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Cavernas
Chapada Diamantina - Bahia

 

Formação das cavernas



A água da chuva, em sua passagem pela atmosfera, dissolve e carrega uma parcela de dióxido de carbono nela existente. Ao atingir o solo ela penetra pelas camadas superiores, em meio ao húmus, às raízes e diversos organismos, cujo metabolismo implica a liberação de CO2, e se enriquece ainda mais deste dióxido. A solução fica então saturada de CO2, e se enriquece ainda mais deste dióxido. A solução fica então saturada e CO2 tornando-se bastante ácida.



Esta água (solução), continuando seu trajeto descendente em direção ao nível freático, atinge a rocha carbonática e se infiltra pelas fraturas dissolvendo o carbonato de cálcio nela contido.



Após um certo percurso pelas fraturas da rocha, a água fica saturada de bicarbonato de cálcio e perde sua capacidade de dissolução.

Vista aérea da entrada da Caverna Lapa Doce, localizada no Parque Nacional Chapada Diamantina (BA)


Esta água, continuando a se infiltrar no maciço rochoso ao longo dos planos de juntas, que se apresentam como um sistema de fraturas de padrão normalmente muito organizado, encontra-se com outras "soluções" semelhantes.



Na região de cruzamentos destes sistemas de fraturas irá ocorrer uma mistura das diferentes soluções, o que implica uma quebra do equilíbrio químico estabelecido em cada uma delas.



Esta quebra causa um deslocamento do equilíbrio da reação química II (a dissolução da rocha pelo ácido carbônico) que poderá restringir à água a capacidade de dissolver mais carbonatos da rocha criando vazios e condutos.



Como esta mistura de soluções se dá nas interseções dos planos de juntas, a dissolução é mais acentuada originando aberturas de grandes dimensões que são as cavernas, em seu estágio inicial de formação.



A ampliação gradual dessas aberturas dá origem a galerias, salões e abismos, os quais, unidos num estágio mais adiantado, funcionam como sistemas coletores das águas descendentes e mesmo da drenagem de superfície.

Formações da Caverna Lapa Doce, Bahia


Assim, neste segundo estágio, as galerias e vazios servem de coletores e condutos de rios e córregos que passam a compor uma complexa drenagem subterrânea.



Estes cursos d'água subterrânea por sua vez, dependendo do maior ou menor fraturamento da rocha, das alternância de camadas mais carbonáticas (mais solúveis e camadas mais argilosas (que oferecem maior resistência à corrosão), vão ocasionar um entalhamento da rocha em diversos planos, criando novas laterais ou inferiores e alargando-as em salões.



O alargamento das galerias, pela remoção das camadas mais carbonáticas e pela erosão das bases das paredes, comumente também ocasiona deslocamentos, por vezes gigantescos, freqüentemente abrem grandes salões. Em outros casos, todavia, os blocos desabados ocupam toda a galeria obstruindo a passagem.



Ao longo da evolução da galeria, o rio subterrâneo chega a abandonar alguns trechos pelo abaixamento do nível de seu leito e, neste caso, com a ausência do caudal na galeria ou em suas partes superiores, ela se torna propícia ao crescimento das mais variadas ornamentações.



Estas ornamentações, denominadas genericamente "espeleotemas", cujas formas mais conhecidas são as estalactites e estalagmites, identificam uma segunda fase na formação das cavernas: a fase de deposição.

A água escorre pela parede criando formas e cores. Caverna Lapa do Doce (BA)


Tal fase é caracterizada pelo preenchimento parcial ou total dos condutos da caverna com sedimentos trazidos do exterior (argilas, areias, seixos etc.) e pela deposição mineral decorrente da precipitação da calcita (carbonato de cálcio) a partir da água de infiltração que atinge o vazio da caverna.



Nas cavernas é comum existirem galerias de idades diferentes e em diferentes estágios de evolução, desde as mais antigas, parcial ou totalmente obstruídas pela precipitação de calcita (CaCO3), até as galerias jovens percorridas pelo curso d'água subterrâneo, com ausência de ornamentação calcítica.

