CÓDIGO FLORESTAL COMO FOI APROVADO NA CÂMARA PODERÁ AGRAVAR MUDANÇAS CLIMÁTICAS, ALERTAM CIENTISTAS DO IPCC

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Maio de 2011

28/05/2011 - 11h36
Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Quatro dos cientistas brasileiros que fazem parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), alertaram para o possível agravamento sobre o clima com a entrada em vigência da atual versão do Código Florestal aprovada pela Câmara. Segundo eles, o aumento da pressão sobre as áreas de florestas comprometerá os compromissos internacionais firmados em 2009 pelo Brasil na Conferência de Copenhague, de diminuir em até 38,9% a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia até 2020.

Os cientistas, que são ligados à Coordenação de Programas de Pós-Gradução de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), falaram sobre o assunto durante um seminário que abordou as conclusões de um relatório do IPCC sobre energias renováveis, realizado na última quinta-feira (26).

Para a cientista Suzana Kanh, as posições internacionais assumidas pelo país serão prejudicadas, se o Senado não mudar o texto do código aprovado pela Câmara ou se a presidenta da República, Dilma Rousseff, não apresentar vetos. “O impacto do código é muito grande, na medida em que o Brasil tem a maior parte do compromisso de redução de emissão ligada à diminuição do desmatamento. Qualquer ação que fragilize esse combate vai dificultar bastante o cumprimento das metas brasileiras”, afirmou.

A cientista alertou que haverá mudanças climáticas imediatas no Brasil e na América do Sul com o aumento da derrubada de florestas para abrir espaço à agricultura e à pecuária, como vem ocorrendo no Cerrado e na Amazônia. “Com o desmatamento, há o aumento da liberação de carbono para a atmosfera, afetando o microclima, influindo sobre o regime de chuvas e provocando a erosão do solo, prejudicando diretamente a população”.

O cientista Roberto Schaeffer, professor de planejamento energético da Coppe, disse que a entrada em vigor do Código Florestal, como aprovado pelos deputados, poderá prejudicar o investimento que o país faz em torno dos biocombustíveis, principalmente a cana, como fontes de energia limpa. “Hoje os biocombustíveis são entendidos como uma das alternativas para lidar como mudanças climáticas. No momento em que o Brasil flexibiliza as regras e perdoa desmatadores, isso gera desconfiança sobre a maneira como o biocombustível é produzido no país e se ele pode reduzir as emissões [de GEE] como a gente sempre falou”, disse.

O geógrafo Marcos Freitas, que também faz parte do IPCC, considerou que o debate em torno do código deveria ser mais focado no melhor aproveitamento do solo, principalmente na revitalização das áreas degradadas. “O Brasil tem 700 mil quilômetros quadrados de terra que já foi desmatada na Amazônia, e pelo menos dois terços é degradada. Se o código se concentrasse nessa terra já seria um ganho, pois evitaria que se desmatasse o restante. A área de floresta em pé é a que preocupa mais. Pois a tendência, na Amazônia, é a expansão da pecuária com baixa rentabilidade”, afirmou.

Para ele, haverá impactos no clima da região e do país, se houver aumento na devastação da floresta decorrente do novo código. “Isso é preocupante, porque a maior emissão [de GEE] histórica do Brasil, em nível global, tem sido o uso do solo da Amazônia, que responde por cerca de 80% de nossas emissões. Nas últimas conferências [climáticas], nós saímos bem na foto, apresentando cenários favoráveis à redução no desmatamento na região. Agora há uma preocupação de que a gente volte a níveis superiores a 10 mil quilômetros quadrados por ano”.

A possibilidade de um retrocesso ambiental, se mantida a decisão da Câmara sobre o código, também foi apontada pelo engenheiro Segen Estefen, especialista em impactos sobre os oceanos. “Foi decepcionante o comportamento do Congresso, uma anistia para quem desmatou. E isso é impunidade. Uma péssima sinalização dos deputados sobre a seriedade na preservação ambiental. Preponderou a visão daqueles que têm interesse no desmatamento. Isso sempre é muito ruim para a imagem do Brasil”, disse.

O diretor da Coppe, Luiz Pinguelli, enviou uma carta à presidenta Dilma, sugerindo que ela vete parte do código, se não houver mudanças positivas no Senado. Secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Pinguelli alertou para a dificuldade do país cumprir as metas internacionais, se não houver um freio à devastação ambiental.

