Mundo
 
 
 
Que energia é essa?
Usinas Hidrelétricas
 
 
 

O que são fontes de energia?

Entende-se por energia a capacidade de realizar trabalho. Fontes de energia, dessa forma, são determinados elementos que podem produzir ou multiplicar o trabalho: os músculos, o sol, o fogo, o vento etc.

Através do uso racional do trabalho, especialmente na atividade industrial, o homem não apenas sobrevive na superfície terrestre – encontrando alimentos, abrigando-se das chuvas ou do frio etc –, mas também domina e transforma a natureza: destrói florestas, muda o curso dos rios, desenvolve novas variedades de plantas, conquista terras ao mar, reduz distâncias (com modernos meios de transporte e comunicação), modifica os climas (com a poluição, as chuvas artificiais etc), domestica certos animais e extermina outros.

As primeiras formas de energia que o homem utilizou forma o esforço muscular (humano e de animais domesticados), a energia eólica (do vento) e a energia hidráulica, obtida pelo aproveitamento da correnteza dos rios. Com a Revolução Industrial, na Segunda metade do século XVIII e no século XIX, surgem as modernas máquinas, inicialmente movidas a vapor e que hoje funcionam principalmente a energia elétrica. A eletricidade pode ser obtida de várias maneiras: através da queima do carvão e do petróleo (usinas termelétricas), da força das águas (usinas hidrelétricas), da fissão do átomo (usinas nucleares) e de outros processos menos utilizados.

As chamadas modernas fontes de energia, ou seja, as mais importantes, são: o petróleo, o carvão, a água e o átomo. As fontes alternativas, que estão conhecendo um grande desenvolvimento e devem tornar-se mais importantes no futuro, são o sol (energia solar), a biomassa e os biodigestores, o calor proveniente do centro da Terra energia geotérmica), as marés, o xisto betuminoso e outras.

É importante ressaltar que as fontes de energia estão ligadas ao tipo de economia: quanto mais industrializada ela for, maior será o uso de energia. O carvão mineral foi a grande fonte de energia da Primeira Revolução Industrial, e o petróleo foi a principal fonte de energia do século XX e continua a desempenhar esse papel, apesar de um recente e progressivo declínio. Tanto o petróleo como o carvão mineral são recursos não renováveis, isto é, que um dia se esgotarão completamente; eles também são muito poluidores, na medida em que seu uso implica muita poluição do ar. Por esses dois motivos eles estão em declínio atualmente, em especial o petróleo, que foi básico para a era das indústrias automobilísticas e petroquímicas. Vivemos na realidade numa época de transição, de passagem do domínio do petróleo para a supremacia de outras fontes de menos poluidoras e renováveis, ou seja, que não apresentam o problema de esgotamento. Este pensamento está pelo menos na cabeça dos ambientalistas de todo o planeta, mas a realidade ainda é um mundo dominado pelos combustíveis fósseis.

A série “Que energia é essa?” irá trazer as principais fontes de energia usadas em nosso planeta; como surgiram, onde são usadas, qual a dependência humana dessas fontes e muito mais. Neste capítulo conheceremos a fonte de energia chamada “Hidrelétrica”.

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Breve introdução

Nesse tipo de usina, a máquina responsável pela produção de energia elétrica chama-se gerador. Trata-se de uma máquina rotativa composta de um estator, onde estão localizadas ao bobinas de fio e de um rotor elétrico, que vem a ser o núcleo de ferro das experiências que descobriram a energia elétrica. O campo magnético é fornecido por um imã ou uma excitatriz que polarizará o rotor. O gerador terá que girar o suficiente para produzir uma tensão elétrica com freqüência de 60 ciclos ou Hertz, que é a freqüência adotada em todo sistema brasileiro. Acoplado ao eixo do gerador está uma turbina. O fluido que irá mover a turbina é a água estocada no reservatório, que movimentará as palhetas da turbina por ação de seu próprio volume e gravidade. Então, temos a barragem, para represar o rio, as comportas e o vertedouro, que controlam o nível da água da represa, e a casa de máquinas, onde estão instalados os geradores acoplados às turbinas. Para transformar a força das águas em energia elétrica, a água represada possa dar dutos forçados, gira a turbina que, por estar interligada ao eixo gerador, faz com que este entre em movimento, gerando a eletricidade. Essa forma de obtenção de energia provoca um forte impacto ambiental, devido à construção de barragens e o alongamento de áreas imensas, destruindo assim o ecossistema local.

