DESMATAMENTO: QUANDO A TENDÊNCIA VIRA FATO

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Julho de 2010

Governo anuncia queda no desmatamento da Amazônia antes de fechar análise anual. Ainda que o corte raso diminua, extração de madeira se mantém.

No fim da última semana, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, chamou a imprensa para divulgar "dados parciais" da taxa de desmatamento na Amazônia. Com números do sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), ela afirmou que, entre agosto de 2009 e maio de 2010, o desmatamento na região caiu 47% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Na festa propagada pelo governo, no entanto, pouca voz foi dada a quem entende de monitoramento. Dalton Valeriano, chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe, foi categórico no jornal "Folha de S.Paulo": "Afirmar que o país está desmatando menos ainda é mera especulação".

Valeriano se refere à imprecisão do Deter em medir o tamanho das áreas devastadas. Criado em 2004 pelo Inpe, o sistema veio com o objetivo de, mensalmente, alertar os órgãos de fiscalização quando algo estivesse errado pela floresta. Usando imagens de satélite, o sensor Modis é capaz de "enxergar" cortes rasos e processos de degradação por extração de madeira, mas somente em áreas maiores que 25 hectares. As derrubadas menores que isso ficam de fora. O que não é pouca coisa. De acordo com o próprio pesquisador, hoje os desmatamentos menores representam 60% de toda a devastação.

"Quando o governo começou a usar o Deter e a mandar equipes de fiscalização para os locais que estavam sendo desmatados, os grandes desmatadores entenderam a lógica. Agora, em vez de desmatar uma extensão enorme, eles desmatam várias áreas menores, para que o Deter não pegue", explica André Muggiati, da Campanha da Amazônia do Greenpeace, acrescentando que a imprecisão também ocorre por conta das nuvens: quando o céu está coberto – o que não é incomum na região – nem todas as áreas são identificadas. "Qualquer dado que se refira à área desmatada é equivocado se for gerado por esse sistema. O Deter não foi feito para medir o tamanho do desmatamento".

Dados imprecisos

Por se tratarem de números falhos, o anúncio feito pelo MMA acaba gerando interpretações equivocadas, de que as estatísticas indicam que a agricultura e a pecuária seguem trilhas mais saudáveis, ao mesmo tempo em que a extração predatória de madeira mingua. Ledo engano.

Se o agronegócio está, aos poucos, diminuindo sua pressão sobre a floresta, não se pode falar o mesmo do setor madeireiro. Quem o diz é também o Inpe, com dados do sistema Degrad, criado há dois anos para medir, aí sim, o tamanho de áreas em processo de degradação por extração predatória de madeira.

O gráfico mostra a diferença entre os números do Deter e do Prodes. Os dados de 2010 do Deter ainda não estão completos, e o Prodes ainda não saiu.

Enquanto o desmatamento demonstra queda nos últimos anos, o Degrad mostra que a degradação na floresta seguiu o caminho inverso. Enquanto, em 2007, quase 16 mil quilômetros quadrados foram identificados em estágio de degradação, a taxa subiu para mais de 27 mil km2 no ano seguinte. Os números de 2009, que já deveriam ter ido para a rua, o MMA ainda não soltou.

Para calcular as áreas degradadas, o Inpe utiliza imagens do satélite Landsat, muito mais preciso que o usado pelo Deter. É a partir do que ele aponta que são geradas as taxas anuais de desmatamento na Amazônia. A metodologia adotada para se fazer essa análise ganhou o nome de Prodes (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia). Muito mais refinado que o Deter, esse sistema consegue identificar desmatamentos a partir de 6,25 hectares, deixando de fora uma fatia muito menor da devastação.

Para exemplificar a diferença na precisão entre os dois sistemas, não é preciso ir muito longe. Em 2009, o Deter apontou cerca de 4 mil quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia. Pouco tempo depois, saíram os números do Prodes, que havia identificado muito mais: quase 7.500 quilômetros quadrados derrubados. Nesta terça-feira, a ONG Imazon também soltou seus números de monitoramento mensal. Contrapondo os dados do Deter, o instituto afirma que, de agosto de 2009 a junho de 2010 houve, não declínio, mas um aumento de 8% no desmatamento, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Portanto, todo cuidado é pouco na hora de falar de números, ainda mais se tratando de ano eleitoral. "Uma série de fatores levou à tendência de redução do desmatamento nos últimos anos. A moratória da soja e o compromisso público assumido pelos grandes frigoríficos de não comprar mais gado de áreas devastadas influenciaram bastante, assim como as ações de fiscalização", diz Marcio Astrini, da Campanha Amazônia do Greenpeace. "No ano passado, com crise financeira mundial, o que caiu foi a procura pelas commodities. Com menor demanda, os setores que produziam pressionando a floresta diminuíram o ritmo, e isso teve reflexo na queda do desmate."

Tendências à parte, a atenção deve ser redobrada. Julho é quando começa o período de seca e as motosserras são ligadas a todo vapor. Quantas árvores vão cair nos próximos meses, ainda não se sabe. Mas elas têm de entrar na conta antes que qualquer anúncio seja feito.

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Promessas quebradas

Depois de assumir compromisso público por uma produção sustentável, Sinar Mas é pega mais uma vez destruindo florestas na Indonésia.

Maior fornecedora de óleo de dendê na Indonésia e gigante na produção de celulose e papel, a Sinar Mas continua deixando rastros de destruição nas florestas do país. Após uma série de denúncias que o Greenpeace fez nos últimos meses, o grupo se comprometeu a não botar mais suas máquinas em matas de alta biodiversidade e onde vivem espécies em risco de extinção, como os orangotangos. Mas o Greenpeace foi a campo e constatou que a promessa ficou no papel.

Reunindo dados de pesquisa, de campo, monitoramento aéreo e registros fotográficos, a organização mostrou à imprensa mundial, nesta quinta-feira, que a Sinar Mas continua quebrando seus compromissos. E que, apesar de tentar colar uma imagem sustentável à sua marca, o grupo tem a intenção de expandir suas garras ainda mais pelas florestas indonésias. Em documentos da empresa obtidos pelo Greenpeace, está a prova de que, além disso, ela pretende ocupar, pelo menos, mais um milhão de hectare na região.

“Nós constatamos que, apesar dos compromissos assumidos pela companhia, a destruição continua”, diz Bustar Maitar, coordenador da campanha de Florestas no Sudeste asiático. Por conta da falta de transparência, o Greenpeace pressiona para que o grupo divulgue um mapa detalhando todas as suas operações na Indonésia, para que se saiba como a empresa está atuando e para que sejam indicadas as áreas prioritárias à conservação.

Nos últimos meses, o Greenpeace divulgou diversas evidências de que a produção da Sinar Mas tem sido um dos principais vetores de desmatamento nas florestas tropicais e de turfa da Indonésia, ricas em carbono e moradia de espécies que estão à beira da extinção.

Após a pressão publica, grandes marcas que comercializavam com a Sinar Mas, como Nestlé e Unilever, já quebraram seus contratos com o grupo. A represália, porém, não parece ter sido suficiente para que a gigante limpe sua cadeia de produção. Enquanto ela continuar seguindo esse rumo, o Greenpeace vai continuar expondo a sujeira. “Se continuar por esse caminho, outras companhias vão suspender suas relações comerciais com a Sinar Mas”, garante Maitar. A escolha é dela.


 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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