Panorama
 
 
 

A RADIAÇÃO E O MEIO AMBIENTE

Panorama Ambiental
São Paulo - Brasil
Março de 2002

A descoberta da radiação

O fenômeno da radioatividade foi descoberto pelo físico francês Henri Becquerel, em 1896. Becquerel realizou diversos estudos e verificou que sais de urânio emitiam radiação semelhante à dos raios-X, impressionando chapas fotográficas.

O fenômeno da radiação

Se um átomo tiver seu núcleo muito energético, ele tenderá a estabilizar-se, emitindo o excesso de energia na forma de partículas e ondas.

Radiação alfa, Beta e Gama

As radiações alfa e beta partículas que possuem massa, carga elétrica e velocidade. Os raios gama são ondas eletromagnéticas ( não possuem massa ), que se propagam com a velocidade de 300.000km/s.

O que é meia-vida dos elementos

Cada elemento radioativo se transmuta a uma velocidade que lhe é característica. Meia-vida é o tempo necessário para que a sua atividade radioativa seja reduzida à metade da atividade inicial.
Após o primeiro período de meia-vida, somente a metade dos átomos radioativos originais permanecem radioativos. No segundo período, somente 1/4 , e assim por diante. Alguns elementos possuem meia-vida de frações de segundos. Outros, de bilhões de anos.

O que são isótopos

Isótopos são átomos de um mesmo elemento químico, porém com massas diferentes. Quando o isótopo é radioativo, é chamado de radioisótopo.
Radioisótopos para uso na indústria, na medicina, na agricultura e em pesquisas científicas são produzidos artificialmente. Na medicina são chamados de radiofármacos.

A irradiação

Irradiação é a exposição de um objeto ou um corpo à radiação, o que pode ocorrer à distância, sem necessidade de contato. Irradiar, portanto, não significa contaminar.
Bomba de Cobalto: utilização de irradiação para tratamento de tumores.

A contaminação

Contaminação, radioativa ou não, caracteriza-se pela presença indesejável de um material em local onde não deveria estar.
No caso de materiais radioativos, a contaminação gera irradiações.
Para descontaminar um local, retira-se o material contaminante. Sem o contaminante o lugar não apresentará irradiação, nem ficará radioativo, irradiação não contamina, mas contaminação irradia.

Aplicações da radiação

A radioatividade tem três campos de aplicação para fins pacíficos: médico, quando se aproveita sua capacidade de penetração e perfeita definição do feixe emitido para o tratamento de tumores e diversas doenças da pele e dos tecidos em geral; industrial, nas áreas de obtenção de energia nuclear mediante procedimentos de fissão ou ruptura de átomos pesados; e científico, para o qual fornece, com mecanismos de bombardeamento de átomos e aceleração de partículas, meios de aperfeiçoar o conhecimento sobre a estrutura da matéria nos níveis de organização subatômica, atômica e molecular.
Materiais radioativos são utilizados também na fabricação de substâncias fluorescentes e de relógios científicos, que se baseiam nos fundamentos da geocronologia e da cosmocronologia para obter medidas precisas de tempo.

Quem atende à emergências radiológicas e nucleares

Para o atendimento à emergências no estado de São
Paulo, o IPEN mantém um grupo de técnicos especializados.
Se você encontrar material radioativo ou tomar conhecimento de material radioativo fora das condições normais de uso, contate imediatamente a Área de Atendimento à Emergências Radiológicas e Nucleares no Estado de São Paulo.
Telefones: (11) 3816 - 9000 / (11) 9982-3860
Atendimento: 24 horas por dia