 
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Usinas Hidrelétricas

As usinas hidrelétricas suprem cerca de 10% da energia e 20% do consumo total de eletricidade do globo. Essa forma de energia passou a ser utilizada na Europa a partir de 1860. Mas foi após a Segunda Guerra Mundial que a energia hidrelétrica ganhou real importância, com a construção de um número cada vez maior de usinas que produzem eletricidade pela utilização das águas correntes. A obtenção de energia hidrelétrica depende da existência de rios caudalosos e de planalto que são os que possuem maior quantidade de queda-d’água. Por esse motivo, são poucos os países que possuem grande potencial hidrelétrico. Esses países, que apresentam enormes territórios e grande quantidade de rios, são a Rússia, o Canadá, os Estados Unidos e o Brasil.

Apesar de também ser sujeita a certos limites de produção – existe um potencial hidráulico, que depende da quantidade de rios e quedas-d’água, e quando esse potencial pode ser aproveitado se esgotarão as possibilidades de construção de novas usinas –, a energia hidrelétrica apresenta em relação ao petróleo, ao carvão e à energia atômica, algumas vantagens: não provoca diretamente (pela queima ou combustão) grande poluição e principalmente não se esgota, isto é, a usina construída pode continuar indefinidamente a produzir eletricidade.

 
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Só que as usinas hidrelétricas costumam provocar um outro tipo de impacto ambiental: as represas artificiais formadas pelas barragens dos rios ocasionam a expulsão de populações ribeirinhas, a imersão de algumas cidades, povoados e florestas, e até a perda de bons solos cultiváveis e de material arqueológico, de riquezas pré-históricas que podem existir no subsolo da área alagada.

No Brasil, devido à grande riqueza em rios de planalto e à carência de petróleo e carvão, cerca de 86% do total da energia elétrica consumida é gerada em usinas hidrelétricas. Mas o Brasil é um caso à parte nesse aspecto. Convém destacar a construção da maior usina hidrelétrica do mundo, a de Itaipu, no rio Paraná, empreendida por Brasil e Paraguai. Sua capacidade total é de cerca de 12000 megawatts (MW), o que equivale a 12 milhões de quilowatts (kW)*. Mas a energia hidrelétrica não tem um grande futuro, uma vez que necessita de rios caudalosos e com quedas-d’água, o que poucos países têm em boa quantidade. Ela deverá continuar a ser uma das fontes de energia do século XXI, em especial nesses poucos países mencionados, mas sem se comparar com os investimentos e as prováveis evoluções que deverão ocorrer em outras fontes mais “limpas” (o seja, que não poluem), especialmente as biológicas.

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A energia hidrelétrica

A produção de energia elétrica é feita basicamente a partir de usinas hidrelétricas, termelétricas e nucleares. As hidrelétricas produzem energia através de geradores movidos a força hidráulica (quedas-d’água). As termelétricas produzem energia através de geradores acionados por aquecimento obtido a partir da utilização de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão. E as nucleares, por sua vez, produzem energia através de geradores movidos por aquecimento obtido a partir de minerais atômicos, como o urânio e o tório.

Das três, a termelétrica apresenta o mais baixo custo de implantação, embora sua manutenção seja dispendiosa. Já a hidrelétrica apresenta maiores problemas com relação ao porte de energia produzida, pois nem sempre as áreas onde as usinas podem ser implantadas estão próximas aos mercados consumidores, e a intensidade da energia vai se dissipando à medida que aumenta a distância das usinas geradoras.

 
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Bacias hidrográficas - Brasil
Bacias autônomas
Áreas (km²)
% da área do país
Amazônica
3.984.467
48
Paraná
891.309
10
Tocantins-Araguaia
809.250
9
São Francisco
631.133
7
Paraguai
345.701
4
Uruguai
178.255
2
Bacias agrupadas
Áreas (km²)
% da área do país
Nordeste
884.835
10
Leste
569.310
7
Sudeste
222.688
3

No Brasil, apesar do alto custo de implantação e de transporte, as hidrelétricas são a fonte mais vantajosas de energia elétrica, pois não utilizam combustíveis fósseis (como as termelétricas), nem apresentam o alto custo tecnológico e o risco de uma usina nuclear.

