Curso de Direitos Indígenas
dá início à segunda etapa do projeto
Balcão da Cidadania Indígena do Rio Negro.
Com a participação de 155 pessoas e 49
organizações indígenas da região,
o curso engloba temas como a demarcação
e fiscalização de terras indígenas
e os desafios e obstáculos para a formulação
de alternativas econômicas e políticas
públicas para um programa regional de desenvolvimento
indígena sustentável
Teve início na segunda-feira
(21/01) em São Gabriel da Cachoeira (AM), o curso
de Direitos Indígenas do Rio Negro, promovido
pela Foirn (Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro) e pelo ISA com o apoio
do Ministério da Justiça. O curso faz
parte do projeto Balcão da Cidadania Indígena
e conta com 155 inscritos e a participação
de 49 organizações indígenas locais,
além de técnicos e funcionários
de diversas instituições que atuam na
região, como BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Funai (Fundação
Nacional do Índio), Escola Agrotécnica
de Manaus, Funasa (Fundação Nacional de
Saúde), Batalhão de Infantaria de Selva,
Projeto Sivam, entre outros.
O curso, que pretende capacitar lideranças indígenas
em Direitos Humanos e Cidadania dos Povos Indígenas,
dá início à segunda etapa do Balcão
da Cidadania Indígena. Para o coordenador do
Programa Rio Negro do ISA, Beto Ricardo, é um
momento importante para que as comunidades explicitem
preocupações e demandas sobre seus direitos.
Na cerimônia de abertura, traduzida nas principais
línguas indígenas da região (baniwa,
nheengatu e tukano), o presidente da Foirn, Orlando
de Oliveira, destacou a importância do Balcão
da Cidadania Indígena e o compromisso da Foirn
em buscar junto ao Ministério da Justiça
dar continuidade ao projeto. O vice-presidente da Foirn,
Domingos Barreto, lembrou que a idéia do Balcão
surgiu durante a visita do então ministro da
Justiça, José Gregori, a São Gabriel
da Cachoeira em 2001.
O membro do Conselho Diretor do ISA e ex-presidente
da Funai, o advogado Carlos Frederico Marés de
Souza, chamou a atenção para a necessidade
dos povos indígenas defenderem seus direitos
e buscarem discutir e propor leis que atendam a seus
interesses. A mesa de abertura do curso contou ainda
com a presença de Renilce Queiroz, promotora
de Justiça, Maria Miquelina, representante da
Coiab (Coordenação Geral das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira), do coronel
Walter da Cruz, gerente do Sivam, e do bispo Dom Walter
Ivan de Azevedo.
Criação de novos municípios
em terras indígenas e redivisão territorial
O painel de abertura teve como tema
Terras Indígenas: direitos originários,
demarcação e fiscalização
e a primeira palestra foi proferida por Carlos Marés,
que tratou da criação de municípios.
Marés ressaltou as diferenças de concepção
entre municípios e terras indígenas e
a necessidade de se ampliar o debate em torno de qual
modelo administrativo deveria ser adotado nos casos
de municípios em terras indígenas.
Para Marés, as terras indígenas devem
ser administradas segundo os usos, costumes e tradições
dos povos que ali habitam. Esse é um tema de
grande interesse na região, tendo em vista a
antiga proposta de criação do município
de Iauareté, além da iminência da
redivisão territorial do estado do Amazonas,
com a criação de territórios ou
Estados. Entre as preocupações levantadas
durante o debate em plenário estiveram as vantagens
e desvantagens da criação de municípios
para os povos indígenas, a questão da
migração para as cidades e o papel do
Ministério Público Federal. Marés
destacou que as vantagens da criação de
novos municípios para os brancos estão
diretamente ligadas a questões econômicas
e de arrecadação, que são inexistentes
nos casos de terras indígenas, uma vez que não
há cobrança de impostos sobre produção
e comércio. No que se refere ao papel do Ministério
Público, Marés lembrou que os procuradores
devem atuar como advogados, defendendo os interesses
e opiniões dos povos indígenas.
O governador do Amazonas, Amazonino Mendes, esteve presente
para falar sobre as iniciativas do governo na área
de educação. Amazonino anunciou a implantação,
em São Gabriel da Cachoeira, de um projeto piloto
“para promover o aprimoramento cultural das 22 nações
indígenas da região, com laboratório
de preservação da língua indígena,
estudos avançados da farmacopéia indígena
integrada à faculdade de medicina e curso superior
de antropologia”. Para o governador, esse projeto dará
condições de preparo aos jovens indígenas
para os vestibulares de medicina e engenharia, integrando-os
no processo de educação convencional.
Os outros municípios a serem atendidos pelo projeto
serão Tabatinga e Maués.