20 ANOS SEM CHICO MENDES

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Dezembro de 2008

Para Marina Silva, seringueiro foi "coração voluntário na defesa da floresta"

22 de Dezembro de 2008 - Beth Begonha e Luana Lourenço - Repórteres da EBC - Brasília - O líder seringueiro Chico Mendes, assassinado por defender a floresta do avanço do desmatamento, foi “um coração voluntário na defesa da floresta”, na avaliação da ex-ministra do Meio Ambiente e senadora Marina Silva.

Amiga de Chico Mendes e uma das principais personagens da continuidade da trajetória do ambientalista, assassinado há 20 anos, a senadora acredita que o fortalecimento do modelo extrativista – a chamada economia da floresta – precisa ser fortalecido para garantir a sustentabilidade na Amazônia, ou seja, manter a floresta em pé com alternativas econômicas para quem vive na região.

“O modelo predatório de desenvolvimento, de remoção da floresta para outros tipos de atividade, tem pelo menos 400 anos no Brasil, e contou com financiamento, com tecnologia, com políticas públicas no mais alto grau de suporte e com toda uma base de políticos e governantes apoiando esse modelo. Já o modelo de desenvolvimento sustentável começou há 20 anos e as pessoas fazem uma cobrança para que já tenha os mesmos resultados que aquele. É muito desmedido”, avalia.

A senadora, que conviveu com Chico Mendes nos seringais de Xapuri e nas batalhas políticas em Rio Branco, acredita que a herança do ambientalista foi muito além do Acre e ainda hoje é referência para as políticas públicas e ações da sociedade civil em defesa da Amazônia.

“O que ele fez, prevaleceu, porque não era algo só do Chico Mendes, era algo de um tempo, o questionamento de uma época. O que teria acontecido com a Amazônia se tivesse continuado aquele ritmo [de desmate]? Acho que teria sido terrível”, avalia.

Vinte anos após a morte de Chico Mendes, Marina avalia que a Amazônia deixou de ser vista apenas como fonte de biodiversidade para geração de lucros e ganhou valor do ponto de vista simbólico, estético e de prestação de serviços ambientais para o planeta.

“O maior avanço que tivemos foi na consciência das pessoas. Se nós pararmos para pensar que há 20 anos ele era uma pessoa praticamente isolada, com poucos apoios fora do Acre, e hoje vermos o que significa a preocupação do país inteiro com a a Amazônia, é uma coisa que a gente bem conseguiria imaginar”, avalia.

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Parentes e amigos lamentam que líder acreano não tenha visto conquistas

21 de Dezembro de 2008 - Beth Begonha e Luana Lourenço* - Repórteres da EBC - Brasília - “No começo, pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a floresta amazônica, agora percebo que estou lutando pela humanidade”. A frase do seringueiro, líder sindical e ambientalista Chico Mendes ecoou pela floresta e chamou a atenção do mundo para a resistência de trabalhadores contra a transformação da Amazônia em fazendas.

Vinte anos depois da morte de Chico Mendes, assassinado com um tiro de espingarda, a família, os amigos e companheiros de resistência lamentam que o seringueiro não tenha vivido para ver de perto as conquistas pelas quais lutou.

“A luta não foi em vão. A nossa pena é o Chico não estar aqui entre nós, vendo que as coisas estão como ele queria. Hoje, o seringueiro zela pelo seu lugar, cuida da floresta para os filhos e netos”, conta o primo e também seringueiro Sebastião Teixeira Mendes. “O que ele deixou para mim foi aquela mente de aconselhar as pessoas, de saber respeitar a natureza”, acrescenta.

Amigo de Chico Mendes, o líder da Reserva Extrativista Cazumba Iracema, Raimundo Silva, aponta a criação das reservas extrativistas (Resex) como um dos principais legados da luta docompanheiro. As Resex são unidades de conservação que permitem o uso sustentável dos recursos naturais pelas populações que vivem no interior dessas áreas.

“Ele ficou famoso depois que faleceu, mas deixou uma coisa muito importante que foi o incentivo. Hoje, eu defendo muito a reserva extrativista, porque vejo que a forma que nós temos de segurança, para nossa saúde, é a reserva. Se passa de carro ou de avião por onde não é reserva, você já percebe o tamanho do desmatamento, não tem mais quase floresta”, compara.

Além da luta da floresta, Chico Mendes também é lembrado pela defesa da integração entre os povos da floresta – índios, ribeirinhos, extrativistas – e pela educação. Depois de aprender a ler e a escrever com amigos, Chico Mendes passou a alfabetizar os companheiros do seringal.

“Era assim, quem sabia um pouco ensinava para os outros. Depois do nosso movimento, foi que começamos a criar umas escolas no interior. Nós fomos ter o direito de ter uma escola, posto de saúde. Hoje, temos escolas até o segundo grau”, comemora Sebastião Mendes.

