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Que energia é essa?
Álcool Combustível
 
 
 

O que são fontes de energia?

Entende-se por energia a capacidade de realizar trabalho. Fontes de energia, dessa forma, são determinados elementos que podem produzir ou multiplicar o trabalho: os músculos, o sol, o fogo, o vento etc.

Através do uso racional do trabalho, especialmente na atividade industrial, o homem não apenas sobrevive na superfície terrestre – encontrando alimentos, abrigando-se das chuvas ou do frio etc –, mas também domina e transforma a natureza: destrói florestas, muda o curso dos rios, desenvolve novas variedades de plantas, conquista terras ao mar, reduz distâncias (com modernos meios de transporte e comunicação), modifica os climas (com a poluição, as chuvas artificiais etc), domestica certos animais e extermina outros.

As primeiras formas de energia que o homem utilizou forma o esforço muscular (humano e de animais domesticados), a energia eólica (do vento) e a energia hidráulica, obtida pelo aproveitamento da correnteza dos rios. Com a Revolução Industrial, na Segunda metade do século XVIII e no século XIX, surgem as modernas máquinas, inicialmente movidas a vapor e que hoje funcionam principalmente a energia elétrica. A eletricidade pode ser obtida de várias maneiras: através da queima do carvão e do petróleo (usinas termelétricas), da força das águas (usinas hidrelétricas), da fissão do átomo (usinas nucleares) e de outros processos menos utilizados.

As chamadas modernas fontes de energia, ou seja, as mais importantes, são: o petróleo, o carvão, a água e o átomo. As fontes alternativas, que estão conhecendo um grande desenvolvimento e devem tornar-se mais importantes no futuro, são o sol (energia solar), a biomassa e os biodigestores, o calor proveniente do centro da Terra energia geotérmica), as marés, o xisto betuminoso e outras.

É importante ressaltar que as fontes de energia estão ligadas ao tipo de economia: quanto mais industrializada ela for, maior será o uso de energia. O carvão mineral foi a grande fonte de energia da Primeira Revolução Industrial, e o petróleo foi a principal fonte de energia do século XX e continua a desempenhar esse papel, apesar de um recente e progressivo declínio. Tanto o petróleo como o carvão mineral são recursos não renováveis, isto é, que um dia se esgotarão completamente; eles também são muito poluidores, na medida em que seu uso implica muita poluição do ar. Por esses dois motivos eles estão em declínio atualmente, em especial o petróleo, que foi básico para a era das indústrias automobilísticas e petroquímicas. Vivemos na realidade numa época de transição, de passagem do domínio do petróleo para a supremacia de outras fontes de menos poluidoras e renováveis, ou seja, que não apresentam o problema de esgotamento. Este pensamento está pelo menos na cabeça dos ambientalistas de todo o planeta, mas a realidade ainda é um mundo dominado pelos combustíveis fósseis.

A série “Que energia é essa?” irá trazer as principais fontes de energia usadas em nosso planeta; como surgiram, onde são usadas, qual a dependência humana dessas fontes e muito mais. Neste capítulo conheceremos a fonte de energia chamada “Álcool combustível”.

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O álcool

O álcool pode ser produzido a partir de inúmeras plantas: cana-de-açúcar, beterraba, cevada, batata, mandioca, girassol, eucalipto etc. Além de ser usado em bebidas e como desinfetante, ele serve também como fonte de energia, podendo ser empregado como combustível em veículos automotores e também para produzir eletricidade. O primeiro uso (substituindo a gasolina) já vem ocorrendo desde os anos 70; o segundo, no entanto, ainda não foi experimentado em grande escala.

Atualmente, dois países em especial preocupam-se em desenvolver o álcool como fonte de energia, podendo ser empregado como combustível em veículos automotores e também para produzir eletricidade. O primeiro uso (substituindo a gasolina) já vem ocorrendo desde os anos 70; o segundo, no entanto, ainda não foi experimentado em grande escala.

Podemos destacar dois países em especial que preocupam-se em desenvolver o álcool como fonte de energia: o Brasil, com a cana-de-açúcar (etanol), e a Rússia, com o eucalipto (metanol*). O uso do álcool como carburante em automóveis fez tanto sucesso – pois além de eliminar parte da necessidade de petróleo, ele polui menos a atmosfera, podendo ainda ser misturado com a gasolina.

No futuro, o álcool deverá adquirir uma importância maior como combustível de veículos (e talvez também em usinas que gerem eletricidade a partir da queima desse produto), mas não deverá ser, em nível mundial, uma das fontes de energia muito importante. Isso porque é necessário muito espaço para plantar cana-de-açúcar e eucaliptos, já que, para produzir uma quantidade de álcool que seja representativa como fonte de energia, é preciso dispor de um número enorme de plantas.

Um país como a Alemanha, por exemplo, precisaria ocupar todo o seu território com canaviais para poder suprir com álcool apenas metade de suas necessidades de energia (combustíveis e eletricidade).

Além disso, a cana-de-açúcar tem a desvantagem de exigir solos férteis para se desenvolver adequadamente. Assim, tendo em vista a necessidade sempre crescente de alimentos e de matérias-primas provenientes da agricultura, pode-se perceber que não será possível um crescimento futuro muito grande do álcool como fonte de energia.

Ele deverá provavelmente ser uma das fontes de energia dos países que possuem enormes extensões territoriais, como a Rússia, o Canadá, o Brasil e outros.
 
 

*O metanol é um combustível que pode ser obtido de fontes renováveis, sendo menos poluente que os combustíveis fósseis e passível de ser utilizado pela frota automotiva existente, desde que se realizem pequenas adaptações. No Brasil o metanol seria a alternativa de escolha para o etanol, que já é utilizado por grande parte dos nossos veículos automotores. A utilização em larga escala do metanol requer melhor avaliação dos seus riscos para a saúde humana e, neste aspecto, faltam informações sobre a toxicidade reprodutiva e imunotoxicidade deste álcool. O objetivo deste projeto é investigar estes dois aspectos da toxicidade deste composto.

PRINCIPAIS VANTAGENS...
A avaliação de risco permitirá que a utilização do metanol como combustível se faça com maior segurança.

