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SEMINÁRIO VAI DEBATER
POLÍTICAS DE GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Setembro de 2005
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19/09/2005 - O evento
é preparatório para a 8ª Conferência
das Partes Signatárias (COP-8) da Convenção
da Diversidade Biológica, a se realizar em
2006 em Curitiba. Irá reunir, de 4 a 6 de
outubro, representantes de povos indígenas,
comunidades tradicionais e pesquisadores em geral
para discutir o papel do Brasil na proteção
de recursos genéticos, conhecimentos tradicionais
e repartição de benefícios
pelo uso da biodiversidade. A inscrição
é gratuita.
O Instituto Socioambiental,
o Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade
Intelectual (Imbrapi) e a organização
francesa Institut du Développment Durable
et des Relations Internationales (IDDRI), realizam
nos dias 4, 5 e 6 de outubro, em Brasília,
o seminário As encruzilhadas das modernidades:
da luta dos Povos Indígenas no Brasil ao
destino da Convenção da Diversidade
Biológica (CDB). Clique aqui para conferir
a programação e preencher sua ficha
de inscrição.
O objetivo do evento
é debater as questões de acesso a
recursos genéticos e de proteção
aos conhecimentos tradicionais no Brasil no contexto
internacional que se desenha para a 8ª Conferência
das Partes Signatárias (COP-8) da Convenção
da Diversidade Biológica, que será
realizada em Curitiba em março do ano que
vem. Também estarão em discussão
os impactos destas questões sobre o cenário
nacional e o papel dos povos indígenas e
tradicionais na definição da posição
que o Brasil deverá assumir para sua política
de gestão da sociobiodiversidade.
O seminário
será precedido por uma reunião prévia
entre representantes de povos indígenas e
de comunidades locais para traçar estratégias
comuns na defesa dos direitos sobre seus conhecimentos
tradicionais e os recursos genéticos presentes
em seus territórios.
Com a aproximação
da COP-8, o evento será uma boa oportunidade
para reunir representantes de diferentes atores
sociais, organizações e especialistas,
brasileiros e estrangeiros, indígenas e não-indígenas,
com o objetivo de discutir, com profundidade e qualidade,
o papel e a responsabilidade do Brasil.
Principais desafios
A CDB, aprovada durante
a ECO-92, no Rio de Janeiro, estabeleceu normas
e princípios que devem reger o uso e a proteção
da diversidade biológica em cada um dos países
signatários. Seus objetivos são assegurar
a conservação e uso sustentável
da biodiversidade e a justa repartição
dos benefícios provenientes do uso dos recursos
genéticos, respeitada a soberania de cada
nação sobre o patrimônio existente
em seu território. A CDB reconhece a importância
dos estilos de vida tradicionais e dos conhecimentos
sobre a biodiversidade de povos indígenas
e comunidades locais para a conservação
da biodiversidade.
O reconhecimento
da soberania dos países para proteger e administrar
seus recursos biológicos e genéticos
pela CDB, entretanto, tem criado conflitos com as
regras e tratados internacionais em matéria
de comércio e propriedade intelectual, porque
o avanço do setor biotecnológico depende
hoje em larga medida de patentes e outros mecanismos
de privatização de conhecimentos.
Mas, se de um lado
a CDB reconhece tal soberania - incluindo regras
de propriedade intelectual que não comprometam
seus objetivos -, de outro, instrumentos como o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade
Intelectual (cuja sigla em inglês é
TRIPS), estabelecido pela Organização
Mundial do Comércio para firmar parâmetros
mínimos nas legislações nacionais
sobre propriedade intelectual), o tratado em matéria
de patentes da Organização Mundial
de Propriedade Intelectual e outros acordos regionais
e até bilaterais de livre comércio
(os chamados TRIPS-plus), vêm estabelecendo
níveis cada vez mais amplos e rígidos
de proteção patentária, estendendo-a
ao campo da biodiversidade.
