Além de ser considerado
um dos melhores velejadores do mundo, Peter Blake, também
era conhecido como ecologista. Nascido no dia 1º
de outubro de 1948, em Auckland, Nova Zelândia,
Peter Blake era casado e tinha dois filhos. Com um currículo
recheado de títulos (veja abaixo) e condecorado
sir pela rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra, pelos
serviços prestados ao iatismo, recebeu ainda o
título de cavaleiro-chefe da Ordem de Excelência
do Império Britânico.
Peter Blake havia sido nomeado sucessor do oceanógrafo
francês Jacques Cousteau, morto em 1997, pela fundação
que leva o nome do explorador francês e seria capitão
do Calypso 2, navio que daria continuidade no trabalho
de Cousteau.
Em 2001, participava de uma expedição científica
na Amazônia a bordo de seu veleiro, o Seamaster.
Nesta época, Blake havia se afastado das competições
para se dedicar à defesa da natureza através
de pesquisas sobre os ecossistemas. A Amazônia era
a quarta etapa da “Blakexpeditions”, projeto apoiado pela
ONU (Organização das Nações
Unidas).
Saindo de Auckland, na Nova Zelândia, (agosto de
2000), seguiu pelo Oceano Pacífico até a
Terra do Fogo (dezembro de 2000), partindo para a Península
Antártica (janeiro/março de 2001), depois
seguiu pela costa brasileira até o Recife (junho/agosto
de 2001) e finalmente chegou ao Rio Amazonas (setembro/dezembro
de 2001) de onde seguiria para o Caribe. A expedição
teria uma duração de cinco anos.
Veja a seguir algumas
frases do último boletim da expedição,
(04/12/2001):
“Esta noite há
faixas de fumaça, fumaça espessa, jorrando
de alguns igarapés e saindo da floresta, formando
muros que atravessam o rio de lado a lado. O cheiro da
floresta ardendo em chamas enche o ar – e também
nossas cabines.”
“Antes de chegar até
nós, a chuva que caiu deixa o ar repleto dos cheiros
da terra úmida e da vegetação morna.”
“Queremos levar as
pessoas a cuidar do meio ambiente outra vez, do jeito
que ele precisa ser cuidado.”
“A Moldura da floresta
amazônica está sempre presente, contrastando
com as chagas de terra vermelha em terreno mais alto e
com o barro amarelo à beira do rio.”
“Para poder vencer,
é preciso acreditar que você consegue. É
preciso ter paixão. É preciso desejar realmente
o resultado – mesmo que isso exija anos de trabalho. A
parte mais difícil de qualquer grande projeto é
começar. Nós já começamos,
estamos com meio caminho andando, temos paixão
pelo que fazemos.”
Para saber mais acesse
www.blakexpeditions.com
O que é Peter Blake:
- Bateu o recorde de volta
ao mundo em um veleiro (74 dias, 22 horas, 17 minutos
e 22 segundos);
- Foi bicampeão da America’s Cup, a principal competição
de vela no mundo (em 1995 e 2000);
- Venceu a Whitebread Round the World Race em (1989);
- Foi considerado o navegador do ano (1994);
- Iatista do ano da Nova Zelândia (em 1982, 1989
e 1990);
- Personalidade esportiva neozelandês (em 1990);
- Condecorado sir pela rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra;
- Cavaleiro-chefe da Ordem de Excelência do Império
Britânico.
Peter Blake é
assassinado no Amapá
O navegador Peter Blake
foi morto hoje (cinco de dezembro de 2001), durante um
assalto a seu barco, o Seamaster, em um distrito de Macapá.
O veleiro de Blake havia atracado no balneário
da Fazendinha (cerca de 15 km de Macapá), no rio
Amazonas, por volta de 21 horas. Após duas horas,
segundo a Polícia Federal, três homens armados
e encapuzados invadiram o veleiro. Segundo o advogado
Márcio Jucá, que representava a Embaixada
da Nova Zelândia, Peter Blake teria reagido ao assalto
e foi atingido com um tiro no peito e morreu na hora.
Os ladrões ainda feriram mais dois tripulantes,
um com coronhadas na cabeça e outro com um tiro
nas costas. “Eles [a tripulação] estavam
em maior número e acharam que poderiam dominar
os piratas”, disse o advogado da Embaixada da Nova Zelândia.
