AINDA TEM CARNE SUJA NA MESA

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2010
 

Às margens da BR-163 e nas beiradas do Arco do Desmatamento, a Floresta Nacional do Jamanxim, no Sul do Pará, está sob proteção oficial desde 2006. Mas, passados quatro anos, isso não impediu que a área de 1,3 milhão de hectares continuasse ameaçada. Em sobrevoo pela região na última semana, ativistas do Greenpeace constataram que os velhos problemas continuam por ali. E têm nome: gado, queimadas e ocupações irregulares de terra.

De acordo com monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Flona de Jamanxim passou o mês de agosto liderando a lista de unidades de conservação com mais queimadas na Amazônia: foram mais de 800 focos registrados. A equipe cruzou as coordenadas dos incêndios com dados do Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes) e percebeu uma clara associação entre fogo e áreas de expansão da pecuária.

Prática antiga na agricultura brasileira, as queimadas servem para renovar o pasto e limpar áreas recém-desmatadas a um custo baixo. “Encontramos grandes focos. Na região da BR-163, o fogo começou no pasto e já atingiu a floresta. E a mesma coisa acontece no Norte de Mato Grosso”, conta Paulo Adario, diretor da Campanha da Amazônia do Greenpeace.

Encravada numa das principais fronteiras de avanço do agronegócio, a Flona do Jamanxim foi criada para conter o desmatamento que avançava por suas bordas. A unidade é uma área de uso sustetável, sendo ilegais quaisquer atividades econômicas ou propriedades particulares em seu interior.

Em meados de 2009, o então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou em altos brados a Operação Boi Pirata II, que iria coibir a criação de gado principalmente dentro de áreas protegidas. À época, mil cabeças de gado foram tiradas do Jamanxim. Mas hoje, segundo o Sindicato Rural do município de Novo Progresso – onde se encontra a Flona – pelo menos 100 mil cabeças continuam pisoteando a área, como mostram as imagens documentadas pelo Greenpeace.

Frigoríficos e supermercados

O problema não é novo, e nem é restrito à Floresta Nacional do Jamanxim. Com a falta de governança, a criação de gado em unidades de conservação e terras indígenas é coisa comum pela Amazônia. O setor da pecuária começou a se mexer apenas no final do ano passado, quando os três maiores frigoríficos do Brasil se comprometeram a não comprar mais boi de fazendas que criam os animais dentro de áreas protegidas ou recém-desmatadas.

No último mês de julho, JBS/Bertin, Marfrig e Minerva anunciaram ter deixado de comprar gado de 221 fazendas com essas características. Outras 1.787 propriedades estão em averiguação. As empresas afirmam, também, ter o ponto georreferenciado de mais de 12.500 fazendas, número que, segundo elas, representa 100% da cadeia de fornecedores diretos da região.

O movimento das gigantes da pecuária, no entanto, não resolve o problema por inteiro. Juntas, elas respondem por 36% dos abates feitos na Amazônia Legal. Deixando-as de lado, existem ainda 259 frigoríficos registrados atuando na região, entre pequenos, médios e grandes. Isso sem falar nos clandestinos. Até agora, eles não assumiram qualquer compromisso com o desmatamento zero, e continuam escoando seus produtos por meio de supermercados que ainda não limparam suas prateleiras dos passivos ambientais e sociais.

A Associação Brasileira de Supermercados, por sua vez, comprometeu-se, em 2009, a excluir fornecedores que têm ligação com a devastação da floresta tropical brasileira. O prazo definido pelas redes varejistas termina na próxima terça-feira, 31, mas os resultados não estão aparecendo. É o que diz o Instituto de Defesa do Consumidor. Segundo o Idec, o consumidor ainda não encontra informação disponível para saber se a carne que chega à sua mesa vem de fazendas com desmatamento ilegal ou uso de trabalho escravo.

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Um olhar do espaço. O outro, do ar

Depois de mais um mês inteiro debruçado sobre mapas, imagens de satélite e equações matemáticas, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou hoje os novos números do SAD, o Sistema de Alerta de Desmatamento, que monitora de forma independente a derrubada e a degradação da floresta. Agora, quem se apoia sobre os dados é o Greenpeace, que vai sobrevoar algumas áreas para conferir se os satélites estavam certos ao apontar mais de 300 quilômetros quadrados de derrubadas na Amazônia no último mês de julho.

A parceria entre as duas organizações promete refinar ainda mais o monitoramento da floresta amazônica. Em setembro, o Greenpeace fará o terceiro sobrevoo de verificação dos dados do SAD. A previsão é que ela ocorra a cada dois meses, mas que seja intensificada nos períodos em que o desmatamento dispara.

Para dar conta do recado, a organização construiu uma metodologia própria. Baseado em alguns critérios, como concentração dos pontos de derrubadas, áreas protegidas e autonomia do avião, são selecionadas cerca de 10% das áreas apontadas pelo SAD para amostragem.

Uma equipe de técnicos em geoprocessamento foi treinada especialmente para essa missão. Em maio de 2010, eles decolaram com GPS, fotógrafo e mapas do Imazon para confirmação de 108 polígonos de desmatamento e degradação indicados pelo sistema, entre os meses de janeiro e março deste ano. O sobrevôo indicou que 93% dos alertas estavam certos.

“Essa verificação é fundamental para sistemas de monitoramento como o SAD, pois as informações são baseadas em interpretação de imagens de satélite”, explica Edwin Keizer, coordenador do laboratório de Geoprocessamento (LabGeo) do Greenpeace. “Os dados reais, de campo, são complementares e confirmam se os alertas são verdadeiros.”

Em se tratando de Amazônia, porém, a função não é simples. Além da imensa extensão das áreas sobrevoadas, a verificação fica prejudicada em tempo de seca e queimadas. Nas últimas semanas, a fumaça resultante de incêndios para limpeza de terreno tornou os sobrevoos arriscados e impediu que alguns pontos fossem confirmados no sul do Amazonas, sudoeste do Pará e norte de Rondônia. “As condições de vôo são precárias. A visibilidade está muito reduzida”, avisava o piloto, pelo rádio.

Dificuldades à parte, a missão segue em frente. Além de tornar mais precisos os dados sobre a Amazônia, a ideia é que, aos poucos, esse monitoramento se torne mais abrangente e envolva mais atores. “O Greenpeace está na Amazônia, conhece a realidade da região e tem parceiros locais. Aos poucos, pretendemos envolver associações e pessoas daqui, formando uma rede de parceiros que vai tornar esse monitoramento ainda mais transparente”, diz Keizer.

Usado como alerta para os órgãos de fiscalização e a sociedade civil, o SAD cumpre função semelhante ao do Deter, o sistema de detecção de desmatamento em tempo real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os alertas, porém, estão cada vez mais difíceis de serem emitidos, já que a dinâmica do desmatamento mudou de alguns anos para cá. Hoje, quase 60% das derrubadas são menores do que 25 hectares, área mínima que os dois sistemas conseguem enxergar.

Daí a importância de se ter cada vez mais olhos voltados para o solo. “Uma pessoa que more numa região remota da Amazônia talvez não entenda de mapas, mas pode ser um importante agente para denunciar um desmatamento que está acontecendo ali, ao seu lado”, afirma o coordenador do LabGeo do Greenpeace. “É essa associação que vai tornar o monitoramento mais eficaz daqui para frente: um olho na tecnologia e outro no ‘mundo real’".


 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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