PRINCIPAIS APLICAÇÕES...
Utilização do metanol em substituição aos combustíveis fósseis que são mais poluentes.
(Fonte: Fiocruz - Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde / Departamento de Farmacologia e Toxicologia)

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Álcool: alternativa discutível

O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi estabelecido em 1975 e, em 1979, como o segundo choque do petróleo, sua implantação foi acelerada. Dentre os objetivos estabelecidos pelo programa destacavam-se:

  • expandir a cultura da cana-de-açúcar, particularmente no Sudeste, devido às condições naturais e conjunturais da região;
  • estimular as grandes usinas, através de subsídios, inicialmente a produzirem álcool e, posteriormente, a formarem destilarias, de modo que a produção se elevasse a qualquer custo;
  • estimular o consumo de álcool, utilizando-o misturado à gasolina e como combustível de veículos especialmente fabricados para tal fim.

Todas as metas estabelecidas forma cumpridas e até extrapoladas. Entretanto, a partir de 1986, com o declínio dos preços internacionais do petróleo, o plano foi sentido sistematicamente questionado, devido especialmente:

  • ao alto custo do programa (fala-se em investimentos diretos e indiretos da ordem de 7 bilhões de dólares);
  • à expansão do plantio da cana-de-açúcar em detrimento, por vezes, dos espaços agrícolas ocupados por culturas alimentares;
  • ao fato de o álcool não substituir o petróleo, mas apenas a gasolina, o que torna a produção do álcool dependente do petróleo, uma vez que o trator que trabalha a terra para o plantio da cana-de-açúcar e o caminhão que distribui o álcool funcionam a diesel;
  • ao fato de gerar excedentes de gasolina de difícil comercialização, uma vez que o mercado internacional oferecia preços mais baixos, incompatíveis com os custos da Petrobras.

    Foram apresentada várias sugestões para reavaliar e redirecionar o Proálcool. Uma delas foi a do engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel (presidente da fábrica nacional de automóveis Gurgel S.A.):
    • interrupção da produção do álcool hidratado (com 5% de água), já que não é miscível à gasolina, podendo apenas ser usado como combustível à custa de uma grande elevação do preço dos demais combustíveis;
    • manutenção da produção do álcool anidro, excelente aditivo da gasolina, podendo ser rentável ao usineiro, por concorrer vantajosamente com o aditivo chumbo tetraetila, que é caro, poluente e não produzido no país.
    • Redução para 25% das áreas plantadas de cana-de-açúcar. Se localizadas mais próximas às usinas, reduziriam o custo dos transportes e fariam do álcool anidro (aditivo) um produto altamente competitivo.

    Dentre os argumentos favoráveis ao Proálcool destacam-se os do professor Rogério Cerqueira Leite, físico e professor emérito da Universidade Estadual de Campinas. Segundo ele, a argumentação de que o custo de produção do álcool é mais elevado que o da gasolina é um absurdo e tal afirmativa esconde, na realidade, o interesse da Petrobras em vender a gasolina no mercado interno (onde a margem de lucro é maior que no exterior).

 
 

Veja a seguir trechos de artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo, pelo professor da Unicamp.
(...) Qualquer modificação de uma matriz energético e de um parque industrial tem que ter um horizonte maior que dez anos. É, pois, uma irresponsabilidade alterar o programa nacional do álcool com o argumento de curto prazo. E deve antes de tudo ser analisada a verdadeira razão para esta mudança de política energética, pois, em realidade, só há uma. Sem recursos para investimentos o governo federal se mostra inclinado a adotar uma política que permita à própria Petrobras se capitalizar. A gasolina é vendida no mercado internacional pela Petrobras a US$ 18 o barril, enquanto no mercado interno ela está quase 50 cêntimos o litro. Passando a ser vendido no mercado interno, o atual excedente de gasolina fornecerá um lucro por litro que será de aproximadamente 30 cêntimos de dólar. O que significa um lucro adicional para a Petrobras de um bilhão e trezentos milhões de dólares por ano. É claro que nessa contabilidade não estão incluídos os custos de divisas, que é subsidiado pelo Banco do Brasil, referentes a supressão das exportações da gasolina. Como também está implícito neste projeto o ônus adicional à população que paga um pouco mais pelo trabalho executado pela gasolina que venha substituir o álcool e pelos custos da ampliação da dependência energética. Mas a grande dificuldade com a proposta de contenção do Proálcool é a ausência de qualquer prognóstico ou reflexão sobre a matriz energética nacional após dez anos. Em resumo, o programa tem sido alvo de amplo debate nacional e já no início dos anos 90 começa a sofrer uma reavaliação dos seus objetivos.

Sobre o Proálcool, leia o texto a seguir:

A ressaca do Proálcool
(...) Do ponto de vista econômico nuca foi um bom negócio. Em 1983, quando o barril do petróleo custava US$ 40, o de álcool custava US$ 65. Para economizar US$ 40 o país, que não tinha dólares, gastava 50% na moeda nacional. Em 1988 o custo caiu para US$ 38 e o barril de petróleo para US$ 15. Os consumidores continuam pagando a diferença. Além do problema dos custos, o Proálcool produziu um paradoxo. Ao mesmo tempo que permite a economia de 180 mil barris/dia de gasolina, o Proálcool obriga a Petrobras a exportar 120 mil barris/dia também de gasolina. Isso ocorre porque a gasolina é produzida de qualquer modo na refinação do petróleo e o álcool não substitui outros combustíveis, como o diesel. Esses barris são exportados a preço de custo (US$ 22 o barril), o que não é um bom negócio para a Petrobras e muito menos para os consumidores. Com os imposto e o financiamento do Proálcool.

A discussão nascida com a falta de álcool promete ir longe. O programa não deve acabar tão cedo, sob pena de jogar fora os investimentos – poucos rentáveis – já realizados. Não deve crescer, porque exige subsídios e não há de onde tirar mais dinheiro. A administração dessa enorme massa de trabalho e investimentos promete ser complicada. A crise do Proálcool veio para ficar. Há muita conta para pagar, pouco dinheiro e muitos que querem receber o seu.

