DESMATAMENTO IRREGULAR AMEAÇA BACURIZEIROS NA RESERVA DE CHAPADA LIMPA

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Dezembro de 2006

São Luiz (01/1206) - A verificação do início do desmatamento numa área de 700 hectares, cuja autorização emitida pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Maranhão é objeto de contestação em um laudo elaborado por técnicos do Ibama/MA e numa ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Estadual, ameaça um dos ecossistemas mais preciosos do cerrado maranhense, dentro dos limites propostos para a criação da Reserva Extrativista de Chapada Limpa, no município de Chapadinha. Apesar de o processo de criação de uma unidade de conservação federal de uso sustentável na região estar em fase final de tramitação, e do ofício enviado pelo Ibama à Sema informando sobre as irregularidades na autorização de desmatamento dada ao Sr. Manoel Lira Pereira, proprietário da Fazenda Chapada Boca da Mata, os moradores da comunidade da Prata denunciaram nesta sexta-feira que o desmatamento continua.

Numa clara atitude de desafio às organizações ambientalistas e ao poder público, uma das primeiras árvores atingidas foi o “Bacurizeiro de 60 Galhos”, reconhecido com orgulho pelas comunidades locais como o símbolo da Chapada Limpa. A própria Plataforma de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais da ONU (Organização das Nações Unidas) recomendou em duas audiências públicas a paralisação do desmatamento na região do Baixo-Parnaíba.

Numa visita à região na quarta e quinta-feira, uma equipe do Ibama havia observado a existência de dois tratores parados no local que havia sido embargado pelo órgão, mas acabou liberado por uma liminar judicial que observou apenas a licença dada pela Secretaria Estadual. A Reserva Extrativista tem como objetivo proteger uma área de 11.791 hectares de uma porção significativamente conservada do cerrado maranhense, com inúmeras nascentes e cursos d´água, além de espécies vegetais e animais que garantem o modo de vida e a evolução cultural de centenas de famílias que têm no extrativismo e na agricultura familiar a base de seu sustento.

A vistoria feita pelo Ibama constatou que a área autorizada para desmatamento apresenta uma grande quantidade de bacurizeiros, árvore frutífera de importância fundamental para a alimentação e economia das comunidades extrativistas, mas o inventário florestal apresentado pela empresa Engeflora - Projetos e Consultoria Florestal Ltda, em laudo assinado pelo engenheiro florestal João de Deus Ferreira Lopes, sequer menciona o bacuri, em uma região do Baixo Parnaíba onde esta espécie vegetal é o elemento mais significativo. Outra falha grave diz respeito aos recursos hídricos da propriedade, o projeto de licenciamento informa que a área só é servida por um riacho temporário, mas nenhum riacho é assinalado no mapa, e a autorização emitida pela Sema não delimita nenhuma Área de Preservação Permanente, que de acordo com o Código Florestal deve ser respeitada na vegetação às margens de qualquer curso d´água. Com o auxílio de imagens de satélite de baixa resolução disponíveis gratuitamente na internet, pode-se ver claramente que a propriedade não possui apenas um riacho temporário, mas sim um complexo sistema de drenagem com diversas nascentes de riachos no alto da chapada.

Atendendo à denúncia da população que participou ativamente do processo de criação da Reserva Extrativista, inclusive com um bom comparecimento à consulta pública promovida pelo Ibama no dia 7 de julho em Chapadinha, uma equipe de fiscalização do Ibama localizou o desmatamento de 1,08 hectare na área que tem como característica uma grande abundância de bacuri. No local desmatado havia pilhas de tijolos que seriam utilizados para a construção de fornos de carvoejamento. Ao lado, havia um alojamento em construção, enquanto outras pessoas trabalhavam na perfuração de um poço para captação de água subterrânea, esse mesmo poço não é mencionado no Plano de Controle Ambiental apresentado pela Engeflora. Na ocasião o empreendimento foi embargado e notificado, mas dias depois o proprietário apresentou a autorização da Secretaria Estadual de Meio Ambiente para desmatar a área, mesmo assim o Ibama manteve o embargo e solicitou o apoio do MPE, do Ministério Público Federal (MPF) e do CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) contestando o trabalho do consultor técnico no referido projeto.

O proprietário da fazenda apresentou a defesa e conseguiu por decisão judicial a liberação para continuar desmatando a área. Na documentação trazida ao Ibama, a empresa responsável informa sobre a autorização de desmatamento à siderúrgica Cosima, um indício forte que a madeira de espécies objeto especial de preservação no estado seria destinada à produção de carvão para a siderurgia.

“A comunidade da Prata está indignada com esse ato de desrespeito à natureza e às leis. Fomos avisados que o desmatamento recomeçou ontem, entre os povoados Califórnia e da Prata. O desrespeito foi tão grande que o primeiro alvo desses elementos foi o Bacurizeiro de 60 Galhos, uma grande árvore que é a mais bonita como símbolo de nossa região. Encontramos os tratores no caminho, eles foram trazidos abertamente nas carretas, e isso tudo pode jogar por terra a mobilização de todos os povoados para a criação da reserva, o trabalho feito pelo Ibama e pelas comunidades para preservação dessa área em resposta à pressão feita pelos plantadores de soja da região, nada valeu para parar com a petulância desse latifundiário. Esperamos uma resposta rápida das autoridades contra esse crime ambiental”, protestou um dos líderes comunitários da Associação de Moradores de Chapada Limpa.
Paulo Roberto Araújo Filho
Ibama/MA

 
 

Fonte: Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (www.ibama.gov.br)
Ascom

 
 
 
 
 
 

 

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