A viúva do seringueiro, Ilzamar Mendes, acredita que em 20 anos a luta ganhou reconhecimento nacional, o que garantiu conquistas para os trabalhadores da floresta.

“Falta muita coisa, mas não somos mais sozinhos. Agora, temos autoridades que nos apóiam, pessoas que nos ajudam a defender a causa do ambientalismo”, avalia.

O seringueiro Neto, da Associação dos Produtores do Seringal Equador, vai além e compara a vida e a luta de Chico Mendes à trajetória de um mártir, em nome da Amazônia.

“Tem muita gente que quase não acredita mas, na minha visão, eu que trabalhei com ele, o Chico Mendes fez papel de Jesus Cristo: morreu para dar vida a muita gente”.

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Idéias de seringueiro ainda influenciam políticas de desenvolvimento sustentável

21 de Dezembro de 2008 - Beth Begonha e Luana Lourenço - Repórteres da EBC - Brasília - Em 22 de dezembro de 1988, um tiro de espingarda matou Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, que de líder sindical e seringueiro transformou-se em ícone da preservação da Amazônia. Vinte anos depois da morte, suas idéias ainda influenciam as políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.

Precursor do ambientalismo brasileiro, Chico Mendes nasceu e viveu nos seringais de Xapuri, no Acre. “Ele sempre foi um menino pacífico, de natureza boa. Era sabido na leitura, muito inteligente. Tudo para ele era na calma”, lembra a tia, Cecília Mendes.

Conhecedor da floresta, Chico Mendes defendia o direito à exploração dos recursos naturais, mas sem o esgotamento. A preocupação com a sustentabilidade é uma das lembranças do primo e companheiro de resistência, Sebastião Teixeira Mendes. “Ele dizia: 'Tião, é o seguinte: eu botei na minha cabeça que a gente tem que preservar', aí saiu pelo mundo com essa história de preservar. Mas sempre voltava, não esquecia daqui”.

A luta contra a transformação da floresta em pasto para criação de gado, intensificada a partir do fim da década de 1970, deu visibilidade à luta dos seringueiros do Acre, que ganharam os jornais nacionais e internacionais com os chamados empates, ocasiões em que grupos de trabalhadores formavam barreiras humanas para impedir o trabalho das motosserras.

Cunhada do ambientalista, Deusamar Mendes lembra que os empates reuniam homens, mulheres e até crianças contra o desmatamento. “Quando se sabia que ia ter uma derrubada, um vizinho avisava o outro, marcava um lugar para todos se encontrarem. Ia todo mundo e chegava-se no local da derrubada, improvisava barracas de lona e avisava que eles teriam que parar a derrubada e sair pacificamente. Sabíamos que eram trabalhadores, mas dizíamos que aquilo não era um meio de sobrevivência; iam atrapalhar a vida de muitos outros”, relata.

À frente dos trabalhadores da floresta, Chico Mendes assumiu a secretaria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia e em seguida fundou o STR em Xapuri. Dirigiu a Central Única dos Trabalhadores no Acre, foi vereador pelo MDB e participou da fundação do PT no estado, junto de nomes como a senadora Marina Silva e o atual governador do Acre Binho Marques.

“As questões ambientais passaram a ser debatidas dentro do movimento sindical a partir do envolvimento e da atuação direta do Chico”, disse o vice-presidente do Conselho Nacional dos Serigueiros, Júlio Barbosa. Em 1987, foi o primeiro brasileiro a receber o prêmio Global 500, da Organização das Nações Unidas (ONU).

Com os empates e a repercussão internacional da luta dos povos da floresta pela preservação da Amazônia, Chico Mendes passou a conviver com as ameças de políticos e fazendeiros da região, tanto que chegou a enviar para autoridades locais uma relação de nomes de possíveis algozes. Os nomes de Darly Alves e do filho Darci, condenados pelo assassinato, estavam na lista.

“Pistoleiros sempre ameaçavam: telefonavam, deixavam recados embaixo da porta. Um desses dizia assim: 'o seu fim está próximo, você vai ter um belo Natal'. Foi uma morte anunciada, que o Chico avisou ao mundo inteiro”, lembra Deusamar.

O fazendeiro Darly Alves e o filho Darcy foram apontados como mandante e autor, respectivamente, da morte de Chico Mendes. Em 11000, os dois foram condenados a 19 anos de prisão pela morte do seringueiro. Fugiram da prisão em Rio Branco, em fevereiro de 1993, e só foram recapturados três anos depois. Em setembro deste ano, a Justiça concedeu o direito de prisão domiciliar para Darly, que hoje tem 71 anos.

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Minc diz que morte do líder não encerra ideal de desenvolvimento sustentável

22 de Dezembro de 2008 - Luana Lourenço - Repórter da Agência Brasil - Brasília - A morte do líder seringueiro Chico Mendes, assassinado há 20 anos em Xapuri, no Acre, não encerrou o ideal de desenvolvimento sustentável na Amazônia, de acordo com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. “O Chico foi assassinado, mas nossa questão não é vingança, é lutar para que os ideais dele sejam levados adiante”.