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Aeronaves a álcool duelam nos céus do interior de SP

Uma pequena empresa liderada por um engenheiro tecnicamente competente, mas com vários fracassos comerciais no currículo, comprou briga com o quarto maior fabricante mundial de aviões. Ambas disputam quem obterá primeiro a aprovação para um tecnologia que pode baratear o uso de aeronaves leves no país.

A corrida é para conseguir a aprovação técnica oficial (homologação) para utilização de álcool hidratado como combustível em motores aeronáuticos.

O primeiro mercado potencial seria a conversão dos cerca de mil aviões agrícolas em operação no Brasil. Em seguida, poderia vir a fabricação de novos aviões já com motores a álcool – a princípio para a agricultura, mas também, depois, para transporte regional.

A disputa acontece nos céus do interior paulista. No dia 10 de outubro de 2002, a Indústria Aeronáutica Neiva, subsidiária da Embraer, apresentou publicamente em Botucatu (230 km a noroeste de São Paulo) a versão experimental do avião agrícola EMB-202 Ipanema com motor a álcool.

“Confirmada a aceitação do mercado e a validade do conceito, esperamos obter a certificação para aeronave e motor em 18 meses”, disse o diretor da Neiva, Paulo Urbanavicius, em uma nota.

A Neiva tem 21 mil m² de área construída, fabrica aviões e peças e emprega mais de mil pessoas. O engenheiro James Waterhouse, sócio-diretor da Aeroálcool, de Franca (400 km ao norte São Paulo) afirma já ter completado 70% do processo de homologação e estima que ele deva estar finalizado em mais “6 a 8 meses”.

A Aeroálcool tem hoje oito empregados, dos quais alguns poucos são os engenheiros responsáveis tecnicamente pelo motor convertido, como ele e seu colega Omar J.J. Pugliesi.

A homologação deve ser feita junto ao CTA (Centro Tecnológico Aeroespacial), órgão do Comando da Aeronáutica localizado também no interior paulista, em São José dos Campos.
O próprio CTA perseguiu durante vários anos a tecnologia do motor aeronáutico a álcool. Progressos foram feitos, mas a pesquisa foi interrompida. Tentativas foram feitas de retomar o estudo em ambiente universitário, por exemplo na USP. Mas também faltaram as condições para seu prosseguimento, e a derrocada do programa do álcool para veículos automotores condenou de vez as pesquisas.

CORROSÃO...
Waterhouse estudou na USP de São Carlos, onde teve contato com vários cientistas pioneiro do projeto do álcool combustível, como Romeu Corsini, Dawilson Lucato e Antônio Moreira.

Ele aprendeu bem as lições. “O álcool corrói tudo.” Portanto, as principais soluções tecnológicas residiram no revestimento de partes do motor com ligas de níquel, cerâmicas, aço inoxidável ou teflon, nos lugares adequados.Foi preciso reprojetar o sistema de injeção de combustível, para adequá-lo às variações de temperatura e densidade do ar envolvendo o novo combustível.

Mas houve também grandes vantagens. Um pouquinho de água condensada dentro de um tanque de gasolina pode fazer o motor falhar em um momento grave. Como água e álcool se misturam, o problema sumiu. E, como o álcool queima mais devagar, o desgaste dos pistões é menor.

Waterhouse teve dois fracassos: tentou fabricar ultraleves e esteve envolvido com uma linha aérea em Mato Grosso. Nada deu certo. “Eu sou uma catástrofe do ponto de vista comercial”, diz ele.

Seu novo projeto tem bem mais potencial comercial, como atesta o interesse da Embraer/Neiva. Na aviação agrícola, o combustível é o item que mais onera a operações. O litro da gasolina de aviação, a avigás, custa de R$ 3,20 a R$ 3,90, e está aumentando por conta do dólar mais caro. Já o álcool custa de R$ 0,50 a R$ 0,70 por litro, com a vantagem de ser produzido em qualquer parte do país. Na safra de 2001/2002, em São Paulo, a Aeroálcool usou um Piper Pawnee PA-25-260, convertido para álcool, que voou cerca de 250 horas sem nenhuma falha.

Comparando com um avião semelhante usando avigás, os custos médios por hectare pulverizado foram e R$ 979 para a gasolina e R$ 5,52 para o álcool. Vantagens similares forma registradas com o avião da rival Neiva: os custos médios por hectare pulverizado forma de R$ 11,61 para a gasolina e R$ 6,77 para o álcool.

 
 

Álcool combustível: tecnologia brasileira

Álcool combustível ou álcool carburante. O álcool pode ser obtido por via sintética, a partir do eteno, acetileno, carbureto, hulha, gases do petróleo etc., ou por via biológica, através da fermentação de matérias de matérias-primas açucaradas, amiláceas ou celulósicas. No Brasil, o álcool combustível é produzido a partir da cana-de-açúcar, através da fermentação da garapa (extraída por meio de difusores ou moendas), pela ação de leveduras, constituindo o mosto. Os açúcares são desdobrados em álcool etílico (etanol) e gás carbônico pela ação desses microorganismos; o líquido resultante (vinho) é destilado em colunas destiladoras, obtendo-se vinhoto e flegma. O vinhoto é neutralizado em leite de cal e pode ser utilizado como fertilizante: a flegma se desdobra, por retificação, em água, óleo fúsel e álcool combustível.

A produção brasileira de álcool carburante para motores a explosão (ou de combustão interna) começou a ser intensificada a partir da década de 70, em função da crise mundial do petróleo, particularmente através do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), que beneficiou sobremaneira o setor sucro-alcooleiro.

Na década de 80 prosseguiram as pesquisas referentes a novas fontes de obtenção do álcool, como a mandioca e o babaçu (a partir de uma tonelada de mandioca pode-se obter 180 litros de álcool, enquanto a mesma quantidade de cana-de-açúcar rende 651 litros), e intensificaram-se os estudos em biotecnologia, cujo escopo é o melhoramento genético da cana-de-açúcar (variedades hidridas) e das leveduras utilizadas nos processos de fermentação; tais processos de fermentação descontínua (por “tabelada”), tendem a ser substituídos pelos de fermentação contínua, de maior rendimento, através de engenharia bioquímica. O Brasil contava, em meados da década de 80, com mais de 500 destilarias de álcool, com capacidade nominal de produção de aproximadamente 14 bilhões de litros por ano.
 

