CÓDIGO FLORESTAL EM RISCO

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Maio de 2011

Em uma sessão da Câmara dos Deputados que foi da manhã de ontem à madrugada, o projeto de lei do deputado neoruralista Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que desfigura o código em prol do agronegócio, não foi votado apenas porque o governo se sentiu traído e poderia ser derrotado em plenário.

“O resultado mostra como grande parte da Câmara atuou de forma irresponsável com o país e com o planeta, pois passaram o dia discutindo um texto que não existia e que seria votado à revelia dos interesses de todos os brasileiros”, afirma Paulo Adario, diretor de campanhas da Amazônia. “O texto do deputado não foi construído com base em dados científicos, nem com amplo debate com a sociedade, mas em cima unicamente de interesses dos ruralistas.”

O texto é um ataque ao arcabouço legal que hoje protege as florestas brasileiras para beneficiar o agronegócio. Dá anistia a quem desmatou acima do que a lei permite e abre espaço para mais desmatamentos; transfere para o Congresso – apinhado de ruralistas – e para os órgãos estaduais – que são mal aparelhados e sensíveis a pressões locais - a responsabilidade de regulamentar a legislação, que hoje está com o Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente).

Há outras pegadinhas nessa reforma do Código Florestal, como:

- fim do embargo ao crédito para as fazendas localizadas em municípios na Amazônia marcados com desmatamentos ilegais, que é um dos pilares do Plano Nacional de Combate ao Desmatamento;

- permissão de criação extensiva de gado em encostas, hoje delimitada como área de preservação permanente (APP);

- extensão da isenção de reserva legal (área que cada propriedade rural precisa preservar) para todos os fazendeiros em propriedades de até quatro módulos até 2008 – nesse ponto, Aldo foi ainda mais maldoso, retirando a data do texto e abrindo espaço para que fazendas maiores sejam fragmentadas e beneficiadas;

- fim da proteção aos mangues, para permitir criação de camarão e construções de mansões a portos.

A atuação do governo ontem à noite, segurando a votação, não o exime da culpa de ter alimentado o monstro. A inércia dos últimos dois anos, quando essa reforma começou a ser operada, permitiu que a aliança entre Aldo e os ruralistas gerasse uma proposta de retrocesso na lei, atribuísse às ONGs que lutam pela preservação do ambiente a pecha de inimigos do país e criasse um constrangimento para a presidente.

Dilma é a fiel depositária dos compromissos internacionais de Lula de derrubar o desmatamento, principal contribuição brasileira para o aquecimento global, e dos votos dos brasileiros que acreditaram em sua promessa de campanha de não permitir retrocessos na proteção ambiental ou anistiar crimes ambientais. O Congresso e Aldo Rebelo (que é da base aliada) preparam para Dilma uma arapuca. O Greenpeace espera que ela a desarme enquanto é tempo e desligue a motosserra do Parlamento.

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Não faz nem um ano, o governo anunciou o número mais baixo do desmatamento já registrado na Amazônia. Nesta quarta-feira, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, voltou a público, dessa vez para anunciar que a crise está de volta. A disparada nas derrubadas anunciadas na véspera pelo Imazon, por meio do Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), foi confirmada agora pelo governo. Segundo o Inpe, mais de 590 quilômetros quadrados foram ao chão nos últimos dois meses, num incremento de mais de 570% em relação ao mesmo período do ano passado. Desse total, cerca de 80% ocorreu no Mato Grosso. A situação classificada como “grave e atípica” pela ministra fez com que o governo montasse um gabinete de crise para cuidar do assunto.

Após seguidas quedas na taxa de desmatamento, a curva subiu drasticamente nos últimos meses, ao mesmo tempo em que a proposta dos ruralistas de mudar o Código Florestal corria em Brasília. Izabella preferiu não associar os números a esse debate, mas algumas fontes ouvidas pelo Greenpeace confirmam o burburinho no campo: as promessas de anistia a quem desmatou e de redução tanto das áreas de proteção quanto das punições a crimes ambientais têm gerado uma corrida pelo desmatamento.

Segundo informações de campo, há até fazendeiros licenciados optando por voltar para a ilegalidade e desmatar sem autorização. Os dados do Inpe também mostram que não houve aumento do desmatamento em áreas protegidas: ou seja, as derrubadas são para consolidar áreas privadas de produção.

O cenário, apesar de grave, deve ser ainda pior. Os números anunciados são do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que, pelo resolução do sensor, não consegue enxergar desmatamentos menores que 25 hectares, o que se tornou coisa comum de uns tempos para cá. Além disso, o monitoramento por satélite da região sempre fica prejudicado nessa época, pois a alta concentração de nuvens não permite uma visualização completa do campo. Desmatamentos no Pará e no Amazonas, por exemplo, ficaram quase invisíveis. Os números, portanto, provavelmente são maiores que os divulgados.

Por conta disso, semana passada o Ibama desmobilizou suas fiscalizações em todo o país para concentrar seu pessoal no Mato Grosso. Foi o sinal de que a coisa lá andava feia, como confirmam agora os dados do Inpe e do Imazon. O comparativo de abril de 2010 e abril de 2011 mostra aumento de 800% no desmatamento.

“Quem está em campo sabe que essa explosão do desmatamento não é comum nessa época. A devastação geralmente começa no período da seca. E, no entanto, esse ano o Ibama já apreendeu 40 tratores que estavam desmatando em plena temporada de chuvas”, observa Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia do Greenpeace. “Há uma clara corrida pelo desmatamento, e isso pode comprometer a tendência de queda que existia até agora.”

Há, ainda, outro entrave que vem na esteira da mudança da legislação: os produtores não querem registrar suas propriedades no Cadastro Ambiental Rural (CAR), que tornam públicos os limites da fazenda e dá condições de órgãos de fiscalização identificar os responsáveis por crimes ambientais. A rejeição ao CAR também vem a reboque da promessa de acabar com a obrigatoriedade de recuperar áreas desmatadas e do próprio cadastro. Isso coloca na berlinda o compromisso de setores do mercado de limpar sua produção do desmatamento. “Sem o cadastro, as empresas que compram carne, couro e soja produzidos na Amazônia não têm como saber se seus fornecedores estão envolvidos com desmatamento”, diz Adario.

Justamente por ser atípico, o aumento do desmatamento nessa época pode indicar uma tendência ainda maior para os próximos meses. A ministra se mostrou preocupada, e admitiu que se a situação continuar nesse rumo, o compromisso que o Brasil assumiu internacionalmente, de reduzir suas emissões, pode ficar prejudicado. “Quem apostar no desmatamento para colocar pasto para boi ou alimentação vai ter tanto alimento quanto boi produzido apreendido”, avisou ela.

A fiscalização, porém, não está sendo suficiente. Na última semana, o Ibama suspendeu as fiscalizações por todo o Brasil para concentrar seus fiscais em Mato Grosso. Hoje, há mais de 500 agentes no estado. E mesmo assim, a motosserra continua ligada. “Dilma tem que acabar com o mal pela raiz: ela precisa desligar a motosserra no Congresso, pois é de lá que estão saindo promessas irresponsáveis de anistia para quem desmatar”, diz Paulo Adario. “Estamos às vésperas da Rio +20, e são esses os números que Dilma vai apresentar para o mundo? É a imagem do Brasil que está em jogo”.


 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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