BIODIVERSIDADE EM BAIXA

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Outubro de 2006

25 Oct 2006 - José Eli da Veiga - Com o propósito de obter um Produto Interno Líquido (PIL), que chegou a ser chamado de “PIB-verde”, muitos economistas apostaram em técnicas de precificação dos bens e serviços naturais (e também de outros intangíveis) para os quais não existem mercados. Conforme avançaram nesse rumo, perceberam que estoques são muito mais significativos para a avaliação da riqueza do que os fluxos captados por cálculos de produto. Passaram, então, a procurar modos de estimar o que chamam de “poupança genuína”, ou de “poupança líquida ajustada”.

No entanto, até agora, não conseguiram fazer estimativas sobre a depreciação de ativos cruciais, como água potável, solo, áreas de pesca oceânicas, florestas e manguezais. Também fica de fora a atmosfera, que serve para despejo de particulados, nitrogênio e óxidos de enxofre. Pior: os preços estimados para atribuir valor monetário aos bens naturais que entraram na lista baseiam-se em premissas que ignoram a capacidade limitada de sistemas naturais recuperarem-se de perturbações (a resiliência). Resultados demasiadamente precários, portanto, como ficou evidente no ano passado, quando veio a público o relatório do Banco Mundial “Where is the wealth of Nations?”.

É sorte, portanto, que outro grupo de economistas tenha rejeitado essa crença na necessidade de colocar preços em ativos ambientais. Em vez de fazer malabarismos para afirmar qual seria o valor monetário da camada de ozônio, do mico-leão-preto, ou do bem-me-quer, procuram mobilizar todos os conhecimentos científicos disponíveis para chegar a medidas físicas da sustentabilidade. E entre as várias tentativas que vêm surtindo efeito nos últimos dez anos - desde que a ONU se empenha nessa direção - nenhuma conseguiu superar em clareza e simplicidade os dois indicadores básicos propostos pelo WWF Internacional em seus relatórios bianuais intitulados “Living Planet Report”:

• O “LPI” (Living Planet Index) é um índice sintético da biodiversidade global, que se baseia no estado de mais de 3.600 populações de 1.313 espécies de vertebrados. Ele é composto de três dimensões que acompanham 695 espécies terrestres, 274 marítimas e 344 de água doce. O relatório de 2006, que acaba de ser lançado, indica essencialmente que o declínio da biodiversidade global no período 1970-2003 foi de assustadores 30%.
• A “pegada ecológica” (Ecological Fooprint”) mede a pressão que a humanidade está exercendo sobre a biosfera, representada pela área biologicamente produtiva, tanto terrestre quanto marítima, que seria necessária para a provisão dos recursos naturais utilizados e para a assimilação dos rejeitos. (O consumo de água doce é tratado à parte por ser impossível expressá-lo em hectares globais). Uma vez obtida essa “pegada” para qualquer unidade territorial (localidade, região, país, etc.), ela pode ser comparada à respectiva capacidade biológica, também apresentada em hectares globais. O principal resultado dessa comparação é que, em 2003, a pressão exercida pela humanidade foi 25% superior à capacidade da biosfera atendê-la com serviços ecossistêmicos e absorção de seu lixo.

Ainda mais importante do que essas impressionantes cifras globais são as ricas tabelas que permitem comparações entre os países. Por exemplo: em hectares globais equivalentes, há sérios déficits ecológicos per capita nos EUA (- 4,8), na China (- 0,9) e na Índia (- 0,4). Mas, felizmente, ainda existem significativas reservas em alguns países, como na Rússia (+ 2,5) e, sobretudo, no Brasil (+ 7,8). Reservas que tenderão a desaparecer com rapidez se não for derrubada a ditadura do PIB como única e sacrossanta medida de riqueza. Um temor que só pode ser poderoso convite ao exame dos três cenários apresentados no final do relatório. A simples projeção das tendências atuais mostra que sérios colapsos se avizinharão. Com moderada mudança, até haverá chance de que a pegada se alinhe à biocapacidade, mas somente no próximo século. E se a utopia do desenvolvimento sustentável for levada a sério, essa proeza poderá ser alcançada em meados deste século.

José Eli da Veiga, 58, professor titular da USP (Departamento de Economia e Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental) autor de “Desenvolvimento Sustentável – O desafio do Século XXI” (Rio de Janeiro: Ed. Garamond), e membro do Conselho Consultivo do WWF-Brasil.

 
 

Fonte: WWF-Brasil (www.wwf.org.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 
 
 

 

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