27/11/2025
– Pesquisadores identificaram que "rochas de plástico"
estão se espalhando pela Ilha de Trindade, o ponto mais isolado
do Brasil. Formadas principalmente por restos de cordas de pesca
e outros resíduos como borracha, essas rochas agora foram
encontradas até em ninhos de tartarugas-verdes — espécie
que tem ali sua principal área de desova no país.
A poluição atinge a ilha apesar de ser quase inabitada
e fechada ao turismo. Correntes marítimas trazem grande quantidade
de lixo, como sapatos, garrafas com rótulos asiáticos,
madeira e plásticos diversos. Em uma recente ação,
cerca de 300 kg de resíduos foram removidos da ilha.
A Ilha da Trindade, localizada a 1.160
km da costa brasileira, é uma Área de Proteção
Ambiental controlada pela Marinha, com acesso restrito e ocupação
limitada a até 46 pessoas, entre militares e pesquisadores.
Parte do arquipélago Trindade-Martin Vaz, a ilha é
rica em biodiversidade, com espécies exclusivas. Pesquisadores
descobriram que as rochas de plástico na região —
formadas por resíduos como cordas de pesca — estão
crescendo e se espalhando, chegando até ninhos de tartarugas-verdes.
Agora, especialistas investigam os impactos desses plásticos
no ecossistema e na reprodução das espécies
locais.
A pesquisadora Fernanda Avelar, da
FAPESP e da Universidade de Western, alertou que as rochas de plástico
na Ilha da Trindade estão se espalhando, sendo enterradas
e chegando até os ninhos de tartarugas-verdes. Segundo ela,
isso mostra que a poluição plástica já
atinge não só o mar, mas também ambientes terrestres.
A equipe pretende investigar os efeitos diretos desse fenômeno
na saúde das tartarugas, incluindo ingestão de plástico
e possível mortalidade. Esses animais podem sofrer impactos
significativos com a presença crescente das rochas de plástico
em seu habitat.
Pesquisadores confirmaram que as correntes
marítimas são as principais responsáveis por
levar lixo de diversas partes do mundo até a Ilha da Trindade,
além de resíduos descartados por embarcações.
Entre julho e agosto, foram recolhidos 446 itens, incluindo borracha,
madeira, metal, nylon, plástico e vidro. Para conter a poluição,
voluntários do ICMBio e da Marinha realizam coletas regulares.
Durante o Dia Mundial da Limpeza em setembro, cerca de 300 kg de
lixo foram retirados com a ajuda de 32 militares e pesquisadores.
Por estar em uma área
remota, a Ilha da Trindade abriga uma biodiversidade única,
com espécies que só existem ali, como o peixe-ventosa
Acyrtus simon, de coloração rosada e comportamento
adaptado às correntes marítimas. No entanto, esse
ambiente rico vem sendo ameaçado pela presença crescente
de lixo plástico, trazido por correntes oceânicas ou
descartado por embarcações. Resíduos de diferentes
origens e nacionalidades são encontrados especialmente nas
praias de mais fácil acesso, como Andradas, Tartarugas e
Cabritos. Segundo o ICMBio, ainda não há estudos conclusivos
sobre o impacto total, mas os sinais de poluição são
evidentes.
Em 2024 e 2025, os principais resíduos
encontrados na Ilha da Trindade foram fragmentos de plástico
rígido e cordas de nylon, além de isopor, madeira
e borracha. Esses materiais foram classificados conforme o uso,
como náutico, alimentação, higiene, vestuário
e calçados. Os resíduos produzidos pelos moradores
da ilha são reciclados, incinerados ou compostados, dependendo
do tipo.
O ICMBio informou que o monitoramento
ainda é preliminar, mas os dados coletados servirão
de base para futuras pesquisas. Voluntários destacaram a
gravidade do problema, relatando a presença de plásticos
de todos os tamanhos — inclusive minúsculos, como grãos
de areia — acumulados justamente nas áreas de desova
das tartarugas, formando verdadeiras barreiras de lixo.
Pesquisadores identificaram que microplásticos,
formados pela decomposição de resíduos no oceano,
estão se incorporando às rochas da Ilha da Trindade.
A geóloga Fernanda Avelar foi a primeira a publicar um estudo
sobre o fenômeno, revelando que cordas de pesca são
o material mais comum nesse processo. O plástico se fixa
em áreas com rocha e areia, formando conglomerados que se
tornam parte da própria superfície rochosa, sendo
quase impossível de removê-los. Essas "rochas
de plástico" têm aparência esverdeada e
se diferenciam das rochas naturais, revelando um novo e preocupante
tipo de poluição ambiental.
Avelar explica que é fácil
identificar rochas formadas por ação humana, como
as compostas por plástico, devido à presença
de materiais visivelmente artificiais. Em sua pesquisa inicial,
ela já alertava para o risco da disseminação
dessas rochas pela Ilha da Trindade — algo confirmado em nova
visita em 2024. A pesquisadora destacou que a poluição
plástica está prestes a se tornar parte do registro
geológico da Terra, ficando preservada nas camadas do solo
como um sinal permanente e preocupante do impacto humano no planeta.
Da Redação, com
informações de agências de notícias
Fotos: Reprodução/ICMBio
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