Componentes de formação das cavernas

As cavernas, tal como são conhecidas, resultam da ação e circulação da água sobre rochas solúveis, especialmente as "rochas carbonáticas", dentre as quais se salientam as conhecidas genericamente como calcárias. A água é o elemento ativo ou gerador e as rochas são o elemento passivo no processo de dissolução química responsável pela formação de cavernas e diversos outros componentes superficiais ou subterrâneos de um tipo especial de relevo. Tais componentes de relevo são denominados feições cársticas.



Em região onde tais feições aparecem com certa continuidade e articulação, identifica-se um "relevo cárstico" ou "karst". O termo "karst" significa "campo de pedras calcárias" e tem origem de uma região ao norte do mar Adriático, na Iugoslávia, onde se desenvolveu o primeiro estudo sobre a circulação de águas em rocha calcária. O conceito "karst" está relacionado ao relevo de regiões onde predominam estas rochas, nas quais a drenagem é preferencialmente subterrânea (drenagem criptorréica), apresentando macro e microformas de relevo bastante peculiares que dão à paisagem um aspecto esburacado e ruiniforme. Uma das principais formas ou feições que compõem um relevo cárstico são as dolinas, depressões do terreno que recolhem e enviam as águas de superfície ao subterrâneo onde, através das fendas da rocha, das grutas e abismos, elas se aprofundam em busca do lençol freático (nível hidrostático).

Uma das muitas 'estátuas' da Caverna Lapa Doce


A união por alargamento de duas ou mais dolinas vizinhas dá origem às uvalas; também os poljes (depressões semelhantes às dolinas, mas de dimensões muito maiores), os vales fechados, os paredões calcários, os afloramentos erodidos e pontiagudos, as torres e as pontes de pedra, são formas tradicionais neste tipo de relevo.



A presença isolada de formas como as citadas não permite, no entanto, a caracterização de um verdadeiro relevo cárstico. Muitas vezes estas formas, especialmente as subterrâneas, são componentes residuais a testemunhar um relevo cárstico antigo, hoje já totalmente arrasado por força dos agentes geológicos externos, os quais continuamente alteram a superfície terrestre.



Freqüentemente, em regiões tropicais úmidas, o conjunto de feições geomorfológicas típicas do carste sofre um processo de mascaramento, sendo recoberto por uma espessa camada de solo e uma densa e exuberante vegetação.



Já em regiões mais secas como, por exemplo, no Planalto Central, no domínio dos cerrados, tais feições são mais evidentes tanto nas suas macroformas como nas microformas peculiares ao relevo cárstico, como as caneluras e lapiás, que dão ao calcário um aspecto recortado e pontiagudo.



Para haver o desenvolvimento de um relevo cárstico ou para que existam formas cársticas como as cavernas, é necessária a existência de certas condições básicas:



1) Na região deve haver uma considerável espessura de rocha (algumas centenas de metros) que seja razoavelmente solúvel na água levemente acidulada (ácido carbônico) proveniente das chuvas e dos cursos de superfície. A rocha deve estar assentada em blocos espessos e contínuos, ser compacta e cristalina e possuir um elevado grau de diaclasamento (juntas e fraturas) e acamamento (camadas rochosas), principalmente em estratos delgados. O tipo de rocha que melhor se adapta a estas condições e o calcário, o que faz com que uma área cárstica normalmente signifique uma área de calcários com até médio grau de metamorfismo, o que por sua vez, indica que tais rochas sofreram um tectonismo (movimentos e dobramentos) muito ativo.



2) O pacote rochoso deve possuir um "relevo disponível", ou seja, uma elevação da área acima do nível do mar e de porções consideráveis da mesma acima do lençol freático, o que permite a livre circulação da água subterrânea e o completo desenvolvimento das cavernas.



