MENDES AFIRMA QUE JULGAMENTO DA RAPOSA SERRA DO SOL É PRIORIDADE MÁXIMA DO STF

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Julho de 2008

1 de Julho de 2008 - Marco Antônio Soalheiro - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Ao comentar hoje (1º) as perspectivas de atuação do Judiciário para o segundo semestre de 2008, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, afirmou que o julgamento das ações que contestam a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, é a “prioridade máxima” do tribunal.

“Já estou em entendimentos com o ministro-relator [Carlos Ayres Britto] para que o caso seja julgado logo na retomada [das sessões] em agosto”, disse Mendes, em entrevista coletiva. Ele, Britto e ministra Cármem Lúcia visitaram, em maio passado, a terra em que arrozeiros e famílias de agricultores insistem em permanecer. A área de 1,7 milhão de hectares foi homologada como indígena em 2005 pelo governo federal, com base em laudos antropológicos.

Apesar de ressaltar não ter emitido ainda juízo de mérito sobre o tema, o presidente do STF voltou a sinalizar que vê restrições na demarcação da reserva em área contínua. “Causa espécie muitas vezes grandes extensões, principalmente no caso específico, em que havia núcleos habitacionais e municípios nessa área. Vamos analisar o tema tendo em vista a prova da posse indígena e todos os problemas surgidos”, avaliou.

Outra questão sobre a qual o STF pode se manifestar em caráter liminar, ainda em julho – mesmo com o recesso inciado hoje nos tribunais superiores -, é a ação da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) contra entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo qual apenas candidatos com condenação transitada em julgado podem ter pedidos de registro de candidatura negados.

A entidade quer que o STF declare não ser necessária a existência da condenação definitiva para que o juiz considere a vida pregressa de determinado candidato incompatível com a moralidade exigida pelo cargo em disputa.

“A ação tem repercussão direta no processo eleitoral que se inicia e será priorizado o julgamento”, adiantou Mendes. O relator da matéria é o ministro Celso de Mello, mas apesar no período de recesso, tanto Mello quanto o presidente do STF podem emitir uma decisão em caráter liminar.

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MPF mantém posição favorável à demarcação contínua da Raposa Serra do Sol

2 de Julho de 2008 - Marco Antônio Soalheiro - Repórter da Agência Brasil - Brasília - A Procuradoria Geral da República (PGR) emitiu novo parecer em que, mais uma vez, considera plenamente regular o procedimento do governo federal, que resultou na demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, em área contínua. O documento será encaminhado para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto, relator de ações que contestam a demarcação. A previsão é de que em agosto, após o recesso judiciário, a questão seja decidida no plenário da Corte.

A reserva foi homologada em 2005 por decreto presidencial e o reconhecimento da área de 1,7 milhão de hectares como posse indígena gerou mais de 30 ações contrárias. Um grupo de oito grandes produtores de arroz e cerca de 50 famílias de agricultores brancos se recusam a deixar a área em que mantêm atividades econômicas. Neste último parecer, a PGR define como “improcedente” uma ação popular ajuizada por Alcides da Conceição Lima Filho, pedindo a impugnação do ato administrativo do governo federal.

“O que se observa, aqui, é a pretensão de se nulificar o demorado e penoso procedimento demarcatório tomando-se como fundamento o risco de abalo à soberania nacional, o qual, como visto, se presente, haverá de ser eliminado, se for o caso, por mecanismos outros de proteção, sem sacrifício do direito dos povos indígenas”, destaca o vice-procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

A PGR também recomenda ao STF que permita à Fundação Nacional do Índio (Funai) e às comunidades indígenas atuarem no processo como assistentes da União e, em sentido contrário, os produtores rurais e o estado de Roraima.

Ontem, o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, disse o que o julgamento da demarcação da Raposa Serra do Sol é a “prioridade máxima” do tribunal. Em recente entrevista exclusiva à Agência Brasil, o ministro relator, Ayres Britto, avaliou que o plenário vai decidir a questão sob “critérios rigorosamente objetivos”.

Em maio deste ano, Mendes e Britto (e mais a ministra Cármen Lúcia) foram até a reserva para fazer observações dos aspectos demográficos e conversar com moradores. Em abril, uma liminar concedida pelos ministros, em sessão plenária, suspendeu a Operação Upatakon 3 da Polícia Federal - que visava retirar os não-índios da área - até o julgamento definitivo das ações pendentes no tribunal sobre o processo de demarcação.

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CCJ da Câmara pode votar projeto que susta demarcação da Raposa Serra do Sol

1 de Julho de 2008 - Roberta Lopes - Repórter da Agência Brasil - Brasília - A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados está examinando projeto de decreto legislativo (PDL), que susta o decreto de demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol. A previsão é de que o projeto possa ser votado na comissão ainda nesta semana. Hoje (1º), a CCJ realiza sessão de votação e o projeto consta da pauta.

O PDL nº 1621/05, no seu artigo primeiro, afirma que "fica sustada a aplicação do decreto de 15 de abril de 2005, sem número, que homologa a demarcação administrativa da Terra Indígena Raposa Serra do Sol". Além desta, outras sete propostas tramitam em conjunto com o mesmo objetivo, de pedir a anulação do decreto presidencial.

O autor do projeto, deputado Francisco Rodrigues (DEM-RR), na justificativa da proposta, afirma que a demarcação fere preceitos constitucionais como o direito adquirido. "O processo demarcatório, que culminou com a homologação da demarcação, insere-se no contexto da portaria nº 534, de 13 de abril de 2005, que não reconhece o direito dos proprietários de terras e desconsidera todas as cadeias sucessórias de mais de um século", afirma o parlamentar na justificativa.

