A biologia das cavernas
Bioespeleologia: a ciência da vida nas cavernas
A bioespeleologia é a ciência que estuda os
organismos e sua relação com o ambiente cavernícola,
bem como o meio externo ao qual a caverna está associada.
A parir deste princípio podemos citar algumas subdivisões
de estudos.
O ambiente cavernícola
Em qualquer região natural, os organismos e
o meio ambiente inter-relacionam, para promover uma troca
de matérias (Orgânicas e inorgânicas).
Assim, a uma mata tropical corresponde uma flora e fauna
diferente da existente em um cerrado, em um deserto, nas
profundezas do mar ou em uma caverna.
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Espeleotema
conhecido como bolo-de-noiva, na Caverna do Diabo
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Uma
subdivisão da Biosfera (fina camada em torno de nosso
planeta onde existe vida) são os domínios
que definem os vários habitats.
Estes domínios são o Paraepígeo, o
Epígeo, o Endógeo, o Proepígeo e o
Hipógeo, correspondente a uma divisão descendente
dos habitats, que vão desde os topos das grandes
matas até as profundezas das cavernas, acima e abaixo
do lençol freático.
O Domínio Hipógeo, que inclui as cavernas,
as fraturas das rochas, as minas artificiais e o meio intersticial,
é, portanto, o que interessa aos bioespeleólogos,
apesar de que, só por meio de um estudo mais abrangente
e comparativo, é posível entender a especificidade
do ambiente das cavernas. Algumas características
destes ambiestes são:
A pequena variação
diária da temperatura, que é sempre menor
que a média externa;
A elevada umidade realtiva do ar, que é sempre maior
que a média externa;
A ausência total de luz nas zonas mais profundas;
A pequena quantidade de nutrientes, que, ainda assim, são
necessariamente importados da superfície.
A ação de tais
fatores no ambiente das cavernas ocore em três níveis
diferenciados. Estes níveis, denominados zonas, são
definidos em função da interação
do ambiente interno da caverna com o externo.
- Zona 1 - (entradas) é
aquela onde a luz incide direta ou indiretamente e a temperatura
e a umidade relativa acompanham as variações
externas.
- Zona 2 - são os locais onde a ausência de
luz é total, existindo, no entanto, variações
de temperatura e umidade por força das correntes
de ar entre os meios externo e interno.
- Zona 3 - é marcada pelas trevas permanentes, pela
amenidade e constância da temperatura, sendo a umidade
relativa do ar muito elevada, geralmente entre 90% e 100%.
Este zoneamento das cavernas
tem como objetivo o seu estudo biológico, dado que,
de uma forma geral, estas zonas condicionam ao longo do
desenvolvimento da cavidade uma florta e uma fauna bastante
diferenciada.
A comunidade cavernícola
A comunidade, no sentido ecológico, inclui todas
as populações de uma dada área: população
de organismos tanto da espécie vegetal como a da
animal.
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Cara-do-Diabo,
desenho formado na parede de calcário da
Caverna do Diabo, no Parque Estadual de Jacupiranga,
localizado no Vale do Ribeira, entre as cidades
de Iporanga e Eldorado (SP) |
Comunidade e ambiente inerte
estão interrelacionados e interatuam para promover
uma troca de materiais entre si, funcionando como um sistema:
o ecossistema.
Para uma compreensão da função e estrutura
de um ecossistema, tomemos uma plantação como
exemplo:
A luz, fonte de energia, é introduzida no sistema
vivo por intermédio dos produtores (organismos autótrofos,
principalmente as plantas verdes), que sintetizam carboidratos
(glicose) pela fotossíntese.
Estas plantas vão servir de alimento a pequenos roedores
denominados consumidores primários (organismos heterótrofos
que conseguem energia por meio dos produtores). Os roedores
vão servir de alimento para cobras, que são
consumidores secundários (animais que obtêm
energia indiretamente dos produtores), que por sua vez servirão
de alimento para as aves de rapina (consumidores terciários).
