FUNAI LAMENTA FALECIMENTO DE TO’Ó GUAJÁ

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Novembro de 2006

03 de novembro - Com imenso pesar, a Funai (Fundação Nacional do Índio) vem comunicar o falecimento de To’ó Guajá, 35 anos, habitante da aldeia Juriti, na Terra Indígena (T.I.) Awá. Casado com Amapirahã, ele deixa quatro filhos: os meninos Kawui, 10, e Macoari, 2 anos, e as meninas Aparanain, 6, e Panatxin, 16, mãe de Manatxia, neto de To’ó com um ano de idade.

Na madrugada do dia 27 de outubro, To’ó foi encontrado morto por seu primo e amigo de infância Wirakatako, no quarto do hotel em que estavam hospedados na cidade de Santa Inês, Maranhão. Eles acompanhavam uma equipe da Funai para encontrar vestígios e tentar uma aproximação com um grupo Awá-Guajá que vive isolado dentro da Terra Indígena Araribóia, para onde se dirigiriam no dia seguinte.

A causa mortis diagnosticada no Hospital Menino Jesus de Praga, para onde foi levado imediatamente, foi falência cardiorespiratória com um enfarto no miocárdio. De acordo com o médico responsável, nenhuma razão foi encontrada como causa do enfarto. O corpo foi transportado até a aldeia, no mesmo dia, onde foi velado pelos parentes.

Awá-Guajá sem contato

To’ó acompanhava a equipe da Funai, ligada à Coordenação Geral de Índios Isolados (CGII), criada exclusivamente com o objetivo de aumentar a proteção aos grupos Awá-Guajá sem contato. Atualmente, há suspeitas de que existam quatro grupos que vivem de forma autônoma na região. To’ó, que falava bem português e já havia participado de contatos anteriores com grupos Awá-Guajá, foi convidado para colaborar com a equipe por causa de sua experiência. Perfeitamente consciente da situação de seu povo, ele era profundamente engajado na proteção territorial das áreas habitadas pelos Awá-Guajá e um líder expoente desse grupo.

De Santa Inês, a equipe da Funai iria para Imperatriz, onde adentraria as matas da T. I. Araribóia para confirmar as suspeitas da existência de um grupo, com cerca de 40 pessoas, que vinham sendo vistos esporadicamente na área por índios Guajajara. Em razão da presença de madeireiros, que há algum tempo vêm entrando na T.I. Araribóia - às vezes com a conivência de indivíduos Guajajara -, esse grupo Awá-Guajá pode correr risco de contrair doenças em contatos não desejados ou, simplesmente, pelo recolhimento de roupas e materiais.

Nesse sentido, To’ó seria um dos responsáveis para explicar a estes outros Awá-Guajá sem contato sobre a situação em que vivem e para alertá-los dos perigos que correm ao tocarem os objetos deixados pelos invasores. “O objetivo não é fazer um contato ou, muito menos, transferir esse grupo da Araribóia para outra Terra Indígena. Mas apenas ver as melhores formas de protegê-los onde eles estão”, explica o coordenador da CGII, Marcelo dos Santos. O outro objetivo da viagem era obter informações precisas sobre a venda de madeira na região para organizar uma operação de retirada dos madeireiros.

Além desse grupo de Araribóia, há conhecimento também da existência de outros índios Awá-Guajá sem contato na região da T. I. Krikati. Nesse caso, To’ó também iria acompanhar a expedição para auxiliar os trabalhos de proteção de seu povo.

Dentro da T. I. Awá, onde vive a família de To’ó, há informações sobre outros dois grupos sem contato. Um deles é parte da família de Kamará Guajá, contatado em 1998, que habita também a aldeia do Juriti. Os vestígios desse grupo foram encontrados no limite da T.I. Awá, e teme-se que esteja ocupando uma área fora da proteção legal e sob uma grande ameaça por parte de posseiros e madeireiros da região. Também no limite da TI Awá, fronteira com a Terra Indígena Caru, há informações de um outro grupo, com cerca de 15 pessoas, supostamente Awá-Guajá, também isolados e ameaçados.

A equipe é chefiada pelo indigenista Maurício Wilke, e fazem parte dela o enfermeiro José Ângelo Pereira Costa, responsável também pelo acompanhamento da saúde dos indígenas integrantes, e Adelino Meireles, auxiliar de sertanista da Funai, e Wirakatako, irmão de To’ó e residente na aldeia Awá, na T. I. Caru.

A função da CGII, segundo o Regimento da Funai, é de “garantir aos índios e grupos isolados o direito de assim permanecerem, mantendo a integridade de seu território, intervindo apenas quando qualquer fator coloque em risco a sua sobrevivência e organização sócio-cultural”. De acordo com a nova postura da Coordenação, o desenvolvimento de ações que estimulem o contato só será possível após a constatação de que o grupo isolado encontra-se sob extrema ameaça à sua integridade física e cultural.

Depoimento do antropólogo Mércio Pereira Gomes, presidente da Funai

Conheci To’ó em maio de 1980, quando fizemos o primeiro contato com um grupo Awá-Guajá que vivia no igarapé Timbira, acossado por uma intensa frente de agricultores no vale do Pindaré. Estavam comigo os índios Awá-Guajá Txiparentxia e Takytxia, dois funcionários da Funai, um médico, e o saudoso missionário do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) padre Carlo Ubbiali, que permaneceu com eles durante todo o contato e também presenciou, tristemente, a morte de seis índios na ocasião. Embora o contato tenha sido tranqüilo e amistoso, uma parte desse grupo se embrenhou na floresta e só foi recontatado um mês depois. Entre eles, estava To’ó, um menino com cerca de 10 anos de idade. Seu pai, sua mãe e seu irmão morreram. To’ó criou-se como um órfão, ajudado por sua irmã e seu cunhado, sob a liderança de Txipatxiá. Dos 22 Awá-Guajá que se instalaram no Posto Indígena (PIN) Awá, junto dos quais se agregaram outros grupos Awá-Guajá vindos da T.I. Caru, somam hoje mais de 130 indivíduos. To’ó casou-se com Amapirahã e foi viver com ela e seu grupo no Alto Juriti. Com freqüência, visitava seus parentes e amigos no PIN Awá, na beira do rio Pindaré. Também conheceu os Awá-Guajá da T.I. Alto Turiaçu. Todos nós sofremos com a sua morte inesperada.

 
 

Fonte: Funai – Fundação Nacional do Índio (www.funai.gov.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 
 
 

 

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