EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E SOCIEDADE NA AMAZÔNIA

Panorama Ambiental
Belém (PA) – Brasil
Novembro de 2006

O Reitor da UFPA escreveu: "Estará re-fundada, então (somente então), a nova Universidade: mais competente, republicana e democrática. Uma Universidade efetivamente comprometida com o futuro da sociedade e não com o imediatismo dos interesses privados e corporativos dos pequenos grupos, dentro dela camuflados; a única capaz, para além das reformas de suas leis e de seu patrimônio físico (obviamente necessárias!), de cumprir adequadamente seus desígnios constitucionais e de garantir a imprescindível contemporaneidade de seus atributos e potencialidades no alvorecer de um novo século, engravidado de desafios e incertezas", trecho de mensagem do Reitor da UFPA, Alex Fiúza de Mello, "Coluna do Reitor" no sítio eletrônico da universidade - www.ufpa.br .

Não basta interiorizar infra-estrutura, é preciso praticar a inclusão social e a cidadania, de direito e de fato. A amostra dessa nova mentalidade da gestão de universidades públicas (era de gerentes-intelectuais, anunciada pela sociologia pós-industrial focando na nova economia) a direção da UFPA já tinha sinalizado, quando da iniciativa que teve ao estender a mão à sociedade paraense para parceria e criação conjunta da Associação de Amigos da UFPA. Na tentativa de construir uma ponte cooperativa entre a sociedade e o mundo acadêmico, muitas vezes refém numa torre de marfim, seduzido pela auto-imagem como no mito de Narciso. Este suicídio da vaidade que desperdiça talentos individuais brilhantes, tempo coletivo e dinheiro público em meio à fome orgânica e de saber numa população cada vez mais descrente, cuja última eleição estadual no Pará mostrou a cara numa abstenção de mais de um milhão de eleitores (fora votos nulos), por exemplo.

Na Amazônia o estado chegou em caravelão sob pavilhão da União Ibérica, em 1616. Antes da formação da sociedade regional nós tínhamos o embrião da primeira sociedade amazônica complexa (abortada na invenção da Amazônia), nascida do casamento da necessidade e o acaso pelo cruzamento do Mito com a História. Fato original da humanização da ilha do Marajó, cerca do ano 500 da era cristã (diz a mais recente pesquisa arqueológica, cf. Denise Shaan / Museu Goeldi e UFPA - www.marajoara.com). No "espaço vazio" de extraordinária Biodiversidade existia, há 12 mil anos de presença humana da primeva dispersão paleolítica, multidão de nações "indígenas" (na visão cartesiana enganada de Cristóvão Colombo à procura do caminho ocidental das Índias) com um milhar de idiomas diferentes. No processo colonial, os povos amazônicos originais foram "extraídos do mato" (sentido etimológico do termo caboclo, através da língua-geral amazônica, o Nheengatu). O sociólogo e cientista político que exerce a Reitoria da maior universidade do Trópico Úmido global, aborda a questão da mudança de mentalidade como dado essencial da conservação e desenvolvimento sustentável da soberania brasileira na Amazônia. Todo cidadão brasileiro que tem noção exata do tempo e do espaço deste século, deveria aplaudí-lo e difundir o conceito, necessário e urgente, da mudança para mudar de verdade.

Criamos o cacoete da "mudança" sem a devida coragem política de mudar o essencial. Qualquer marqueteiro de promoção de produtos já sabe que deve seduzir o consumidor propondo-lhe uma "mudança" de visual... Mas, os moços da musica popular amazônica já disseram, em rimas inspiradas: "a culpa é da mentalidade"... Mudar a mentalidade é, sim, o xís da questão. E aí entra o papel essencial da Universidade como agente efetivo da mudança. Uma universidade que pensa a Amazônia, antes de cogitar sobre a inclusão social devida pelo Estado-Nação há que operar a inclusão do povo na História das regiões.

Federalizar todas populações tradicionais e contemporâneas, remanescentes das tribos extintas e negros de mocambo, esses tantos "negros da terra" e "morenos" de olhos claros, louros cabelos e pele branca; cuja mestiçagem geral nos faz a todos filhos da Negridude au-délà de la melanine. Esse maná das migrações sem fim... Samuel Benchimol ensinava que o mundo não está preparado para pagar a fatura da conservação da Amazônia. Mas, o que diria hoje? Que o Brasil está despreparado para desenvolver a região, como ela tem direito histórico. Será, portanto, a universidade amazônica o cadinho dessa nova mentalidade de auto-sustentação e autodeterminação. Renascida do fundo do grande rio, como no mito da primeira noite do mundo conservada numa metáfora de ancestralidade (o "caroço de tucumã") no romance dalcidiano, até raiar o dia da consciência dos povos amazônicos no mundo. Chove nos campos de Cachoeira e Dalcídio Jurandir já morreu, canta na noite do esquecimento o poeta Carlos Dummond de Andrade... Que diria ele, se o Brasil e o mundo soubessem da saga surrealista de um certo italiano naturalizado brasileiro, chamado Giovanni Gallo - www.museudomarajo.com.br , que veio enterrar seus ossos no chão de Dalcídio, passando pela civilização da Suíça a troco da barbaridade do lago Arari, na vila de Jenipapo, entre chuvas e esquecimentos na ditadura da água? Este daltônico rebelde mostrava um Marajó que o Brasil não conhece e até mesmo marajoaras não querem saber e viram o rosto para o alto dos arranha-céus de Belém do Pará.

As elites deste País têm grande dívida histórica com o Povo Brasileiro. A Universidade amazônica ainda não disse, exatamente, a que veio. É certo que a "classe ínfima" da população, na expressão historiográfica mais encontrada sobre os episódios ligados à Adesão do Pará à independência do Brasil e o período conturbado de guerra-civil do Pará velho de guerra até a belle époque da Borracha; tem graduado seus filhos em cursos de terceiro grau. mas, do ponto de vista da mentalidade política ainda deixam a desejar pela ignorância da verdadeira história do povo amazônida. Não bastou o sangue derramado nos idos de 1823 até 1840 para aderir ao império do Brasil: é preciso a República Federativa incluir esta nossa brava gente na cidadania brasileira.

Por certo, a Extensão universitária (além do Ensino e a Pesquisa), em cidades-pólo de interiorização do desenvolvimento humano sustentável onde o IDH faz dó, tem grande papel a cumprir nesse objetivo. Para a UFPA, federalizar a questão marajoara, por exemplo, por todo seu patrimônio material e imaterial seria um primeiro grande passo para suscitar em todas demais mesorregiões do Pará a bandeira oficial da maior universidade pública do Trópico Úmido mundial. E a sociedade paraense, respondendo a esta iniciativa que o atual Reitor está empreendendo acima de interesses menores, abriria portas sem arrombar divisas institucionais a fim de firmar o diálogo e cooperação para a inclusão democrática.

José Varella do grupo Unilivre-MAM / GDM

 
 

Fonte: Unilivre (www.unilivre.org)

 
 
 
 
 
 

 

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