INDÍGENAS PROPÕEM FORTALECIMENTO
CULTURAL E UNIÃO ENTRE OS POVOS DO XINGU

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2011

15 de junho - O I Festival de Cultura Xinguana, em comemoração aos 50 anos do Parque Indígena do Xingu, mobilizou as comunidades para discussões sobre a influência dos costumes do “homem branco” e a necessidade de união entre os povos para uma ação conjunta pela preservação do território e da cultura. Cerca de 500 indígenas dos diferentes povos estiveram reunidos, entre os dias 10 e 13 de junho, para relembrar a história da criação do parque, comemorar a data, avaliar a situação atual e planejar os próximos 50 anos.

Foram três dias de atividades culturais e rodas de conversa, para uma avaliação política da vida do Parque até os dias de hoje e os anseios das comunidades para o futuro. Como resultado, a Associação Terra Indígena Xingu (Atix) solicita que governo avalie a viabilidade de um encontro anual, ou pelo menos de 4 em 4 anos, que reúna as principais lideranças, mulheres e jovens dos 16 povos indígenas da região para discutir as demandas das comunidades, informou o presidente da Atix, Pikuruk Kayabi.

Segundo ele, essa união é fundamental para manter a cultura e a preservação do Parque Indígena. “Será um encontro para debater sobre fiscalização, cultura, alternativas econômicas e manter a união entre as etnias do Xingu. Este primeiro Festival permitiu que cada um se conhecesse melhor, pudemos ouvir a opinião de antigas lideranças, o que fortaleceu os jovens que estão nessa luta pela preservação e desenvolvimento da cultura xinguana”, avaliou Pikuruk.

O coordenador regional da Funai no Xingu, Nhonkoberi Suya, avaliou o encontro como muito positivo. “O parque foi pensado para proteger a tradição e manter o xinguano com a cultura sempre viva. Com a chegada de tecnologia, televisão, motor, internet, tem mudado um pouco, mas a gente quer manter o Xingu com a tradição muito forte. O encontro contribuiu para isso, por estarem ali as 16 etnias representadas, com suas tradições diferentes”, disse.

Nhonkoberi se preocupa com os indígenas que têm ido para a cidade e considera que o evento também foi importante no sentido de levantar essa questão e encontrar uma solução para frear essas saídas e a entrada de não índios na Terra Indígena sem o acompanhamento da Funai. “Como coordenador regional tenho preocupação com saída dos jovens, com as pessoas morando na cidade e os problemas que possam vir a acontecer”, ressaltou.

Uma das principais preocupações levantadas foi a influência que os jovens sofrem ao sair das aldeias para estudar nas cidades. Aru Trumai, que conviveu com os irmãos Villas Bôas até os 27 anos, diz que os jovens hoje estão saindo muito e trazendo doenças. “Hoje sai, não fala mais com chefe, com cacique. Daqui a pouco vai querer morar na cidade, trabalhar para fazendeiro. Não é bom”, avalia.

A preocupação foi confirmada por Managu Ikpeng, que questiona a educação que ensina a ter dinheiro. “Tem índio pedindo na cidade. Está dando vergonha”, observa, lembrando que “Orlando (Villas Bôas) orientava que se um dia eles saíssem da aldeia, o branco ia oferecer coisas: açúcar, café, fumo, em troca de alguma coisa. Se aceitar, eles vão destruir tudo e vocês vão ficar doentes”.

Além da influência das cidades, há a preocupação com a nascente do rio Xingu. “A cabeceira do rio fica fora do parque. Peço aos ambientalistas um meio de preservar a nascente. Podiam deixar uma área de 5 Km em torno da nascente”, reivindicou o líder Pirakumã Yawalapiti.

Cultura – As comemorações de 50 anos do Parque Indígena do Xingu incluíram danças, jogos e cinema feito pelos indígenas do parque. Os filmes do cineasta Kamikia Kinsêdjê foram bastante aplaudidos pelo público. Os filmes foram realizados pelo projeto Vídeo nas Aldeias. São documentários sobre a cultura e também histórias de ficção.

Para Kamikia, “a diferença é grande quando o branco vem fazer matéria sobre os povos indígenas, porque ele não tem uma visão ampla sobre o cotidiano da aldeia. A gente sente falta de mais informações”. Ele considera que a tecnologia pode ser uma aliada para a preservação da cultura indígena. “O vídeo pode ajudar a preservar. A produtora tem sede na aldeia e a comunidade tem gostado do nosso trabalho. Conseguimos resgatar cantos com antropólogos e, com isso, os jovens estão aprendendo as músicas”, comemora. Os filmes de Kamikia – A Festa do Rato, Mulheres Guerreiras, A História do Monstro Kátpy (filme e making off) e Os Kinsêdjê Contam sua História - podem ser assistidos no site do Vídeo nas Aldeias.

