ANTÁRTIDA: MOSTEIRO DA CIÊNCIA

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Outubro de 2005

Isolados na Antártica, longe de parentes e cônjuges, militares e pesquisadores da Estação Comandante Ferraz convivem com o confinamento, a saudade e a abstinência sexual

Península de Keller (Antártica) - Posto avançado do país no ponto mais distante — e frio — do planeta, a Estação Comandante Ferraz tem sido um centro importante de pesquisas científicas. O confinamento de mais de 30 pessoas, entre militares e pesquisadores, em um ambiente fechado, distante de amores e parentes, faz do lugar, também, um laboratório de vida humana. Um ambiente onde há tensões de relacionamento e abstinência sexual forçada pelas circunstâncias. Um quartel para os militares. Um mosteiro da ciência para os veteranos. Quase um reality show vivido no gelo para os jovens pesquisadores.
Ana Nascimento/Abr
Ana Nascimento/Abr
A distância e a imensidão branca da Antártica elevam o espírito, mas deixam a mente num estado variável entre a melancolia e a satisfação. Há brigas, discussões, risos e uma confraternização natural entre os participantes das jornadas. O sexo não é proibido, mas não é estimulado. Há sempre muito mais homens que mulheres. A chegada da internet e do sistema de teleconferência por computador, a partir de 1998, amenizou sensivelmente os atritos provocados pelo confinamento. Em 20 anos de pesquisa, a Marinha também foi obrigada a desenvolver um processo específico de seleção para garantir a paz dentro da Estação Ferraz. Sem ela, o trabalho torna-se inviável. “É claro que já houve bate-boca e discussões, mas trabalhamos em conjunto para resolver essas questões”, explica o capitão-de-mar-e-guerra Antonio da Costa Guilherme, chefe da Estação Ferraz até o dia 14 de fevereiro, quando será substituído, depois de um ano de trabalho, por outro oficial da Marinha.

Guilherme tem experiência no serviço. Já havia chefiado a estação entre 1999 e 2000. Segundo ele, a energia sexual do grupo, sobretudo dos mais jovens, tem que ser substituída por trabalho e disciplina. “Trabalhar com gente é difícil, mas superamos nossas dificuldades pessoais com honestidade e compreensão”. Católico, mas seguidor da doutrina espírita, o comandante acredita que a Antártica é, antes de tudo, uma experiência espiritual. “É possível substituir, por um tempo, o sexo por trabalho e consciência de equipe”, ensina. Ele acredita no poder do computador para dissipar desejos e tensões dentro da estação. Lembra, por exemplo, três dias de mal estar generalizado provocados pela interrupção, no inverno passado, do sinal de internet. “Somos todos humanos”.

Armando Hadano, 45 anos, é um dos cientistas mais experientes do Programa Antártico. Técnico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi um dos pioneiros da exploração brasileira na região e fez parte do grupo de 12 pessoas da primeira turma da estação. Já passou nove invernos _ cada um de nove meses _ confinado no lugar. Casado, tem dois enteados. Acho ótimo poder viver só o que ele chama de “o melhor do casamento”. Ou seja: poucos, mas bons dias de convivência com a família, uns três meses por ano, em Atibaia, interior de São Paulo.

“A abstinência sexual é uma coisa que se aprende”, diz Hadano. “Num ambiente de trabalho, ainda mais quando se está confinado, a questão do assédio passa a ser, também, uma questão de caráter”. Para ele, a experiência ao longo desses 20 anos tem demonstrado ser muito importante o processo de seleção. Antes de ir para a Antártica, a Marinha seleciona os candidatos. Busca um perfil perto do ideal: calma, autenticidade, sociabilidade e espírito de equipe. “Aqui, quando acontece uma briga, o grupo se agrega para resolver”, conta o pesquisador. “Não podemos deixar que sejam criadas facções, porque, senão, o programa fracassa”.

Entre jovens, a abstinência sexual é, claro, mais complicada. Márcio Cataldo Gomes da Silva, biólogo de 25 anos, é pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). No ano passado, esteve acampado por durante um mês na Antártica, longe da namorada, que mora no Rio de Janeiro. “Não foi fácil porque, normalmente, tenho uma vida sexual muito ativa”, explica. Márcio ocupava a mente e o corpo com trabalho, mas nem sempre era possível evitar a própria libido. “Tinha hora que dava aquela vontade, mas estava tanto frio que passava logo, nem sozinho dava para se virar”, diverte-se. Dessa vez, ele vai ficar três meses na Estação Ferraz, durante o inverno. “Vamos ver como vai ser”.

 
 
Fonte: Agência Brasil - Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Leandro Fortes
Fotos: Ana Nascimento/Abr.
 
 
 
 
 
 

 

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