SECA NOSSA DE CADA DIA

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Setembro de 2010

A coleta do Censo do IBGE anda atrasada no Amazonas, e não é só pelas imensas dimensões do estado. Segundo o instituto, a vazante dos rios tem feito os recenseadores se desdobrarem para alcançar alguns pontos da Zona Rural. Com o leito seco em muitos rios e igarapés, é difícil chegar aos domicílios. O Amazonas está em último lugar na contagem de casas que já foram visitadas por todo o Brasil.

“Os barcos maiores não estão passando em muitos igarapés. Só dá para ir de canoa. E às vezes, nem isso. Tive que ir a pé para chegar em algumas comunidades”, conta Alcione Lopes, de 34 anos e que está fazendo o recenseamento na zona rural de Manaquiri. Não está sendo fácil, e alguns trajetos que ela faria em 15 minutos de barco têm levado uma hora de pé no chão. “Para atravessar é muito ruim, pois os igarapés que secaram ficaram cheias de poças de lama. Em alguns lugares, cheguei a ficar com lama até a metade da perna. Meu cronograma era fazer 15 casas por dia, mas desse jeito não faço nem oito”.

Se os recenseadores têm enfrentado obstáculos, quem está do outro lado da margem sofre ainda mais. Até agora, a Defesa Civil decretou situação de emergência em 21 municípios do estado – a maioria na porção oeste – afetando mais de 140 mil pessoas. Isoladas, muitas comunidades ficam sem água, transporte ou alimento, pois é dos rios que elas tiram esses recursos e é por eles que transitam. Doenças como diarreia, dengue e malária se espalham com mais facilidade. “Essas pessoas dependem do rio para beber e comer. A vida delas gira em torno desses leitos. Quando secam, a situação fica difícil”, observa Alcione.

Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o ponto mais crítico da vazante esse ano foi no oeste do estado do Amazonas, em Tabatinga, por onde passa o rio Solimões. Lá, o leito ficou 36 centímetros abaixo da marca de 1963, quando a estiagem bateu recordes na região. Mas de acordo com técnicos do CPRM e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o nível dos rios já voltou a subir com as chuvas dos últimos dias. A previsão é que, por conta do La Niña, as chuvas sejam antecipadas esse ano.

O fenômeno das cheias e da vazante é comum nos rios amazônicos, em uma região que todo ano passa por períodos de seca e de precipitações. A Defesa Civil, inclusive, já está acostumada a operações desse tipo, tanto em época de estiagem, como em enchentes. Mas em alguns anos, a situação piora. Ano passado, por exemplo, o órgão teve trabalho redobrado quando 58 dos 61 municípios do Amazonas anunciaram situação de emergência frente as águas que não paravam de subir. Em 2005, a seca também castigou com proporções sem precedentes.

Eventos extremos como esse prometem se tornar mais comuns daqui para frente. Ainda que não dê para afirmar com todas as letras que esses fenômenos estão ligados às mudanças climáticas, os impactos do homem no meio ambiente têm gerado inegáveis desequilíbrios nos ecossistemas e ciclos naturais.

Esse ano, o governo já anunciou que deve liberar cerca de R$ 4 milhões para cobrir os problemas causados pela estiagem no Amazonas. Quando as enchentes chegarem, mais alguns milhões devem tapar os novos estragos. Aguardando a liberação dos recursos, a Defesa Civil espera começar uma operação semana que vem nas áreas mais críticas, levando mantimentos, remédios, produtos de higiene pessoal e purificadores de água.

Quando vêm com força, tanto a seca quanto a subida dos rios traumatizam quem está na linha de frente. Mas isso passa, com ajuda dos recursos que brotam para tapar o sol com a peneira. Quanto às mudanças estruturais que poderiam evitar prejuízos nas temporadas seguintes, ninguém fala nada.

Como parte do trabalho que desenvolve na Amazônia, o Greenpeace está acompanhando os altos e baixos da estiagem esse ano, usando dados de órgãos que fazem esse monitoramento. Para ver os dois boletins produzidos por nossa equipe de geoprocessamento.

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Soja ameaça terras indígenas

Relatório de ONG Repórter Brasil expõe um problema que poucos querem ver: a produção de soja ameaça populações indígenas já fragilizadas.
A produção de soja no Mato Grosso vem causando desmatamento e contaminação por agrotóxicos de áreas indígenas, ameaçando a segurança alimentar de populações que nelas vivem, segundo estudo da ONG Repórter Brasil divulgado nesta semana. O caso mais emblemático envolve a Terra Indígena (TI) Maraiwatsede, entre os municípios de Alto da Boa Vista e Bom Jesus do Araguaia, com indícios de envolvimento de grandes comercializadoras de grãos como compradores dessa produção.

