ONGs QUESTIONAM FINANCIAMENTO DO BANCO MUNDIAL AO GOVERNO BRASILEIRO

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Março de 2009

10/03/2009 - Instituições afirmam em carta enviada ao banco que os investimentos a serem feitos com o empréstimo não estão claros e que a sociedade brasileira não foi consultada

A aprovação de um financiamento de US$ 1,3 bilhão do Banco Mundial para melhoria da gestão ambiental, de recursos hídricos, iniciativas de combate aos desmatamentos na Amazônia, redução de degradação e proteção dos remanescentes de Mata Atlântica, manejo florestal e promoção de energias renováveis está sendo fortemente questionada por diversas organizações não governamentais.

Por meio de carta endereçada à vice-presidente do Banco Mundial na América Latina, as organizações solicitam que o financiamento, denominado "Programmatic Environmental Sustainability Development Policy Loan Project", seja postergado para ser submetido a ampla consulta com a sociedade brasileira. A preocupação das instituições reside no fato de não estarem claros os investimentos que serão feitos pelo governo brasileiro com esse empréstimo.

O Banco Mundial já concedeu ao governo brasileiro financiamentos para projetos de assistência técnica com vistas a adequações do setor energético, que na avaliação das ONGs não resultaram em melhoria socioambiental. A ausência de estratégias para promoção de alternativas renováveis e de eficiência energética no Plano Decenal de Expansão Energia, do Ministério de Minas e Energia, divulgado em janeiro último, é um dos argumentos utilizados pelas ONGs para questionar o empréstimo.

Na avaliação da coordenadora da Iniciativa Amazônia do ISA, Adriana Ramos, é de se estranhar, no que se refere ao combate ao desmatamento e degradação na Amazônia, que razões levam o governo brasileiro a assumir uma dívida para desenvolver ações ligadas ao tema se está recebendo pelo Fundo Amazônia um montante de recursos de doação para o desenvolvimento de ações com o mesmo objetivo.

Leia abaixo a carta das ONGs.

05 de março de 2009

Ilma. Sra. Pamela Cox Vice Presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe Banco Mundial Washington, DC, Estados Unidos da América

Com cópia para: Sr. Makhtar Diop, Diretor, Banco Mundial no Brasil

Diretores Executivos, Banco Mundial
Sr. Carlos Minc, Ministro do Meio Ambiente
Sr. Paulo Bernardo Silva, Ministro do Planejamento
Sr. Guido Mantega, Ministro da Fazenda
Sra. Dilma Rousseff, Casa Civil
Sr. Luciano Coutinho, Presidente do BNDES

Prezada Sra. Cox,

Subscrevemos-lhe para manifestar nossa preocupação sobre o empréstimo que está sendo concedido pelo Banco Mundial ao governo brasileiro, denominado "Programmatic Environmental Sustainability Development Policy Loan Project (P095205)", tanto em relação ao montante quanto ao seu conteúdo e destinação. Em sua primeira fase, este empréstimo seria de US$ 1,3 bilhão, a ser ampliado em uma segunda fase para um total de US$ 2 bilhões.

Durante a última década, o Banco Mundial outorgou ao governo brasileiro uma série de empréstimos de "assessoria técnica" (Environmental Sustainability Agenda Technical Assistance Project 7331-BR; Regulatory Power Sector Technical Assistance BRPE76977; Energy Sector Technical Assistance 4708-BR), além de empréstimos para "reforma de políticas" (Energy Sector Reform Loan 7120-BR - US$ 454 milhões).

Estes empréstimos tiveram entre os seus objetivos o "mainstreaming" de considerações sócioambientais em diversos setores do governo, inclusive o Ministério de Minas e Energia (MME). Infelizmente, este objetivo nunca foi cumprido.

Um exemplo ilustrativo do fracasso destes empréstimos em cumprir os objetivos divulgados é a falta de integração efetiva de assuntos sociais e ambientais no planejamento energético do País. As Avaliações Ambientais Estratégicas (AAE) que o MME e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) fariam como condição do empréstimo "First Programmatic Reform Loan for Environmental Sustainability" (7256-BR, US$ 502,52 milhões) nunca foram realizadas, sendo rejeitadas unilateralmente pelo MME em favor de "avaliações integradas" em algumas Bacias Hidrográficas. Estes estudos não contribuem substancialmente à determinação de políticas para manejo da Bacia e às alternativas sociais e ambientais sustentáveis aos projetos de construção de hidrelétricas.

