Patrimônio
da Humanidade, reconhecido pela Unesco como um dos
mais importantes santuários de espécies
marinhas do Atlântico Sul e um dos trechos mais
belos do litoral paulista
Não é
só de biodiversidade e paisagens naturais inesquecíveis
que vive o Parque Estadual da Ilha do Cardoso. Cananéia
serve como ponto de partida para a exploração
da ilha. No entanto, a cidade não se limita
a coadjuvante no roteiro. Além de bons restaurantes
e pousadas, guarda muitas histórias e boas
atrações.
Um dos municípios
mais antigos do Brasil, Cananéia possui um
conjunto arquitetônico muito interessante, como
os prédios da praça Martim Afonso de
Sousa e a igreja de São João Batista
(1577-1769). Caminhando até a rua dos Artesãos,
encontramos uma grande variedade de artesanatos feitos
de taquara, conchas, cipós, caxeta e diversas
cestarias. Vale a pena conhecer também o museu
Victor Sadiwisk, onde podem ser vistas fotos e artefatos
da região, além de um tubarão
embalsamado de três toneladas e meia.
Seguindo mar adentro
sentido Ilha do Cardoso, a paisagem torna-se ainda
mais intensa. A natureza forte e viva está
presente durante o percurso, quando a embarcação
é acompanhada por golfinhos e gaivotas. Com
os pés na ilha, as surpresas são ainda
maiores.
Caminhando pela trilha do Poço das Antas, podemos
apreciar um imenso jardim de bromélias e samambaias,
onde inúmeros insetos e outros microrganismos
dão à mata um movimento sutil. O tom
didático dos comentários feitos pelos
monitores ambientais ilustram ainda mais o caminho.
“A flora da ilha é muito rica, cerca de 118
espécies de orquídeas e 41 de bromélias
compõem um bioma de quase mil espécies
de vegetais”, explica o monitor ambiental Selmo Bernardo.
Seguindo pela trilha,
o visitante pode comprovar a biodiversidade da mata
atlântica, agora refletida por árvores
de médio e grande porte, repletas de cipós
de diversas espécies. Os detalhes da verdejante
mata só passam despercebidos quando o grupo
mergulha no poço, como recompensa pela caminhada
de 2,5 km.
Biodiversidade
A
rica fauna onipresente no parque dá o tom de
ilha da fantasia. Revoadas de garças e quero-queros
disputam as atenções dos visitantes
com o golfinho, animal símbolo do parque. Os
22.500 hectares de área do parque, onde vivem
mais de 400 espécies de aves, algumas ameaçadas
de extinção, como a jacutinga e o papagaio-da-cara-roxa.
É habitat também de cotias, onças,
macacos-bugio, mono-carvoeiros, veados-mateiro e uma
grande variedade de répteis e anfíbios.
No entanto, a grande “arca-de-Noé” está
na água.
Segundo o diretor
do parque estadual da Ilha do Cardoso, Marcos Campolim,
as águas que banham a reserva são um
dos mais ricos e importantes santuários de
espécies marinhas do Atlântico Sul. “O
parque é a mostra mais significativa da região
sobre o complexo estuarino lagunar, desde o sul do
litoral de São Paulo, até Paranaguá,
já no Paraná. Essa região é
considerada uma das maiores concentrações
de manguezais do Atlântico Sul”, afirma Campolim.
Campolim
explica a complexidade do processo que proporciona
a beleza e a continuidade da vida no ecossistema da
ilha através da lagunar. Por conta da localização
e da importância do parque, a questão
da preservação é ainda mais visível.
“A ilha do Cardoso está exatamente na região
desse ecossistema, declarado Patrimônio da Humanidade
pela Unesco, e onde se concentram várias unidades
de conservação, o que ajuda a preservá-los”,
afirma o diretor. “Os manguezais são os responsáveis
pelo enriquecimento de nutrientes dos rios, o que
ocasiona excelentes ecossistemas tanto para reprodução
como para o desenvolvimento e crescimento de várias
espécies marinhas, como camarões e golfinhos”,
explica Campolim.
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Maria
Mulata no mangue da ilha |
Toda essa natureza
abundante pode ser vista logo na região norte
da ilha, no núcleo Perequê, onde também
está localizada a estrutura do parque: museu,
alojamentos, área de pesquisa e palestras e
o Centro de Reabilitação de Animais
Marinhos.
Sítios
arqueológicos
É deste núcleo
que o visitante parte para a exploração
dos mais diversos pontos turísticos da ilha,
como a trilha do Mangue, do Costão Rochoso
e o Morro das Almas, além de uma trilha de
sítios arqueológicos, conhecida como
Sambaqui.
“No século
XIX, as pessoas moíam as conchas dos sambaquis
que eram misturadas a óleo de baleia para a
produção de uma argamassa utilizada
para fazer as construções”, explica
Felipe Augusto Kanai Santana, monitor ambiental do
parque. “Os sambaquis são vestígios
da passagem humana que datam de 3 a 10 mil anos atrás.
Nessa época, a região de Santa Catarina
até São Vicente era habitada por hominídeos”,
diz Kanai.
A Praia de Itacuruça,
com cerca de 9,5 km de extensão, onde golfinhos
podem ser vistos a 3 metros da areia, é mais
uma atração do núcleo Perequê
e ponto de partida para outra região histórica
da ilha, o marco de Tordesilhas, que dividia o território
brasileiro entre espanhol e português.
Passando pelo costão
rochoso, onde se localiza o marco, avista-se a Praia
de Ipanema, onde podemos encontrar água doce,
vinda da cachoeira do Ipanema, outra parada obrigatória.
Como
se não bastasse tanta beleza no núcleo
Perequê, a região sul da ilha do Cardoso,
conhecida como Marujá, abriga as maiores atrações
do Parque. A cachoeira Grande, que não faz
juz ao nome, mas ostenta tamanha beleza, é
um dos principais pontos de visitação.
É do núcleo Marujá, de onde saímos
em busca das mais belas paisagens da ilha, as piscinas
naturais.
Nas piscinas, o visitante
tem tranqüilidade e diversão garantidas.
Para tanto, a natureza requer do ecoturista um bom
desempenho, afinal são cerca de 25 quilômetros
entre ida e volta, passando por praias, costões,
trilhas em mata fechada e manguezais, além
das várias travessias pelo rio.
O elo entre o norte e o sul da ilha é, sem
dúvida, outra maravilhosa surpresa do parque.
O percurso de aproximadamente uma hora pelo rio Perequê
revela ao navegante, em paisagens belíssimas,
toda a biodiversidade da vida selvagem.
A muralha verde e
imponente do mangue e as águas calmas do rio
Perequê, que refletem o simples e incansável
espetáculo do pôr-do-sol, convidam o
visitante a um bom descanso, após um dia de
grandes emoções.
E se sobrar fôlego,
a noite pode tornar-se uma boa aventura: devidamente
acompanhado e autorizado por funcionários do
parque, você poderá realizar a focagem
de jacarés. A aventura é no mínimo
enigmática. Afinal, quem navega pelas águas
do rio Perequê durante o dia, não pode
imaginar onde se “escondem” tantos espécimes
de jacarés-do-papo-amarelo, que se multiplicam
sob o luar.
Para explorar a ilha
do Cardoso navegar é preciso, mas isso não
é tudo. Disposição para longas
caminhadas e gosto pela aventura são requisitos
básicos para o visitante. Para ecoturistas
e amantes da natureza isso não é problema,
seja você da tribo da água ou da terra,
a ilha reserva ótimas surpresas para todos. |