MÃOS QUE CULTIVAM A TERRA PRODUZEM BIOJÓIAS NO CERRADO BAIANO

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Novembro de 2008

21/11/2008 - No Projeto de Assentamento (PA) Rio de Ondas, distante 55 quilômetros de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia, mãos que cultivam a terra também produzem brincos, pulseiras, colares, chapéus, bolsas e cestos. Tudo com matéria-prima do Cerrado baiano. As biojóias serão expostas e comercializadas durante a V Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária, de 26 a 30 de novembro, no Rio de Janeiro, pela Associação Caliandra Artesãos do Cerrado, um dos 18 grupos que representarão a Bahia na Marina da Glória.

“Teremos muitas novidades”, antecipa Rosa Shwank, assentada e presidente da associação formada por um grupo de dez mulheres e um homem. A variedade de matérias-primas é grande. As biojóias são produzidas de sementes de árvores como buritirana, tucum, jatobá, tamarindo, mulungu, olho-de-cabra, saboneteira e até flamboyant. E o arremate de muitas peças é feito com uma espécie de capim dourado mais fino e curto do que o utilizado normalmente, que se assemelha a fios de ouro.

A colheita do capim é um exemplo da sustentabilidade do artesanato ecológico produzido no PA Rio das Ondas. Às margens do Rio de Ondas, ele é colhido entre os meses de setembro e outubro, após a polinização. Depois de colher o capim, os artesãos descartam no local as flores e as sementes, para que ele germine e volte a nascer.

Os artesãos do PA Rio de Ondas também vão levar para a Marina da Glória artigos natalinos produzidos com da vegetação do Cerrado.

Comunidades quilombolas do MA comemoram reconhecimento

20/11/2008 - “Reconhecendo minha assinatura, instituo única e universal herdeira a dita minha escrava Tomasa, a quem eu antes deste testamento, em que a liberto, já tendo passada a contar de liberdade que tenho em meu poder e isso faço em atenção aos bons serviços a que me tem prestado a mesma Tomasa com a condição, porém, de minha dita herdeira não poder alienar por qualquer força os bens que lhe deixo, podendo somente gozar deles como lhe parecer, os quais gozarão os herdeiros dela (Tomasa)”.

O trecho acima foi extraído do testamento de João Gabriel de Araújo e Silva que deixou as terras do imóvel Segurado/Timbotuba para sua escrava Tomasa. O documento foi redigido em 28 de março de 1879, no Cartório do 2º Ofício de Alcântara e foi encontrado pela tabeliã do Cartório do 1º Ofício Extrajudicial, Maria Benita Moraes Dias. A localização foi feita durante levantamento cartorial realizado em 2007 pela equipe da Superintendência Regional do Incra no Maranhão para conhecimento de todos os 385 registros imobiliários incidentes no território dos remanescentes de quilombos do município de Alcântara.

Passados 129 anos da expedição desse testamento, quem hoje habita as terras do imóvel Segurado e é a atual herdeira da área, é dona Felicidade, como gosta de ser chamada, assim como outras 3.500 famílias que vão continuar vivendo nas terras de seus ancestrais.

Essa garantia foi dada pelo Governo Federal, por meio do Incra, que no último dia quatro publicou no Diário Oficial da União o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), reconhecendo as 106 comunidades quilombolas existentes no município como Território Quilombola.

Expectativas

“Estávamos com uma expectativa muito grande para essa decisão. A minha família é herdeira da senhora Laurência e essa terra que moramos (Santo Inácio) é uma herança que veio do branco para a filha escrava. Agora é uma alegria a gente ver o trabalho publicado”, contou entusiasmado o quilombola Pedro Francisco Coelho.

No povoado Santo Inácio existem 45 famílias que vivem da agricultura e da pesca de subsistência. Com o reconhecimento oficial das comunidades de Alcântara como Território Remanescente de Quilombos, essas comunidades passam a ter direito a acessar os mesmos créditos concedidos aos beneficiários da reforma agrária.

