Quando perguntado
sobre sua inspiração para realizar seus
trabalhos de bijuterias, esculturas e pinturas, o
artesão Bruno Barreto ri e diz “A natureza
né”.
Motivos não faltam, em São Thomé
das Letras a inspiração é infinita
para artesãos que trabalham e vivem na cidade.
Basta uma rápida caminhada pelo centro para
observarmos as várias tendências artísticas.
Cerâmicas, vestuários, bisquis, as mais
diversas misturas que dão forma a seres encantados
e extraterrestres, além da matéria-prima
farta da região, a pedra-mineira, que serve
para a confecção de diversas peças,
inclusive as famosas casinhas.
|
Artesão
trabalha na Cachoeira da Lua |
Lendas de antigos
moradores, arquitetura de pedra, relatos de aparições
de OVNIS, belezas naturais e a imensa crença
em seres míticos e encantados enchem os olhos
dos visitantes. A cada loja, a cada banca, uma nova
descoberta e uma nova despesa também. É
impossível ser indiferente a tanta criatividade
e bom humor.
É fácil
avistar extraterrestre da altura de uma pessoa (baixinha
é verdade) ou “ETs de Varginha”, cidade próxima
a São Thomé e que ficou famosa, depois
da notícia de uma suposta captura, de um alienígena
por militares brasileiros, com camisa dos principais
clubes do país.
Identidade
artística
É fácil
de relacionar os trabalhos a seus criadores. A artista
Sandra Liccioti Miche’Angelo Bittar, do Atelier Terra,
tem um processo de criação em escala,
onde produz magos, bruxas e fadas de diversos tamanhos
e cores. Em sua loja também podemos encontrar
cachaças de diversos aromas e sabores em garrafas
também decoradas pela artesã com nomes
sugestivos às lendas da cidade, como “Pinga
do ET”.
Artesãos
como Bruno Barreto (foto) e Luiz Guerreiro já
preferem expor seus trabalhos, bijuterias e acessórios
nas cachoeiras da região. Trabalhos feitos
de sementes, arames, espinhas de animais mortos encontrados
nas trilhas e muita criatividade dão um tom
tropical e curioso à suas peças.
|
Artesanato
confeccionado na hora para o cliente. |
Artistas mais utópicos
e naturalistas podem ser encontrados na cachoeira
da Lua, “Backbauer” (foto) é um bom exemplo
de como o ser humano se adapta aos ambientes. Sem
saber precisar há quanto tempo vive em São
Thomé das Letras, Backbauer diz que tudo que
precisa para criar seus trabalhos retira da natureza.
Flautas e outros instrumentos inusitados de sopro
podem ser vistos sobre sua banca improvisada com um
pano no chão. Entre uma frase quase agalopada
e pensamentos quase surreais, ele explica que sua
principal matéria-prima é o bambu, encontrado
com facilidade nos fundos de vale.
Lendas
e economia
As muitas histórias
fantasiosas que se ouve em São Thomé
das Letras é a principal fonte de inspiração
de seus artesãos e o trabalho destes artistas
faz a economia da pequena cidade ferver. Parte importante
da renda de muitas famílias, o artesanato é
também uma forma de perpetuar a rica e intrigante
identidade da cidade mineira. Mas toda essa cultura
depende da preservação da história,
dos costumes e das belezas naturais da região.
Quando conversamos com artistas por toda a cidade,
o sentimento é um só. “A cada explosão
na pedreira, um pedacinho da cidade se perde e um
pouco da história se apaga”, descreve um artesão
que preferiu não se identificar.
O que se pode constatar é que todos são
unânimes sobre o equilíbrio, ou harmonia,
como eles preferem destacar entre tudo que há
na cidade, inclusive a pedreira, mas parece que as
empresas responsáveis pela extração
das pedras ainda não entenderam, ou não
querem entender o recado. |