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Operação Tekohá desencadeia ações positivas nas aldeias de Dourados/MS

13 de junho - Parecia uma manhã normal na Reserva Indígena Dourados, porém o clima de tranquilidade e esperança por dias melhores entre os Guarani era uma novidade. Isso porque a Operação Tekohá, articulada pela Funai, começou no dia 10 de junho, as 5 da manhã, com efetivo da Polícia Federal, Força Nacional de Segurança e agentes da Fundação, combatendo a cooptação e exploração de indígenas, na maioria jovens, por traficantes da região. A presença das forças policiais foi aprovada por unanimidade pelas comunidades indígenas, em reuniões de anuência realizadas nas aldeias.

Em seu primeiro dia, a Operação Tekohá resultou na apreensão de drogas, dinheiro e uma arma calibre 38 na aldeia Jaguapiru, além de um veículo gol e uma moto, que apesar de não haver registro de roubo, estavam em nome de terceiros. Três traficantes foram presos e encaminhados para a Delegacia de Polícia Federal. O efetivo policial permanece na região por tempo indeterminado. Paralelamente, a Fundação Nacional do Índio conduz articulação para firmar Acordo de Cooperação Técnica com o Governo do Mato Grosso do Sul, a fim de promover a atuação contínua das forças policiais nas aldeias.

A estratégia de proteção social da população indígena inclui a formação de um Grupo de Trabalho com capacidade de articulação com os órgãos locais, para sensibilização de agentes do estado para as especificidades da cultura indígena. Duas sociólogas foram convocadas para a função, devendo, portanto, avaliar a situação de vulnerabilidade das famílias indígenas e promover os direitos sociais coletivos e individuais.

As situações de violência nas aldeias Guarani estão associadas ao confinamento territorial e, por consequência, à desorganização da estrutura social do povo. Somente na Terra Indígena Dourados, que tem 3600 hectares, vivem mais de 14 mil indígenas. A superpopulação altera a dinâmica de relacionamento entres as famílias. Tradicionalmente, os Guarani estão organizados por família extensas com uma liderança em cada. Quando surge uma nova liderança na aldeia, é comum que essa família se desloque e crie um novo aldeamento, o que fica impossível diante do território diminuto.

Esse confinamento, associado à falta de policiamento, ao consumo de bebida alcoólica, comercializada na cidade e na aldeia, e ao tráfico e uso de drogas, envolvendo crianças e jovens, agrava o quadro de violência na região. Prioridade para o papel da Funai na proteção territorial, a demarcação das terras indígenas Guarani no Mato Grosso do Sul depende de uma solução definitiva que assegure segurança para indígenas e fazendeiros.

Judicialização do processo administrativo de demarcação das Terras Indígenas

A falta de terras para reprodução do modo de vida tradicional é a principal razão para a exploração, discriminação e violência sofrida pelo povo Guarani, no Mato Grosso do Sul. O diagnóstico da Funai foi ratificado pelo relatório do Comitê para Eliminação da Discriminação Racial da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em 2010. O documento, entretanto, deixa de citar que a judicialização das demarcações de terras indígenas é, hoje, o principal entrave para o cumprimento da responsabilidade constitucional do órgão indigenista.

Quase todo processo de identificação e demarcação de terras indígenas que se inicia é acompanhado por vários processos judiciais que o questionam. Assim, para concluir o trabalho de identificação e demarcação das terras indígenas do povo Guarani no MS, a Funai tem que enfrentar ações populares, ações diretas de inconstitucionalidade, mandados de segurança, pedidos de liminares e inúmeros recursos contra os trabalhos de levantamento fundiário. E não para por aí, pois todo o procedimento de regularização das terras indígenas do Estado, incluindo as Portarias Declaratórias do Ministério da Justiça, os Decretos Homologatórios do Presidente da República e, até mesmo, o Decreto 1.775/96, que estabelece o procedimento administrativo de demarcação, são freqüentemente impugnados por instrumentos do Poder Judiciário que, aliados ao contexto político estadual, impedem a finalização dos trabalhos da Funai, acentuando o clima de insegurança e de hostilidade em relação aos Guarani.


 

Fonte: Funai – Fundação Nacional do Índio
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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