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RIBEIRINHOS DO AMAZONAS
E DO PARÁ SE ORGANIZAM PARA CUIDAR
DE FILHOTES DE TARTARUGAS E JABUTIS
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) – Brasil
Agosto de 2005
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Aproximadamente
459,3 mil filhotes de tartaruga, jabutis e tracajás,
cujos ovos foram transplantados para áreas
protegidas, já foram devolvidos à
natureza pelo projeto Pé-de-Pincha desde
1999. A iniciativa começou no município
de Terra Santa, no Pará, e hoje atinge outros
seis municípios do Baixo e Médio Solimões:
Parintins, Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Nhamundá,
no Amazonas; Oriximiná e Juriti, no Pará.
Setenta e duas comunidades ribeirinhas, cerca de
3.600 pessoas, estão envolvidas diretamente
no projeto desenvolvido pelo Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) e pela Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), em parceria com associações
comunitárias e prefeituras.
Os números
atestam o crescimento do projeto: em 1999, foram
24 mil filhotes soltos nas praias de origem; em
2000, 29,5 mil, e neste ano, 110 mil. A soltura
ocorre entre fevereiro e março, com grandes
festas nas comunidades. "Para se ter uma idéia
da grandeza, o Amazonas produz cerca de 1,5 milhão
de filhotes de quelônios em unidades de conservação,
por ano. Mas são locais isolados, com grandes
populações desses animais. Na região
onde atuamos, essas populações diminuíram
bastante, então soltar 100 mil filhotes é
um número expressivo. Os moradores comentam
com a gente que encontram tracajás onde eles
haviam desaparecido", explica Paulo de Andrade,
coordenador do Pé-de-Pincha, em entrevista
à Rádio Nacional (Amazônia).
O programa surgiu
a partir da iniciativa dos próprios moradores
de Terra Santa, que procuraram o Ibama e a universidade
para saberem se podiam retirar os ninhos dos quelônios
e levá-los a uma área protegida -
o transporte de ovos e o manejo não autorizado
de animais silvestres é crime. Os voluntários
do projeto procuram os ninhos nas praias em outubro
e novembro, para desenterrar os ovos e enterrar
de novo em locais planos, sem risco de inundações
e protegidos por telas. Os ovos ficam nas chocadeiras
durante 45 a 60 dias. Quando os filhotes nascem,
permanecem por dois meses no "berçário",
até que seus cascos endureçam e suas
chances de sobrevivência aumentem.
Em outubro do ano
passado, o Pé-de-Pincha ganhou o apoio do
Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea
(ProVárzea/Ibama), um subprograma do Programa
Piloto de Proteção das Florestas Tropicais
do Brasil (PPG7), coordenado pelo Ministério
do Meio Ambiente e financiado com verba da cooperação
internacional. Até o início de 2007,
a parceria possibilitará experiências
de manejo de quelônios com fins comerciais,
capacitação de professores da rede
pública em educação ambiental
e organização comunitária para
buscar alternativas de renda, como o ecoturismo.
"Já temos
20 unidades testando métodos de criação
de quelônios. Há dois mil animais que
hojem pesam cerca de um quilo, mas só podem
ser abatidos quando atingirem pelo menos um quilo
e meio. Em dois anos, teremos seis mil quelônios
criados em cativeiro – e metade deles estará
pronta para o abate", esclareceu Paulo. A carne
e os ovos de tartarugas, jabutis e tracajá
são muito apreciadas na Amazônia; além
disso, o artesanato aproveita a carapaça
como matéria-prima e a indústria de
medicamentos e cosméticos usa os ovos e a
banhas desses animais.
Fonte: Radiobras – Agência
Brasil (www.radiobras.gov.br)
Thaís Brianezi