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Mata Atlântica

Segredos da Mata
 

Quem pensa que a Caverna do Diabo é a única atração do parque Estadual de Jacupiranga surpreende-se com as dezenas de cachoeiras e trilhas que dividem as atenções com o artesanato local e a exuberante mata atlântica.

Quando se falam sobre ecossistemas brasileiros, esperam-se ambientes espetaculares e, se for uma reserva de mata atlântica, a certeza é de uma viagem inesquecível. Há 250 quilômetros da capital paulista, a pacata cidade de Eldorado abriga, com outros municípios próximos, uma das maiores reservas de mata atlântica do Estado.

Protegida naturalmente por sua topografia acidentada, o Parque Estadual de Jacupiranga apresenta a seus visitantes uma flora exuberante, onde suas mais famosas espécies são facilmente vistas: jatobás, figueiras, brejaúvas e indaiás; bromélias, samambaias e orquídeas se espalham entre as formações vegetais de florestas, planícies, encostas e campos de altitude, em alguns pontos, chegam a mil e trezentos metros de altura.

Só ficando atrás do Parque Estadual da Serra do Mar, em tamanho, Jacupiranga é um imenso santuário que abriga vasta e diversificada fauna. Entre anfíbios, répteis, mamíferos, aves e peixes, a unidade de conservação serve de moradia para muitas espécies raras como o macuquinho-pintado e o cricrió-suíço, ambos ameaçados de extinção. Onças pardas e pintadas, porcos-do-mato, antas e ariranhas também certificam a importância e a qualidade da reserva.

A majestosa mata ainda pode se orgulhar da maior população conhecida no país do papagaio-de-peito-roxo e de seus moradores mais divertidos, os primatas mico-leão-caiçara, mico-leão-da-cara-preta, mono-carvoeiro e o traquina macaco-prego.

Seus rios são, também, um indicativo da importância da mata. Lambaris, cascudos, aniás e tariputangas são apenas algumas das várias espécies encontradas na região. Vivendo entre as águas e a terra estão o sapo-de-chifre, o sapo bufo, cascáveis, jararacas, cágados e jacarés-do-papo-amarelo.

Apesar de todos esses atrativos e diversidades, o parque ainda é pouco conhecido e sub explorado ecoturisticamente. Muita gente não conhece a pequena cidade de Eldorado, tão pouco o Parque Estadual de Jacupiranga. Talvez, ao ouvir estes nomes, você não esteja associando “o nome à pessoa”.

Queda de Meu Deus


Na verdade, a região é conhecida em todo país, inclusive no exterior, por causa de uma única atração: a badalada e iluminada Caverna do Diabo. Agora sim, todos se situaram. No entanto, quem pensa que a caverna é o único atrativo da região, já pôde ver no relato acima que o lugar tem muito mais a oferecer e, quem se aventurar por suas trilhas se surpreenderá ainda mais.

Muitas cachoeiras e grandes emoções

Em um único passeio, o visitante pode conhecer nada menos que 18 cachoeiras e cruzar trinta e três vezes o Ribeirão das Ostras. Tudo isso para chegar a uma das maiores e mais belas cachoeiras da região, a Queda de Meu Deus, com cerca de cinqüenta e três metros de altura, um dos pontos mais procurados para a prática do rapel. O trajeto é longo e requer um bom preparo físico, mas a paisagem que o cerca é uma enorme recompensa.

Quem gosta de contemplar e se refrescar em uma bela cachoeira, mas não é chegado ou não está preparado para longas caminhadas, pode escolher outras opções que o parque oferece.

A menos de duzentos metros do núcleo Caverna do Diabo, a cachoeira do Araçá, com sua queda coberta pelas imensas copas e uma convidativa piscina natural, é parada obrigatória na visita à unidade de conservação. Mas a aventura não pára por aí.

Cachoeira no PE Jacupiranga


Existem, ainda, quatro boas opções que estão à disposição dos visitantes. A cachoeira do Sapatu, a cerca de trinta e dois quilômetros de Eldorado, possui uma piscina natural de dez metros quadrados. Já a cachoeira do Assentado I e II – a primeira com quinze metros e a segunda com cerca de 80 metros de altura –, que está a quarenta e cinco quilômetros da cidade, brinda seus convidados com uma divertida descida pelo Toboágua.

Através das corredeiras do rio Batatal os amantes da natureza se divertem com o bóia-cross. Os mais radicais podem experimentar o cascading (uma espécie de rapel praticado em cachoeiras) na primeira queda do Assentado.

Para quem já não estiver enrrugado, a opção é o Salto da Usina – o local era uma antiga hidrelétrica que abastecia a cidade no início do século passado –, a dez quilômetros do centro de Eldorado, possui vários pontos para banhos e uma grande área de entretenimento, com ponte pênsil, quadra de areia e lanchonete.

O Povo de Lata

Outra bela surpresa de Eldorado é seu artesanato, além de pinturas, esculturas e balaios feitos por quilombolas – descendentes de antigos escravos – que estão expostas e à venda no Centro Cultural da cidade. Um artesão se destaca com seu trabalho ecológico e singular.

José Roberto Félix cria e expõe seus trabalhos de forma curiosa. Ao ser perguntado sobre sua inspiração, o artesão arenga expressões poéticas que sugerem a natureza, a religiosidade, temas regionais, a mitologia grega e até profissões.

