DIZER QUE DEMARCAÇÃO AMEAÇA SOBERANIA É
“CONVERSA PARA BOI DORMIR”, CRITICA INDÍGENA

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Agosto de 2008

27 de Agosto de 2008 - Ana Luiza Zenker - Repórter da Agência Brasil - Antonio Cruz/Abr - Brasília - Indios da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, na Praça dos Três Poderes, em frente ao STF, para assistir o julgamento que vai balizar critérios para a demarcação da reserva
Brasília - Desde o início do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o clima é de tranqüilidade do lado de fora do prédio, que foi totalmente isolado pela segurança.

Um grupo de pouco mais de 100 pessoas, entre representantes indígenas, do Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), levou faixas de apoio à demarcação contínua e aos índios que vivem na reserva.

Integra o grupo Álvaro Tucano, indígena que mora na região do Pico da Neblina, em uma reserva vizinha à Raposa Serra do Sol. “Não podemos ficar neutros quando alguém mexe com a legislação brasileira que foi discutida por nós, do movimento indígena”, disse em referência aos Artigos 231 e 232 da Constituição Federal, que garantem os direitos dos índio à terra.

Para ele, é “conversa para boi dormir” dizer que a demarcação contínua afronta a soberania nacional. Na avaliação de Álvaro Tucano, o que está em jogo é o interesse econômico, uma vez que as terras são ricas em minérios e em biodiversidade.

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Organização indígena defende arrozeiros para garantir "progresso" à Raposa

26 de Agosto de 2008 - Luana Lourenço - Enviada Especial - Boa Vista (RR) - Para os indígenas ligados à Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiu-RR), a manutenção dos grandes produtores de arroz na Terra Indígena Raposa Serra do Sol vai impedir o isolamento das comunidades e garantir progresso e desenvolvimento para a região. Com base nesse argumento, a entidade espera que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida amanhã (27) pela ilegalidade da demarcação contínua.

“A grande maioria dos moradores da Raposa quer o progresso. Quem quer voltar a viver isolado, como antigamente, andando de tanguinha, com cocar na cabeça? Isso está ultrapassado”, apontou um dos integrantes do grupo, o macuxi Natal Altair.

Ao contrário do Conselho Indígena de Roraima (CIR), a Sodiu apóia a permanência dos rizicultores na reserva e defende a demarcação da Terra Indígena em ilhas, e não de forma contínua. Altair nega a influência de fazendeiros ou políticos. Segundo ele, a Sodiu tem uma “relação harmônica” com os grandes produtores de arroz.

Na tarde de hoje (26), por exemplo, o presidente da entidade, Sílvio da Silva, negociava com os arrozeiros um ônibus para levar os indíos ligados ao grupo que querem acompanhar o julgamento do STF ao distrito de Surumu – dentro da reserva – área de maior tensão entre fazendeiros e indígenas favoráveis a demarcação contínua.

“Defendemos a demarcação em ilhas porque resguarda direitos de pessoas que estão lá há anos, com suas propriedades tituladas. Haverá justiça, porque permanecerão lá os não-índios que contribuíram para resguardar a nossa soberania nacional. Essa miscigenação índio e não-índio não representa mal algum, pelo contrário, representa o que nós consideramos progresso; nada puro, com homogeneidade é bom”, avaliou Altair.

Moradora da Raposa Serra do Sol, a agricultora macuxi Deolinda Pereira reclama que nas áreas da reserva em que os brancos não vivem mais, as estradas foram abandonadas. “A gente não quer ficar isolado. Queremos morar junto com todos os brasileiros. Quem defende a saída dos brancos age morando na cidade, não sabe o sofrimento de quem vive na Raposa. Se as fazendas saírem vamos perder nossos empregos”, aponta.

Altair fez duras críticas ao CIR, que, segundo ele, é influenciado por interesses de organizações estrangeiras e questionou os números apresentados pelo conselho que apontam a existência de 18 mil indígenas na área.

“Há manipulação, não é dado do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] nem de nenhuma fonte confiável. Há interesse do CIR de que eles tenham maioria a favor. Mas não têm. A grande maioria na Raposa quer usufruir das vantagens que há na cidade, como internet e televisão, querem estar inseridos no processo de desenvolvimento”, avaliou.

Questionado sobre as acusações de degradação ambiental promovida pelos rizicultores na área, Altair disse que as críticas “são falácias”, com interesse político. Ele ainda comparou a tensão na Raposa Serra do Sol ao recente conflito entre a Rússia e a Geórgia na região separatista da Ossétia do Sul.

“Tememos algo parecido aqui. Por isso torcemos para que o STF decida pela descontinuidade da demarcação para que Raposa seja um solo verde e amarelo, para que a gente possa exercer nosso direito de ir e vir, sem obstáculos, sem barreiras do CIR. Estamos otimistas."

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Indíos da Raposa Serra do Sol dizem que vão aguardar pacificamente decisão do STF

28 de Agosto de 2008 - Luana Lourenço - Enviada Especial - Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) - O Distrito de Surumu, área de maior tensão entre indígenas contrários e favoráveis à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR), amanheceu tranqüilo hoje (28), um dia depois do adiamento da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a legalidade da homologação da reserva em área contínua.

O Supremo começou a analisar ação que questiona a demarcação ontem (27), mas o julgamento foi suspenso depois que o ministro Carlos Alberto Menezes Direito pediu vista do processo. O único a votar foi o relator, ministro Carlos Ayres Britto, que se manifestou a favor da manutenção da demarcação contínua.

Homens da Polícia Federal passaram a noite na área da reserva. Tanto os indígenas favoráveis à demarcação contínua quanto os ligados aos arrozeiros afirmam que aguardarão a decisão do Supremo de forma pacífica.

Ontem, o grupo ligado aos produtores de arroz chegou a comemorar com fogos de artifício a interrupção do julgamento. “O nosso pessoal ficou meio entristecido com a reação deles, mas depois ficou esclarecido que o único voto foi a nosso favor, pela demarcação contínua está um a zero”, afirmou o coordenador regional do Conselho indígena de Roraima (CIR), Walter de Oliveira.

Na avaliação dele, o voto favorável do ministro Carlos Ayres Britto sinaliza que o STF pode manter a homologação feita em 2005. “Vamos aguardar tranqüilos, porque até o momento não teve nenhum resultado ruim para nós.”

Já para o tuxaua (cacique) José Brazão, que apóia a permanência dos produtores de arroz, o pedido de vista vai ser a oportunidade para convencer os ministros que ainda não votaram “da verdade” sobre a Raposa Serra do Sol. “Tem uma parte do relatório [do ministro Carlos Ayres Britto] que não é verdadeira. Ele não buscou conhecer a fundo a realidade a história da Raposa. Quero sugerir aos ministros do STF que não trabalhem mais com inverdades.”

O tuxaua sugeriu, inclusive, que, em caso de manutenção da demarcação contínua, o Distrito de Surumu seja excluído da área da reserva. “Nós somos brasileiros, não queremos ficar aqui sob o controle de ONGs internacionais.”

O líder arrozeiro Paulo César Quartiero chega hoje a Boa Vista, por volta das 14h, no horário local (15h, em Brasília). Ontem, ele acompanhou o julgamento sobre o caso em Brasília.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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