Tais instrumentos
vêm forçando uma padronização
mundial das legislações de patentes
em benefício dos países desenvolvidos,
onde hoje se situam as poucas corporações
que dominam o mercado biotecnológico. Essa
padronização tem sido feita quase
sempre em detrimento dos interesses nacionais de
países pobres, que necessitam criar condições
internas de desenvolvimento. Que caminhos a diplomacia
global irá trilhar para superar esse conflito
de paradigmas no contexto internacional? A CDB está
fadada a ser eterna letra morta, ou pode representar
uma virada de paradigma para negociações
internacionais?
A encruzilhada brasileira
Embora não
pertença ao seleto grupo de nações
desenvolvidas, o Brasil abriga grande sociobiodiversidade,
com centenas de povos indígenas e tradicionais,
múltiplos biomas, ecossistemas e milhares
de espécies, em uma extensão territorial
continental, incluindo grande parte da Amazônia.
É, portanto, uma peça relevante no
xadrez geopolítico mundial nesse campo, cujas
escolhas podem determinar o futuro e a viabilidade
da CDB, tornando-se uma espécie de "fiel
da balança" entre os países ricos
e pobres.
O que está
ocorrendo é que o Brasil vem se alinhando
com a tendência dos países ricos de
adotar legislações de patentes abrangentes
e rígidas, com a perspectiva de possibilidade
de patenteamento de moléculas naturais isoladas.
Quem defende a harmonização da legislação
de patentes brasileira com os padrões norte-americanos
e japoneses afirma que este passo pode significar
a oportunidade de o Brasil despontar como um "concorrente"
no fechado mercado biotecnológico, controlado
por poucos. Os que são contrários
lembram que essa posição pode significar
a submissão à patentes já reconhecidas
sobre plantas e animais (ou partes deles), que automaticamente
passariam a vigir internamente.
No que se refere
à política de repartição
de benefícios, a legislação
brasileira restringe esse conceito a um prisma econômico
e mercadológico. Ainda assim, algumas iniciativas
de repartição de benefícios
não econômicos entre comunidades, sociedade
civil e academia indicam que há outros caminhos
para a conservação da sociobiodiversidade
no Brasil. A visão mercadológica que
prevalece cria um contexto de competição
entre os supostos "beneficiários"
da repartição, corroendo o valor econômico
e sociocultural da sociobiodiversidade brasileira.
A encruzilhada dos
povos
Os povos indígenas,
quilombolas, extrativistas e comunidades locais
no Brasil vivem essa encruzilhada de modernidades
de forma particularmente danosa. A assimilação
do caráter utilitarista da biodiversidade
por parte do movimento indígena cria o falso
entendimento de que a exclusividade e o individualismo
que marcam o sistema de propriedade intelectual
seriam caminhos para a proteção de
seus saberes. Essa posição, embora
surja frequentemente como reação à
tendência privatista dominante, contamina
a possibilidade do compartilhamento de conhecimentos
entre os povos, como há milênios ocorre.
Carrega em si a noção excludente de
propriedade e de competitividade.
Por outro lado, a
posição dominante do movimento indígena
e de outros povos expressa na CDB é a proteção
integral dos conhecimentos tradicionais a partir
da garantia de territórios e acesso a recursos
naturais. Tal proteção estaria intuitivamente
ligada ao sentimento de integração
entre homem e natureza que marca a cosmologia desses
povos. Como fazer ecoar essas reivindicações,
marcando a criação de um regime sui
generis de proteção de conhecimentos
tradicionais que seja capaz não só
de proteger defensivamente esse patrimônio
contra apropriações indevidas, mas
também e principalmente conseguir manter
as dinâmicas sociais e ambientais que permitem
a (re)criação da diversidade e dos
sistemas de conhecimento? Estas e outras questões
serão os desafios colocados para a reflexão
e o debate durante o seminário.
Fonte: Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa