COMUNIDADES INDÍGENAS DO VALE DO JAVARI SOFREM SEM ATENDIMENTO MÉDICO

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Janeiro de 2008

Conselho critica gestão de recursos para saúde de comunidades indígenas no Vale do Javari

29 de Janeiro de 2008 - Beth Begonha - Repórter da Rádio Nacional da Amazônia - Brasília - O vice-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Beto Marubo, critica a prefeitura de Atalaia do Norte (AM) com relação à gestão das verbas enviadas pelo Ministério da Saúde para a contratação de pessoal que deve atender as comunidades nas aldeias do Vale do Javari (AM).

Segundo ele, há menos de 20 pessoas – e dentre elas, nenhum médico – contratadas trabalhando no atendimento de uma população de 3,7 mil pessoas. De acordo com Marubo, o único médico contratado com verba federal é, ao mesmo tempo, funcionário da prefeitura, e recebe dois salários para atender indígenas e não-indígenas no hospital da cidade .

O prefeito Rosário Conte Galate não nega a informação e diz que foi a única forma que encontrou de ter um médico para atender a população. "Ninguém quer trabalhar lá [nas aldeias]. Eu tenho muita dificuldade de encontrar profissionais pra mandar pra lá."
Galate afirma que o médico recebe os dois salários (da prefeitura e do Ministério da Saúde), e que, de fato, tem muito pouco tempo pra entrar em terra indígena, mas não vê nenhum problema nisso. "Ele recebe, lógico! E, se por um lado, ele tem dificuldade pra atender nas aldeias, pelo menos ele está aqui pra atender quem chega."

A falta de critérios técnicos nas contratações também é alvo de críticas. "As pessoas são contratadas aqui por razões políticas. São pessoas com pouca experiência na profissão, muitas vezes, totalmente despreparadas para a realidade com a qual vão lidar", afirma Beto Marubo.

Em agosto de 2007 foi realizada na cidade uma audiência pública com a participação do Ministério Público Federal. Na ocasião ficou definido que o Distrito Sanitário de Saúde Indígena (Dsei) ficaria responsável pela análise curricular dos profissionais e caberia à prefeitura apenas a contratação, o que não tem ocorrido.


A prefeitura de Atalaia do Norte recebe mais de R$ 200 mil por mês para pagamento de pessoal da saúde indígena. Segundo o prefeito são 63 pessoas na folha de pagamento. Perguntado por que apenas 13 estariam em área indígena, Galate culpou a grande incidência de doenças, principalmente a malária, na terra indígena.

"Eles voltam todos de lá doentes e aí entram com atestado médico. O que eu posso fazer? É um direito deles! Eu faço o que eu posso"

Beto Marubo discorda e reclama que a prefeitura, muitas vezes, nega ajuda e o empréstimo de material para socorro. Ele lembra o caso de uma das crianças que morreu no final de dezembro passado. "Nós fomos pedir a ele o barco do município, já que não há um barco da Funasa [Fundação Nacional de Saúde] em funcionamento e a criança necessitava de remoção imediata para o hospital. Ele não autorizou a saída do barco e, sem socorro, a criança faleceu na aldeia."

O prefeito se justifica alegando que o barco tem um único motorista. "Esse meu barco ambulância só sai com meu motorista. Eu não vou entregar o barco para eles quebrarem também. Olha, com esse dinheiro do Ministério da Saúde, eu não pago só o pessoal não, eu compro coisas para eles também. São eles que decidem o que vai ser feito com o dinheiro. Eles pediram, e eu comprei, mais de 30 barcos e já não tem nenhum funcionando. Não vou entregar esse para acabar ficando sem também. Esse barco só quem pilota é o meu motorista."


O prefeito afirmou que todas as contratações são feitas por indicação da Funasa e que as despesas efetuadas com o dinheiro destinado para área de saúde indígena têm autorização prévia do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi). "O dinheiro só sai da conta da prefeitura com a autorização do Condisi."

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Operação deve agilizar atendimento médico a índios no Vale do Javari

29 de Janeiro de 2008 - Beth Begonha - Repórter da Rádio Nacional da Amazônia - Brasília - A Casa Civil coordena uma operação para atender as populações indígenas do Vale do Javari (AM), atingidas por doenças como a hepatite, malária e tuberculose. Desde a semana passada, estão sendo realizadas reuniões entre a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Fundação Nacional do Índio (Funai), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e as Forças Armadas.

De acordo com o diretor do departamento de Saúde Indígena da Funasa, Wanderley Guenka, as parcerias são indispensáveis para viabilizar as novas estratégias, como a implantação de um serviço aéreo de assistência à saúde. A idéia é usar as aeronaves e a experiência da Funai, com o apoio da Aeronáutica, e agilizar o atendimento.

Para que isso possa acontecer será necessário reformar as duas pistas existentes, além de construir outras, em pontos estratégicos, no meio da reserva. O assunto é visto pelo governo como questão de segurança nacional. O Rio Javari, que dá nome à terra indígena, é também o marco de fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia. Há a preocupação de que essas pistas possam trazer problemas para os índios, com a aproximação de narcotraficantes internacionais interessados em usá-las como ponto de apoio e de entrada de droga no país.