3) As condições climáticas associadas à cobertura vegetal também contribuem de forma decisiva no desenvolvimento do processo de "carstificação" e formação de cavernas. Em regiões úmidas, a presença de vegetação densa contribui na acidulação da água e, consequentemente, na dissolução da rocha. Em regiões semi-áridas, relevos cársticos são pobremente desenvolvidos e sua gênese é ausente em regiões desérticas. Assim, condicionantes geológicas, geomorfológicas e climáticas agem de forma conjunta e articulada no processo da "espeleogênese". Essa espeleogênese é um processo dinâmico e as cavernas dela originadas devem ser entendidas não como produtos acabados, mas sim como componentes subterrâneos de um relevo em continua evolução.



Os espeleotemas

No interior das cavernas encontram-se depósitos de sedimentos acumulados nos seus pisos e reentrâncias. Encontram-se também deposições minerais que recobrem e se desenvolvem a partir dos tetos e paredes da cavidade. Considerando-se suas origens e processo de deposição, tais sedimentos, são divididos em dois grandes grupos:

Piscina formada na caverna Lapa Doce


1) Os sedimentos clásticos, constituídos pelos blocos desmoronados e pelo material detrítico de origem geralmente superficial transportado para a caverna por correntes de água, vento ou pela gravidade. São também freqüentes frações síltico-argilosas ou até arenosas provenientes da alteração e posterior erosão da rocha encaixante da caverna.



2) Os espeleotemas, do grego spelaion (caverna) e thema (depósito), por sua vez se definem como deposições minerais em cavernas que se formam basicamente por processos químicos de dissolução e precipitação.

São estes espeleotemas que, com suas formas peculiares e suas dimensões variando entre o delicado e o gigantesco, mais fascinam os visitantes e intrigam os estudioso deste estranho mundo.



Além das tradicionais estalactites e estalagmites, centenas de outros espeleotemas recobrem os tetos, paredes e pisos das cavernas, que, pelas suas condições peculiares, se apresentam como excelentes ambientes para a lenta deposição de minerais.



O número de minerais que ocorrem em cavernas segundo Moore (1970) e Broughton (1972) atinge a casa dos 80, dentre os quais aproximadamente 20 são comumente encontrados neste ambiente, como a calcita - carbonato de cálcio romboédrico -, gipsita - sulfato de cálcio monoclínico -, calcedônia - sílica amorfa ou microcristalina -, aragonita - carbonato de cálcio ortorrômbico.



Apesar da ocorrência destes e de outros minerais, a calcita, a aragonita e a gipsita, provavelmente nesta ordem, são os constituintes básicos da quase totalidade das ornamentações que recobrem o interior das cavernas.



A calcita é um mineral branco ou transparente, quando puro, que cristaliza no sistema romboédrico (cristais com a forma semelhante a um paralelepípedo meio achatado), sendo responsável por talvez mais de 90% dos depósitos de caverna.



A aragonita, que forma alguns dos mais belos e delicados espeleotemas, tem a mesma formula química da calcita, mas diferente hábito de cristalização (sistema ortorrômbico). Este material, é muito mais solúvel que a calcita e, portanto mais difícil de se precipitar nas cavernas. Para que haja a precipitação da aragonita, é necessário que algum mecanismo impeça a deposição de calcita até que o nível de supersaturação da solução aquosa que chega à caverna seja atingido. Os principais inibidores da precipitação da calcita nestas soluções são íon magnésio, íon estrôncio e, algumas vezes o chumbo.

Piscina formada na caverna Lapa Doce


A gipsita ou sulfato de cálcio, por sua vez, apesar de bastante comum em nas cavernas brasileiras, dá origem a poucos e diversificados tipos de espeleotemas, apresentando-se normalmente como "flores" de "pétalas" alongadas e retorcidas ou na forma de finíssimos e transparentes cristais.



Pela presença maciça destes minerais de coloração branca, esta é a cor predominante nas ornamentações de caverna. No entanto, pela presença de várias impurezas e outros minerais nas soluções aquosas que lhes dão origem, várias delas se mostram com tonalidades diversas.