Para Pedro Coelho, Santo Inácio precisa de melhoras na infra-estrutura. “Nosso povoado tem poucas condições. Só duas casas são de alvenaria e o restante é de taipa. Esperamos que cheguem logo esses benefícios para a comunidade, que é muito carente”, explicou.

Mas não foram somente os quilombolas que comemoraram a notícia como uma grande conquista. A atual prefeita de Alcântara, Heloísa Leitão, também considerou a decisão positiva para o município. “Alcântara carecia dessa decisão porque até o Poder Público encontrava dificuldade para realizar qualquer investimento em áreas quilombolas, por conta da falta de titularidade da área”, ressaltou a prefeita.

Alcântara tem 21.349 habitantes, em uma área de mais de 148,3 mil hectares. O RTID publicado no DOU destina 78,1 mil hectares do município às comunidades quilombolas, o que equivale a aproximadamente 53% do total da área. “Em Alcântara é mais fácil dizer o que não é quilombola. As comunidades quilombolas que integram o nosso município são a nossa riqueza e das quais não abrimos mão”, frisou Heloísa.

Segunda a prefeita, com a titularidade dessas terras fica mais fácil para o município implementar políticas públicas nessas comunidades e conseguir novos investimentos, como a realização de convênios com os governos Federal e Estadual.

Base Aeroespacial

O reconhecimento das comunidades quilombolas de Alcântara também coloca fim no conflito que se arrastava por mais de 25 anos entre os quilombolas e o Centro de Lançamento de Foguetes. Desde a década de 80, quando a Base foi instalada e 312 famílias foram reassentadas em sete agrovilas, a situação de tensão continuava latente.

No início do projeto, a área cedida para a instalação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) era de 52 mil hectares. Depois, a área aumentou para 62 mil hectares, o que ocupava quase 42% da área do município. Com a publicação do RTID, o CLA teve sua área definida em 9,1 mil hectares.

A implantação de um projeto chamado Cyclone 4 nas áreas das comunidades quilombolas de Mamuna e Baracatatiua, que foi cogitado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e pela Empresa Binacional Alcântara Cyclone Soace (ACS), foi suspenso pelo Ministério Público Federal. Se o Programa Espacial Brasileiro precisar ser ampliado, ele agora deverá fazê-lo dentro da área já disponível para o CLA, não podendo ultrapassar seus limites.

“O que foi feito agora foi uma reorganização a partir daquilo que nós estávamos defendendo, ou seja, que a expansão fosse feita dentro da área que já pertence ao CLA. O governo analisou, verificou que isso era possível e homologou que não haverá incidência nas terras dos quilombos. Agora será respeitado o direito dos quilombolas”, esclareceu o militante do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (Mabe), Sérvulo de Jesus Moraes Borges.

Exemplo nacional

A resistência e a luta das comunidades quilombolas de Alcântara se fez pela união de diversos movimentos sociais e sindicais que não hesitaram em apelar até para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sediada em Washington, nos Estados Unidos.

O reconhecimento dessas comunidades tem para os quilombolas um valor histórico incontestável. “Esse momento é de vitória tanto para a sociedade civil quanto para o Governo. Temos muitos processos travados que necessitam de ações concretas para serem resolvidos. Foi um passo importante dado pelo Governo Federal”, admitiu o militante do Mabe.

O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Alcântara acompanhou todas as etapas do trabalho de campo realizado pelo antropólogo Alfredo Wagner, que posteriormente deu origem ao laudo antropológico das comunidades.

De acordo com o vice-presidente do sindicato, Samuel Araújo Moraes, os trabalhadores nunca foram contra o projeto do CLA e sim contra a maneira como ele foi implantado. “O artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais e Transitórias (ADCT) garante aos remanescentes das comunidades quilombolas o direito à titulação das terras. Agora temos um enorme prazer de ver esse direito respeitado”, comentou.

Para o gestor de comunidades tradicionais da Secretaria de Estado da Igualdade Racial do Maranhão, Ivo Fonseca, o reconhecimento do território quilombola de Alcântara veio num momento favorável para o movimento negro e que coincidiu com a vitória de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos da América.

