15/10/2012 – Professor da Universidade de São Paulo
- Escola de Artes, Ciências e Humanidades, no curso de Gestão
de Políticas Públicas, José Carlos Vaz fez
duras criticas ao governo do Estado que pretende ‘desafetar’
uma área de 400 mil metros quadrados no Parque Estadual
das Fontes do Ipiranga para renovar e ampliar a concessão
do Centro de Exposição Imigrantes.
Leia o texto do professor José Carlos Vaz
Em São Paulo, parques e áreas verdes valem um trocadinho
qualquer
É impressionante falta de visão estratégica
do que deve ser uma metrópole global com que se governa
São Paulo. Enquanto várias cidades recuperam áreas
verdes e cursos d’água, por aqui a miséria
intelectual e cultural da cidade de concreto não abandona
a cabeça dos que governam e dos que operam o capital.
Prova disso é a notícia do portal do Luis Nassif
a ameaça que pesa sobre o Parque Estadual das Fontes do
Ipiranga (Antigo Parque do Estado), onde ficam o Jardim Botânico
e o Zoológico.
Reprodução |
 |
Proposta
de ampliação do Centro de Exposições
Imigrantes no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga. |
Atualmente, uma parte do parque abriga o Centro de Exposições
Imigrantes. Trata-se de uma concessão que irá terminar
em breve. É uma área que fica no início da
Rodovia dos Imigrantes, à esquerda de quem vai em direção
ao litoral. Ali ficam as nascentes do Riacho do Ipiranga.
Ao saber que a concessão está prestes a expirar,
fiquei animado: que boa oportunidade de acabar com a excrescência
que foi a construção do centro de exposições
naquela área para restituí-la ao parque, dando-lhe
um uso mais adequado.
Porém, o propósito do governo estadual é
exatamente o inverso. Ao invés de ampliar o parque, ele
quer ampliar a área concedida à iniciativa privada,
desalojando equipamentos públicos, destruindo áreas
verdes e pressionando ainda mais o parque, que é uma unidade
de conservação. Começa assim, e daqui a pouco
outras áreas vão sendo subtraídas e destinadas
a outras concessões ou usos inadequados.
Que miopia! Por conta de uns trocados, perde-se uma oportunidade
de rever um erro histórico que foi a o desmatamento e a
utilização de áreas do parque para construir
centro de exposições, unidade da antiga FEBEM, sede
de órgãos estaduais e até uma siderúrgica.
O melhor a fazer com a área é reintegrá-la
efetivamente ao parque, ampliando sua cobertura vegetal, o que
talvez até tivesse impacto nas nascentes do Riacho. O que
é necessário é dar usos mais nobres, tanto
de preservação quanto de lazer. Tenho certeza de
que isso é mais útil para a população
do que abrigar hotéis, estacionamentos e espaços
para shows.
Para entender melhor, vamos aplicar a velha técnica de
seguir o dinheiro. O que São Paulo vai ganhar com isso?
Uns trocados pela concessão da área, absolutamente
irrelevantes para o orçamento estadual. Além do
mais, o governo estadual não é um investidor imobiliário.
Então vamos seguir o resto do dinheiro. Ora, se há
mercado para mais espaços de eventos em São Paulo,
por que a os empresários do setor não podem assumir
os custos e adquirir as áreas necessárias. Por que
temos que abrir mão de um parque para eles ganharem mais?
O argumento de que São Paulo está perdendo eventos
para o Rio de Janeiro não pode ser motivo para a destruição
e entrega de um patrimônio de valor ambiental para a iniciativa
privada poder aumentar seus lucros.
Espero que o governo do Estado tenha bom senso e não nos
roube a oportunidade de ter mais áreas verdes, nem amplie
a degradação de um dos lugares mais bonitos de São
Paulo.
Fonte: Prof. José Carlos Vaz (http://vaz.blog.br/blog/)
Sobre o Prof. Dr. José Carlos Vaz
Professor da Universidade de São Paulo - Escola de Artes,
Ciências e Humanidades, no curso de Gestão de Políticas
Públicas. Graduação em Administração
pela Universidade de São Paulo (1986), Mestrado em Administração
Pública pela Fundação Getúlio Vargas
SP (1995) e doutorado em Administração de Empresas
- Sistemas de Informação pela Fundação
Getúlio Vargas SP (2003). Tem experiência na área
de Administração Pública, atuando principalmente
nos seguintes temas: governo eletrônico, atendimento ao
cidadão, inovações em gestão pública,
desenvolvimento local, planejamento estratégico, governança
e transparência.
Fonte: Plataforma Lattes