Assim, a presença de cobre dá ao espeleotema uma coloração verde, como se nota em estalactite de algumas cavernas de São Paulo e Mato Grosso. Às vezes, este mineral é o principal componente do espeleotema, como no caso das espetaculares estalactites verdes de malaquita.



Da mesma forma, óxido de ferro dá à calcita uma coloração entre o amarelo e o marrom e o óxido de manganês dá origem a um revestimento de coloração negro-brilhante, ambas muito comumente encontradas em nossas cavernas.



Estes minerais atingem as cavernas trazidos por soluções aquosas que, aciduladas pelo anidrido carbônico coletado na atmosfera e no solo, atravessam e dissolvem a rocha envolvente, normalmente calcário.



Ao atingir as extremidades de escape de seu conduto, a solução torna-se supersaturada de calcita pela liberação do anidrido carbônico e o carbonato original volta a precipitar-se num processo inverso daquele que o gerou.

Espeleotemas compostos por aragonita, conhecidos como bolhas, Caverna da Torrinha.


Têm-se assim duas fases definidas na formação dos espeleotemas: a dissolução e a deposição (precipitação ou, em alguns casos, a floculação). Vários fatores condicionam o desenvolvimento da primeira fase. Dentre eles destacam-se:

- a espessura da capa envolvente de calcário
- o grau de pureza da rocha
- seu fraturamento
- a solubilidade da rocha
- a composição química do ar
- a composição química do solo que recobre a rocha assim como sua cobertura vegetal

Outros fatores climáticos, como a temperatura média e o índice pluviométrico regional, também são fundamentais no desenvolvimento da fase de dissolução. As peculiaridades destes fatores em meio tropical, por exemplo, fazem com que, tanto a dissolução como a deposição em cavernas dessas regiões, sejam muito maiores e mais rápidas que nas regiões de clima temperado e frio.

A deposição desses minerais em cavernas, por sua vez, se dá por meio de vários mecanismos como gotejamento, os escorrimentos, e a evaporação, a precipitação em águas estagnadas etc., e vários fatores condicionam a conformação, as dimensões e a intensidade desses depósitos.



Entre eles destacam-se o nível de saturação, a velocidade de escoamento e a vazão da solução aquosa, a temperatura, a umidade e a circulação do ar na caverna, assim como suas características morfológicas.



De forma geral, podemos dizer que os mecanismos de deposição definem os tipos de espeleotemas e os demais fatores condicionam seus estilos, suas dimensões, sua coloração etc., que estão também intimamente relacionados com o mineral depositado. Baseada nestes diversos condicionantes, estabelece-se uma classificação para os vários espeleotemas.



Origem dos espeleotemas (Depósitos de águas circulantes)



São os espeleotemas formados pela deposição do carbonato de cálcio contido em soluções aquosas que se movem nas cavernas por força da gravidade. Tais espeleotemas recobrem tanto os tetos e paredes da caverna, como seu piso, sendo formados pelos dois mecanismos de deposição básicos: o gotejamento e o escorrimento.

Estalactites da Caverna da Torrinha (BA)


As formas desse grupo são as mais freqüentes em cavernas de todo o mundo, sendo encontradas também em diversos ambientes urbanos onde predominam as construções de concreto armado. Dessa forma, são comuns estalactites, cortinas, estalagmites e diversos escorrimentos em pontes e viadutos, túneis, galerias do metrô e em inúmeros edifícios.

Estalactites



São os mais comuns espeleotemas sendo encontrados em praticamente todas as cavernas calcárias conhecidas no mundo. Sua gênese é, sem dúvida, uma das mais simples: a gota de água contendo carbonato de cálcio em solução, ao sair das fissuras do teto da caverna, fica presa a ele por alguns minutos até atingir um volume com peso suficiente para vencer a tensão superficial e cair. Neste tempo, libera-se o anidrido carbônico na atmosfera da caverna, a solução ficar supersaturada e precipita-se então um delicado anel de calcita, no contato da gota com o teto. Gota após gota, anel após anel, forma-se estalactite tubular, cilíndrica e oca, semelhante a um "canudo de refresco" que cresce verticalmente do teto para o piso da caverna.