MOTORES A ÁLCOOL...
O Brasil é um dos países em que se mais desenvolveu a tecnologia de motores de combustão interna de ciclo Otto, movidos a álcool etílico hidratado ou a álcool metílico. Em meados da década de 80, havia mais de 3,5 milhões de veículos com motores movidos a álcool etílico. Para tanto foram necessária modificações no veículo: em função de seu calor latente de vaporização mais elevado, a tubulação de admissão foi reprojetada a fim de permitir fornecimento de mais calor; os calibres de vazão de combustível foram aumentados a fim de alterar a relação ar/combustível, foi instalado um sistema auxiliar, com injeção de gasolina, para facilitara a partida em dias frios; o carburados sofreu tratamento superficial anticorrosivo à base de níquel; o revestimento de estanho e chumbo do tanque de combustível passou a ser de estanho puro; o revestimento de zinco da bomba de combustível passou a ser de cádmio cromatizado; o tubo de aspiração do combustível, de aço zincado, foi substituído por tubo de latão cadmiado; o sistema de filtragem foi redimensionado para atender a uma vazão mais elevada de combustível.

A fim de aproveitar a maior resistência do álcool à detonação, a taxa de compressão do motor foi elevada para 10:1 ou 12:1, com conseqüente elevação do rendimento térmico do motor, o que exigiu novo projeto dos pistões e juntas de vedação. As sedes de válvulas, quando de ferro fundido, foram substituídas por ligas sinterizadas ferro-cobalto, fazendo desta forma, frente à falta de lubrificação provocada pela retirada do chumbo tetraetila; as hastes das válvulas passaram a ser cromadas, e as cabeças aluminizadas. No sistema de ignição foi aumentada a tensão nas velas (através da introdução do sistema transistorizado sem platinado), foi introduzida nova curva de avanço na inflação e passaram a ser utilizadas velas de reduzido valor térmico. A curva da potência do motor foi reprojetada para maior conjugado a baixas rotações, o que exigiu, em conseqüência, alterações da transmissão e redução do eixo motor.

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Relato: seminário sobre desabastecimento de álcool e o risco do metanol

Em reunião realizada na COPPE/UFRJ em 14/12/89, promovida pela Sociedade Brasileira de Planejamento Energético, com a participação de técnicos, pesquisadores e professores da FEEMA, CETESB, Fac. Medicina da USP, Área Interdisciplinar de Energia da COPPE/UFRJ, Escola Politécnica da USP, Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, COPERSUCAR, SOPRAL, CESP, Sindicato dos Químicos e Engenheiros Químicos/RJ, CENPES, Petrobras/SERPLAN e DECOM, IAA, Cooperativa dos Produtores de Açúcar e Álcool, CNI, Associação de Engenheiros da Petrobras, Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, foram discutidos:

1 - 0 problema do desabastecimento do álcool e longo prazos;
2 - Alternativas para solução emergencial;
3 - Os riscos do metanol à saúde.
Visa-se com isto evitar a desmobilização do Programa do Álcool pela falta de decisão e pela incapacidade de implementar uma política correta para os combustíveis fluidos, equilibrando a oferta e a demanda tanto do álcool como da gasolina, respeitando as restrições quanto à poluição ambiental e os riscos para a saúde. Além disto a ausência de medidas pode levar à falta total de álcool em abril de 1990, seguida de corrida dos consumidores do álcool para a gasolina pela conversão maciça de motores, o que pode levar à falta de gasolina e sobra de álcool, levando ao desemprego na produção do mesmo.
1 - O problema do desabastecimento do álcool
Foram levantadas algumas causas que contribuíram em graus diferentes para a presente crise de abastecimento do álcool, que levará a um déficit de cerca de 1660 milhões de litros de álcool entre dezembro de 1989 e maio de 1990, levando em conta uma produção de 12000 milhões de litros na safra de 1989/90:
a) crescimento desarticulado da frota de carros a álcool produzidos pelas montadoras sem levar em conta a possibilidade de garantir o suprimento de álcool necessário, enquanto sobra gasolina;
b) redução do estoque de segurança pelo Governo, do equivalente a dois meses de consumo para um mês, em 1988, constatando-se em fevereiro de 1989 que este equivalia a apenas nove dias de consumo;
c) decréscimo da produção de cana nas últimas safras devido à prática de preços comprimidos para a cana colhida;
d) aumento do consumo em torno de 15%, devido ao Plano Verão no início de 1989;
e) exportação de açúcar oriundo da cana que poderia ter sido destinada ao álcool no Nordeste, correspondendo a cerca de 400 milhões de litros deste combustível;
f) atraso do Governo em tomar as medidas preconizadas desde o início da presente safra para evitar esta crise, envolvendo entre outras providências o aumento do preço dos combustíveis e as mudanças das misturas de álcool e gasolina nos veículos.
As medidas de longo prazo constam do protocolo de combustíveis líquidos para 1995, e incluem:
a) produção de 50% de carros novos a álcool e 50% a gasolina, de modo a ter-se em 1995 uma frota de 6 milhões de carros a álcool com a gasolina ocupando espaço crescente nos motores de veículos;
b) atingir em 1995 a produção de 16 bilhões de litros de álcool;
c) que o aumento da demanda de álcool seja atendido por melhoria de produtividade e eficiência na produção do álcool.
As medidas oficialmente cogitadas em menor prazo foram:
a) reduzir de 22% para 12% o álcool anidro na gasolina, com a exceção da zona metropolitana de São Paulo por enquanto;
b) colocar 5% de gasolina no álcool hidratado, ainda não completamente implementado;
c) importação de etanol de vinho e de milho e de etileno para produzir álcool, limitada pela oferta no mercado;
d) uso de aditivos oxigenados MTBE e ETBE, limitados pela disponibilidade de sua produção.