O deputado também afirma, na justificativa ao projeto, que a demarcação da reserva ocorreu de forma silenciosa. "Silenciosamente, o Senhor Ministro da Justiça editou a portaria nº 534, de 13 de abril de 2005, ignorando as contestações judiciais interpostas à portaria nº 820, de 1998, anterior, que tratava da mesma questão".

O deputado Luciano Castro (PR-RR), autor de uma das propostas, que tramitam em conjunto com a do deputado Francisco Rodrigues, afirma no seu projeto que a demarcação em área contínua, como foi feita na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, não é permitida por lei.

"O ordenamento constitucional brasileiro não prevê a chamada demarcação de área contínua, isto é, aquela que inclui os espaços vazios e as propriedades particulares, localizados entre as terras definidas pela Constituição (artigo 231) como indígenas, sejam elas urbanas ou rurais", descreve o projeto.

Para o relator do projeto na CCJ, deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), a proposta é constitucional porque o executivo exorbitou a sua condição de poder regulamentar. "Foram, portanto, estabelecidos parâmetros que devem ser observados, ficando claro que a Constituição Federal não abre a possibilidade para que o Poder Público demarque áreas ao seu bel-prazer", afirma no parecer o relator.

Ele acrescenta ainda que o decreto de demarcação da Raposa Serra do Sol determina a demarcação da área para várias etnias indígenas. O problema é que não há qualquer familiaridade entre elas. "Esses grupos indígenas são independentes entre si, havendo espaços territoriais vazios e outros ocupados por aglomerações urbanas e propriedades rurais".

O relator justifica ainda a validade das propostas citando o artigo 231, parágrafo 1°, da Constituição Federal, que trata de terras ocupadas por indígenas. De acordo com este artigo, terras indígenas são aquelas ocupadas tradicionalmente por povos indígenas e as que devem ser demarcadas são as habitadas permanentemente e as usadas para atividades produtivas dos índios e também as necessárias ao seu bem-estar.

"À luz da hermenêutica, não são [de propriedade] indígenas todas as terras que, nos dias atuais, não preenchem os requisitos e as condições estabelecidas no artigo 231, 1°, mesmo que no passado pré-colombiano, tenham sido por eles, índios, ocupadas", afirma, no parecer, Lessa.

Ele acrescenta ainda que "esse raciocínio se impõem, porque, caso contrário, chegaríamos à absurda conclusão de que todas as terras brasileiras pertenceriam aos índios", afirma o parecer do relator.

No Supremo Tribunal Federal há diversas ações contestando a demarcação, mas ainda não há previsão de quando elas serão julgadas.

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Índios de Roraima pedem ao papa apoio à demarcação da Raposa Serra do Sol

2 de Julho de 2008 - Marco Antônio Soalheiro - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Os representantes do Conselho Indígena de Roraima (CIR) Jacir José de Souza e Pierlângela Cunha pediram hoje (2) ao papa Bento XVI, em um encontro reservado de 15 minutos no Vaticano, apoio à manutenção da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Os índios estão na Europa desde meados de junho cumprindo uma série de audiências em seis países, em viagem custeada por parceiros internacionais, entre eles a organização não-governamental Survival International.

“Rogamos à sua Santidade que exprima a sua solidariedade ao nosso povo, sua confiança e esperança nas autoridades do país”, pedem os índios na carta entregue ao papa, cuja cópia foi encaminhada pelo CIR à Agência Brasil.

Em entrevista à BBC Brasil após a audiência, Jacir e Pierlângela informaram como o papa se portou ao ouvir o relato da situação na terra indígena.

"O papa pareceu interessado no nosso problema e disse que vai se empenhar para que a gente tenha nossa terra garantida", disse Pierlângela.

"As pessoas dizem que nessas audiências o encontro é muito rápido, mas não foi. Quando a pessoa que nos acompanhava falou que éramos de Roraima e deu as informações, ele parou e esperou a gente falar. Olhou nos olhos da gente e ouviu com atenção", acrescentou

No documento entregue ao pontífice, o CIR informa sobre o julgamento de ações que contestam a demarcação no Supremo Tribunal Federal (STF), previsto para agosto: “Da decisão da Corte depende realmente a vida de todos os povos indígenas do Brasil e seus direitos dolorosamente conquistados e consolidados”.

Os índios ressaltam ainda que os povos Macuxi, Wapichana, Taurepang, Ingarikó e Patamona que habitam a reserva passam por um “momento de grande angústia” provocado pela suspensão da expulsão dos não-índios que também ocupam o território.

“Raposa Serra do Sol está demarcada após 30 anos de sofrimento e luta da parte de nosso povo e já custou a vida de muitos de nossos líderes. Mas a alegria se transformou novamente em preocupação e incerteza porque nossas comunidades ainda sofrem ataques brutais e violentos daqueles que não reconhecem nosso direitos”, diz o texto.

A demarcação da área de 1,7 milhão de hectares foi homologada em 2005 pelo governo federal. Os índios também disseram a Bento XVI que uma audiência privada com o então papa João Paulo II foi fundamental para ajudar no processo de homologação.

A carta contém ainda agradecimentos dos índios a bispos e missionários da Igreja Católica que defendem a causa das comunidades. O papa Bento XVI recebeu de presente dos representantes do CIR um colar, uma bolsa de buriti e um chocalho.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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