Estes canudos têm, em média, entre 6 mm e 8mm de diâmetro com paredes de aproximadamente 0,5 mm de espessura, e chegam excepcionalmente, a atingir 3 m de comprimento como na magnifica "galeria do nirvana", na Caverna de Santana (Iporanga, São Paulo).

Estalactites, Caverna da Torrinha, localizada no Parque Nacional da Chapada Diamantina.

Geralmente cada anel é depositado em continuidade cristalográfica com o anterior constituído um único cristal, o que é evidenciado pelo paralelismo dos planos de clivagem quando se parte uma estalactite deste tipo.



A razão de crescimento destas estalactites tubulares varia de local para local e de época para época, mas, segundo estudos realizados em diversas partes do mundo, o crescimento anual destes espeleotemas é da ordem de 0,3 mm.



Esta média tem por base o crescimento de espeleotemas em cavernas de regiões temperadas; sabe-se, no entanto, que em meio tropical este crescimento é geralmente bem maior índice pluviométrico, as maiores temperaturas e a cobertura vegetal intensa, o que aumenta a pressão de CO2 no solo.



As estalactites também crescem em diâmetro: o tubo original é normalmente poroso e a água pode, pelos interstícios e pelos planos de clivagem do mineral depositado, sair para o lado externo da estalactite, depositando ali parte do material que transporta. Isto geralmente ocorre quando o canal central é obstruído pelas impurezas trazidas pela água de infiltração ou pelo crescimento de cristais nas paredes internas.



A água represada no conduto central também emerge pelos poros existentes no contato do teto com a estalactite, escorrendo pelas suas paredes externas, depositando finas lâminas de calcita que a envolvem. A deposição maior da calcita no topo superior da estalactite lhe confere a forma cônica tradicional.

Lustre ou bacon, formação registrada na caverna da Torrinha, localizada na Chapada Diamantina (BA).


O desenvolvimento da estalactite e a evolução do seu sistema cristalino dependem da intensidade e da constância da deposição. A deposição lenta e constante dá origem a uma estrutura monocristalina com todos os cristais seguindo a orientação do canudo original. Quando, porém, a deposição se dá de forma muito rápida ou interminente, a camada recém-depositada é formada por cristais em forma de cunha que se orientam perpendicularmente ao eixo do canudo original, dando origem a uma estrutura cristalina radial. Nos dois casos, no entanto, o aspecto externo da estalactite é o mesmo.



Além das estalactites tubulares e das estalactites cônicas existem outras com seção elipsoidal, aspecto oblongo e formas complexas onde duas ou mais estalactites estão reunidas em uma só peça, dando origem a ornamentações às vezes gigantescas.



Outras estalactites curiosas e raras são os espiricones. Lembram em aspecto um saca-rolhas, sendo que, em cada uma de suas voltas, existe uma abertura de forma cônica com diâmetro maior voltado para o piso. Tais espeleotemas são muito raros, existindo, no entanto, em grande quantidade na Caverna São Mateus (GO).



Estalagmites



A gota que cai do teto (ou de uma estalactite), ao chocar-se contra o piso da caverna, deixa precipitar a calcita que ainda trazia dissolvida.



O contínuo gotejar e a correspondente deposição da calcita dá origem a um espeleotema conhecido como estalagmite, que cresce verticalmente a partir do solo.

Flores de aragonita encontradas na caverna da Torrinha uma das mais belas do Brasil


As novas gotas, chocando-se contra a extremidade superior da estalagmite, depositam ali, no centro do topo, a maior parte da calcita que transportam. Escorrendo pelas laterais do espeleotema, ainda em sua parte superior, também precipitam calcita, de forma que a deposição como um todo se dá pelas capas côncavas de calcitas que se superpõem.