Fungos e bactérias (decompositores) que vivem no
solo deccompõem a matéria orgânica das
plantas e dos animais mortos, devolvendo-a ao meio ambiente.
O arranjo produtor-consumidor-decompositor é denominado
cadeia alimentar, e a cada passagem alimentar (ou nível
trófico) há uma diminuição e
perda de energia para o meio ambiente.
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Cortinado,
Caverna do Diabo no PE Jacupiranga |
Nas cavernas, no entanto,
pela ausência de luz, não sobrevivem as plantas
clorofiladas, que são a base da cadeia alimentar.
Algumas bactérias conseguem produzir alimento no
escuro, contribuindo para o suprimento alimentar da comunidade
cavernícola. Assim, no interior dessas cavidades
existe um tipo de cadeia alimentar que se inicia pela matéria
vegetal ou animal morta e parcialmente decomposta e cujos
consumidores primários são denominados saprófagos.
O ambiente das cavernas se caracteriza por um pequeno suprimento
de alimentos que são geralmente importados do meio
externo por animais ou correntes d'água.
É de importância a presença de morcegos
em cavernas pela quantidade de guano (fezes) fornecido,
que serve como fonte de alimento para diversos animais,
tais como baratas, minhocas, caracóis, miriápodes,
além de outros organismos.
A pequena quantidade de alimentos é um dos mais importantes
fatores que limitam a fauna cavernícola tanto quantitativa
como qualitativa. Os animais das cavernas são comumente
onívoros (comem de tudo) e apresentam baixas taxas
metabólicas (pequeno consumo de nutrientes).
Assim, pássaros ou mamíferos nunca passam
todo o seu ciclo vital em cavernas, pois precisam alimentar-se
continuamente para manter sua temperatura corporal e seu
alto metabolismo. Répteis (como cobras), que possuem
sua temperatura corpórea baixa, não necessitam,
por esta razão, de muito alimento e conseguem sobreviver
por períodos relativamente longo no interior das
cavernas.
Também sapos, salamandras, peixes e artrópodes
(crustáceos, insetos, aranhas) são, pela mesma
razão, bons cavernícolas em potencial, se
considerado este baixo metabolismo.
Alguns mecanismos homeostáticos comuns nos animais
de superfície não são necessários
nos cavernícolas, dada as condições
estáveis do microclima interno. Por outro lado, eles
necessitam de adaptações e órgãos
de sentidos especiais que lhes permitam sobreviver, alimentar-se
e reproduzir-se no escuro.
A classificação dos animais como veremos a
seguir é baseada no nível de adaptação
e distribuição deles no ambiente cavernícola.
Classificação dos
animais de caverna
Animais de diversos grupos sistemáticos freqüentam
ou habitam as cavernas. Alguns são encontrados tanto
dentro como fora. Outros só vivem em cavernas, e
atingem tal nível de especialização
e adaptação a este ambiente que não
conseguem sobreviver fora dele, a não ser em condições
artificiais.
Esta especialização se deu por força
da evolução e seleção natual
de espécies que antes habitavam a superfície.
Segundo Delamare Deboutteville (1960), em seu estudo Biologie
des Eaux Souterraines e Continentales, observa-se a existência
de uma grande gama de animais que vivem especialmente nas
águas intersticiais (entre os grãos de areia
nas parais, por exemplo) e que abrangem uma grande distribuição
e capacidade de sobrevivência em locais com grandes
variações de salinidade. Daí a possibilidade
de que também formas de vida originalmente marinhas
tenham atingido as cavernas por esta via.
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Espeleotemas
da Caverna do Diabo |
Assim como estes, outros
animais de superfície já são pré-adaptados
à vida em caverna com condições de
sobreviver naquele ambiente por períodos curtos ou
mesmo por todo o seu ciclo vital.