Na avaliação de Minc, que conta ter convivido com Chico Mendes, a luta do ambientalista permanece atual. “A gente não pode esquecer nunca da missão dele, que a gente tem que continuar”.

Em entrevista à Agência Brasil, o ministro afirmou que garantir reforços para reservas extrativistas é uma das ações de sua gestão influenciadas pela trajetória de Chico Mendes.

“Ao reforçar reservas extrativistas, definir preço mínimo para os produtos extrativistas e garantir para os extrativistas os mesmos direitos dos beneficiários da reforma agrária, com recursos para moradia e assistência técnica, damos continuidade às idéias do Chico. Dessa maneira, ele vive”, afirmou o ministro.

Minc participa hoje (22) à noite da entrega do Prêmio Chico Mendes no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A iniciativa vai premiar lideranças e entidades que se destacaram na preservação do meio ambiente.

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Consolidação de reservas extrativistas é resultado da luta contra desmatamento

21 de Dezembro de 2008 - Luana Lourenço - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Vinte anos depois do assassinato de Chico Mendes, a consolidação das reservas extrativistas, que aliam preservação e desenvolvimento de populações tradicionais, é úm dos resultados do trabalho do líder seringueiro, reconhecido com uma das primeiras vozes contra o desmatamento da Amazônia. A avaliação é do presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello.

“Ampliamos o sonho, o que era uma idéia do Chico virou realidade. Avançamos também no modelo: o que Chico Mendes plantou nos seringais já chegou ao mar, por exemplo: temos reservas extrativistas no mar.”

Segundo Mello, a criação de um conjunto de unidades de conservação de uso sustentável – Resex, Reservas de Desenvolvimento Sustentável e Florestas Nacionais – permite a exploração dos recursos naturais pelas populações que vivem no interior dessas áreas. Mais de 46 mil famílias vivem nessas unidades atualmente.

Mello reconhece, no entanto, que a consolidação das Resex ainda precisa avançar e compara os desafios aos chamados empates, promovidos pelos seringueiros para impedir a derrubada da floresta. “A mesma luta que o Chico começou lá atrás, nós ainda temos que enfrentar. Não é razoável encontrar boi em reservas extrativistas”, afirmou, em referência a focos de desmatamento e de atividade pecuária no interior de reservas.

O principal instrumento para garantir a sobrevivência digna dos trabalhadores com a preservação da floresta – sonho de Chico Mendes – segundo Mello, é a valorização da floresta em pé, para que a preservação tenha mais valor econômico do que o desmatamento.

O presidente do ICMBio apontou, entre as medidas mais imediatas, a definição de preços mínimos para os produtos extrativistas, para que itens como o látex da seringueira, castanhas e óleos ganhem competitividade e desestimulem a criação de gado, que pressiona o desmatamento da floresta. “Precisamos criar mecanismos de consolidação para remuneração de serviços ambientais. Isso fará uma diferença significativa para que a pessoa deixe de chamar de mata – de forma pejorativa – e entenda como floresta.”

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Lula diz que Chico Mendes fez a diferença na defesa da preservação da floresta

22 de Dezembro de 2008 - Amanda Cieglinski - Repórter da Agência Brasil - Brasília - No dia em que a morte do líder sindical Chico Mendes completa 20 anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembrou hoje (22), em seu programa semanal de rádio Café com o Presidente, que o seringueiro “fez a diferença na defesa da dignidade da vida e da preservação da floresta”.

Lula afirmou que conheceu Chico Mendes em 1980 e teve uma forte relação política com o líder. “Ele defendia não a floresta por defender a floresta. O Chico defendia era um jeito moderno do povo que mora na floresta sobreviver, explorando adeqüadamente as riquezas produzidas pela natureza. Quando ele foi assassinado é que o Brasil tomou consciência de que tinha uma liderança extremamente importante, anônima”, avaliou.

Para Lula, a grandeza do trabalho de Chico Mendes só foi reconhecida após o seu assassinato, em 22 de dezembro de 1988, pelo fazendeiro Darly Alves, com um tiro de espingarda. “O Chico Mendes passou a ser compreendido pela sociedade brasileira depois que ele ganhou um prêmio na ONU [Organização das Nações Unidas]. Porque, até então, era tratado aqui como se fosse uma figura baderneira, ou seja, um grevista que atrapalhava que os empresários derrubassem a floresta”.

O presidente acredita que aos poucos o país começa a valorizar essas lideranças. “Tem muitos Chico Mendes espalhados pelo Brasil afora, nas mais diferentes áreas. E eu acho que estas pessoas precisam ser preservadas, cuidadas, para que estas pessoas tenham valor mesmo para o país. E eu acho que o Chico Mendes merece ser lembrado aqui, merece ser lembrado no mundo”, afirmou.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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