PARA GOVERNADOR DE RORAIMA, QUARTIERO IMPEDIU SOLUÇÃO PACÍFICA NA RAPOSA SERRA DO SOL

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Dezembro de 2008

8 de Dezembro de 2008 - Marco Antônio Soalheiro - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Em entrevista coletiva concedida hoje (8) em Brasília, o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, responsabilizou o prefeito de Pacaraima e produtor de arroz, Paulo César Quartiero, pelo acirramento dos ânimos entre as partes envolvidas na disputa pelo uso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, área de 1,7 milhão de hectares homologada em abril de 2005 pelo governo federal.

“Os arrozeiros são apenas uma facção do interesse na história. Cinco deles estão tranquilos e admitem sair se a Justiça assim decidir. Tem só uma figura que tem atrapalhado todo o processo. Ele é o único que polemizou e atrapalhou”, afirmou Anchieta Júnior, se referindo a Quartiero. O governador lembrou ainda que o arrozeiro “foi derrotado” nas eleições municipais e deixará o comando de Pacaraima a partir do início do próximo ano.

O Supremo Tribunal Federal (STF) retomará na próxima quarta-feira (10) o julgamento da constitucionalidade da demarcação em faixa contínua da reserva. Anchieta defende uma demarcação em ilhas, excluídas as estradas, vilas, sedes de municípios e fazendas de arroz. As plantações de arroz da Raposa Serra do Sol representam 6% do Produto Interno Bruto do estado, com 3,5 milhões de sacas anuais do produto.

Segundo o governador, os indígenas, em sua maioria, não querem a demarcação contínua e estão satisfeitos com o auxílio dado pelo governo estadual às comunidades.

“Os índios de lá já vivem harmonicamente com os não-índios e até precisam dessa integração. As comunidades não querem a demarcação contínua porque quem garante os serviços públicos é o governo do estado”, argumentou o governador. “A única exceção é essa ONG, o CIR [Conselho Indígena de Roraima]”, acrescentou.

Anchieta citou a manutenção de estradas, energia elétrica, saúde, escolas indígenas e fomento ao setor primário como serviços prestados pelo poder público estadual na área da reserva.

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Sob tensão, índios e arrozeiros de Roraima se mobilizam para acompanhar julgamento no STF

9 de Dezembro de 2008 - Marco Antonio Soalheiro - Enviado Especial - Boa Vista - O Conselho Indígena de Roraima (CIR) prometeu hoje (9) reunir cerca de 1.500 pessoas na comunidade do Barro, vizinha à Vila Surumu, principal portal de entrada da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, para assistirem amanhã (10) pela televisão ao julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), da constitucionalidade da demarcação da reserva. Como não há horário de verão em Roraima, o julgamento começará, para quem ficou no estado, às 7h da manhã (9h de Brasília).

Segundo o coordenador-geral do CIR, Dionito José de Souza, seis caminhões foram utilizados para trazer o pessoal para a comunidade, além dos indíos, que se deslocam de bicicleta, de moto ou a pé. Outros 40 representantes foram enviados a Brasília. Os índios já sinalizaram que podem não acatar pacificamente um revés no tribunal.

O presidente da Associação dos Arrozeiros de Roraima, Nelson Itikawa, e o prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartieiro, que protagonizaram nos últimos meses o movimento de resistência à retirada dos não-índios de parte da área de 1,7 milhão de hectares da reserva, se dirigiram a Brasília esperançosos de que não prevaleça no plenário do STF o voto já dado, pelo ministro relator Carlos Ayres Britto, que manteve a demarcação em faixa contínua. Eles defendem a demarcação em ilhas, com a exclusão de fazendas, estradas e sedes de municípios.

Questionado se o grupo faria alguma manifestação também na Vila Surumu, Quartieiro respondeu com ironia: “Nosso grupo é de gente que trabalha, que tem que pagar suas contas, e não tem tempo para participar de espetáculo para a imprensa”, disse o produtor.

A Polícia Federal mantém um posto permanente na Vila Surumu desde abril deste ano e reforçou seu efetivo para garantir a segurança na reserva. Um grupo de indígenas está estrategicamente posicionado em frente à fazenda Depósito, de Quartieiro, o que pode levar a um acirramento de ânimos entre as partes. Próximo dali, em maio, funcionários do produtor balearam índios que tentavam erguer malocas nos limites da propriedade. “Não vou invadir minha própria casa. Se quiséssemos tomar aquilo à força, já tínhamos feito”, comentou Dionito.

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Arrozeiros de Roraima ignoram risco de despejo e fazem previsão de safra recorde

9 de Dezembro de 2008 - Marco Antônio Soalheiro - Enviado Especial - Boa Vista - Sem nenhuma garantia de quanto tempo poderão permanecer em parte da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, produtores de arroz do estado garantem estar preparados para baterem recordes de produção em 2009.

