Fechamento do garimpo Roosevelt,
na TI Roosevelt (RO), motivado pelo assassinato de César
Cinta Larga, não significa que os conflitos serão
resolvidos
O índio César Cinta-Larga,
encontrado morto na quinta-feira passada, em Espigão
D´Oeste (RO), próximo à área
do garimpo da Terra Indígena Roosevelt, veio
agravar ainda mais a situação de tensão
e medo que tomou conta das aldeias Cinta-Larga desde
a morte de Carlito Cinta-Larga, em 19 de dezembro passado,
na cidade de Aripuanã (MT).
César morreu por afogamento e teve uma das mãos
decepadas. A indigenista Maria Inês Hargreaves,
que trabalha com os Cinta Larga, informou que ele sofreu
antes de morrer, provavelmente foi torturado. Seu corpo
foi encontrado cinco dias depois de ele ter sumido da
aldeia Roosevelt, em Espigão do Oeste, já
em forte estado de decomposição.
Tanto Inês Hargreaves, quanto o antropólogo
João Dal Poz, da Universidade Federal de Mato
Grosso, que também trabalha com esse povo indígena,
estão desanimados e preocupados. Hoje, a Funai
determinou o fechamento do garimpo Roosevelt, a pedido
dos índios, porque perderam o controle da situação.
Pra inglês ver
No entanto, isso não é
sinônimo de que daqui pra frente tudo vai ser
diferente. Inês Hargreaves e João Dal Poz,
que neste momento estão em Cacoal (RO) acompanhando
o desenrolar da situação, têm vasta
experiência no assunto. Não é a
primeira vez que o garimpo é fechado - como aconteceu
em fevereiro do ano passado - e o que ocorre é
que logo depois, os garimpeiros entram de novo nas terras
e recomeçam seu trabalho."Temos receio que
essa medida só passe de raspão, não
se aprofunde na questão", diz Inês.
Na opinião do antropólogo Carlos Alberto
Ricardo, coordenador do ISA, o governo federal demarcou
as terras indígenas de Rondônia e Oeste
do MT na década de 90, sob pressão dos
financiadores internacionais. "Mas abandonou os
índios à sua própria sorte, pressionados
por uma frente predatória que tem produzido um
verdadeiro desastre socioambiental na região
há 30 anos", diz. "Nesse caso, o governo
não consegue garantir a integridade das terras
demarcadas e bota os índios na rota do crime:
madeireiros, traficantes de droga e empresas garimpeiras".