Efeitos biológicos

A atividade de uma substância radioativa é determinada pelo número de transformações que ela sofre por unidade de tempo. A unidade internacional estabelecida para medir essa grandeza, denominada curie (Ci), se define como a quantidade de substância radioativa que produz o mesmo número de desintegrações que um grama de rádio e equivale a 3,7 x 1010 desintegrações por segundo.
A radiação gama, de efeitos extremamente nocivos para a vida, se mede em röntgen (R), como os raios X. Essa unidade é definida como a quantidade de radiação capaz de produzir um determinado número de íons (átomos com carga elétrica) numa certa quantidade de ar, sob condições fixas de temperatura e pressão. O rad é a unidade de medida de exposição local à radiação e equivale a cem ergs por grama.
O efeito biológico causado pela irradiação prolongada do corpo humano se avalia segundo o fator de qualidade da radiação (Q), que estabelece quantas vezes o efeito biológico causado por um dado tipo de radiação excede aquele provocado pela radiação gama de mesma dose. A dose equivalente (DEQ), cuja unidade é o rem, se define como a quantidade de radiação que causa o mesmo efeito biológico que uma dose de um rad de raios X ou radiação gama.
O limite aceitável de radioatividade para o corpo humano é de aproximadamente meio rem por semana. A tolerância de radioatividade varia ligeiramente entre os organismos vivos, mas uma dose generalizada de centenas de rem ocasiona sempre graves lesões e mesmo a morte. A administração local de uma radiação de milhares de rem, porém, contribui para eliminar tumores de pele e de outros órgãos do corpo.

Radiação no meio ambiente

A experiência de diversos países indica que a energia nuclear é segura e confiável e não polui o meio ambiente. A operação de usinas nucleares não produz gás carbônico (CO2) ou qualquer outro gás que contribui para o efeito "estufa" nem dióxido de enxofre (SO2) ou óxidos de nitrogênio (NOx), causadores da "chuva ácida". Hoje em dia, a utilização da energia nuclear NO MUNDO para produção de energia elétrica evita a emissão de cerca de 2,2 bilhões de toneladas de CO2 por ano.
As usinas nucleares requerem pequenas áreas para a sua instalação, podendo ser construídas próximo aos grandes centros consumidores e evitando a degradação do meio ambiente.
O que faz o Laboratório de Monitoração Ambiental?
O Laboratório de Monitoração Ambiental tem como objetivo principal elaborar, implementar e executar os programas e estudos necessários para permitir a avaliação dos possíveis impactos causados pela operação da Central Nuclear no meio ambiente e na população da região.
Criado em 1978, o Laboratório fica em Mambucaba, a aproximadamente 10 km da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), desenvolvendo um trabalho ambiental permanente na região entre Angra dos Reis e Paraty. Um grupo de 14 técnicos, entre biólogos, físicos e químicos, altamente especializados nas áreas de radiometria, radioquímica, química e biologia, executa os programas de monitoração ambiental, cumprindo as exigências dos órgãos fiscalizadores nacionais e internacionais.
O controle de qualidade das análises de amostras ambientais é realizado pelo Laboratório através da sua participação nos Programas de Intercomparação mantidos pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pela Agência de Proteção Ambiental (EPA/USA) e pelo Instituto de Radioproteção e Dosimetria, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IRD/CNEN).
Entre as tarefas realizadas pelo laboratório, destacamos os estudos pré-operacionais desenvolvidos no período de julho de 1979 a outubro de 1981, para a medição dos níveis de radioatividade natural e artificial e estudos populacionais dos seres vivos - flora e fauna - que habitam o ambiente marinho local.
Atualmente, faz parte das suas atividades a coleta de amostras ambientais como algas, microanimais, animais de fundo e peixes; registro e estocagem de amostras testemunhos, análises físico-químicas e radiométricas de amostras, medidas instantâneas de radiação e a avaliação da biomassa, onde é verificado o tamanho da população de diversos organismos do ambiente marinho da região.
Anualmente, os resultados destes estudos são comparados aos dados iniciais do Programa Pré-operacional, com o objetivo de avaliar a influência da implantação da usina nos meios monitorados. Até o presente, as únicas variações - certa diminuição da diversidade das algas pardas e aumento na população de moluscos - foram observadas apenas no ponto de coleta mais próximo da descarga de efluentes líquidos da usina (aproximadamente 200m) e são devidas ao incremento térmico causado por estes efluentes. As demais populações permanecem com as mesmas características da fase pré-operacional.