Os animais de cavernas são então classificados
de acordo com sua distribuição e ocorrência
nas cavernas, e pela maior ou menor adapatação
a elas.
Desde o início da Bioespeleologia a classificação
destes animais gerou controvérsia, mas é praticamente
universal a divisão deles nos seguintes grupos:
Trogloxenos
Visitantes ocasionais das cavernas, que, apesar de
não terem condições de desenvolver
todo seu ciclo biológico nelas, ali penetram por
períodos relativamente curtos e a pequenas profundidades.
Dentre eles podemos citar ratos, lontras, iraras, pacas,
gambás etc., que as vezes penetram alguns quilômetros
em busca de alimentos; aves noturnas como corujas, que fazem
ninhos junto às entradas; ou rãs, sapos e
alguns moluscos, que nelas se protegem do intenso calor
do sol e, por fim, o homem, que, como turista, ecoturista
ou estudioso, se aventura pelas galerias e salões
internos.
Troglófilos
São animais que têm condições
de desenvolver seu ciclo de vida tanto no meio externo como
nas cavernas e que normalmente as colonizam. Em geral, apresentam
uma ampla distribuição espacial na caverna
e formam, não raras vezes, numerosas populações.
Diversos são os grupos de animais nesta categoria,
destacando-se, entre eles, crustáceos e centopéias,
incluindo várioas gêneros e espécies
típicas da fauna cavernícola.
Troglóbios
São os verdadeiros cavernícolas. Perfeitamente
adaptados à vida nesse ambiente, estes animais são
praticamente incapazes de sobreviver no meio externo, em
conseqüência do nível de especialização
de seus órgãos e diversas outras adaptações
morfológicas e fisiológicas.
Várias caracteristicas distinguem os troglóbios
dos demais animais que freqüentam as cavernas: normalmente
apresentam órgãos de visão atrofiados
ou ausentes; em sua maioria apresentam despigmentação;
nos insetos normalmente faltam as asas.
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Caverna
do Diabo, a única caverna iluminada do Brasil,
localizada no Vale do Ribeira (SP) |
Geralmente
apresentam um maior crescimento dos apêndices, em
especial os tácteis como antenas, palpos, cílicos
e patas, possuindo uma lata sensibilidade química
e mecânica, que pemite detectar as vibrações
do ar e da água (sons, correntes de ar etc.). A falta
de pigmentos também facilita a percepção
a nível do sistema nervoso central.
A estas adaptações morfológicas somam-se
adaptações fisiológicas, principalmente,
seu metabolismo é baixo, seu crescimento, desenvolvimento
e maturação são muito lentos e sua
longevidade muito grande.
Em alguns casos, os troglóbios apresentam ovos maiores
e em menor número que os animais de superfície.
Da mesma forma, nos insetos o número de mudas é
normalmente menor e a fase larval dura comparativamente
pouco tempo.
Inúmeras outras características distinguem
estes animais, que denominados "fósseis vivos"
por Darwin, têm na caverna simultaneamente seu refúgio
e sua prisão.
Os troglóbios têm sua distribuição
restrita a alguns locais de algumas cavernas e poucos grupos
são representados por animais desta categoria, sendo
em grande parte aquáticos.
Os principais troglóbios se encontram entre peixes,
crustáceos, diplópodes, algumas planárias
e raros anfíbios como o famoso Proteus das cavernas
da Iugoslávia, o primeiro troglóbio conhecido.
Arqueologia e palentologia nas cavernas
Introdução
às ciências
Os pisos, concavidades e reentrâncias das cavernas
são normalmente recobertos ou preenchidos por sedimentos
provenientes da superfície, trazidos em grande parte
por enxurradas e cursos d'água. Tal tipo de depósito
representa um dos mais ricos campos de estudo para a Paleontolgia
e a Arqueologia.