Esta superposição verticalizada de capas côncavas dá à estalagmite formas cilíndricas ou cônicas, que, não raras vezes, atingem vários metros de altura e mais de 1 m de diâmetro.



Tendo sua formação associada às estalactites, apresentam razão de crescimento da mesma ordem e são, depois delas, os espeleotemas mais comuns nas cavernas. O diâmetro, assim como suas formas mais ou menos regulares, depende da intensidade e concentração da solução gotejante. A constância destes fatores confere à estalagmite um diâmetro uniforme e, neste caso, quando o comprimento é muito grande, elas são denominadas velas.



Várias são as formas típicas de estalagmites encontradas em cavernas brasileiras: as "terraçadas" (ou "pilhas de prato"), que indicam variações periódicas na intensidade da deposição; as estalagmites cônicas (bolo-de-noiva, buda etc.), que indicam um decréscimo nesta intensidade e/ou na concentração de carbonato da solução; e as formas complexas (cactos etc.), que são formadas a partir de mais de um ponto de gotejamento (duas estalactites, por exemplo) ou pelo deslocamento do ponto de gotejamento.



Cortinas



Quando a gota d'água emerge em uma parede ou teto inclinado, ela escorre pela superfície deixando um fino rastro de calcita, que, com a continuidade do processo, cresce verticalmente dando origem a uma lâmina de calcita ondulada, branca e translúcida.



Estas lâminas, denominadas cortinas, quando formadas apenas pela deposição de calcita em sua borda inferior (lisa ou serrilhada), têm uma espessura da ordem de 6 mm. A existência, no entanto, de escorrimentos laterais aumenta a espessura de sua parte atingindo até 10 cm em alguns casos.

Um dos trechos mais baixos da Caverna da Torrinha onde o explorador é obrigado a andar agachado  


Os cristais depositados na borda inferior da cortina são orientados perpendicularmente à superfície de crescimento e os provenientes dos escorrimentos laterais apresentam-se paralelos a ela.



As vezes, por alternância de soluções puras e impuras, as cortinas apresentam um bandeamento de cores que lhes dá o aspecto de "bacon", nome este que se característica das cortinas é o som metálico semelhante ao de sinos que emitem quando tocadas com habilidade. Tal peculiaridade foi aproveitada em uma caverna turística americana onde as cortinas forma utilizadas como componentes de um extraordinário órgão que executa músicas sacras e eruditas.



Colunas



São as formas verticais e geralmente cilíndricas que se originam da união de estalactites e estalagmites ou do crescimento "exagerado" de uma delas, unindo teto e piso das galerias e salões da caverna.



Não raras vezes, são formadas pela reunião de várias estalactites e estalagmites e atingem, tanto em altura como em diâmetro, enormes proporções.

Escorrimentos de calcita



São depósitos laminados que recobrem as paredes e pisos das cavernas originados da precipitação da calcita dissolvida nas águas que escorrem por elas.



Os cristais de calcita depositados se orientam geralmente segundo a perpendicular à superfície de crescimento e o espeleotema apresenta coloração muito variada, incluindo o branco-imaculado, o vermelho-vivo e diversas tonalidades marrons e alaranjadas.



Quando tais escorrimentos criam volumes arredondados e se dependuram pelas paredes da caverna, recebem o nome de cascata de pedra, sendo igualmente conhecidos com "orgão" quando suas bordas são ornamentadas por estalactites e cortinas.

Caverna da Torrinha

As formas de piso recebem o nome genérico de placas estalagmiticas e, várias vezes, pela remoção do solo da gruta por fortes correntes de água, estas lacas ficam suspensas dividindo dois pavimentos, sendo, neste caso, denominadas marquises.



Os escorrimentos por vezes dão origem a depósitos cujos cristais se orientam sem uma direção preferencial, criando superfícies multifacetadas, que, quando iluminadas, apresentam um belo efeito cintilante que lhes confere o nome popular de "chão de estrelas".



