03/12/2025
– Os cientistas ainda tentam comprovar os possíveis
danos à saúde causados pelos micro e nanoplásticos,
mas a onipresença deles no meio ambiente e no organismo humano
já foi estabelecida de forma robusta. É o que mostra
um estudo feito por dez pesquisadores das universidades Federal
Fluminense (UFF), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Estado do
Rio de Janeiro (Uerj).
Eles levantaram e analisaram outros
140 estudos feitos sobre o tema, em diversos países, incluindo
o Brasil. De acordo com o professor do Instituto de Química
da UFF Vitor Ferreira, apesar dos danos do plástico ao meio
ambiente já serem investigados desde que foram inventados,
na década de 40, as micropartículas e suas possíveis
interações com animais e humanos só começaram
a ganhar mais atenção nos últimos 10 anos.
"Os plásticos não
são biodegradáveis, e se descobriu que esses materiais
não resistem à irradiação solar e se
quebram em micropartículas, que depois se quebram em nanopartículas.
E essas micropartículas e nanopartículas acabam ficando
na água, no solo, no ar, e entram na cadeia alimentar. Até
a água que a gente bebe tem micro e nanoplásticos",
explica Ferreira, que liderou a pesquisa financiada pela Fundação
Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio
de Janeiro (Faperj) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq).
Os estudos reunidos na pesquisa encontraram
partículas em alimentos tão diversos quanto açúcar,
sal e mel. Outra grande fonte de contaminação alimentar
são os peixes e frutos do mar, que ingerem ou filtram os
micro e nanoplásticos do oceano e depois transferem essas
cargas para os predadores, incluindo os seres humanos.
Animais contaminados já foram
encontrados da Amazônia ao Rio Grande do Sul. Além
disso, nós também respiramos micro e nanoplásticos
e podemos absorvê-los pela pele.
Estima-se que os humanos
consumam entre 39 mil e 52 mil microplásticos por ano, número
que aumenta para até 121 mil, se a via de inalação
for considerada. Algumas pessoas, como as que consomem apenas água
engarrafada, podem ingerir quase 90 mil microplásticos a
mais. Mas, para os pesquisadores, esses números estão
subestimados, por causa de limitações metodológicas:
os microplásticos são relativamente fáceis
de isolar e caracterizar, já os nanoplásticos, muitas
vezes, não são detectados pelas técnicas tradicionais.
Depois de entrar no organismo, as
partículas podem se depositar em locais como os pulmões
e a boca, ou alcançam a corrente sanguínea e se acumulam
em diversos tecidos e órgãos. Estudos mais recentes
identificaram microplásticos até mesmo em placentas
e cordões umbilicais, o que indica que podem chegar até
mesmo aos fetos em desenvolvimento.
O próximo passo da pesquisa,
de acordo com o professor Victor Ferreira, é estabelecer
a relação de causa e efeito entre essa contaminação
e problemas de saúde, para comprovar os danos das partículas,
o que ele acredita que seja uma questão de tempo.
"Por enquanto, nós só
encontramos um estudo clínico que estudou coágulos
formados nas artérias e detectou microplásticos em
60% deles. Pode ser que eles tenham iniciado o processo de infecção
e de formação desses coágulos, agora é
preciso avançar para estabelecer essa causa", disse
o professor.
Ferreira explica que a palavra plástico
é utilizada para nomear diversos tipos de polímeros
sintéticos, e quase a totalidade deles é produzida
a partir de petróleo. Popularmente são mais associados
à embalagens, mas esses materiais também estão
presentes em objetos como pneus e roupas. Além dos efeitos
que podem causar sozinhos, há também os aditivos adicionados
durante a fabricação.
Por isso, Ferreira defende medidas
urgentes de mitigação. "Primeiro é preciso
ampliar a capacidade de reciclagem desse material, para que ele
não seja descartado e não fique na natureza",
defende, acrescentando, no entanto, que o processo depende de ações
individuais, mas principalmente das indústrias e dos governos.
O professor lembra que a Organização
das Nações Unidas (ONU) tenta, desde 2022, estabelecer
um tratado internacional para acabar com a poluição
plástica, mas o fim das negociações entre os
países já foi adiada duas vezes. TÂMARA FREIRE
- REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Pixabay
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