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Detalhe
de espeleotemas na Caverna do Diabo (SP)
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A riqueza desses jazigos
fossíleferos é marcada pela alta concentração
de ossos e restos vegetais que vão dar às
cavernas e pelo costumeiro bom estado de conservação,
quando comparados aos depósitos semelhantes formados
na superfície.
Várias são as origens desses depósitos
fossilíferos e arqueológicos em cavernas:
1) Animais que têm suas tocas naqueles ambientes e
morrem por lá, deixando suas ossadas. Tais animais,
enquanto vivos, deixam ainda na cavernas os ossos de suas
presas e coprólitos.
2) Ossos de animais que morrem por quedas em abismos.
3) Ossos, conchas e vegetais carregados para dentro das
cavernas por enchurradas e cursos d'água.
4) Sepultamento e demais vestígios de ocupação
humana em tempos passados. Tais vestígios, constituídos
basicamente por restos de alimentos, coprólitos e
esqueletos, estão geralmente associados a marcas
de fogueiras, restos de construções, utensílios
e ferramentas destes grupos primitivos. Em certas regiões,
são também associados a pinturas e gravuras
rupestres que recobrem as paredes internas e externas do
abrigo.
Este tipo de material, especialmente o de composição
orgânica, quando depositado na superfície externa,
sofre os efeitos destrutivos do sol, das chuvas, das bruscas
variações de temperatura, geadas etc. e também
a ação de diversos decompositores.
Em cavernas, no entanto, o teto rochoso o protege das intempéries
e, pela ausência de luz, não existem plantas
como no exterior, cujas as raízes muitas vezes destroem
o material soterrado. A preservação de ossos
é ainda favorecida no abiente cavernícola
onde prevalecem condições alcalinas diversas
daquelas da superfície.
O principal objetivo da Paleontologia é de reconstruir
a história da antiga flora e fauna da área,
conseguindo informações, também, sobre
seu clima, suas flutuações, seus aspectos
geomorfológicos e diversos outros dados de interesse.
Da mesma forma, a Arqueologia busca reconstruir e/ou entender,
por meio dos vestígios encontrados, as características
e eculiarridades dos povos de antigas culturas.
A interpretação dos sítiso paleontológicos
e arqueológicos é normalmente baseada na superposição
dos depósitos ao longo do tempo e sua correspondente
estratigrafia: o mais antigo estaria mais fundo e o depósito
mais recente estaria mais próximo da superfície.
Tal método adota como pressuposto que a deposição
se faz com estratificação horizontal e que
os depósitos não foram pertubados ao longo
do tempo.
Em cavernas isto não ocorre senão raríssimas
vezes. Os depósitos neste ambiente estão normalmente
sujeitos a distúrbios como desmoronamentos, enxurradas,
concrecionamento, recorte de novas galerias, inundações
etc. Devido a isto, tais depósitos se apresentam
normalmente descontínuos e perturbados tornado inútil
estabelecer cortes horizontais extensos para estartigrafia.
Assim, o estudo tem que ser feito na dissecção
de pequenas áreas e na sua posterior montagem.
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Espeleotema
iluminado na Caverna do Diabo. |
Tal trabalho requer a participação efetiva
de especialistas de diversas áreas do conhecimento
e não devem, em hipótese alguma, ser realizado
por curiosos que, por vezes, inconscientemente arriscam-se
em "pesquisas" que fogem ao rigor científico
e que, na maioria dos casos, destroem documentos fundamentais
à compreensão de nosso passado natural e cultural.
Paleontologia
No Brasil, a Paleontolgia, a Arqueologia e a Espeleologia
têm uma origem comum consubstanciada no trabalho pioneiro
de Peter Wilhelm Lund nas cavernas de Minas Gerais.
Este ilustre naturalista dinamarquês pesquisou as
cavernas da região do Vale do Rio das Velas (Lagoa
Santa), no período entre 1835 e 1844, e de seu trabalho
originou-se, além das magníficas coleções
paleontológicas, também uma obra bibliográfica
extensa.