2 - Solução emergencial para a crise de abastecimento de álcool até maio de 1990
a) A alternativa oficial de importação do metanol e medidas constantes do quadro abaixo.
Hipóteses Consideradas
A – inclui 12% de álcool na gasolina
B – excluído estoque de segurança
C – atendimento da indústria em geral

Quadro 1 – Alternativa de Importação do Metanol (Milhões de Litros)

-

Norte/Nordeste

Centro-Sul

Obs.

Medidas

(31/8)

(30/4)

Centro-Sul

Déficit inicial
-240
-1130
(-1380)*
Mistura de Gasolina no álcool hidratado
-
+60
-
Antecipação da safra para abril
-
+50
-
Álcool para química (redução)
+60
-
-
Importação de etanol (vinho, milho e etileno)
+50
+140
-
Déficit Maio/90
-
-400
-
Balanço
-130
-1280
(-1530)*
Uso da mistura 60%Álcool hidr. 33%metanol 7%gasolina
+300
+590
+146 (abril)(maio)
Transferência do Nordeste para o Centro-Sul
-230
+230
-
Déficit Final
-60
-314
(-564)

Obs.: O déficit aparentemente de 564 milhões de litros no Centro-Sul e 60 milhões no Norte e Nordeste será administrado com um adicional de importações de etanol, maior antecipação da safra, aumento real de preços de combustíveis líquidos e virtual redução de álcool anidro na mistura
(*) Considerando consumo já realizado pela indústria química

b) Algumas novas alternativas, levantadas na reunião e propostas para estudo pelo Governo, poderiam ou evitar totalmente a importação do metanol para mistura em proporção de 33% ao álcool ou reduzir esta proporção a apenas 5%. Estas novas alternativas estão listadas no Quadro 2 abaixo, com os respectivos problemas para sua implementação, os quais devem ser avaliados para determinar a viabilidade da adoção de cada medida.

No conjunto das mesmas deve-se ressaltar a suspensão da exportação de açúcar, inclusive a já autorizada mas cuja cana não tiver sido ainda processada, bem como o desestímulo ao consumo de álcool e de gasolina pelo aumento dos preços reais dos mesmos e pelo fechamento dos postos nos sábados e domingos, como já ocorreu no passado. 0 efeito deste desestímulo pode ser significativo. Parte do déficit atual se deve ao estímulo ao consumo em 1989 pela queda do valor real dos preços dos combustíveis associada ao Plano Verão. As medidas alternativas implicam diminuição do impacto ambiental pois reduzem o uso dos automóveis e a emissão dos gases de combustão na atmosfera.

Em contrapartida, outras alternativas, como a retirada do álcool anidro da gasolina e a inclusão de maior percentual desta no álcool hidratado, aumentam a poluição atmosférica considerando-se inalterado o número médio de quilômetros rodados por veículo/mês. Entretanto, este número médio seria substancialmente reduzido pelas medidas de desestímulo do consumo até maio. Isto poderia compensar o aumento da poluição pelo uso maior da gasolina, de alta octanagem e sem aditivo de chumbo, em relação ao álcool. É preciso fazer um balanço dos efeitos das diversas alternativas antes de qualquer decisão de adotá-las, considerando-as isoladamente.

Quadro 2 – Alternativas ao Metanol (Milhões de Litros)

Alternativas

Quant. de Álcool liberada
(milhões de Litros)

Problemas

A) Suspensão de exportação de açúcar
400
Resolver o problema de Transporte e Consulta ao IAA sobre a situação das cotas de exportação
B) Desestímulo ao consumo – aumento dos preços reais de álcool e gasolina em janeiro (30%) – fechamento dos postos nos finais de semana
600
Efetividade da medida
C) Zerar o uso de álcool anidro e utilização de gasolina de alta octanagem sem aditivo de chumbo
470
Poluição atmosférica
Consultar CETESB
Capacidade de produção de gasolina de alta octanagem pela Petrobras
D) Aumento de proporção de gasolina no álcool (10%)
60
Discutir com ANFAVEA e CETESB
E) Mistura de 5% de metanol
150
Aceitabilidade pelos Movimentos sociais
F) Conversão da frota cativa de álcool para gasolina
50
Viabilidade
G) Conversão de Táxis a álcool para gás natural
30
Viabilidade
EXCEDENTE POTENCIAL DE ÁLCOOL
1760
 
DÉFICIT ÁLCOOL
1280
(1660)*
(QUADRO 1)
BALANÇO
+480
+(100)*

(*) Considerando o consumo já realizado pela indústria química em geral.

Tal balanço deve também ser feito entre o efeito da conversão de carros a álcool para gasolina e o de conversão de táxis para o gás natural.

A prioridade é para os riscos à saúde e danos ao ambiente. Os efeitos de diminuição da performance dos veículos e maior desgaste dos motores podem ser tolerados tendo em vista que trata-se de uma situação de emergência a vigorar por poucos meses, até maio de 90.

Uma alternativa que não consta do Quadro 2 porque consta já do Quadro 1 é a importação de álcool etílico. Caso haja possibilidade de ampliá-la, se houver disponibilidade no mercado internacional, isto seria o ideal, pois não traria nenhuma desvantagem do ponto de vista ambiental.

3 - Os riscos do metanol para a saúde
a) A discussão que ocorreu na reunião sobre os riscos do metanol à saúde evidenciam que o metanol, antes da queima, apresenta vários problemas para quem o manusear. Entretanto, os gases de sua queima podem apresentar menor problema do que os gases de combustão da gasolina.
b) Em favor do uso do metanol foram apresentados alguns estudos realizados na USP e pela CETESB em São Paulo, seja argumentando com dados levanta-los, como a tabela de toxicidade publicada pela Chemical Rubber Co. no Handbooh of Analytical Toxicity, 1977 (Tabela 1), seja com resultados de estudos da Faculdade de Medicina da USP com ratos.

TABELA 1 – Toxicidade de Alguns Combustíveis

Produto
Contato c/olhos
Inalação
Penetração na pele
Irrigação na pele
Inalação
Metanol
2
2
2
1
1
Benzeno
2
4
2
2
2
Gasolina*
(2)
(3)
(3)
(1)
(2)
Etanol
2
1
1
1
1

*O parêntesis significa uma média das gasolinas no mundo. Esta gasolina contém chumbo tetraetila, provavelmente.
Fonte: Chemical Rubber Co. Handbook of Analytical Toxicity, 1977.