“Pelo que eles me disseram, foi isso que provocou a fatalidade.”
Segundo a Polícia
Federal os ladrões teriam chegado ao Seamaster
em um barco de madeira. “A base do veleiro é baixa,
permitindo o acesso fácil desse tipo de criminoso,
conhecido na Amazônia como ratos d ‘água”,
relatou um agente da polícia. O policial ainda
afirmou que esse tipo de crime é comum na região,
mas não costuma ter resultado tão trágico.
Segundo o diário “The New York Times”, Peter Blake
havia recebido em março de 2000, cartas anônimas
com ameaças de morte. “Nós sempre recebemos
cartas estranhas, mas isso tem ido longe demais”, disse
Blake. “Então tomamos todas as precauções
a que fomos aconselhados.” Governos estadual e federal
se mobilizaram para a elucidação rápida
do crime devido a forte repercussão que o caso
teve em todo o mundo.Quatro acusados do crime foram presos
pela Polícia Civil do Amapá,José
Irandir Colares Cardoso, 25; Ricardo Colares Tavares,
23, autor dos disparos, segundo a polícia; Izael
Pantoja, 27 e Reny Ferreira Macedo, 21.
Em depoimento a policiais civis e federais os acusados
admitiram a culpa pelo crime. No entanto a família
de Tavares disse que a confissão foi obtida através
de tortura, o que foi negado pela Secretaria Estadual
de Segurança Pública. Macedo e Pantoja já
tinham passagem na polícia por roubo e tráfico
de drogas. Os acusados foram presos através de
uma denúncia anônima e foram reconhecidos
pela tripulação do Seamaster. Segundo José
Irandir Colares Cardoso, eles não sabiam de quem
era o barco assaltado. A polícia apreendeu com
os acusados R$ 1.500, um estojo de CDs, um fuzil, uma
máquina fotográfica e um relógio,
que teriam sido roubados da tripulação.
Como foi o assalto:
- Aproximadamente às
22 horas e 30 minutos, três homens armados invadiram
o veleiro Seamaster e anunciaram o assalto enquanto outros
três homens aguardavam em um pequeno barco.
- Depois que os assaltantes
recolheram dinheiro e objetos pessoais, a tripulação
do veleiro reagiu e uma troca de tiros se iniciou dentro
da embarcação.
- O navegador Peter Blake,
que possuía um fuzil teria iniciado o tiroteio
quando foi atingido duas vezes nas costas e acabou morrendo
no local. Os assaltantes fugiram após o tiroteio.
Fernando Henrique
Cardoso exige esclarecimento rápido para assassinato
de Blake
O presidente Fernando
Henrique Cardoso exigiu que providências em relação
a identificação e prisão dos responsáveis
pelo assassinato do velejador Peter Blake, sejam tomadas
o quanto antes. As investigações estão
sendo feitas pela Polícia Federal.
O presidente enviou uma mensagem à primeira-ministra
da Nova Zelândia, Helen Clark, manifestando sua
“profunda tristeza” pela morte do velejador.
“Sei do trabalho importante que ele desenvolvia em favor
da preservação do meio ambiente, tema de
tão grande interesse para todos os povos e que
o havia trazido ao Brasil. Sei também que era,
merecidamente, muito respeitado e querido na Nova Zelândia”,
disse FHC na mensagem enviada.
A primeira-ministra esteve em Brasília no dia 20
de novembro de 2001 de pois de ter passado dois dias no
veleiro de Blake, que estava na Amazônia. Em nota
oficial do Itamaraty afirma-se que “sir Peter Blake era
um dos desportistas mais conhecidos em sua área
e vinha realizando expedições de natureza
ambiental, a primeira das quais à Antártida,
de onde seu veleiro, em setembro, seguiu diretamente rumo
à Amazônia”.
Velejadores brasileiros
lamentam morte de Blake
O então secretário
nacional de Esportes, Lars Grael, um dos esportistas mais
premiados da história no Brasil, disse se sentir
consternado com a morte de Peter Blake, de um modo tão
violento. “É uma pena que isso tenha ocorrido em
solo nacional, é a perda de um grande campeão
dos mares”, disse Grael.