Nos achados de Lund se agrupam representantes fósseis
e recentes de toda uma fauna regional, reunindo cerca de
200 espécies animais e despojos de mais de 30 indivíduos
representando um dos mais antigos povos que habitaram as
terras brasileiras: o Home da Lagoa Santa.
Entre os fósseis animais encontrados pelo pesquisador,
salientam-se as "preguiças terrestres gigantes",
"tatus-gigantes", mastodontes, lhamas, ursos,
cavalos, capivras gigantes, o tigre-dete-de-sabre e muitos
outros animais que forma freqüenrtes no Pleistoceno
(a partir de 1 milhão de anos atrás) Sul-Americano,
mas extinguiram-se por completo.
Nas coleções de Lund são também
representados alguns animais do Pleistoceno que sobreviveram
até nossos dias, ainda com pequenas modificações.
É o caso da anta, da capivara, dos porcos-do-mato
e queixadas, dos veados, alguns felinos, tatus pequenos,
gambás e tamanduás.
Na segunda metade do séc. XIX e início do
séc. XX, várias pesquisas paleontológicas
forma realizadas em cavernas brasileiras. Em 1889, o naturalista
C. Schreiner descobriu um esqueleto quase completo de megatério
em uma caverna nas proximidades de Jacobina, na Bahia. Em
diversas outras regiões de Minas e São Paulo,
sucederam-se novas descobertas, geralmente fortuitas e assistemáticas.
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Espeleotema
conhecido como mão-de-Deus, localizado na Caverna
do Diabo. |
Em fins do séc.
XIX, o Governo de São Paulo, reconhecendo o valor
do trabalho de Lund e visando a apliar tal tipo de estudo,
contrata o naturalista Ricardo Krone para pesquisar as cavernas
da região do Vale do Ribeira.
Krone, em apenas alguns meses de trabalho na área
de Iporanga e Eldorado (Vale do Ribeira), explorou e cadastrou
41 cavernas e montou um aprimeira coleção
de fósseis que viria mais tarde ser descrita pelo
cientista argentino Florentino Ameghino e pelo paleontólogo
brasileiro Carlos de Paula Couto.
Na coleção de Krone, além de representantes
de diversos gêneros de roedores, tatus, lebres, felinos,
porcos-do-mato, veados, morcegos e marsupiais, constam também
ossadas de gliptodontes, megaloniquídeos (Lund) que
evidenciam a presença de uma fauna já extinta
dos depósitos das cavernas da região.
Na década de 70 várias forma as descobertas
de fósseis por espeleólogos em cavernas de
diversos Estados brasileiros: Bahia, Minas Gerais, São
Paulo, Ceará etc.
Em 1977, uma equipe do Centro Excursionista Universitário,
desenvolvendo pesquisa pelo Departamento de Paleontologia
da SBE, contando com o auxílio da FAPESP e orientação
do Dr, Paulo E. Vanzolini (MZ-USP), descobriu o mais importante
depósito fossilífero de cavernas até
então estudado em São Paulo. Tal depósito
- Abismo do Fóssil (SP-145) - localizado no Petar,
apresentou-se rico em ossada de animais recentes e extintos.
Entre os últimos salientam-se ossadas e dentes de
megatérios, celidotérios, gliptodontes, toxodontes
e outros representantes da fauna pleistocênica sul-americana.
A mesma equipe identificou cerca de uma dezena de sítios
paleontológicos na mesma região e, em 1978,
descobriu a primeira ossada (crânio incompleto) de
um urso fóssil no Ceará (Gruta do Urso Fóssil
- CE-05 - em Ubajara).
Os depósitos fossilíferos em cavernas brasileiras
são basicamente de origem recente e/ou pleistocênica,
sendo raíssimas as excessões como o representante
da família Heptaxodontidae, o Tetrastylus (Ameghino),
de idade pliocênica, descrito por Paula Couto.