O Brasil possui uma ampla rede hidrográfica, em conseqüência do predomínio no país de climas caracterizados por elevados índices pluviométricos. Além disso, os rios brasileiros são predominantemente planálticos, o que implica presença de desníveis acentuados ao longo de seus cursos. Tais desníveis ou quedas determinam uma grande potência hidráulica, estimada em 209 milhões de kW, sem se considerar as pequenas quedas, com as quais a potência hidráulica atingiria 400 milhões de kW.

Nos anos 70, o governo priorizou a expansão da produção e do consumo da energia elétrica de origem hidráulica, procurando substituir na indústria o petróleo pela energia hidrelétrica. A expansão da produção ficou sob responsabilidade da Eletrobrás, através de suas subsidiárias: Eletronorte, Eletrosul, Furnas e Chesf.

Para a construção das usinas, forma utilizadas linhas de crédito internacionais que estavam abertas a juros baixíssimos (6% ao ano). Essa grande oferta de dinheiro decorria do fato de que os dois choques do petróleo (1973 e 1979) canalizaram bilhões de dólares para os países exportadores do produto que, por segurança e rentabilidade, os depositaram em bancos europeus e norte-americanos. Tais entidades financeiras, com folga de recursos, dispunham-se a fazer financiamentos para áreas politicamente confiáveis, caso do Brasil, na época sob forte regime militar. Com base em slogans como “Ninguém segura esse país”, projetaram-se planos de expansão, observando-se taxas de crescimento econômico para o Brasil em torno de 10% ao ano.
 
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Os riscos de recessão e declínio do preço do petróleo foram descartados, era a euforia do milagre econômico escondendo os questionamentos e as críticas.A Eletrobrás optou pelo grandioso: em vez de fazer usinas ao longo de um rio, de acordo com a necessidade e como mandava a prudência, construía uma gigantesca, no último degrau do rio, para aproveitar toda a sua potência. Os desastres ecológicos foram inúmeros: alagamentos de florestas, áreas agrícolas, cidades etc. e imensos represamentos dificultando os processos de irrigação e navegação em áreas próximas às usinas.

Tal política de expansão a qualquer custo muito caro ao país. Em 1979, percebeu-se que o crescimento econômico projetado no início da década foram uma utopia, pois os estragos provocados pelos choques do petróleo acarretaram uma recessão econômica mundial. A produção de energia tornou-se excedente e, por isso, paralisaram-se algumas obras.

 
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Para estimular os empresários a usarem energia elétrica em lugar do petróleo, criou-se o programa EGTD (Energia Garantida por Tempo Determinado) que estabelecia tarifas de até 70% abaixo do custo, implicando pesados ônus financeiros para o país.

Nos anos 80, a situação se complicou ainda mais, devido à elevação dos juros internacionais – que chegaram a 18% ao ano – e à dificuldade de obtenção de linhas de crédito.

A construção de usinas na escala projetada tornou-se inviável e todo o esforço dirigiu-se, então, para o término das obras em andamento. Enquanto isso, o processo industrial se expandia (movido a energia elétrica) e o preço do petróleo começava a declinar no mercado internacional. O governo, sem recursos, elimina o EGTD e estimula novamente o uso de petróleo no parque industrial, agora em substituição à energia elétrica. Tal aventura – subsídios ao uso de energia elétrica – custou ao país cerca de 25 bilhões de dólares (que era a divida da Eletrobrás) e uma crise energética fabricada aqui dentro.

A falta de energia elétrica ameaça o futuro do parque industrial brasileiro. O racionamento é eminente, sobretudo durante o verão (o que explica medidas como o horário de verão), pois os rios brasileiros apresentam predominantemente regime tropical (cheias de verão e vazante no inverno), o que implica redução da produção no início do verão, quando o nível da represa está muito baixo.
 
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Bacias hidrográficas no Brasil

Sobre os aspectos abordados, muito se tem discutido e publicado, veja a seguir um artigo publicado pelo jornal O Estado de São Paulo.

BACIA DO PARANÁ...
Esta bacia apresenta cerca de 70% de toda a potência instalada no Brasil. O grande aproveitamento hidrelétrico da área se deve à sua potencialidade natural e à sua localização, próxima às principais áreas urbanas e industrias do país.

Observa-se na área a presença de várias hidrelétricas, destacando-se as do rio Paraná, como por exemplo o conjunto Urubunpungá, da Companhia Hidrelétrica de São Paulo (CESP), que engloba duas usinas de grande porte (Ilha Solteira e Jupiá), além de Itaipu, maior usina hidrelétrica do mundo, cuja potência é de 12,6 milhões de quilowatts.

