Pela primeira vez, mulheres indígenas
da região do Rio Negro se reúnem para
discutir problemas que enfrentam na produção
e comercialização de seus produtos tanto
artesanais quanto da roça.
No fim de semana de 26 e 27/01, representantes de quatro
associações femininas e mulheres representando
as associações de base da região
se reuniram para debater questões relacionadas
à produção e comercialização
do excedente da roça e dos produtos de arte feitos
em tucum e outras fibras, piaçava e cerâmica.
O encontro foi organizado pela Foirn (Federação
das Organizações Indígenas no Rio
Negro) e seu objetivo principal é fortalecer
a atuação, o trabalho e a organização
das mulheres, com a criação de departamento
específico. Aliás, esse departamento também
esteve na pauta deste Primeiro Encontro. Os projetos
“ Educação no Rio Negro” e “Capacitação
de Parceiros Locais”, do ISA, assessoraram o evento.
O encontro contou com a participação de
52 mulheres de 10 etnias, além de 15 lideranças
masculinas que vieram prestigiar, traduzir ou apresentar
o relato de experiências do trabalho feminino,
já que algumas mulheres, por falta de costume
e experiência em encontros assim são tímidas
para falar em público, sobretudo em língua
portuguesa.
As principais dificuldades listadas por elas, que atrapalham
a organização e o fortalecimento de suas
atividades, quase sempre relacionadas com atividades
produtivas - na roça ou no artesanato - foram:
falta de união, infra-estrutura precária
ou inexistente de uma sede ou local para cada associação
trabalhar, falta de transporte para escoar a produção
ou para se reunirem com outras lideranças femininas,
não saber como agir no planejamento de suas atividades,
timidez, falta de comunicação, fofoca,
falta de divulgação de seus trabalhos
e inexistência de canais para a comercialização
dos produtos.
Na busca de soluções para esses problemas,
as conversas durante o encontro abordaram os caminhos
necessários para superar os impasses por elas
apontados. Neste sentido discutiu-se um roteiro para
auxiliar a organização do trabalho das
mulheres nas comunidades. Tal roteiro destaca aspectos
que diferenciam o trabalho da mulher indígena,
de forma a ajudá-las a compreender o valor cultural
agregado aos seus trabalhos.
O que reivindicam as mulheres
•Produtos da roça que chegam deteriorados nos
centros urbanos da região do Rio Negro por causa
das distâncias e falta de transporte eficiente;
•Valorização de produtos industrializados
em detrimento da produção local;
•Falta de lugar para depositar seus produtos quando
chegam das comunidades, enquanto procuram o melhor comprador
etc,. Estes, aliás, são problemas comuns
a todas as comunidades.
As alternativas propostas
• Mudança nas políticas públicas
locais. Por exemplo, a Secretaria de Educação,
poderia comprar a produção agrícola
local para utilizar na merenda escolar;
•Que as prefeituras cedam um local para depositarem
seus produtos e criem uma feira para escoamento da produção
indígena;
•Que instituições como o Exército
comprem produtos da roça para abastecer os quartéis
espalhados na região;
•Que as ONGs e demais instituições que
atuam na área organizem seus eventos fornecendo
lanches, feitos com produtos da roças indígenas.
•A revitalização de uma pequena indústria
de processamento de frutas, seria outra alternativa.
Plano de negócios
O presidente da Oibi (Organização Indígena
da Bacia do Içana), André Baniwa, relatou
a experiência realizada com o projeto Arte Baniwa
de comercialização de cestos em grandes
centros urbanos no Brasil. A experiência, solidificada
por um Plano de Negócios, foi explicada passo-a-passo
para as mulheres presentes ao encontro. O objetivo do
relato foi ilustrar a complexidade e o tempo envolvidos
na organização de um trabalho que tem
como perspectiva agregar valor cultural a produtos indígenas.
Estão envolvidos nessa trajetória questões
como um levantamento inicial da história e mitos
relacionados com o produto, a matéria-prima envolvida,
a sabedoria de mestres artesãos para sua confecção,
a elaboração de catálogos, amostras,
prospecção de mercado, ajuste de preços,
definição de escala de produção
etc. A partir desse relato, as mulheres observaram que
enfrentam outro impasse a ser superado: o tempo gasto
na organização de um trabalho associativo
demanda maior rigor na divisão do seu tempo de
trabalho, já que, de maneira geral, elas são
muito importantes no trabalho doméstico. O encontro
destacou o relevante papel feminino na união
da família, a solidariedade no trabalho e a força
de vontade para trabalhar com união.