TABELA 2 – Limite de Tolerância para Trabalhadores numa Exposição de 40 horas/semana

Etanol
1900 mg/m3
Gasolina
900 mg/m3
Metanol
260 mg/m3

Fonte: Threshold Limit Values and Biological Exposure Indices for 1988-1989
Ameríran Conference of Governmental Industrial Agencies

c) Entretanto, foi contra-argumentado que na Tabela 1 a gasolina pode estar aditivada com chumbo tetraetila e que os ratos têm reação diversa à do ser humano. A Tabela 2 dá uma ordenação diversa da Tabela 1 para a tolerância à exposição, indicando ser o metanol pior do que a gasolina. Ademais, estudo de maio de 1987 do Health Effects Institute norte-americano chega à conclusão de recomendar prudência e mais estudos sobre os efeitos do metanol como combustível.
d) Por outro lado, relatório da Environment Protection Agency dos EUA, citando o mesmo estudo acima, não vê empecilho maior para o metanol em baixo percentual na gasolina.
e) 0 relatório da CETESB "Pesquisa de Combustíveis com Metano" diz o seguinte:
i) É viável a utilização de metanol em substituição a parte do etanol utilizado nos combustíveis automotivos, sem provocar danos ambientais significativos. Entretanto, tal prática é recomendável apenas emergencial e temporariamente, pelo menor período possível e evitando-se sua aplicação nos grandes centros urbanos, até que sejam obtidos resultados mais conclusivos a respeito e as medidas de segurança totalmente equacionadas e implantadas. Recomenda-se ainda que o metanol não seja utilizado nos meses de inverno, quando o fenômeno da inversão térmica intensifica a concentração de poluentes nas cidades, até que o controle de emissões esteja completamente equacionado.
i) Sendo absolutamente necessário o uso do metanol, recomenda-se a adoção das seguintes prioridades para sua utilização:
1°-Misturar Etanol/Metanol com no máximo 20% do metanol.
2°-Misturar Etanol/Metanol/Gasolina na proporção 60/34/6% a 60/33/7%.
3° - Para substituir a mistura de 22% de álcool anidro à gasolina, nas regiões quentes e só após esgotar as alternativas (1) e (2), fazer a mistura 82% Gasolina/ 8% Etanol/ 10% Metanol. Isto deveria cessar antes do próximo inverno nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, quando deverá voltar a 22% de álcool anidro na gasolina.
f) Relatório da Comissão de Energia da Califórnia traz resultados animadores sobre a frota de milhares de veículos operando com metanol e continua colhendo informações confiando que este combustível em breve poderá substituir em boa parte o diesel e a gasolina com vantagens no nível de poluição ambiental, em quase todas as emissões. Um outro estudo recente publicado pelo Scientific American de novembro de 89 aponta para uma redução no risco de formaldeído atribuído ao metanol.
g) 0 Sindicato dos Químicos do Estado do Rio de Janeiro colocou-se contra a utilização do metanol como combustível até que seja provada a sua inocuidade para a saúde humana, exigindo que seja realizado devido Relatório (RIMA) pois até hoje não existe na literatura qualquer artigo sobre os efeitos da toxicidade crônica do metanol.
h) 0 Deputado Carlos Mine, da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, apresentou vários estudos críticos, apontando os riscos do uso do metanol, entre os quais o Manual de Metanol, do Instituto Brasileiro de Petróleo, de 1978, o relatório do Dr. Antônio Horácio Miranda. Prof. do Instituto de Química da USP, o memorando da FEEMA, acrescido das declarações do seu Presidente, contrários à importação do metanol. Exigiu também, com base na liminar que obteve na justiça, o cumprimento da Constituição, a elaboração do RIMA, sua discussão e aprovação pelos órgãos competentes.

Fonte: Sociedade Brasileira de Planejamento Energético www.sbpe.org.br
Revista Brasileira de Energia, Vol. 1, n° 2

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Usinas de álcool viram fonte de energia elétrica (artigo)

Usineiros e concessionárias de energia elétrica assinaram no Palácio dos Bandeirantes, um contrato histórico: o primeiro passo para o uso racional da energia gerada nas usinas de açúcar e álcool. Até agora, essa energia era apenas o excedente das caldeiras de vapor, vendido pelos usineiros de maneira precária, inconstante e a baixos preços para as concessionárias. A partir desse contrato, a chamada co-geração passa a ser uma alternativa capaz de afastar – por alguns anos – o fantasma do racionamento no Estado.
São Paulo, na verdade está numa encruzilhada. Precisa rever com urgência sua matriz energética, sob risco de ficar sem força para crescer.

Isso significa escolher a melhor combinação de fontes de energia – sejam elas usinas hidrelétricas, nucleares, térmicas a petróleo, gás natural ou biomassa -, sempre considerando a viabilidade econômica, a autonomia na produção e os danos ambientais.

Hoje o Estado já depende e 12 mil megawatts de potência instalada para fazer funcionar sua indústria, comércio, serviços e iluminar as residências e ruas. Isso representa pouco mais de um quarto da demanda total brasileira e é um número que cresce ao sabor dos salários e da economia: se o País voltara a crescer, a demanda energética acompanha o ritmo das máquinas industriais. Se melhorar o poder aquisitivo dos salários, a demanda energética pode explodir, como aconteceu durante o Plano Cruzado. Mesmo se a economia continuar no ritmo atual, a demanda energética aumenta, embora mais lentamente, seja pelo crescimento vegetativo da população, seja pelo atendimento de novos consumidores, antes desassistidos pelas concessionárias.
 
 
Para atender a essa demanda crescente até agora, o Estado recorreu as hidrelétricas, a opção mais tradicional e, em geral, de menor impacto ambiental. Dos mil megawatts necessários ao estado, 8.700 saem das usinas hidrelétricas instalados em rios paulistas e o resto vem de outros estados, fornecido basicamente por Furnas e pela usina de Itaipu.

