Contaminação por microplástico atinge 7 em cada 10 praias no Brasil

Levantamento revela o tipo de plástico, toxicidade e os estados mais afetados

 
 

03/12/2025 – Um estudo publicado na revista Environmental Research revelou que 69,3% das 1.024 praias brasileiras analisadas estão poluídas por microplásticos — fragmentos com menos de cinco milímetros, capazes de impactar negativamente a biodiversidade, a saúde humana, a segurança alimentar e a economia costeira. A pesquisa faz parte do projeto MicroMar, liderado pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano), e é considerado o levantamento padronizado mais extenso já realizado não apenas no Brasil, mas em todo o Sul Global.

O projeto MicroMar marca um avanço significativo no entendimento da poluição marinha no Brasil, ao oferecer uma visão abrangente e sistemática da contaminação por microplásticos nas praias do país. Segundo Guilherme Malafaia, coordenador da pesquisa e professor do IF Goiano, o estudo resultou em um banco de dados inédito que pode ser utilizado de forma prática para orientar ações ambientais. Além de mapear a presença de microplásticos, o levantamento identificou as áreas de maior risco e os tipos mais perigosos de contaminantes, como destacou Thiarlen Marinho da Luz, doutorando da UFG e primeiro autor do artigo.

Em resposta ao problema, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) afirmou estar acompanhando as pesquisas e ressaltou a importância da Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP). A iniciativa do governo federal busca coordenar ações integradas entre diferentes setores da sociedade para combater a poluição plástica no oceano, com metas de prevenção, redução e eliminação do problema até 2030.

Para identificar a presença e os riscos dos microplásticos, pesquisadores analisaram 1.024 praias em 211 municípios dos 17 estados costeiros do Brasil, cobrindo cerca de 7.500 km de litoral. Entre 2022 e 2023, foram coletadas 4.134 amostras de areia, todas analisadas em um único laboratório. O estudo revelou que 69,3% das praias estavam poluídas por microplásticos, com os maiores níveis médios de contaminação registrados nos estados do Paraná, Sergipe, São Paulo e Pernambuco.

Reprodução/Pixabay

 



Entre as 30 praias com maior concentração de microplásticos, oito estavam localizadas em Pontal do Paraná (PR), incluindo a praia de Barrancos, que liderou o ranking com 3.483,4 fragmentos por quilograma de areia. A prefeitura local, ao ser questionada, afirmou desconhecer o estudo e sugeriu que os resíduos podem estar chegando à região por meio das correntes marítimas.

Após identificar a presença de microplásticos, os pesquisadores calcularam o Índice de Perigo do Polímero (PHI), que avalia a toxicidade dos fragmentos encontrados. Estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Maranhão e Pará apresentaram os maiores valores nesse índice. A análise revelou que a toxicidade dos materiais muda significativamente o cenário: por exemplo, a praia de Barrancos, anteriormente no topo por concentração de microplásticos, caiu para a 107ª posição, enquanto a praia Paraíso, em Torres (RS), subiu para o primeiro lugar, mesmo com poucos fragmentos, devido à alta periculosidade dos plásticos encontrados.

O estudo avançou ainda mais ao combinar a quantidade de microplásticos com sua toxicidade, por meio do Índice de Risco Ecológico Potencial (PERI). Os maiores riscos ecológicos foram identificados nos estados do Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Piauí e Maranhão. A praia Paraíso novamente liderou o ranking, pois, apesar da baixa densidade de microplásticos, foram encontrados materiais altamente tóxicos, como o PVC. A prefeitura de Torres, responsável pela área, não respondeu aos questionamentos sobre o problema.

Os microplásticos são pequenos fragmentos de poluição que, ao serem ingeridos por organismos marinhos — desde o plâncton até os peixes —, podem comprometer a nutrição, o crescimento e a reprodução dessas espécies, afetando toda a cadeia alimentar e o equilíbrio do ecossistema. Segundo Malafaia, o maior risco para os humanos ocorre de forma indireta, por meio do consumo de frutos do mar contaminados. Embora a presença desses fragmentos na areia não represente risco direto aos banhistas, eles podem absorver substâncias perigosas como metais pesados, pesticidas e microrganismos patogênicos.

As principais fontes da poluição por microplásticos estão associadas à proximidade de galerias de águas pluviais, esgoto, fozes de rios e áreas urbanas densas. Para enfrentar o problema, o estudo destaca três ações urgentes: conter o lixo antes de chegar ao mar, por meio de melhorias na drenagem urbana e no manejo de resíduos; reduzir a carga plástica nas bacias hidrográficas; e estabelecer metas regionais de monitoramento para acompanhar e mitigar a contaminação ao longo do tempo.

Apesar dos alertas da comunidade científica sobre os riscos dos plásticos e microplásticos, o combate à poluição enfrenta resistência, especialmente em nível internacional. Um acordo global no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foi bloqueado por países produtores de petróleo. No Brasil, ainda há lentidão no avanço de políticas: dois projetos de lei de 2022 seguem em tramitação — o PL 2524, que propõe restrições a plásticos de uso único e metas de reciclagem, e o PL 1874, que propõe a Política Nacional de Economia Circular.

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) aposta na Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP) como um caminho para mudar esse cenário. A ENOP adota uma abordagem integrada chamada "da fonte ao mar", que busca enfrentar a poluição plástica ao longo de todo o ciclo de vida do material — da extração de matérias-primas à destinação final — com o objetivo de proteger os recursos naturais, a biodiversidade marinha e a saúde das cadeias alimentares.

Segundo o MMA, um plano de ação baseado na Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP) deve ser lançado. A iniciativa pretende marcar um novo momento na luta contra a poluição plástica, com foco em engajar consumidores e o mercado em soluções mais sustentáveis, ampliar o acesso a financiamentos, revisar subsídios prejudiciais ao meio ambiente e promover inclusão social, saúde e dignidade.

Para Luz, primeiro autor do estudo publicado na Environmental Research, embora a sociedade esteja ciente dos impactos dos plásticos, como sacolas ingeridas por tartarugas ou remédios que afetam peixes, ainda falta sensibilidade real e ações concretas. Segundo ele, a consciência existe, mas não se traduz, na prática, em mudanças de comportamento ou engajamento efetivo com a causa ambiental.

Da Redação, com informações da Agência Brasil
Matéria elaborada com auxílio de inteligência artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay

 
 
 

 

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