Césio - 137: O caso de Goiânia

Era 13 de setembro de 1987. Um aparelho de radioterapia contendo césio-137 encontrava-se abandonado no prédio do Instituto Goiano de Radioterapia, desativado há cerca de 2 anos. Dois homens, Roberto e Wagner, à procura de sucata, invadiram o local e encontraram o aparelho, que foi levado e vendido ao dono de um ferro-velho.
Durante a desmontagem do aparelho, foram expostos ao ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl), pó branco semelhante ao sal de cozinha, no entanto, brilha no escuro com uma coloração azulada.
Encantado com o brilho do pó, o dono do ferro-velho passou a mostrá-lo e até distribuí-lo a amigos e parentes.
Os primeiros sintomas da contaminação (tonturas, náuseas, vômitos e diarréia) apareceram algumas horas depois do contato com o pó, levando as pessoas a procurar farmácias e hospitais, sendo medicadas como portadoras de uma doença contagiosa. Os sintomas só foram caracterizados como contaminação radioativa em 29 de setembro, depois que esposa do dono do ferro-velho levou parte do aparelho desmontado até a sede da Vigilância Sanitária.
Quatro pessoas morreram. Segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), além delas, de 112.800 pessoas que foram monitoradas, 129 apresentaram contaminação corporal interna e externa. Destas, 49 foram internadas e 21 exigiram tratamento médico intensivo.
A propagação do césio-137 para as casa próximas onde o aparelho foi desmontado se deu por diversas formas. Merece destaque o fato de o CsCl ser higroscópico, isto é, absorver água da atmosfera. Isso faz com que ele fique úmido e, assim, passe a aderir com facilidade na pele, nas roupas e nos calçados. Levar as mãos ou alimentos contaminados à boca resulta em contaminação interna do organismo.
Os trabalhos de descontaminação dos locais afetados produziram 13,4 t de lixo contaminado com césio-137: roupas, utensílios, plantas, restos de solo e materiais de construção. O lixo do maior acidente radiológico do mundo está armazenado em cerca de 1.200 caixas, 2.900 tambores e 14 contêiner em um depósito construído na cidade de Abadia de Goiás, vizinha a Goiânia, onde deverá ficar, pelo menos 180 anos.
Quatorze anos depois, o governo de Goiás pretende incluir mais 600 pessoas na lista de vítimas do acidente com o césio 137. O Ministério Público Estadual afirma que, nos últimos anos, oito pessoas morreram em conseqüência de doenças provocadas pelo césio. E estas mortes nunca entraram nas estatísticas oficiais.
O policial militar Marques Rodrigues foi um dos soldados que trabalharam na segurança da área contaminada pelo Césio 137. Hoje tem câncer no cérebro e se aposentou por invalidez.
O acidente foi em 1987. O dono de um ferro-velho em Goiânia abriu a cápsula de Césio de um aparelho de radioterapia. Oficialmente quatro pessoas morreram e 250 foram contaminadas pelo material radioativo.
Mas desde o acidente, policiais e funcionários que trabalharam no local dizem que também foram contaminados. "Motorista, mecânico, ajudantes, foram os que mais trabalharam, mais sofreram. Já morreram algum de câncer", diz o funcionário Mario Rodrigues, funcionário aposentado.
Em março de 2001 o Ministério Público instaurou inquérito para apurar as denúncias. Funcionários que trabalharam na época do acidente prestaram depoimento e fizeram exames. E 14 anos depois do acidente com o césio 137 surge uma nova lista com nomes de vítimas.
O Ministério Público de Goiás diz que outras 600 pessoas, entre elas o policial Marques foram expostas à radiação. E até agora não receberam nenhum tipo de assistência. "São doenças que começaram a surgir justamente a pós a primeira década. Típico de quem sofreu irradiação em baixas e médias doses. E nós levantamos até agora oito óbitos", diz o promotor Marcus Antônio Ferreira.
O promotor mostra o atestado de óbito de um funcionário do estado que trabalhou no local do acidente. No atestado a causa da morte é insuficiência respiratória. Mas os exames mostram que ele tinha câncer nos rins e pulmões.
A Superintendência criada pelo governo do estado para acompanhar as vítimas diz que é difícil relacionar as mortes e as doenças denunciadas agora ao acidente com o césio.
"Nós nunca vamos ter como provar isso. No entanto eu acho que elas devem ser atendidas e tratadas", acredita Maria Paula Curado, superintendente da Fundação Leide das Neves.
O Estado e o Ministério Público fizeram um acordo para que as novas vítimas, seus filhos e netos recebam assistência médica e indenização.

