação de Defesa do Meio Ambiente
- Vale Verde (SP)
Associação de Preservação
do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí (Apremavi)
(SC)
Associação de Proteção
ao Meio Ambiente de Cianorte (APROMAC)
Associação dos Amigos da Bacia do
Rio Itapemirim (AABRI)
Associação Gaúcha de Proteção
ao Ambiente Natural (Agapan)
Associação Mineira de Defesa Ambiental
(Amda) (MG)
Associação Movimento Ecológico
Carijós (Ameca) (SC)
Associação Mico-Leão-Dourado
(RJ)
Centro de Estudos Ambientais (RS)
Centro dos Trabalhadores da Amazônia (AC)
Crescente Fértil (RJ)
Federação das Entidades Ambientalistas
Potiguares (RN)
Federação de Entidades Ecologistas
Catarinenses (FEEC)(SC)
Funatura
Fundação SOS Mata Atlântica
Fundação Cebrac (DF)
Greenpeace
Grupo Ambiental da Bahia (Gambá)
Grupo Ambiental Natureza Bela (Naturabela) (BA)
Grupo de Resistência às Agressões
ao Meio Ambiente (Grama) (BA)
Imaflora (SP)
Instituto Ambiental Vidágua (SP)
Instituto Centro de Vida (ICV) (MT)
Instituto de Estudos Ambientais - Mater Natura (PR)
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
(Ipam)
Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia
(Imazon)
Instituto os Guardiões da Natureza
Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente
e Paz - Vitae Civilis (SP)
Instituto Socioambiental (ISA)
Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (Oela)
Os Verdes - Movimento de Ecologia Social
Pesquisa e Conservação do Cerrado
(Pequi)
Programa da Terra (Proter) (SP) Projeto Mira-serra
4 Cantos do Mundo (MG)
Rede Alerta contra o Deserto Verde (RJ)
Rede Cerrado
Sociedade de Defesa do Meio Ambiente
The Nature Conservancy (TNC)
WWF–Brasil
Veja a lista de deputados
a quem a carta será enviada
Líderes
de Bancadas dos Partidos
PT - dep.paulorocha@camara.gov.br
PMDB - dep.joseborba@camara.gov.br
PFL - dep.rodrigomaia@camara.gov.br
PP - dep.josejanene@camara.gov.br
PSDB - dep.albertogoldman@camara.gov.br
Bloco PL, PSL - dep.sandromabel@camara.gov.br
PTB - dep.josemuciomonteiro@camara.gov.br
PPS - dep.dimasramalho@camara.gov.br
PSB - dep.renatocasagrande@camara.gov.br
PDT - dep.severianoalves@camara.gov.br
PcdoB - dep.renildocalheiros@camara.gov.br
PV - dep.marceloortiz@camara.gov.br
Prona - dep.eneas@camara.gov.br
PL - dep.sandromabel@camara.gov.br
Lideranças
Governo - dep.arlindochinaglia@camara.gov.br
Minoria - dep.josecarlosaleluia@camara.gov.br
Bancada do
Pará
dep.anivaldovale@camara.gov.br
dep.annpontes@camara.gov.br
dep.asdrubalbentes@camara.gov.br
dep.baba@camara.gov.br
dep.jaderbarbalho@camara.gov.br
dep.josepriante@camara.gov.br
dep.josuebengtson@camara.gov.br
dep.niciasribeiro@camara.gov.br
dep.nilsonpinto@camara.gov.br
dep.raimundosantos@camara.gov.br
dep.vicpiresfranco@camara.gov.br
dep.wladimircosta@camara.gov.br
dep.zegeraldo@camara.gov.br
dep.zequinhamarinho@camara.gov.br
dep.zelima@camara.gov.br
dep.zenaldocoutinho@camara.gov.br
Bancada do
Amazonas
dep.atilalins@camara.gov.br
dep.carlossouza@camara.gov.br
dep.franciscogarcia@camara.gov.br
dep.humbertomichiles@camara.gov.br
dep.lupercioramos@camara.gov.br
dep.pauderneyavelino@camara.gov.br
dep.silascamara@camara.gov.br
dep.vanessagrazziotin@camara.gov.br
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)