Wanderley Guenka reconhece que a manutenção das pistas nas aldeias trará a necessidade de maior vigilância na região. Pela lei, a proteção das terras indígenas compete à Funai, com o apoio da Polícia Federal, ambas subordinadas ao Ministério da Justiça. Mas a proposta da Funasa é envolver também outras forças de segurança.

"A grande dificuldade seria essa vigilância na área de fronteira. Por isso mesmo estamos buscando a ajuda do Ministério da Defesa, que comanda as três Forças, no sentido de a gente melhorar a atenção à saúde e também melhorar a vigilância nessa área de fronteira", explicou.

De acordo com o diretor, o mais importante é conseguir coordenar os atores que atuam no Vale do Javari. Os indígenas reclamam da excessiva ingerência da prefeitura, que é responsável pela contratação dos profissionais da área médica, e dizem que o que está havendo é a municipalização da saúde indígena, afirmação contestada por Guenka.

"Não há municipalização da saúde, porque é um recurso que já ia para o município. Nós não temos como transferir esse dinheiro, que é do Fundo Nacional da Saúde, para o Fundo Municipal da Saúde, direto para a Funasa, porque nós não temos um fundo. Essa é também uma discussão."

Outra proposta no sentido de aumentar a participação direta da Funasa na prestação dos serviços é a realização de um concurso específico para o preenchimento de cargos na área da saúde indígena.

A expectativa de Wanderley Guenka é que em um ano a operação conjunta possa mudar o perfil sanitário do Vale do Javari.

"O objetivo é que ao fim desse período tenhamos todas as parcerias implementadas, que esteja estruturada uma equipe de saúde preparada para dar proteção às populações de índios isolados, com a infra-estrutura montada nas aldeias e o controle de todo o quadro epidemiológico da população do Vale do Javari."

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Funasa quer criar estrutura permanente para atendimento médico no Vale do Javari

29 de Janeiro de 2008 - Beth Begonha - Repórter da Rádio Nacional da Amazônia - Brasília - O secretário executivo da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Josenir Nascimento, afirmou que o órgão pretende atender à demanda do Vale do Javari (AM) com a compra de medicamentos e equipamentos médicos e de transporte. Para Nascimento, é necessário criar uma estrutura permanente de atendimento a esses povos, tanto na parte de infra-estrutura como na de capacitação, e disse acreditar que agora isso será possível.

“É uma decisão de governo resolver o problema do Javari. Recebemos da secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, a determinação de agir na região em regime de urgência urgentíssima.”

A Funasa prepara cursos para capacitar os agentes indígenas de saúde com o objetivo de manter um estrito controle da situação de contaminação e tratamento da população, com dados atualizados. A proposta é criar um sistema único de informação com acesso público, dando transparência e aumentando a eficiência das ações realizadas na Terra Indígena.

Para o secretário executivo da Funasa, resolver os problemas vividos pelos povos indígenas do Javari é saldar uma dívida histórica. Antes do contato, esses povos viviam longe das margens dos rios para onde foram atraídos pela Frente de Povos Isolados da Fundação Nacional do Índio (Funai). Na beira dos rios, passaram a ter contato com não-índios que levaram até eles doenças como a hepatite, a gripe e a tuberculose.

A construção das aldeias nos barrancos, proposta à época pela Funai, para facilitar a aproximação com esses povos, é responsável também pelo aumento de casos da malária entre os indígenas. O protozoário causador da doença é transmitido pelo mosquito anophelino, que se reproduz nessas áreas. Hoje o Javari vive uma epidemia de malária (vivax e falciparum) com números impressionantes.

“Numa determinada comunidade onde vivem 26 pessoas os números apontam 99 casos da doença no período entre março de 2007 e janeiro de 2008. São 3 malárias em média por pessoa, num espaço de tempo menor que um ano. Outra enorme preocupação para nós é a contaminação vertical que tem se dado, com bebês nascendo com o vírus da hepatite B, o que vai comprometer todo seu desenvolvimento. Já passou da hora de resolvermos essa situação. Nós não podíamos ter errado como erramos”, concluiu.

Representantes da Funai, Funasa, do governo do estado do Amazonas, médicos, enfermeiros e técnicos que atuam na região se reuniram ontem (28) em Brasília para elaborar as propostas a serem levadas a representantes do Ministério da Defesa, da Casa Civil e das Forças Armadas. O grupo definiu que será criado um comitê gestor para a coordenação da operação, cujos membros serão definidos em reunião no Ministério da Defesa.

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Funasa conta com apoio das Forças Armadas para iniciar operação no Vale do Javari

30 de Janeiro de 2008 - Marco Antônio Soalheiro - Repórter da Agência Brasil - Brasília - A Marinha, o Exército e a Aeronaútica devem colaborar com soluções logísticas na operação planejada pelo governo federal para atender as populações indígenas do Vale do Javari (AM), atingidas por doenças como a hepatite, malária e tuberculose.
O apoio já foi tratado em uma reunião entre representantes da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e do Ministério da Defesa, segundo informou ao programa Amazônia Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia, o presidente em exercício da Funasa, Josenir Nascimento.