O risco de despejo a partir do julgamento da constitucionalidade da demarcação da reserva em faixa contínua – que será retomado amanhã (10) no Supremo Tribunal Federal (STF) - e nem mesmo a crise financeira internacional comprometem a meta, segundo eles, que prevêem colher cerca de 3,5 milhões de sacas do grão.

“Hoje produzimos em torno de 160 mil toneladas de arroz por ano em Roraima e 60% dessa produção ficam dentro da Raposa Serra do Sol. As áreas em que nós trabalhamos nunca foram indígenas”, argumentou o presidente da Associação dos Arrozeiros de Roraima, Nelson Itikawa, em entrevista concedida antes de embarcar para Brasília.

“A crise não afetou, só dificultou , porque os insumos são importados e houve um aumento de até 120% nos últimos 12 meses. Mas a nossa meta é sempre aumentar a produção”, acrescentou.

A produção de arroz representa atualmente cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) de Roraima e gera diretamente mais de 2 mil empregos, segundo o governo estadual.

Itikawa sucedeu na presidência da associação o prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, a quem o governador José de Anchieta Júnior responsabilizou pelo clima de animosidade entre índios e produtores.

O “Japonês”, como é conhecido em Boa Vista, se difere do antecessor pelo temperamento mais calmo, pelo menos em declarações públicas. Mas ele evita condenar o colega de atividade.

“Só sabe o sapato que aperta quem o calça. Se ele [Quartieiro] tem centenas de indígenas querendo invadir sua área, tem que defender sua vida e o futuro dos seus filhos. Somos companheiros de trabalho e não podemos criticar a atitude dele”, disse Itikawa.
O líder dos arrozeiros embarcou para capital federal confiante que os demais ministros do STF não sigam o voto do relator, ministro Carlos Ayres Britto, que classificou a área de 1,7 milhão hectares, homologada pelo governo federal em abril de 2005, como de uso exclusivo indígena.

“Esperamos que o voto do segundo ministro seja de uma forma que atenda a necessidade de ambas as partes. Não precisamos brigar por terra aqui. Temos o menor índice demográfico do país, mas as ongs estrangeiras interferem no processo. Existe convivência pacífica secular entre índios e não -índios”, afirmou.

Itikawa demonstra aparentemente mais disposição para aceitar o resultado do julgamento do que o colega Quartieiro. Mas condiciona a saída da reserva ao cumprimento pelo governo federal das medidas exigidas para a desapropriação.

“O decreto de demarcação fala em indenização justa e prévia, além de realocação em área condizente com a atividade. Se arrumarem essa área e indenizarem em dinheiro, temos que cumprir, porque a Justiça assim determina”, disse.

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Índios do CIR prometem não acatar eventual decisão do STF em favor de arrozeiros

9 de Dezembro de 2008 - Marco Antonio Soalheiro - Enviado Especial - Boa Vista - Na véspera da retomada do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) da constitucionalidade da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol em faixa contínua, o clima entre as lideranças do Conselho Indígena de Roraima (CIR) oscila entre o otimismo e o inconformismo com o risco de uma decisão que permita a permanência de produtores de arroz e agricultores brancos na reserva. Eles prometem não acatar pacificamente uma eventual decisão em favor dos arrozeiros.

“Vamos gritar ao mundo inteiro e aí vamos tirar à força mesmo. Se é para brincar com lei, vamos brincar. Aí não dá não. Vamos recorrer e depois ver a outra situação”, respondeu o coordenador geral do CIR, Dionito José de Souza, quando questionado pela Agência Brasil sobre a possibilidade de uma decisão favorável aos produtores que pretendem se manter em propriedades ocupadas há algumas décadas.

“Se o respeito à Constituição for olhado com carinho e com amor, a Raposa Serra do Sol vai ficar em área contínua”, acrescentou Dionito.

Caso o STF confirme a área de 1,7 milhão de hectares como de uso exclusivo indígena, o discurso do líder muda. “Somos educados e vamos esperar a PF [Polícia Federal] e a Força Nacional retirarem os invasores.”

A prevalecer o voto do relator, ministro Carlos Ayres Britto, que determinou a saída de todos os não-índios da reserva, o CIR planeja buscar parcerias para investir em projetos de desenvolvimento sustentável nas comunidades, que complementem a renda proporcionada por cerca de 35 mil cabeças de gado já existentes.

“Queremos trabalhar com grandes projetos de castanha e fazer doce de caju. A caça e a pesca estão muito fracas”, argumentou Dionito.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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