Mas, quando indagado sobre a obtenção de sua matéria-prima, Félix é bem mais simples na resposta: “Dependo dos amigos, afinal são eles que tomam as cervejas”, referindo-se às latas de alumínio que utiliza em quase todas as suas obras.

Para expor as peças, Félix tem como galeria a beira da rodovia SP-165. Sob a generosa sombra das árvores, suas esculturas chamam a atenção de quem passa na estrada rumo à Caverna do Diabo.

Entre atração e compras, o visitante pode repor as calorias em bons restaurantes da região. Um, localizado no trevo da SP-165 com a sinuosa e íngreme estrada que leva ao núcleo do parque – a cerca de cinqüenta quilômetros de Eldorado, oferece comida típica do interior paulista. E o restaurante instalado na área do parque que possui um cardápio básico, porém de boa qualidade.

Já na hora do descanso, você pode escolher entre os sons da mata em chalés próximos à entrada da caverna ou a hotéis de padrão simples no centro da cidade, todos com preços acessíveis e amparados por uma hospitalidade de deixar o mais rabugento visitante satisfeito.

A caverna mais famosa do Brasil

Após muitas belezas naturais, chega a hora de conhecer a maior atração, a Caverna do Diabo, e saber porque ela carrega status de monumento natural espetacular. Sua fama não é apenas pelo fato de ser iluminada, algo incomum no país. Mas também, por suas incríveis formações e as fábulas que rondam suas estalactites e estalagmites.

Entrada da Caverna do Diabo

Com cerca de nove quilômetros e meio de extensão, a Gruta da Tapagem, como também é conhecida, ainda é um grande mistério para muitos. Com apenas seiscentos e cinqüenta metros iluminados e abertos à visitação – o que já é o suficiente para justificar tanta fama – a gruta ainda guarda muitos recantos apesar da iluminação.

Auxiliado por uma infra-estrutura estratégica com luzes especiais, passarelas e escadas, o visitante fica deslumbrado a cada formação e a cada detalhe exposto pela luz, que acrescenta aos magníficos espelotemas tons verdes, vermelhos e um brilho que dificilmente poderia ser visto com a tradicional lanterna.



O passeio pela caverna pode não ser dos mais radicais, mas é, sem dúvida, muito democrático: o acesso a suas galerias são bem fáceis. Ao caminhar pela caverna, o visitante tem a sensação de estar num museu natural: “...à esquerda o ‘Bolo de Noiva’, à direita a ‘Mão do Diabo’, mais à frente a ‘Fonte da Juventude’ e, se me acompanharem, terei o prazer de apresentá-los a ‘Cara do Diabo’”, assim segue o monitor ambiental apresentando a imensa galeria ao público, fascinado com a beleza esculpida há milhões de anos pela natureza.

Mas o lugar também guarda outros segredos em suas partes mais sombrias: os moradores mais antigos juram que a Caverna do Diabo não tem esse nome por acaso. Seus antepassados diziam que, em dias de fortes chuvas, era possível ouvir gritos aterrorizantes que vinham da gruta e acreditavam que as formações na entrada da caverna seriam pessoas petrificadas. Estórias como esta são comuns entre as apresentações dos monitores ambientais.

Descoberta pelo explorador alemão Richard Krone, em 1891, a caverna do Diabo só foi transposta totalmente em 1965 pela equipe do Clube Alpina Paulista. Segundo estudos, a caverna tem origem no período pré-cambriano, cerca de 500 milhões de anos.

Caverna do Diabo


Entre suas formações calcárias corre o Ribeirão das Ostras, que pode ser visto logo na entrada da caverna, mas que, subitamente, desaparece por baixo das rochas, criando um silêncio profundo no interior da gruta. Entre as inúmeras formações destacam-se o Anfitrião, os Cortinados, o Rinoceronte, Mil e uma Noites, as Velas de Promessa e uma das mais belas, o Altar, uma incrível formação sob uma lage de oitenta metros.

Mas, a caverna do Diabo não é a única atração subterrânea da região. Quem acha que a gruta mais famosa do parque tem muita beleza, mas deixa a desejar no quesito aventura, pode experimentar outros dois roteiros: a Gruta do Frias e as Grutas do Rolado, ou ainda explorar a Gruta da Tapagem pelo lado menos conhecido, o que leva o ecoturista a tirar da mochila a velha lanterna.

Um parque abençoado

Se a caverna é do Diabo ou não, permanece o mistério. Mas, se depois de conhecer todos esses lugares você ainda tiver dúvida se o parque é abençoado por Deus, conheça a região através do ponto de vista do criador, de cima. Tanto o Mirante do Cruzeiro, quanto o do Angico, são pontos em que o visitante pode deslumbrar-se com a imensidão e a beleza do Vale do Ribeira.

O primeiro, localizado próximo à cidade de Eldorado, além da vista panorâmica privilegiada atingida após a subida de quinhentos metros, o lugar também é procurado por praticantes de rapel, que também pode ser feito durante a noite, com o auxílio e acompanhamento dos monitores da ONG Pé no Mato, que organiza os passeios.

Já o Mirante do Angico requer um pouco mais do ecoturista. Após um quilômetro e meio de subida, a recompensa é a vista de um gigantesco tapete verde de mata atlântica que se perde no infinito.

Seja lá qual for sua crença, o Parque Estadual de Jacupiranga e suas belezas naturais são uma grande e inesquecível descoberta, que pode ensinar, ou relembrar ao seu visitante o principal e simples motivo da vida: ela própria.



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