USINA DE ITAIPU...
Situada a 14 km da foz do Iguaçu, no rio Paraná, a construção da usina de Itaipu foi definida em 1973, num tratado entre Brasil e Paraguai, o qual estabeleceu as seguintes linhas gerais:

 
 
· Formação da empresa Itaipu-Binacional para a construção da usina, ficando a Eletrobrás e a Administracion Nacional de Eletricidade do Paraguai (ANDE) como membros da comissão técnica do projeto.

· Os limites d aproveitamento dos recursos hidrelétricos do rio Paraná, entre Salto Guaíra ou Sete Quedas (inclusive) e Foz do Iguaçu, pertencem em condomínio aos dois países.

· A empresa Itaipu-Binacional pagará as partes contratantes pelo direito de utilização e a energia não consumida por um dos sócios será vendida ao outro.

A obra, grandiosa, utilizou concreto suficiente para a construção de oito cidades como Campinas, no estado de São Paulo. O lago de 1.400 km² comportaria cinco vezes a baía de Guanabara e o vertedouro apresenta quase meio quilômetro de comprimento. Os custos estimados da obra (1988) giravam em torno de 18,5 bilhões de dólares (inclusos os custos financeiros e de transmissão) e os recursos foram fundamentalmente captados no exterior sob responsabilidade brasileira (55% - Eletrobrás, maior credora de Itaipu).

Em 1984 começaram a funcionar duas turbinas da usina hidrelétrica de Itaipu. Leia o trecho da reportagem sobre a inauguração, publicada na Folha de São Paulo, feita pelo jornalista João Vitor Strauss.
 
 

A MAIOR HIDRELÉTRICA DO MUNDO JÁ PRODUZ ENERGIA...

(...) Itaipu é uma das raras obras de grande porte dadas ao presidente Figueiredo inaugurar. Planejada quando o regime se entretinha com seguidos acessos de grandeza, a hidrelétrica teve melhor sorte que outras ilusões da mesma época, como a rodovia Perimetral Norte ou a malfadada usina nuclear de Angra I. Considerada obra prioritária ao longo de três governo militares, Itaipu salvou-se dos cortes de verbas que se abateram sobre outros projetos insaciáveis, como a ferrovia do aço e o programa nuclear teuto-brasileiro.

Os macronúmeros de Itaipu impressionaram. A começar pelo custo previsto até o fim da obra, que Costa Cavalcanti fixa em quinze bilhões de dólares (algo em torno de 10% da dívida externa da época).

É o preço do gigantismo da hidrelétrica. Quando sua dezoito turbinas estiverem girando, ela produzirá 12,6 milhões de quilowatts – três a mais do que a Segunda usina do planeta, Grand Coulee, nos Estados Unidos, limitada a 9,7 milhões de quilowatts.

Na construção de Itaipu forma removidos 22 milhões de metros cúbicos de rocha, o equivalente ao Pão de Açúcar, e utilizado concreto suficiente para construir duzentos Maracanãs. Por cada uma das turbinas de Itaipu a vazão de água é a mesma do rio Tietê, em São Paulo.

Aparentemente, usar água como fonte de energia é um bom negócio. Afinal, produzir 12,6 milhões de quilowatts através de termelétricas (usando petróleo) implicaria um consumo diário de aproximadamente 600 mil barris/dia de petróleo. Entretanto, os recursos empregados na construção de Itaipu foram captados basicamente no exterior e, sendo os juros internacionais muito elevados, tal fato serve para aumentar ainda mais os custos da enorme dívida externa brasileira. Esse ônus obrigatoriamente tem de ser repassado às tarifas, o que implica elevação dos custos da produção industrial.
 
 
Construir uma usina do tamanho de Itaipu não gerou somente problemas de ordem financeira, provocou também grandes desastres ecológicos e crises de ordem geopolítica. Do ponto de vista ecológico, destaca-se o desaparecimento, sob um lago, de Sete Quedas ou Guaíra, submersa 18 metros.