O que é lixo atômico?

Lixo atômico ou nuclear, como é conhecido popularmente, é o que tecnicamente, nós da área, designamos de "rejeito radioativo". Como é sabido, toda e qualquer atividade humana geram resíduos.
Quando estas atividades envolvem a utilização de material radioativo.
Por Exemplo: usinas nucleoelétricas, hospitais, industrias, clínicas, centros de pesquisas, universidades) inevitavelmente dão origem a rejeitos radioativos.
O rejeito radioativo é definido em norma como sendo todo material resultante de atividades humanas, que contém elementos radioativos acima dos limites de isenção e para o qual não há previsão de reutilização.
Estes limites são estabelecidos em normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN-NE-6.02. Licenciamento de Instalações Radioativas).
Quanto ao MAPA de onde está " espalhado o lixo radioativo no mundo ", deve-se esclarecer que o rejeito não fica espalhado, pois fica confinado/dispostos em depósitos temporários ou definitivos (repositórios).
O depósito temporário normalmente fica no local das instalações geradoras. No Brasil isto também está estabelecido em norma, ou seja, toda instalação que gera este tipo de rejeito deve prover meios de gerenciar seus rejeitos e ter um local apropriado para armazená-los até que os níveis de radioatividade decresçam aos níveis de isenção.
O tempo necessário para isto acontecer depende essencialmente do elemento radioativo, pois cada um tem seu tempo de decaimento ou seja uma meia-vida.
A meia-vida é o tempo para que a radioatividade de um elemento se reduza a metade.
Os repositórios de rejeitos são projetados para confinar o rejeito por longos períodos de tempo.
Os países mais desenvolvidos já possuem estes repositórios, no BR está em estudos, pois o volume de rejeitos não é tão significante e os níveis de radioatividade considerados baixos.

Manejo seguro e ambientalmente saudável de resíduos radioativos

Base para a ação
Os resíduos radioativos são gerados no ciclo dos combustíveis nucleares, bem como nas aplicações nucleares (o uso de radionuclídeos nucleares na medicina, pesquisa e indústria). Os riscos radiológicos e de segurança dos resíduos radioativos variam de muito baixos, nos resíduos de vida curta e baixo nível de radioatividade, até muito altos nos resíduos altamente radioativos. Anualmente, cerca de 200.000 metros cúbicos de resíduos de nível baixo e intermediário e 10.000 metros cúbicos de resíduos de alto nível de radioatividade (bem como de combustíveis nucleares consumidos destinados à depósito definitiva) são gerados em todo o mundo pela produção de energia nuclear. Esses volumes estão aumentando à medida que entram em funcionamento mais unidades de geração de energia nuclear, se desmontam instalações nucleares e aumenta o uso de radionuclídeos. Os resíduos de alto nível de radioatividade contêm cerca de 99 por cento dos radionuclídeos e representam, portanto, o maior risco radiológico. Os volumes de resíduos das aplicações nucleares são geralmente muito menores, de cerca de algumas dezenas de metros cúbicos ou menos por ano, por país. No entanto, a concentração da atividade, especialmente em fontes de radiação seladas, pode ser alta, justificando assim a adoção de medidas de proteção radiológica muito estritas. Deve-se manter sob exame cuidadoso o crescimento dos volumes de resíduos.
O manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos, inclusive sua minimização, transporte e depósito, é importante, dadas as características deles. Na maioria dos países com programas substanciais de energia nuclear tomaram-se medidas técnicas e administrativas para implementar um sistema de manejo dos resíduos. Em muitos outros países, que ainda estão na fase preparatória para um programa nuclear nacional, ou que possuem apenas aplicações nucleares, subsiste a necessidade de sistemas desse tipo.

Objetivo
O objetivo desta área de programas é assegurar que os resíduos radioativos sejam gerenciados, transportados, armazenados e depositados de maneira segura, tendo em vista proteger a saúde humana e o meio ambiente, dentro do panorama mais amplo de uma abordagem interativa e integrada do manejo e da segurança dos resíduos radioativos.