As coleções e descrições sobres
esta fauna em caverna do Brasil são muito reduzidas
e, sem dúvida, os espeleólogos interessados
e conscientes muito poderão contribuir para seu conhecimento
e estudo.
A arqueologia brasileira, por sua vez, também pode
muito se beneficiar do trabalho dos espeleólogos.
São também as cavernas um dos mais importantes
repositórios dos vestígios de povos que habitaram
as terras brasileiras nos tempos remotos.
Arqueologia
Na região da Lagoa Santa (MG), ou pesquisadores
H. V. Walter, Aníbal Matos e Dr. Arnaldo Cathoud
escavaram e estudaram mais de 100 esqueletos humanos provenientes
das cavernas e abrigos de pedra existentes na área.
Nestas mesmas pesquisas forma encontrados artefatos de pedra
em abundância, material cerâmico e diversos
vestígios da ocupação humana daqueles
abrigos, como níveis de fogueira, restos de alimentação
etc.
Nos estudos destes pesquisadores salienta-se a descoberta
do "Homem de Pedro Leopoldo", em 1940, na Gruta
da Lagoa Funda (MG) e do "Homem de Confins", em
1935, encontrado da Gruta de Confins (MG), abaixo de uma
espessa camada estalagmítica.
Ainda em Minas Gerais, inúmeras escavações
foram realizada muitas vezes sem a necessária seriedade
científica, o que levou à destruição
de sítios arqueológicos de fundamental importância.
Como trabalhos sistemáticos e sérios, podemos
citar os desenvolvidos pela Missão Franco-Brasileira
sob a coordenação de Annette Laming-Emperaire
(1975), que realizou na Lapa Vermelha II a mais completa
escavação arqueológica em sítios
cobertos no Brasil.
Nesta pesquisa, apesar do pouco material cultural encontrado,
houve um avanço considerável na metodologia
de trabalho e coligiram-se informações fundamentais
para que se tivisse uma idéia mais completa a respeito
das variações ecológicas da área.
Outro trabalho que merece
destaque é o desenvolvimento pelo Instituto de Arqueologia
Brasileira (IAB), que, a partir de 1968, vem pesquisando
com afinco várias cavernas e abrigos do Vale do São
Francisco, tendo encontrado riquíssimo material arqueológico
que inclui artefatos líticos e ósseos, cerâmica,
sinalações e sepulatmento, entre outros.
Vários outros pesquisadores estudaram sítios
cobertos (cavernas e abrigos rochosos) em diversos cantos
do Brasil, a maioria deles nas décadas de 60 e 70.
Apenas a título de referência, citamos alguns
deles sem preocupação de oferecer listagens
ou aprofundar o valor e significado de suas pesquisas.
São inúmeras e importantes as descobertas
arqueológicas em sítios cobertos (abrigos
rochosos e cavernas), apesar de relativamente escassos se
comparados com os sítiso a céu aberto, que
são a grande maioria no Brasil. São ainda
imoprtantes estes sítios pela conservação
do material e pelas informações que preservam
sobre a história do clima, da fauna e da vegetação
na área onde se encontram, permitindo uma visão
mais ecológica da cultura dos povos que os habitavam
e utlilizaram.
O Mundo das Cavernas: Parte 3
O Mundo das Cavernas: Tudo que você queria saber sobre
cavernas mas tinha medo de escuro.
Apoio
Revista Eco Turismo
Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo
ONG Pé no Mato
Fonte de pesquisa
A Problemática do Estudo de Biologia em Cavernas
(Epeleo-Tema)
Princípios de Espeleologia Exterior (PAMA)
O Ambiente das Cavernas (SBE)
Pesquisas do Conjunto Hidrológico das Áreas
(SBE)
Espeleologia no Brasil (PAMA)
Topografia Subterrânea Aplicada às Cavernas
(P. Kruger)
Cavernas Brasileiras (Melhoramentos)
Nota
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