O Plano Decenal de Energia (PDE) - 2008-2017 é outro exemplo do descaso do MME na incorporação de considerações sociais e ambientais no planejamento energético. O Plano foi construído nos gabinetes governamentais e consultou somente as empresas do setor de energia. Claramente, o PDE dá prioridade à construção de 71 grandes hidrelétricas, com a expulsão involuntária de mais de 100.000 cidadãos brasileiros e a inundação de reservas indígenas e unidades de conservação. O Plano promove a construção de termoelétricas altamente poluentes à óleo, carvão mineral e gás, prevendo um aumento de 172% no volume de emissões de gases do efeito estufa no setor elétrico, que passaria dos atuais 14,4 milhões de toneladas por ano para cerca de 39,3 milhões de toneladas em 2017.

Além disso, o PDE prioriza a expansão dos projetos de agro-combustíveis, o que implicaria na expansão do cultivo de cana-de-açúcar em 7,5 milhões de hectares. As projeções de crescimento exponencial de demanda de energia são irreais, especialmente no contexto da atual crise econômica mundial, e não incorporam esforços coerentes de enfrentamento das mudanças climática. Medidas de eficiência energética recomendadas como prioridade em relatórios do Banco Mundial (Taylor et al. "Financing Energy Efficiency") e a diversificação de fontes alternativas de energia são relegadas ao futuro, assumindo um papel secundário, com a alegação de serem "caras" para o consumidor.

Além de todas as desastrosas consequências sociais e ambientais dos projetos de infra-estrutura que vêm sendo insistentemente realizados no Brasil, e que constantemente são denunciados pelas populações impactadas, preocupa-nos a falta de transparência em relação ao uso dos recursos emprestados para a execução destas obras. Dentro deste contexto, discutir um novo empréstimo pressupõe que, no mínimo, uma consulta pública prévia seja realizada no processo de planejamento. Do contrário, corre-se o risco de alimentar estruturas e processos viciados, ineficientes e pouco efetivos.

Nos preocupam também os fortes indícios de que o novo empréstimo será destinado a garantir capital para o financiamento de grandes projetos de infra-estrutura, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os empréstimos anunciados recentemente pelo BNDES incluem as hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, na Amazônia brasileira, para os quais este Banco já assumiu compromissos de desembolsar mais de US$ 6 bilhões. Estes projetos representam um atentado contra a sustentabilidade: promovem a destruição da diversidade biológica; têm significativo impacto sócio-cultural em populações ribeirinhas, indígenas, quilombolas, dentre outros povos tradicionais; e podem trazer prejuízos econômicos ao Banco e aos fundos de trabalhadores que opera. Estes, como outros empreendimentos financiados pelo BNDES, colocam em risco os objetivos e compromissos assumidos pelo País internacionalmente, e internamente, no marco das políticas e ações relacionadas com as causas e efeitos do aquecimento global. Assim, pelas razões acima apresentadas, acreditamos que seria um erro a aprovação deste empréstimo. Por isso, reivindicamos que o Banco Mundial postergue a decisão sobre o mesmo até que ele seja submetido a uma ampla consulta com a sociedade brasileira.

Atenciosamente

Amigos da Terra Amazônia Brasileira
Attac-Brasil
Bank Information Center
International Rivers
Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (Inesc)
Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs)
Jubileu Sul Brasil
Núcleo Amigos da Terra Brasil
Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental (Ninja)
Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais

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Fórum Amazônia Sustentável será lançado em Brasília com painel sobre infraestrutura na Amazônia

10/03/2009 - O evento organizado pela Frente Parlamentar Ambientalista, Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Preserve Amazônia e Instituto Socioambiental (ISA) será na próxima quarta-feira, 18 de março, no Auditório Petrônio Portela, no Senado Federal.

O lançamento do Fórum Amazônia Sustentável em Brasília acontecerá no Auditório Petrônio Portela, no Senado Federal, após um café da manhã que será servido aos convidados no Restaurante dos Senadores (anexo II, bloco B, térreo). Logo após a abertura, haverá o Painel: Infraestrutura e Sustentabilidade na Amazônia, com as participações confirmadas da Senadora Marina Silva, do pesquisador Diógenes Alves, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e da Procuradora da República Sandra Cureau. O painel será moderado por Sérgio Guimarães, da organização Instituto Centro Vida (ICV) e terá como comentadores Adriana Ramos, do ISA e Marcos Mariani, da Preserve Amazônia.