Com relação aos problemas geopolíticos pode-se citar o da vazão do rio Paraná, que acaba gerando tensões nas relações Brasil-Argentina. Represa tanta água para o funcionamento de Itaipu, segundo a Argentina, que prejudicaria a navegação e implantação de usinas em suas terras. A assinatura do Acordo Tripartite (Brasil, Paraguai e Argentina) para a compatibilização das hidrelétricas resolveu o impasse pelo menos aparentemente, mas nada garante que no futuro, sob outras circunstâncias, o assunto não volte a gerar crises entre os países.
 
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BACIA AMAZÔNICA...

O potencial hidráulico na Amazônia é estimado pela Eletrobrás em 100 milhões de quilowatts, 80% distribuídos ao longo dos rios da bacia Amazônica e 20% n bacia do Tocantins-Araguaia.

O desenvolvimento tecnológico dos setores de transmissão de energia tem atenuado o problema da distância das quedas aos centros consumidores. Assim, o aproveitamento de potencial hidráulico da Amazônia deixa de ser sonho e passa a ser uma possibilidade concreta. Exemplo de tal fato é a implantação no rio

Tocantins da usina hidrelétrica de Tucuruí, segunda do Brasil em potência, a 300 km de Belém do Pará em linha reta.

Tucuruí, parte do conjunto de obras faraônicas projetada nos anos 70, apresenta grandiosidade e complexidade comparável apenas a Itaipu, com um agravante: está sendo construída na selva amazônica, sob condições climáticas adversas e distantes dos centros fornecedores de material e equipamentos para sua construção.
 
 
A grandiosidade da obra e as dificuldades locais transformaram Tucuruí num verdadeiro desafio à engenharia nacional. Um exemplo: o rio Tocantins, no local da usina, chega a atingir três quilômetros de largura e, em alguns pontos, 40 metros de profundidade. O procedimento rotineiro de desviar o rio para a construção da barragem,

neste caso, era praticamente impossível. A empresa contratada pela Eletronorte para a execução da obra lançou, então, sobre o seu leito, uma muralha de pedra, terra e concreto de 57 metros de altura para que fosse possível o desenvolvimento das obras.
Desnecessário dizer que a construção de Tucuruí custou muito dinheiro ao país e foi alvo de muitas críticas: foram gastos 8,5 bilhões de dólares, sendo 3,5 bilhões referentes somente a juros do financiamento, além de a região ter sofrido grave impacto ecológico.

A Eletronorte rebate as críticas destacando sua importância regional, através da viabilização de projetos como carajás e Albrás, do fornecimento de energia para Belém e toda a região Norte e da geração de empregos.

Leia a seguir trecho de artigo de Liana John em O Estado de São Paulo, sobre o impacto ambiental causado pela construção de hidrelétricas na Amazônia.

IMPACTO DE USINAS É IMPREVISÍVEL...
A construção de 76 usinas hidrelétricas ameaça a Amazônia. Uma prova é o que houve em Tucuruí.

 
 
Setenta e seis novas usinas hidrelétricas das Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (Eletronorte) vão inundar na Amazônia perto de 80 mil quilômetros quadrados de florestas, área equivalente ao estado de Santa Catarina. Ninguém pode saber ainda o que essa água vai sepultar em termos de ecossistema, vegetação ou fauna, nem o que isso vai significar para a natureza brasileira.

A experiência de outras hidrelétricas já construídas na região – Tucuruí e Balbina – demonstraram a incapacidade da Eletronorte em tratar das questões do meio ambiente. A barragem de Tucuruí foi fechada para a formação do lago antes da retirada de uma floresta e com isso o país perdeu milhões de dólares em madeiras nobres além de terem sido arrasados 6500 quilômetros quadrados de riquezas naturais e um lago e um rio terem ficado seriamente poluídos pela floresta apodrecida.

Desastres como esse obrigaram os bancos internacionais a suspender os financiamentos do setor energético devido a pressão de entidades ambientalistas mundiais. Mesmo depois das negociações com os bancos norte-americanos e depois do pacote ecológico do governo federal, o setor energético continua com os empréstimos suspensos até Segunda ordem, enquanto outros projetos na Amazônia voltaram a ser discutidos. Sinal de que a credibilidade do setor ainda está balada. E não sem razão: nos planos das centrais elétricas, o enfoque dado ao meio ambiente é basicamente o mesmo dos últimos anos enquanto existem hidrelétricas ainda maiores do que Tucuruí projetadas para regiões ecologicamente mais ricas e diversificadas. Ou seja, onde o impacto contra o meio ambiente poderá ser maior do que o ocorrido em Tucuruí. (...)

