ARROZEIROS QUE SERÃO RETIRADOS DE TERRA INDÍGENA CRITICAM ÁREA DE REASSENTAMENTO

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Novembro de 2007

7 de Novembro de 2007 - Gilberto Costa - Repórter da Rádio Nacional da Amazônia - Brasília - O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) destinou mais de 48 mil hectares em Roraima para reassentamento de famílias e produtores rurais que serão retirados ainda este ano da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

As áreas para reassentamento ficam na zona rural de Boa Vista e nos municípios de Bonfim e Caracaraí, ao sul da capital. Metade do total da área, 24 mil hectares (em Caracarí), foi separada para reassentamento de arrozeiros. Os produtores discordam da homologação e do processo de demarcação da terra indígena e avaliam que a área indicada pelo Incra não é propícia para o cultivo do arroz.

"Ela fica mais da metade do ano encharcada. A textura do solo é arenosa e quando seca não tem água. Não é perto do rio. São pequenos igarapés, que quando secam não tem como trabalhar. Se fizermos uma drenagem, não tem como trazer água. O solo é areia e nós precisamos de solo argiloso", afirma o vice-presidente da Associação de Arrozeiros de Roraima, Nélson Iticawa.

O superintendente do Incra em Roraima, Francisco Beserra, reconhece que a área não é totalmente propícia para o cultivo de arroz. "É claro que uma área de 24 mil hectares não é 100% propícia", afirma Beserra. No entanto, segundo o Incra, boa parte do terreno é cultivável. Ele fica em uma área de transição entre a floresta e o cerrado, às margens da BR 174 e a poucos quilômetros de um porto fluvial, o que viabiliza o escoamento da produção.

Segundo o coordenador-executivo do Comitê Gestor Interministerial, José Nagib Lima, responsável na Casa Civil da Presidência da República pelo acompanhamento da homologação da terra indígena, os arrozeiros suprimiram vegetação sem autorização e irrigam o solo na Reserva Raposa Serra do Sol de forma irregular, sem consulta prévia à Agência Nacional de Águas (ANA), o que é crime ambiental.

"Eles não vão poder chegar lá e explorar 24 mil hectares sem nenhum plano ambiental", alerta Lima. "Por isso, não aceitaram o reassentamento. Vão ter que se submeter às regras do meio ambiente que não estão sendo respeitadas lá onde estão agora."

A Fundação Nacional do Índio (Funai) cadastrou 391 famílias e produtores para reassentamento. Já foram atendidos pelo Incra 131 famílias e produtores. Outros 164 já requereram lotes para a reposição de terras. Noventa e seis ainda não procuraram o Incra.

Para iniciar o processo de reassentamento, os produtores devem levar ao Incra a avaliação da Funai. Os lotes destinados aos arrozeiros têm até 1,5 mil hectares. A média das fazendas de arroz na Raposa Serra do Sol, segundo a associação dos produtores, é de 4,5 mil hectares.

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Comissão da Câmara teme conflito indígena durante desocupação da Raposa Serra do Sol

9 de Novembro de 2007 - Leandro Martins - Repórter da Rádio Nacional da Amazônia - Brasília - A desocupação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, pode ser alvo de disputa entre as cinco etnias que habitam a região: Ingaricó, Macuxi, Patamona. Taurepang e Wapixana. A avaliação é da presidente da Comissão da Amazônia na Câmara dos Deputados, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

De acordo com a parlamentar, há risco de conflito entre etnias indígenas durante a retirada dos últimos arrozeiros que vivem na área. A saída dos produtores, segundo ela, divide a comunidade local. “Além do conflito entre indígenas e não-indígenas, o estado de Roraima também é marcado pelas desavenças entre os próprios indígenas”, alega.

Para a deputada, parte da população indígena pode ter sido aliciada pelos arrozeiros. “Uma parte importante da comunidade local passou para o lado dos não-indígenas, com métodos questionáveis”, alegou Grazziotin, que defende a desocupação dentro de um clima de negociação. “Há uma parte dos indígenas do lado dos arrozeiros.”

O agente de saneamento da comunidade indígena Macuxi, Cristóvão Galvão Barbosa apresenta opinião diferente da deputada. Ele afirma que os índios estão unidos e preocupados com a situação do meio-ambiente na área e nega qualquer desentendimento entre as etnias. “O conflito não é a nossa intenção como organização indígena após a desocupação”, rebate.

Em 12 de setembro, líderes indígenas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol se reuniram em Brasília, e assinaram uma carta-compromisso, firmando um acordo entre as organizações indígenas e o governo federal para garantir a saída pacífica dos arrozeiros.

Homologada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 15 de maio de 2005, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol ocupa o nordeste de Roraima. A área abrange 1,1000 milhão de hectares e abriga 14 mil indígenas.