“Solicitamos aeronaves para entrarmos na área de forma mais eficiente. Hoje usamos barcos que levam até 22 horas para chegar em determinados lugares”, adiantou Nascimento. “A Marinha vai antecipar a embarcação do navio Carlos Chagas, para pegar o rio cheio e descer mais adentro, atingindo o máximo de aldeias possível.”

Nascimento disse que o Ministério da Defesa já recebeu pedidos específicos para envio de barracas de campanha e equipamentos próprios para acampar na mata. Ele ressaltou o envolvimento de autoridades e profissionais de saúde do município de Atalaia do Norte (AM) e do estado do Amazonas no planejamento da operação. Parte do hospital de Tabatinga deve ser cedida pelo Exército para atender demandas emergenciais da operação e o governo estadual já está comprometido a transferir profissionais para fortalecer o atendimento.

A idéia da Funasa é que o município de Cruzeiro do Sul, no Acre, também funcione como base operacional. O Rio Javari, que dá nome à terra indígena, é também o marco de fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia. O local concentra o maior número e a maior diversidade de grupos de índios isolados do país. Dos 69 grupos conhecidos pela Fundação Nacional do Índio (Funai), 16 estão no Javari.

O presidente da Funasa admitiu ainda a intenção de convencer o Ministério da Justiça a autorizar a construção de mais três pistas de pouso em aldeias do Javari, além da adeqüação de outras já existentes. Pela lei, a proteção das terras indígenas compete à Funai, com o apoio da Polícia Federal, ambas subordinadas ao ministério.

“Para a vigilância e para a saúde precisa de pista. A necessidade não é só da Funasa, mas da Funai e do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis] também”.

A previsão de Josenir Nascimento é de que, em virtude de questões burocráticas, a operação para atendimento de saúde no Vale do Javari comece de forma efetiva no mês de março, quando deve se iniciar a visitação nas aldeias.

Em abril, o governo pretende lançar uma grande campanha nacional de vacinação indígena. “A idéia é lançar [a campanha] em Tabatinga, para representar a vontade política do governo em solucionar as demandas do Vale do Javari”, ressaltou o presidente da Funasa.

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Xavante ocupam distrito sanitário em MT após morte de 15 crianças neste mês

31 de Janeiro de 2008 - Luciana Melo - Da Agência Brasil - Brasília - Cerca de 16 índios xavante ocuparam hoje (31) o prédio do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) em Barra do Garças (MT), contra o que consideram nomeação política para a chefia do Dsei.

“Nós queremos uma pessoa que conhece a gente, que nos respeite e tenha diálogo conosco, que esteja preparada para suprir as nossas necessidades” , disse Sergio Abhö-ödi, presidente do Conselho Indígena de São Marco e do Conselho Indígena Distrital de Saúde Indígena Xavante.

Os índios indicaram o nome do presidente da organização não-governamental Nossa Tribo, Nivaldo Correia Neto, que segundo eles conhece os povos da região e as necessidades deles. Após a exoneração de Marley Arantes de Oliveira, o cargo é exercido temporariamente por José Henrique Leite.

Segundo o presidente em exercício da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Josenir Nascimento, "nós temos que nomear alguém que tenha boas condições em relação à gestão dos recursos públicos e existem trâmites para a nomeação ao cargo, não é assim da noite para o dia".

Sergio Abhö-ödi explicou que os indígenas querem melhores condições de saúde, após a morte de mais de 15 crianças neste mês, com menos de um ano. "Elas tinham doenças contornáveis, que têm cura. Em todo o ano passado, morreram 18 crianças", alertou. A Funasa, acrescentou, "precisa assumir a responsabilidade sobre esses cuidados – a saúde é a mesma coisa que uma soma matemática, se você errar em alguma coisa o resultado sai errado". Segundo o dirigente indígena, "quando a gente perde as nossas crianças a vida não será devolvida, por isso nós queremos alguém que conheça a situação e não vamos ceder para os políticos fazerem a vontade deles".

O presidente da Funasa disse que a entidade tem conhecimento dessas mortes, “acompanha, monitora, acende o sinal de alerta e depois toma as providências". E argumentou: "Pode ter sido uma falha na atuação do Dsei, pode ter sido uma fatalidade com relação à questão de abastecimento de água. Nós temos uma pressa enorme de descobrir o que ocorreu. Uma equipe de auditoria e outra do Departamento de Saúde Indígena irão ao local investigar".

O diretor de Saúde Indígena da Funasa, Wanderley Guenka, informou que só hoje soube do total de crianças mortas no mês. E que é preciso verificar a provável causa dessas mortes.

À noite, após conversa de Nascimento com o cacique Edmundo Ómore, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena de Barra do Garças, foram libertados os funcionários da Funasa e terceirizados retidos no prédio da sede do Dsei durante todo o dia. Os indígenas receberam a promessa de uma auditoria para verificar a falta de medicamentos e condições de transporte dos doentes que haviam denunciado.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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