“O Peter Blake foi o maior velejador de todos os tempos
no seu país, a Nova Zelândia. Lá,
a vela é o esporte nacional e ele é como
o Pelé para o Brasil, é um herói
nacional”, completou.
Lars Grael ainda destacou que a pirataria é um
fenômeno muito antigo e possui registros em todo
mundo. “Pela simples intenção de furtar
objetos de valor, eles furtaram a vida de um dos grandes
nomes mundiais do esporte”, comentou. O iatista ainda
salientou a grande importância que teria a expedição
pela floresta amazônica e o quanto ela significaria
para Blake e para todos nós. Outro iatista famoso,
Robert Scheidt, disse ter ficado chocado com a notícia
do assassinato de Blake.
“É uma tristeza
enorme que um fato absurdo como esse ocorra justamente
no Brasil. O Peter era um verdadeiro mito em seu país
e uma das figuras mais respeitadas da vela e é
uma pena que uma tragédia dessas prejudique a imagem
do país no exterior”, disse.
Robert Scheidt espera que os culpados pela morte do velejador
sejam presos e paguem pelo crime. “A comunidade internacional
da vela certamente está revoltada com o acontecimento.
Essa violência é assustadora.”
O navegador brasileiro Amyr Klink disse que assassinato
de Peter Blake transformou o Brasil em uma área
de risco de navegação. “Infelizmente o Brasil
está entrando no mapa dos países de risco
de navegação, que inclui lugares como a
Venezuela, parte do Panamá, mar da China e, hoje,
o Brasil”, disse.
O navegador salientou que existem muitas falhas no regime
brasileiro. “Não existem procedimentos para os
barcos entrarem e não temos instalações
seguras para eles ficarem parados. A única solução
são as marinas organizadas.” Amyr Klink e Peter
Blake pretendiam se encontrar no Ártico, em 2002,
ou na China, em 2003.
O velejador Torben Grael disse que o noticiário
neozelandês preferiu destacar os feitos de Peter
Blake e atribui o assassinato a “ratos d’água”,
piratas que existem em todas as partes do mundo.
Imprensa internacional
atribui crime a piratas
A morte do velejador Peter
Blake teve grande destaque e repercussão na imprensa
internacional. “sir Peter Blake killed in Amazon pirate
attack” (sir Peter Blake assassinado em ataque pirata
na Amazônia) destacou o jornal “The New Zealand
Herald”. O “The New York Times” trouxe a manchete “America’s
Cup Champion Murdered in the Amazon” (Campeão da
America’s Cup assassinado na Amazônia). No jornal
francês “Le Monde” a reportagem trazia a manchete
“Le navigateur Peter Blake assassiné em Amazonie”
(Navegador Peter Blake assassinado na Amazônia).
Já o diário espanhol “El País” destacou
as conquistas esportivas do velejador, considerado por
muitos como um dos melhores do mundo.
Todos os veículos de comunicação
destacam o assassinato como causa, o ataque de piratas.
The New York Times: (Estados
Unidos) “Região amazônica é mal policiada”
O assassinato do velejador Peter Blake no rio Amazon,
no Amapá, mostra que o policiamento na região
amazônica é fraco.
Apesar de a Amazônia ser vasta, remota e parcialmente
policiada, muitas embarcações comerciais
e de turismo preferem não manter nenhum tipo de
arma. Essa prática representa um grande contraste
com a que é adotada no Caribe, onde os ataques
a barcos de todos os tipos são muito mais comuns.
The New Zealand Herald:
(Nova Zelândia) “Floresta camufla ação
de criminosos” A floresta serve de camuflagem para ladrões
e traficantes de armas e drogas. Quem está familiarizado
com os empobrecidos Estados amazônicos diz que a
violência é rotina na região.
Paulo Adario, coordenador do Greenpeace para a Amazônia,
diz que o crime na região está “ligado à
miséria”. “As pessoas tentam sobreviver roubando
relógios e maletas e não há controle.”
El País: (Espanha)
“Vida vale menos do que um relógio” O assassinato
do Pelé dos veleiros, o homem que já havia
vencido tudo e atualmente aumentava a lenda em torno de
si, foi resultado de um roubo banal.
Blake planejava permanecer na região amazônica
até meados de janeiro de 2002, mas deixou sua vida
em uma das regiões mais pobres do Brasil, onde
a vida vale menos que um relógio.