“Nos últimos anos, sempre que a demanda encostava ma oferta, entrava em operação uma nova máquina de Itaipu, afastando o risco de racionamento”, explica o presidente da Companhia Energética de São Paulo, CESP, Antonio Carlos Bonini. Agora Itaipu já funciona a plena carga.

A CESP tem mais 3 hidrelétricas estaduais para incluir no sistema até 1994: Taquaruçu, Rosana e Três Irmãos. Juntas, elas podem fornecer mais 1.400 MW. Existe ainda a usina de Porto Primavera, prevista para 1998 com muitos pontos de interrogação, devido ao alto impacto ambiental. Porto Primavera somaria mais 1.800 MW.

Mas aí termina o potencial dos rios paulistas. Por isso, a partir dos 15 mil MW todo crescimento de demanda será atendido por fontes alternativas, pela “importação” de energia ou pela possibilidade de racionamento.

A primeira grande alternativa energética acessível aos paulistas é a co-geração, isto é, a produção de energia a partir de caldeiras usadas em alguns processos industriais. A co-geração é possível nas usinas de açúcar e álcool, nas indústrias de cítricos, alimentícias, de papel e celulose e de químicos e petroquímicos. De grandes consumidores de energia, essa indústrias passam a auto-suficientes e ainda geram um excedente.

A auto-suficiência já alivia a pressão sobre as concessionárias, que pode redistribuir aquela energia para outros consumidores. Só as usinas de cana – que alcançaram 95% de auto-suficiência – hoje deixam de comprar do sistema cerca de 250 MW. Mas o mais interessante para o estado, nesse momento, é a energia excedente.

Segundo José Zatz, chefe da Coordenadoria Técnica da Secretaria de Energia, “além do que produzem para consumo próprio, as usinas de cana podem colocar no sistema mais 600 MW até o final do século e por volta de 2.000 MW até o ano 2010”.

A usina nuclear de Angra, se funcionasse sem interrupções, forneceria 600 MW, o suficiente para iluminar a Baixada Santista. A vantagem da co-geração sobre a usina nuclear, ou mesmo sobre as hidrelétricas, além da redução do risco ambiental, é que não são necessários 7 a 8 anos de construção, nem investimentos do estado. “Cada milhão de dólares que um deles investe são 3 a 5 milhões de dólares que o estado deixa de investir”, contabiliza Zatz.
 
 
ALTERNATIVA É A MENOS POLUENTE...
A grande questão – que afastava a iniciativa privada do setor energético – e o preço do megawatt. As dez usinas que arriscaram ensaiar a co-geração na última década recebiam muito pouco por megawatt, algo entre 12 e 21 dólares. “O megawatt de Itaipu custa 40 a 42 dólares e cada megawatt novo colocado no sistema nos custa 41 dólares”, diz Ciro Barbosa Bernardes, do Setor de Distribuição da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).

Com um preço tão baixo, os usineiros não investiram em tecnologia, limitando-se produzir a própria energia. No novo contrato de longo prazo, a energia das usinas será cotada pelo custo do megawatt novo, ou seja, cerca de 41 dólares. Com o preço garantido, os usineiros se comprometem a estabilizar o fornecimento para as concessionárias e investir em equipamentos, multiplicando a geração de energia, com a mesma quantidade de cana, sem aumentar, portanto, o risco ambiental.

“Hoje produzimos 25 quilowatts/hora por tonelada de cana, mas podemos chegar a 100kw/ton, se investirmos em novos equipamentos”, explica Jairo Balbo, da Usina São Francisco, em Sertãozinho, interior de São Paulo. “Só preciso ter uma garantia de que o programa de co-geração veio para ficar e preciso de um preço que me dê perspectiva de retorno para investimentos em tecnologia”. Com o contrato de longo prazo, Balbo poderá até pensar em substituir as velhas caldeiras por turbinas a gás, que quadruplicaram a produção de energia, com a mesma tonelada de cana.

Ao lado da co-geração, as outras opções energéticas para afastar a idéia racionamento seriam as termelétricas a gás natural ou petróleo. O gás natural viria da Bolívia ou Argentina e seria queimado com muito menos poluição atmosférica do que a produzida com a queima de carvão ou petróleo.

O gerenciamento do gasoduto e a construção das usinas termelétricas ficaria nas mãos da iniciativa privada. Mas a alternativa sofre oposição da Petrobras, que não quer perder o mercado cativo de derivados de petróleo.

Tanto o carvão como o petróleo e seus derivados contém óxidos de enxofre e de nitrogênio, os principais responsáveis pela chuva ácida. Em todos os países movidos a energia de termelétricas os órgãos de controle ambiental têm impedido a instalação de novas unidades ou exigido equipamentos de filtragem dos poluentes.
 
 


No Brasil, só existem termelétricas na região Sul e todas provocam chuva ácida. Em São Paulo, há dois projetos para a construção dessas usinas: em Mogi Guaçu e em São José dos Campos. Juntas, elas produziram 700 MW e por isso enfrentam a oposição de ambientalistas e pesquisadores.

Por Liana John

USINAS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL VENDEM ENERGIA ELÉTRICA...
O relógio de luz, em vez de registrar despesa, marca receita em dez usinas de açúcar e álcool do interior. No fim de cada mês, a Companhia Energética do Estado de São Paulo (Cesp) e a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) reembolsam as usinas por conta da energia gerada pela queima do bagaço de cana, o principal resíduo industrial da atividade.

A Cesp e CPFL pagam as usinas tarifas que variam de R$ 0,011 a R$ 0,035 por quilowatt/hora - conforme a duração do contrato – e repassam a energia que sobra das indústrias aos consumidores residenciais da rede pública por R$ 0,07 o quilowatt/hora. Com apenas 25% do bagaço de 1 hectare de cana é possível iluminar 14 casas por mês, durante o período de safra, que vai de maio a novembro. Nesses meses ocorre justamente a estiagem, quando os reservatórios das hidrelétricas estão mais baixos, o que obriga ao racionamento de energia em algumas regiões.

