Pedra
sobre pedra, assim foram construídas as principais
e mais curiosas edificações da cidade mineira
de São Thomé das Letras. Sem argamassa, somente
o peso das pedras foi suficiente para levantar casas, oratórios
e até a igreja na Praça do Rosário.
A cidade construída, a partir da igreja Matriz, em
1740, apesar de não ter crescido tanto ao longo dos
anos, sofreu uma imensa interferência em sua cultura,
o que pode ser claramente constatado em sua arquitetura, cada
vez mais descaracterizada.
As fortes construções,
que já resistem há séculos, hoje sofrem
com a estupidez de alguns turistas que insistem em deixar
tristes e lamentáveis nomes e recados em suas paredes.
A Casa da Pirâmide é um exemplo do descaso e
da falta de educação de visitantes que parecem
acreditar que estão entrando para posteridade ao manchar
as construções com pichações.
Compromisso
de compensação...
Pior
do que a descaracterização da arquitetura da
cidade, é a falta de compensação, por
parte das empresas que exploram o recurso das pedreiras. Segundo
Edvaldo Paulino de Medeiros, da Secretaria Municipal de Turismo,
o custo da pedra-mineira é muito alto, mesmo para a
cidade que está a metros da exploração.
O projeto de revitalização
da cidade custaria grandes quantias, porém, as empresas
da região têm ganhado verdadeiras fortunas com
a destruição do local. Ou seja, deveria haver
alguma compensação, afinal o reflorestamento
dessas planícies é praticamente impossível,
pois a pequena e frágil camada de terra que havia foi
retirada e o que restou foi a imensa rocha.
Futuro
incerto
Em 2000, a Agência Ambiental
Pick-upau, já alertava para a falta de um projeto de
revitalização, tombamento e preservação
do conjunto arquitetônico de São Thomé
das Letras, em matéria publicada na revista Expedição
Eco Turismo (Editoria:Galeria). De lá pra cá,
parece que o único avanço foi das pedreiras
contra a cidade.
Com o avanço cada vez
maior da extração da pedra-mineira dos morros
no entorno da cidade (foto), é fácil deduzir
que, se algo não for feito imediatamente, o futuro
da cidade é incerto. Se a degradação
chegar às belezas naturais da região, como cachoeiras,
grutas, cavernas e mirantes, o que já vem acontecendo
em alguns locais, como descreve a matéria “Água
Benta”, os danos irão além da descaracterização
da arquitetura e a cidade corre o risco de tornar-se, em poucos
anos, um bolsão de miséria, como já aconteceu
em outras regiões que foram alvo de exploração
indiscriminada.
Mesmo que todas as empresas
autorizadas a explorar a região estejam dentro da lei,
é óbvio que, se não faltou um estudo
de impacto ambiental, este foi mal conduzido. Basta uma pequena
caminhada pela periferia da cidade para observarmos a destruição.
Evidente também que
a pedreira e o próprio turismo são fundamentais
para a cidade, mas é necessária uma exploração
consciente e controlada dessas duas economias, afinal a exploração
de pedras corresponde a 70% da economia da cidade. Segundo
Paulino, o restante fica com o turismo e algumas plantações,
muitas de subsistência.
Pedra por pedra, é
assim que autoridades e a sociedade devem lutar para que São
Thomé das Letras seja conhecida também pela
cidade que lutou para reconstruir seu passado.
Veja a seguir as incríveis
construções de pedra que resistem ao tempo em
São Thomé das Letras. |