O Fórum Amazônia Sustentável foi fundado em Belém em novembro de 2007, após um longo processo de diálogo liderado pelo Instituto Ethos e 40 outras organizações. A finalidade do Fórum é criar um espaço de diálogo entre empresas, governos e organizações da sociedade civil para estudar e apontar alternativas de modelos de desenvolvimento sustentavéis para a Amazônia.

O Painel que será apresentado em Brasília tem como objetivo fomentar a reflexão sobre um tema fundamental para o futuro da região – infraestrutura. Em entrevista, Adriana Ramos explica que “O ‘Painel: Infraestrutura e Sustentabilidade na Amazônia’ vai traçar um panorama dos principais desafios que os projetos de infraestrutura enfrentam e tentar apontar formas de alinhá-los à perspectiva de uso sustentável da região”.

Para ela, é importante abordar a questão da infraestrutura associada à sustentabilidade em espaços de debate articulados e diversificados como o Fórum Amazônia Sustentável, pois esta é uma forma de superar a visão de que existe uma dicotomia entre desenvolvimento e a necessidade de conservação do meio ambiente. Um dos aspectos a serem tratados no debate aborda o planejamento das obras de infraestrutura, em especial no que diz respeito aos impactos socioambientais. Assim, serão debatidas questões como a necessidade da participação das comunidades no processo, a importância de considerar alternativas viáveis e de garantir o atendimento das necessidades básicas da população.

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Assembleia do CIR denuncia invasões de terras indígenas e pede maior fiscalização e vigilância

12/03/2009 - Permanência de não índios já indenizados em Terras Indígenas, invasões garimpeiras, aproveitamento energético de cachoeira no Rio Cotingo. a retomada do julgamento da TI Raposa-Serra do Sol estiveram na pauta da assembleia do Conselho Indígena de Roraima, que contou com a participação de mais mil pessoas durante quatro dias.

Mais de mil pessoas entre lideranças indígenas, organizações indígenas como a HAY (Hutukara Associação Yanomami)e a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica) entre outras, organizações indigenistas e representantes de órgãos públicos participaram da 38ª Assembléia do Conselho Indígena de Roraima (CIR) realizada entre 6 e 9 de março na Comunidade do Barro, na Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, a 230 km de Boa Vista, em Roraima.

Na pauta estavam denúncias de invasões, a permanência de não indígenas já indenizados nas TIs, e o pedido de maior fiscalização e vigilância das TIs por parte dos órgãos competentes.

As lideranças aproveitaram a participação do presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcio Meira, nos dias 7 e 8 de março, e de representantes do Ministério Público Federal, Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), e Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) entre outros, para pedir esclarecimentos sobre o Projeto de Decreto Legislativo 2540/06 que autoriza o aproveitamento de recursos hídricos nos termos do § 3º do art. 231 da Constituição Federal, incluindo os potenciais energéticos da Cachoeira do Tamanduá, no Rio Cotingo (RR). E reiteraram suas denúncias quanto às invasões e a permanência de não indígenas indenizados nas Terras Indígenas em Roraima.

Marcio Meira, da Funai, propõe criação de comissão para tratar de pendências relativas a TIs. À direita, Marcio Apurinã, da Coiab.

Meira disse estar ciente desses problemas e afirmou que tomaria providências a respeito. Propôs a formação de uma comissão das lideranças locais, que deverá ir a Brasília para tratar das pendências dos processos de regularização das Terras Indígenas. O coordenador do Incra em Roraima, Titonho Bezerra, afirmou que a retirada de não-indígenas das TIs não é da competência do órgão federal que pode adotar apenas a posição de negociador.

A retomada do julgamento da demarcação da TI Raposa-Serra do Sol pelo STF no próximo dia 18 de março também foi um dos assuntos abordados pelos tuxauas presentes. O líder Davi Kopenawa Yanomami, da Hutukara, denunciou mais uma vez a invasão da TI Yanomami por garimpeiros e a presença de 19 proprietários não indígenas na área.

Durante a assembléia ocorreram algumas mesas-redondas e o ISA participou das que trataram de projetos de etno-desenvolvimento e da situação atual das TIs em Roraima.

Documentos com os projetos em tramitação no Congresso Nacional que afetam os povos indígenas, e que o ISA acompanha de perto em Brasília foram entregues ao coordenador do CIR, Dionito José de Souza.

O último item da pauta foi a eleição da nova diretoria do CIR. Dionito José de Souza e Terêncio Salamão Manduca foram reeleitos coordenador e vice para mais um mandato. Na Secretaria das Mulheres Indígenas, Marizete de Souza substituiu Luciana Lima Pinto.

 
 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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