BACIA DO SÃO FRANCISCO...
O rio São Francisco drena parte do Sertão nordestino, de clima semi-árido. Trata-se do único rio perene da região, sendo, por isso fundamental para o desenvolvimento de importantes projetos regionais, de irrigação e transporte.

O represamento das águas de um rio importante como o São Francisco provoca alterações em sua vazão, gerando, conseqüentemente, obstáculos para o seu melhor aproveitamento. A construção da usina de Três Marias, em Minas Gerais, é u exemplo: no período de estiagem (inverno), retém-se tanta água na represa para o funcionamento das turbinas geradoras, que resta pouca água rio abaixo, dificultando seu aproveitamento tradicional para irrigação e navegação no Sertão nordestino.

Das usinas construídas ao longo do São Francisco – Paulo Afonso, Itaparica, Três Marias -, a de Sobradinho é a mais importante, com 4 414 km² (350 km de comprimento e 13 km e largura), submergiu quatro municípios (remanso, Casa Nova, Sento Sé e Pilão Arcado), expulsando cerca de 70 mil habitantes da área.

A usina, localizada no estado da Bahia, apresenta uma potência instalada de 1 milhão de quilowatts e foi construída pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), que empregou cerca de 9 mil homens e 800 milhões de dólares na construção. O processo de relocamento dos moradores das cidades inundadas custou à CHESF 15% do valor da obra, sendo as famílias transportadas para quatro novas cidades e cerca de 30 vilarejos. Esse procedimento, entretanto, tem acarretado problemas, como inadaptação dessa população aos novos locais e também às novas rotinas do rio, agora subordinadas ao comando dos técnicos da usina. Leia sobre o assunto no texto a seguir. (publicado no jornal O Globo)

SECA AGRAVA-SE EM SOBRADINHO E AMEAÇA CAUSAR NOVO DRAMA SOCIAL NO NORDESTE...
Para produzir energia e alimentar a barragem de Paulo Afonso, responsável pelo fornecimento de eletricidade a quase todo o Nordeste, Sobradinho tem que liberar uma cota mínima de 2 100 metros cúbicos de água por segundo. Atualmente, devido à seca, somente 1 300 metros cúbicos estão chegando à barragem de Sobradinho. A previsão de chuvas no norte de Minas Gerais e para novembro e, até lá, a CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco – calcula que o nível do lago terá baixado cerca de sete metros.

(...) A barragem de Sobradinho fornece para todo o estado do Maranhão, partes do Piauí e Pará e uma pequena área da Bahia.
Os efeitos da estiagem começaram a ser discutidos pela CHESF, governo da Bahia e populações dos municípios de Juazeiro, Casa Nova, Sento Sé, Remanso, Pilão Arcadio, cujas principais atividades econômicas estão ameaçadas. A produção agrícola de cebola, milho, feijão, mandioca, melão e melancia deverá se perder.

Às margens do lago de Sobradinho vivem 14 240 famílias, das quais 11 200 possuem lavouras irrigadas. Em alguns povoados, como Itapera, no município de Sento Sé, a água do lago recuou 800 metros e, no período mais crítico de estiagem, em novembro, esta marca poderá ultrapassar um quilômetro. Estimativa da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional, da Secretaria de Planejamento da Bahia, diz que a vazante afetara’18 500 hectares de terras irrigadas, prejudicando mais de 80% do rebanho bovino de 11 308 cabeças e podendo dizimar todo rebanho caprino de 32.367 cabeças, em virtude do lamaçal que se formará entre o lago e sua margem original.

A pesca também será prejudicada, pois haverá muito peixe para pouca água, o que causará a captura de alevinos (filhotes) e matrizes (fêmeas). A saúde da população correrá sérios riscos, pois o lamaçal facilitará o surgimento de focos de epidemias.

Dessa forma, fica claro que a construção de hidrelétricas não é um processo tão simples como se coloca, pois envolve desde questões econômicas até ecológicas e sociais.

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Fonte:
Geografia do Brasil – Dinâmica e Contrastes/Sociedade e Espaço – Geografia Geral*
Revista Néz Adventure**
Revista Isto É/Gazeta Mercantil/Folha de São Paulo/Veja/O Estado de São Paulo/Jornal da Tarde/Super Interessante***
Pick-upau – 2003 – São Paulo – Brasil

 
 
 
 

 

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