Oficialmente criada em 1998 pelo governo federal, a TI Maraiwatsede tem 165 mil hectares e, segundo o estudo, 90% de seu território ocupado ilegalmente por fazendeiros, em sua maioria criadores de gado e produtores de grãos.

O Repórter Brasil diz que, juntas, essas atividades são responsáveis por um dos maiores desmatamentos em áreas protegidas do estado do Mato Grosso: 45% da mata nativa de Maraiwatsede foi destruída, com base em dados do Relatório 2010 do Programa de Monitoramento de Áreas Especiais do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam).

Para Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace, o relatório mostra que apesar dos esforços da indústria da soja em bloquear a produção oriunda de áreas desmatadas após 2006, quando foi anunciada a moratória da soja, o setor ainda tem problemas a resolver.

Adario, que também é coordenador, pela sociedade civil, do Grupo de Trabalho da Soja (GTS), criado para implementar a moratória, diz que o estudo do Repórter Brasil desafia a indústria a adotar ferramentas adicionais de rastreamento da produção para manter a credibilidade que adquiriram junto ao mercado e à sociedade por conta do compromisso de 2006.

O monitoramento adotado pelo GTS para garantir que as comercializadoras não comprem soja vinda de novos desmatamentos não inclui terras indígenas e unidades de conservação, pois a priori tais áreas não foram concebidas para abrigar produção do grão. A moratória tampouco inclui, até agora, o monitoramento em assentamentos, em tese destinados à agricultura de base familiar. “Está mais do que na hora de rever tais critérios”, conclui Adario.

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A biodiversidade aponta o culpado

Um estudo de cinco anos conduzido por pesquisadores do Jardim Botânico Real, na Inglaterra, concluiu que mais de um quinto das espécies de plantas do mundo estão hoje sob ameaça de extinção. O anúncio, fruto do mais completo relatório já elaborado sobre o tema, acontece às vésperas do encontro da ONU sobre biodiversidade, em Nagoya, no Japão.

Para a pesquisa foram usados os arquivos do Jardim Botânico e do Museu de História Natural de Londres, que juntos reúnem cerca de 13 milhões de espécies, e dados da organização União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Os resultados apontam a atividade humana – entre elas, agricultura e desmatamentos - como sendo a principal causa de ameaças a mais de 380 mil espécies do mundo, com impressionantes 81%, contra 19% de responsabilidade de causas ditas naturais. Florestas tropicais estão no topo das mais ameaçadas.

“Estas conclusões reforçam a necessidade de tomarmos ações urgentes para acabar com desmatamentos até 2020, não apenas por causa da biodiversidade da flora, mas também por conta das mudanças climáticas”, diz Christoph Thies, coordenador da Campanha de Florestas.

“No mundo, a cada dois segundos, uma área de florestas do tamanho de um campo de futebol desaparece. O desmatamento é a causa de um quinto das emissões de gases de efeito estufa globais, mais do que todos os carros, aviões e trens do mundo somados”, complementa Thies.

Representantes de 193 países estarão reunidos em Nagoya para a 10ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica. O objetivo é o de chegar a metas comuns de redução das perdas.

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As águas voltam a subir

Voltou a chover no oeste do Amazonas. Por enquanto, a Defesa Civil continua com a lista de 21 municípios em situação de emergência, por conta da vazante dos rios. Mas a julgar pelo monitoramento que o Greenpeace tem feito da situação e pela documentação que fez num sobrevoo nos últimos dias, 2010 não deve ser um ano para entrar na história das piores secas.

Nos gráficos montados com informações do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM), o nível das águas em algumas regiões beirou as curvas dos anos que tiveram as vazantes mais intensas. Mas, aparentemente, o quadro já está se revertendo e o período de seca será menor que nos piores anos. “Em Tabatinga, por exemplo, o Solimões desceu mais que a pior vazante registrada, em 2005. Mas isso durou apenas duas semanas, enquanto naquele ano se arrastou por quase dois meses”, observa Rafael Cruz, da campanha Amazônia do Greenpeace.

O time de ativistas sobrevoou 19 municípios, dos quais três estavam em estado de alerta e 13 em situação de emergência. Fonte Boa e Uarini pareciam ser os mais castigados, conta Cruz: “Nos igarapés a gente só via um filete de água, e os portos ali estavam bastante secos”. Nos demais municípios, havia embarcações atracadas normalmente, e em uma visita por terra ao porto de Tabatinga, a equipe constatou que ele funcionava sem problemas.

O fenômeno das cheias e da vazante é comum nos rios amazônicos, em uma região que todo ano passa por períodos de seca e de precipitações. Sem a presença do Estado, a cada temporada, comunidades sofrem com o isolamento e com enchentes. Para sanar os problemas que chegaram com a vazante esse ano, o governo prometeu R$ 4 milhões. Mas para políticas estruturais voltadas à região, nem sinal de desembolso.


 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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