AUTO-SUFICIÊNCIA...
Todas as 127 usinas e destilarias do Estado já são auto-suficientes em geração de energia advinda da queima do bagaço de cana. Não dependem, portanto, das hidrelétricas. Dez delas geram excedente, que soma 15,9 megawatts, suficientes para abastecer 50 mil residências. A CPFL, que firmou contrato de compra de eletricidade com nove usina, espera ampliar essa capacidade para 20 megawatts em 1997, estendendo o benefícios para 66,3 mil casas do Interior, ou o equivalente a uma comunidade de 265 mil habitantes, durante os seis meses de duração da safra de cana-de-açúcar.

Atualmente, as usinas que firmaram contrato com a CPFL são: Santa Elisa e São Francisco, do município de Sertãozinho; São Martinho, em Pradópolis; Vale do Rosário, de Morro Agudo; Santa Lydia, de Ribeirão Preto; Bonfim, de Guariba; Colombo, de Catanduva; Santa Cruz, de Américo Brasiliense, e Nardini, de Vista Alegre do Alto. A Cresciuma, de Leme, é fornecedora da Cesp. De acordo com a CPFL, em 1997, a Santa Adélia, de Jaboticabal, e a Galo Bravo de Ribeirão Preto, passarão a integrar o sistema.

TURBINA...
O bagaço da cana é queimado numa caldeira, que gera energia térmica em forma de vapor d’água. Numa turbina, a energia térmica é transformada em mecânica e, no gerador, em energia elétrica. É a tecnologia da “contra-pressão”. Já existem sistemas mais sofisticados, de alta pressão, condensação e gaseificação, de custo mais elevado, mas que permitem utilização maior bagaço para gerar eletricidade.

Segundo o diretor-industrial da Usina São Francisco, Jairo Menesis Balbo, de Sertãozinho (SP), o emprego dessas novas tecnologias só será possível quando a remuneração das usinas pelas concessionárias for de US$ 70,00 por megawatt/hora. “Esse é o valor mínimo exigido pelo Banco Mundial para financiar a co-geração a partir do bagaço e ampliar seus benefícios”, esclarece Balbo. Por enquanto, as usinas que firmaram contrato de um ano com a CPFL recebem US$ 11,87 por megawatt/hora e a Vale do Rosário e santa Elisa, com contratos de dez anos, recebem US$ 35,33 por megawatt/hora.

Das dez usinas que geram excedente de energia no Estado, oito estão na região de Ribeirão Preto, incluindo aí a São Francisco, de Sertãozinho. Juntas, elas alimentam a rede da CPFL com 14,1 megawatts com potência de 10.293 megawatts/hora, suficientes para garantir abastecimento em seis meses de safra.

QUEIMA DE RESÍDUO POLUI POUCO...
Estudos da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) indicam que o uso da biomassa como alternativa energética reduz a emissão de resíduos no meio ambiente. O nível de poluição atmosférica por causa da queima do bagaço é muito pequeno, se comparado a outros combustíveis, como óleo diesel e carvão. O bagaço produz pouca cinza (2,5%), enquanto o carvão produz de 30% a 50%. O enxofre quase não existe no bagaço, enquanto o SO2 e o SO3 do óleo combustível estão sempre presentes e em quantidades elevadas.

Por causa da umidade, a queima do bagaço é lenta, com baixa temperatura da chama. Quanto maior essa temperatura, maior formação do óxido nitroso, que está entre os poluentes mais perigosos. As pesquisas concluem que, com o uso de caldeiras bem dimensionadas, chaminé de altura adequada e um sistema de extração de cinzas eficientes. “o problema da poluição praticamente inexistem”. E acrescenta que essa forma de co-geração “aumenta a oferta de energia elétrica, sem necessidade de construção de hidrelétricas, evita a inundação de grandes áreas e diminui os impactos sociais e no meio ambiente”.

Não são apenas usinas de açúcar que usam o bagaço. No ano passado, o Estado de São Paulo economizou cerca de US$ 35 milhões porque não precisou importar o óleo combustível, derivado poluente de petróleo. Ele foi substituído por 2 milhões de toneladas de bagaço de cana nas caldeiras nas indústrias de sucos cítricos, de óleos vegetais, de produtos cerâmicos e retíficas de pneus, principalmente

SÃO FRANCISCO FOI A PIONEIRA...
A primeira fatura de energia emitida pela iniciativa privada no Brasil fora da Usina São Francisco, de Sertãozinho, na região de Ribeirão Preto (SP), em maio de 1988. Ela começou a testar a produção de eletricidade a partir do bagaço de cana em 1987. Serviu de modelo para as Centrais Elétricas do Brasil S.A. (Eletrobrás) oficializar o uso da biomassa como alternativa energética e regulamentar o fornecimento. Moendo cerca de 1 milhão de toneladas de cana, a São Francisco produz um excedente de energia avaliado em 219 mil quilowatts/hora, capaz de suprir mil residências por mês durante a safra.

O diretor-industrial da São Francisco, Jairo Menesis Balbo, defende o investimento em co-geração pensando nos cálculos do próprio governo, que prevê colapso no abastecimento de energia nos próximos anos. Recentemente, o ministro das Minas e Energia, Raimundo de Brito, admitiu a possibilidade de racionamento. Balbo adverte que, sem energia, o País não vai conseguir manter o ritmo de crescimento nem oferecer vagas para 2,5 milhões de jovens que chegam ao mercado todo ano. “O governo previa um aumento anula de 4% a 5% no consumo de eletricidade”, diz. “Mas a elevação é de 9,5% ao ano.” E não há recursos suficientes para atender à demanda, como conclui Balbo.

Por Moacyr Castro

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Fonte:Sociedade e Espaço – Geografia Geral*
Folha de São Paulo**
Conhecer Atual (ed. Nova Cultural)
Revista Isso é Senhor*
Larousse Cultural (ed. Nova Cultural)***
Fiocruz (www.fiocruz.org.br)
Fonte: Sociedade Brasileira de Planejamento Energético www.sbpe.org.br****
Revista Brasileira de Energia, Vol. 1, n° 2****
O Estado de São Paulo*****
Pick-upau – 2003 – São Paulo – Brasil

 
 
 
 

 

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