“O problema é o aumento do desmatamento em alguns estados, isso é um mau sinal. Com a aprovação do código, poderemos estar favorecendo essa situação. Seria possível negociar, beneficiando os pequenos agricultores. Mas o que passou é muito ruim”, afirmou Pinguelli, que mantém a esperança de que o Senado discuta com mais profundidade a matéria, podendo melhorar o que foi aprovado na Câmara.

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Caso votação do código ocorresse agora no Senado, o PMDB votaria como foi aprovado na Câmara, avalia Raupp

29/05/2011 - 10h55
Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Caso a votação do projeto do Código Florestal no Senado ocorresse imediatamente, a tendência seria a bancada peemedebista, a maior com 19 parlamentares, aprovar em peso o texto aprovado na Câmara dos Deputados. A avaliação é do presidente do partido, Valdir Raupp (RO), em conversa com a Agência Brasil.

"No PMDB [do Senado] a tendência é aprovar o Código Florestal da forma como está. Não tem como mudar o que teve o apoio do PMDB [na Câmara]", disse o senador. Raupp acrescentou que, qualquer mudança a ser negociada com os demais partidos, do governo e da oposição, terá antes que ser discutida obrigatoriamente com a bancada da Câmara.

A Emenda 164, de autoria do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), anistiou os proprietários rurais que plantaram ou fizeram pastos em áreas de preservação permanente (APPs) até julho de 2008. O texto foi aprovado pela Câmara, no começo da madrugada do dia 25.

Além disso, a emenda transfere para estados e o Distrito Federal, em conjunto com a União, o direito de também legislar sobre meio ambiente. A emenda foi negociada pelas lideranças do PMDB e da oposição, na Câmara, para poder ser aprovado.

Valdir Raupp quer manter com o PMDB a relatoria da matéria na Comissão de Agricultura do Senado, uma das três pelas quais o projeto terá que obrigatoriamente passar, nas mãos do ex-governador de Santa Catarina Luiz Henrique. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a tendência é que o presidente do colegiado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), também indique Luiz Henrique para a relatoria. Entretanto, ele mantém em aberto a indicação para, ainda, tentar um acordo com o governo.

O presidente do PMDB disse, ainda, que tem conversado com colegas de outros partidos com representação no Senado e a tendência é a mesma que a do seu partido, a exceção do PT. Raupp ressaltou que, quanto a postura do líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), caberá a tentativa de "trabalhar para tentar um acordo entre os partidos e o governo".

No PTB, que tem a terceira maior bancada com seis senadores, a tendência, também, é acompanhar os deputados que aprovaram o texto do relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP), acrescido das emendas apresentadas. O líder do partido e vice-líder do governo, Gim Argello (DF), destacou, no entanto, que terá que se reunir com a bancada para confirmar essa tendência.

Até mesmo senadores de partidos tradicionalmente alinhados com o governo petista, como Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), saiu em defesa do projeto da Câmara e de pontos polêmicos como a transferência aos estados da competência de legislar sobre a liberação de plantações e pecuária em áreas de proteção permanente. Segundo ela, a medida é positiva porque as autoridades locais conhecem bem as peculiaridades de seus respectivos estados.

No PSDB, que tem dez senadores, a maioria da bancada está afinada com o texto da Câmara. O líder do partido no Senado, Álvaro Dias (PR), disse que "a maioria da bancada segue essa corrente rural". Entretanto, ele destacou que ainda não tem noção de como o partido tratará os pontos mais polêmicos do texto como a estadualização das competências ambientais e a anistia aos produtores e pecuaristas que desmataram APPs.
Pessoalmente, o tucano é favorável a estadualização. Álvaro Dias considera este ponto "uma das coisas boas" do projeto aprovado pelos deputados. Mas ressalvou que caberá ao Senado "amarrar isso sem afetar o conteúdo geral do Código Florestal".

O petista Lindberg Farias (RJ) disse que, em seu partido, "tirando poucas exceções" existe o clima mais positivo para tentar modificar o texto dos deputados. O senador destacou que o PT está atento para a comoção [negativa] da sociedade diante do projeto aprovado pela Câmara.


 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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