16/02/2006 - O principal desafio da 8ª
Reunião das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica (COP-8),
que se realiza de 20 a 31 de março deste
ano, em Curitiba, é "sacudir"
os países para a necessidade de acelerar
a reversão da destruição
da fauna e flora do Planeta, antes que seja
tarde demais. A afirmação é
do gerente de Conservação de Biodiversidade
do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio
Ferreira de Souza Dias. "Estamos em meio
a um processo de extinção em massa
da biodiversidade sem precedentes nos tempos
recentes, e semelhante apenas ao que ocorreu
há 65 milhões de anos, quando
os dinossauros foram varridos da face da terra",
adverte.
MMA
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Segundo
ele, as taxas de extinção
no mundo e no Brasil estão de
cem a mil vezes acima do patamar aceitável.
Bráulio explica que a extinção
é um fenômeno natural,
mas as taxas atuais, em função
das atividades humanas e pressões
diretas, como exploração
predatória, conversão
de florestas em pastos, ou indiretas,
a exemplo do efeito estufa, correm em
um ritmo sem precedentes, desde a catástrofe
que dizimou três quartos da vida
na terra. Ele acrescenta que algumas
ilhas de biodiversidade estão
sendo salvas, mas que mesmo estas correm
o risco de desaparecer em função
de seu isolamento.
O mais grave nesse quadro, de acordo
com Bráulio, é que a maioria
da população e dos governos
não se dá conta da gravidade
da situação, principalmente
por não entender o quanto o mundo
depende da biodiversidade. "Não
se trata apenas da perda de espécies,
mas também da variabilidade genética,
da qual depende metade do Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro, com o agronegócio,
setor de florestas, de pesca, ecoturismo,
entre outros, e ainda da redução
dos serviços ambientais, como
oferta de água", destaca.
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O especialista acrescenta
que os relatórios da Avaliação
Ecossistêmica do Milênio, encomendados
pela Organização das Nações
Unidas (ONU) para mais de 1.300 pesquisadores,
e divulgados em 2005, mostram que nunca se perdeu
tantos ecossistemas e biodiversidade como nos
últimos 50 anos. "Infelizmente,
o cenário futuro é desanimador.
Com a melhor das boas intenções,
vamos perder ainda mais nas próximas
cinco décadas", prevê. Esta
perda será sentida de forma diferente
por países pobres e ricos. "Quem
tem dinheiro e tecnologia, sempre encontra soluções.
Mas as nações menos favorecidas
não terão saída",
alerta.
Para mudar este cenário,
uma das alternativas é mobilizar governos
e sociedade para a necessidade de um esforço
extra. "Se saírmos com este compromisso
da COP-8 já será um grande avanço",
diz Bráulio. Segundo ele, isso envolveria
"mais gente, mais dinheiro, mais capacitação
e mais envolvimento". Além disso,
é preciso, segundo ele, de que o tema
biodiversidade saia do grotão ambiental
e acadêmico e seja internalizado em
outros setores. "Essa é uma maneira
de conseguirmos, no campo, os avanços
que estamos tendo na área institucional
e política", acrescenta. Embora
os números não sejam animadores
, Braúlio faz questão de ressaltar
que houve melhoras nas áreas de planejamento,
marco legal, programas de captação
de recursos e criação de unidades
de conservação, por exemplo.
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