Represas de travertino



São formas especiais de escorrimento semelhantes a pequenos diques de calcita que represam, em patamares e escalonados, a água que escorre pelos pisos das cavernas. Em aspecto, lembram uma "escada alagada" cujas paredes são lamelares e sinuosas com concavidade voltada para a corrente da água.



A decomposição da calcita se dá nas bordas superiores das paredes da represa, que tem crescimento vertical e sempre nivelado. Por causa das impurezas da água, sua coloração é geralmente marrom, existindo formas de tons laranja e vermelho.



As dimensões dessas represas são muito variáveis, atingindo desde poucos milímetros de latura (que dão ao piso um desenho rendilhado e vesicular) a vários metros, formando verdadeiras maravilhas.



Por vezes, dado o grande volume e a regularidade na disposição das represas superpostas, o espeleotema é denominado "Pueblo", pela sua semelhança formal a este tipo de habitação coletiva.



Quando em microformas, as represas de travertino podem ocorrer sobre estalagmites e diversos outros espeleotemas de piso. Alguns tipos também são conhecidos como cérebros e travertinos que recobrem certas "pérolas de caverna".



Estes espeoletemas, por represarem águas ricas em carbonato, são ainda um dos mais importantes "berços" para a formação de diversos outros depósitos minerais em caverna, dentre os quais se destacam os cristais "dentes-de-cão", os "vulcões" e as "jangadas".



Conglomerados



As águas carbonatadas que circulam pela superfície e pelas camadas superiores do solo da caverna são ainda responsáveis pela cimentação de seixos, areias e argilas em blocos e camadas ditas conglomeráticas.

Passagem da Francesa na Caverna da Torrinha, Parque Nacional Chapada Diamantina (BA)


Tais camadas são importantes depósitos que permitem um estudo mais profundo da evolução morfológica das cavernas. O exemplo mais corrente é o das camadas deste tipo formadas pela cimentação de seixos de antigos leitos de rios subterrâneos que, pela sua consolidação, ficam presos às paredes e tetos da caverna a testemunhar a passagem anterior da água por aquele local. Estas camadas conglomeráticas são comuns em grande parte das cavernas conhecidas.



Concreções



São agregados sedimentares, geralmente de calcita que revestem ou anglobam pequenos núcleos existentes na superfície do solo das cavernas. Tais núcleos podem ser pequenos grãos de areia, fragmentos de rocha ou de outros espeleotemas, fragmentos vegetais, ossos, conchas de moluscos e inúmeros outros suportes.



O aspecto final dessas concreções é variável em função da forma do núcleo recoberto e da textura do revestimento que pode ser rugosas, ásperas ou perfeitamente lisa.
As formas mais comuns são as de pequenos bastonetes, as elipsoidais e as perfeitamente esféricas, sendo normalmente estas últimas concreções, pela sua especial estrutura, denominadas "pérolas de cavernas".



Pérolas de cavernas




Também denominadas pisólitos ou oólitos (do grego oon = ovo e lithos = pedra), são um dos únicos espeleotemas que não se prendem ao teto, paredes ou pisos das cavernas. São geralmente formados em pequenas cavidades do piso denominadas "ninhos" a apartir de núcleos diversos (areia, quartzo etc.), sob fluxo constante de água que goteja dos tetos.



Suas dimensões variam de pouco milimetros a 20 cm de diâmetro, sendo raras as formas que ultrapassem os 3 cm de raio. Outras peças encontradas com dimensões semelhantes apresentam formas irregulares e superfícies "enrigadas".



O corte de uma pérola mostra a existência de suas partes: o núcleo e o envoltório. O envoltório é formado pela superposição de camadas concêntricas de calcita, cujos cristais se apresentam perpendiculares à superfície de crescimento do espeleotema. Em cavernas européias e americanas, são descritas pérolas cujas camadas são formadas ora de aragonita ora de calcita. No Brasil, no entanto, todas as pérolas estudadas (Guimarães, 1974) são formadas exclusivamente pela calcita, independentemente das impurezas nela encontradas.