Ivo destaca que, depois da titulação das terras, o Governo Federal precisa avançar nas políticas públicas voltadas para as comunidades quilombolas. “Como as políticas públicas ainda são poucas, não temos como eleger uma prioritária. Em determinadas comunidades nós avançamos e em outras não. Isso vai pela situação, pelo requerimento da comunidade”, relatou.

Andamento do processo

O processo de reconhecimento das comunidades quilombolas de Alcântara encontra-se na fase de contestação do RTID, ou seja, o Incra/MA notificará os ocupantes das áreas, que terão 90 dias para as contestações. A próxima etapa é a publicação da Portaria de Reconhecimento. Em seguida, serão realizadas as vistorias de avaliação dos imóveis incidentes no território para depois ser publicado o Decreto de Desapropriação do território.

Após a publicação deste Decreto, será realizada a demarcação da área, com posterior expedição do título definitivo. Por último, será feito o registro no cartório do título em nome da comunidade.

De acordo com o engenheiro agrônomo da Superintendência Regional do Incra/MA, Ivan Guimarães, o título definitivo será coletivo. “O título será expedido em nome de uma única associação. Sendo que o referido título será inalienável, imprescritível, indivisível e impenhorável”, explicou.

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Roraima discute estratégias para Território Rural Indígena

14/11/2008 - O Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) está realizando reuniões em Roraima para discutir estratégias de desenvolvimento para o primeiro Território Rural Indígena do Brasil, que abrange as terras Raposa/Serra do Sol e São Marcos. Também serão socializados conceitos sobre território e colegiado.

Os encontros começaram nesta quinta-feira (13) e prosseguem até este sábado (15), na comunidade indígena do Barro, na Vila Surumu, no município de Pacaraima (RR). Cerca de 120 pessoas participam das reuniões, entre indígenas e representantes de entidades governamentais ligadas ao desenvolvimento rural sustentável no estado.

Durante o evento, será realizada uma plenária para escolha das organizações indígenas e das entidades governamentais que vão compor o Colegiado do Território Indígena Raposa Serra do Sol, que terá como atribuições discutir, votar e aprovar ações a serem implementadas no Território.

O MDA reconheceu no ano passado o Território Rural Raposa/Serra do Sol e a homologação foi divulgada este ano no Diário Oficial da União (DOU). “Com isso, poderemos aplicar recursos na região com o objetivo de realizar, por meio de projetos de infra-estrutura e custeio, o desenvolvimento e a inclusão social das comunidades indígenas”, enfatizou a delegada do Ministériuo em Roraima, Célia Souza.

Territórios da Cidadania

O Programa Territórios da Cidadania foi lançado nacionalmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 25 de fevereiro de 2008, durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília. O lançamento foi transmitido em tempo real para 27 territórios de vários estados brasileiros. No período de 25 de fevereiro a 20 de março deste ano, o Territórios da Cidadania foi apresentado nos 60 territórios que compõem o Programa. Essas localidades foram escolhidas para participar do Programa em função dos baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e do baixo dinamismo social e econômico.

Na fase da apresentação do Programa nos territórios, eram previstos R$ 11,3 bilhões para a realização de 135 ações, envolvendo 19 ministérios. Mil pessoas participaram dessa etapa, sendo 75% delas integrantes da sociedade civil e as outras 25%, representantes do poder público. A média de participação foi de 150 pessoas por território.

Mas o recurso foi ampliado. Depois da fase de análise e debate da matriz de investimentos proposta pelo Governo Federal aos colegiados territoriais, novas demandas foram incorporadas ao Programa Territórios da Cidadania. Assim, o recurso foi incrementado, passando de R$ 11,3 bilhões para R$ 12,6 bilhões neste ano. As ações nos 60 territórios também foram ampliadas de 135 para 170, beneficiando cerca de dois milhões de famílias. A fase de debates resultou na realização de mais de 200 eventos em todo o País, envolvendo quase 14 mil pessoas – a maior parte (56%) da sociedade civil.

 
 

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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