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AGU considera desnecessário mandado judicial para retirada de arrozeiros de terra indígena

7 de Novembro de 2007 - Gilberto Costa - Repórter da Rádio Nacional da Amazônia - Brasília - O advogado da Associação dos Arrozeiros de Roraima, Luiz Valdemar Albertcht, defendeu que qualquer operação de retirada dos produtores da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol só poderá ser feita com base em um "mandado de imissão na posse" da Justiça Federal. Ele afirma que os produtores têm a posse legal das áreas.

"O Incra, em 1973, vendeu essas áreas para particulares mediante licitação pública e titulou essas terras. A União vendeu em leilão público. A Funai nunca foi lá e disse: 'opa vocês estão vendendo área indígena'. Foi vendido, foi titulado, foi transmitida a posse", afirmou.

A Advocacia-Geral da União, no entanto, tem parecer contrário. Em nota técnica sobre a efetivação da terra indígena há o entendimento de que o decreto presidencial é "auto-executório".

De acordo com a consultora da União, Alda Freire Carvalho, não há amparo na Justiça para interrupção do processo de retirada. "Até esta data inexiste tanto no âmbito da Justiça Federal, como nos tribunais superiores, decisão liminar ou definitiva que ampare a permanência dos ocupantes da terra indígena", disse.

O prazo de saída dos não-índios terminou em abril de 2006. Em junho deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) cassou mandado de segurança de arrozeiros, confirmando a homologação da reserva de 1 milhão e 700 mil hectares, de acordo com o decreto da Presidência da República, de maio de 2005.

A homologação proibiu o ingresso, o trânsito e a permanência de pessoas ou grupos não-índios dentro da terra indígena. À época da criação da área, o Ministério da Justiça divulgou que a iniciativa beneficiava cerca de 14 mil índios das etnias Macuxi, Wapixana, Ingarikó, Taurepang e Patamona.

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Casa Civil confirma que ainda este ano fazendeiros serão retirados da Raposa Serra do Sol

6 de Novembro de 2007 - Gilberto Costa - Da Rádio Nacional da Amazônia - Brasília - A Casa Civil da Presidência da República confirmou que será concluída ainda este ano a retirada de não-índios da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. O prazo para saída dos fazendeiros que estão no local terminou em abril de 2006.

De acordo com o coordenador-executivo do Comitê Gestor Interministerial responsável pelo acompanhamento da homologação da terra indígena, José Nagib Lima, da Casa Civil, a prioridade é retirar da reserva as fazendas produtoras de arroz.

"O governo federal definiu que a prioridade será para o deslocamento dessas fazendas produtoras de arroz. É nelas que estamos focados neste momento. Não se trata de mega operação, mas uma continuidade do processo", disse.

Conforme Nagib, a Polícia Federal será acionada para acompanhar técnicos da Funai e do Ibama na retirada dos produtores. Não foram divulgados dados da operação.

Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Federal, a situação da reserva está sendo avaliada e o planejamento da operação está em elaboração. Ainda não há data definida, número de policiais que serão acionados e custo previsto.

O presidente da Associação dos Arrozeiros, Paulo César Quartiero, anunciou que os produtores resistirão. "Se a Polícia Federal aparecer lá sem mandado judicial, nós vamos enfrentar ela".

O clima tenso na Reserva Raposa Serra do Sol é confirmado pelo coordenador-geral do Conselho Indigenista de Roraima, Dionito José de Souza, da etnia Macuxi.

"Nosso clima continua tenso. Os arrozeiros já têm pistoleiros, jagunços, lá dentro, num total de 12 pessoas".

Mas de acordo com Paulo César Quartiero, há seguranças pagos dentro das fazendas na região para evitar "invasão das propriedades pelos índios".

"Eles estão constantemente tentando invadir as propriedades da gente. Então, evidentemente que nos vamos nos defender. Vamos nos defender, sim, da maneira que for possível", afirmou.

O presidente da Associação dos Arrozeiros responsabiliza o governo por eventual conflito violento.

"Esse governo Lula vai sujar as mãos aqui em Roraima. Ele não vai dizer que não sabia, porque ele sabe. As ordens emanam diretamente do presidente. Depois o Lula não vai dizer que não sabia. Ele vai sujar as mãos aqui em Roraima e a responsabilidade do que acontecer aqui vai ser do presidente Lula".

José Nagib Lima pondera que o governo está concluindo um processo de demarcação iniciado há mais de 20 anos. "O governo Lula cumpriu apenas o quê foi discutido durante 20 e poucos anos em relação à Terra Indígena Raposa Serra do Sol".

O Ministério da Justiça, responsável pela Funai e pela Polícia Federal, não comentou sobre a possibilidade de incidente. Por e-mail, o secretário-executivo Luiz Paulo Barreto disse que o ministério "está buscando uma solução negociada, mas que a lei será cumprida, como não pode deixar de ser".

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras (www.radiobras.gov.br)

 
 
 
 

 

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