Comumente, as camadas apresentam colorações diferentes pela presença de impurezas diversas e suas espesuras são variáveis de dezenas de micros a 5 mm conforme as variações das condicionantes locais de hidrologia e meteorologia.



Tais variações implicam igualmente na variação da deposição da calcita ao longo do tempo, o que dificulta os estudos relativos à velocidade de crescimento do espeleotema.
Levando-se em conta pesquisas realizadas em diversas partes do mundo, poderíamos considerar que o crescimento médio dessas perolas se situa entre 0,2 a 2 mm por ano.
As camadas iniciais têm suas formas comprometidas com a forma do núcleo que recobrem, sendo aos poucos sucedidas por outras mais regulares e geralmente mais esféricas.



Para a formação destas estruturas esféricas parece, segundo vários autores, ser necessária a agitação e rotação constantes da pérola. Tal requisito é discutível e polêmico.



Em casos de pérolas como a de 20 cm, dadas as suas dimensões e o peso, a rotação seria dificilmente explicada pelos gotejamentos ou escorrimento. Já em pérolas com cerca de 2,5 cm é visível o movimento de rotação sob o fluxo do gotejamento. Outra teoria que tenta explicar o revestimento total da pérola e sua correspondente esfericidade é a que apela para a "força de cristalização" da calcita que seria, em alguns casos, capas de "levantar" o espeleotema, desde que existisse entre o cristal (na superfície inferior da pérola) e o suporte sólido (ninho) uma lâmina de solução capaz de fornecer o composto para a precipitação da calcita.



Couve-flor



São depósitos de calcita de superfície rugosa e porosa que recobrem os núcleos, paredes, pisos e outros espeleotemas existentes nas cavernas. Segundo a teoria mais difundida e polêmica, sua formação se dá a partir do gotejamento de água dos tetos e corresponde borrifamento da gota em seu choque contr o piso. Este borrifamento faz com que a calcita dissolvida nas gotículas d'água se precipite de forma irregular e dispersa sobre os suportes vizinhos.

Formação conhecida como "descansa coluna" na Caverna da Torrinha, dentro Parque Nacional Chapada Diamantina


Assim, grandes áreas dos pisos e das paredes são recobertas por estes espeleotemas, geralmente pouco consistentes, cuja aparência final, ramificada e irregular, lembra o vegetal de onde se originou seu nome.



Cálice



Quando o gotejamento ocorre sobre os solos não compactados e pouco consistentes (caso de depósitos de areias ou argilas nas margens dos rios), escava pequenos orifícios no piso da caverna. A continuidade do processo vai aprofundando tais orifícios ao mesmo tempo que, pela precipitação da calcita (à semelhança da formação das estalagmites), vai cimentando as paredes internas deles e, pelo borrifamento, vai criando uma borda (lábio) superior.



As variações do nível das águas em estações de chuva e seca) mais pronunciadas nas regiões do Brasil Central) fazem com que, comumente, a areia ou argila acumulada em uma época seja removida pelas águas na estação seguinte. A remoção desta camada do solo da gruta põe à mostra a estrutura do precipitado que se apresenta como um cálice de pedestal curto, corpo alongado (cilíndrico ou cônico) e bordas salientes e horizontalizadas.



O Mundo das Cavernas: Parte 1
O Mundo das Cavernas: Tudo que você queria saber sobre cavernas mas tinha medo de escuro.


Fonte de pesquisa
A Problemática do Estudo de Biologia em Cavernas (Epeleo-Tema)
Princípios de Espeleologia Exterior (PAMA)
O Ambiente das Cavernas (SBE)
Pesquisas do Conjunto Hidrológico das Áreas (SBE)
Espeleologia no Brasil (PAMA)
Topografia Subterrânea Aplicada às Cavernas (P. Kruger)
Cavernas Brasileiras (Melhoramentos)


Nota
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