Atividades
(a) Atividades relacionadas com o manejo
Os Estados, em cooperação com as organizações internacionais pertinentes, quando apropriado, devem:
1. Promover medidas políticas e práticas para minimizar e limitar, quando apropriado, a geração de resíduos radioativos e cuidar para que tenham tratamento, acondicionamento, transporte e depósito seguros;
2. Apoiar os esforços realizados dentro da AIEA para desenvolver e promulgar normas ou diretrizes e códigos de prática para os resíduos radioativos como base internacionalmente aceita para o manejo e a depósito segura e ambientalmente saudável desses resíduos;
3. Promover o armazenamento, o transporte e a depósito seguro dos resíduos radioativos, bem como das fontes de radiação esgotadas e dos combustíveis consumidos dos reatores nucleares destinados o depósito definitiva, em todos os países e em especial, nos países em desenvolvimento, facilitando a transferência de tecnologias pertinentes para esses países e/ou a devolução ao fornecedor das fontes de radiação depois de usadas, de acordo com as regulamentações ou diretrizes internacionais pertinentes;
4. Promover o planejamento adequado, incluída, quando for o caso, a avaliação do impacto ambiental, do manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos, inclusive dos procedimentos de emergência, do armazenamento, do transporte e do depósito, antes e depois das atividades que gerem esses resíduos.
(b) Cooperação e coordenação internacional e regional
Os Estados, em cooperação com organizações internacionais pertinentes, quando apropriado, devem:
1. Intensificar seus esforços para implementar o Código de Prática sobre Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Radioativos e, sob os auspícios da AIEA e em cooperação com as organizações internacionais competentes que tratam das diferentes maneiras de transporte, manter a questão de tais movimentos em constante exame, inclusive a conveniência de formalizar um instrumento juridicamente compulsório;
2. Estimular a Convenção de Londres a acelerar os trabalhos para completar os estudos sobre a substituição da atual moratória voluntária do depósito de resíduos radioativos de baixa atividade no mar por uma proibição, levando em consideração uma abordagem de precaução , tendo em vista adotar uma decisão bem informada e oportuna sobre essa questão;
3. Abster-se de promover ou permitir o armazenamento ou depósito de resíduos radioativos de nível alto, médio ou baixo perto do meio marinho, a não ser que se determine que os dados científicos disponíveis, em conformidade com os princípios e diretrizes internacionalmente aceitos e aplicáveis, demonstrem que tal armazenamento ou depósito não representa um risco inaceitável para as pessoas e o meio marinho, nem interfira em outros usos legítimos do mar, fazendo-se, no processo de exame da situação, uso apropriado do conceito de abordagem de precaução;
4. Abster-se de exportar resíduos radioativos para países que, individualmente ou por meio de acordos internacionais, proíbem a importação desses resíduos, como as partes contratantes do Convênio de Bamaco sobre a proibição de importar resíduos perigosos para a África e o controle dos movimentos transfronteiriços desses resíduos dentro do continente africano, o quarto Convênio de Lomé ou outros convênios pertinentes em que se proíbe essa importação;
5. Respeitar, em conformidade com o direito internacional, as decisões, na medida em que sejam aplicáveis a eles, tomadas pelas partes em outros convênios regionais pertinentes sobre meio ambiente que tratem de outros aspectos do manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos.

Meios de implementação
(a) Financiamento e estimativa de custos
No plano nacional, os custos do manejo e depósito de resíduos radioativos são consideráveis e irão variar segundo a tecnologia utilizada para o depósito.
O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) para as organizações internacionais da implementação das atividades deste programa em cerca de $8 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive as não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar para implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
Os Estados, em cooperação com organizações internacionais, quando apropriado, devem:
1. Promover pesquisa e desenvolvimento de métodos para o tratamento, o processamento e o depósito seguros e ambientalmente saudáveis, inclusive para o depósito geológica profunda, dos resíduos de alto nível de radioatividade;
2. Realizar programas de pesquisa e avaliação relativos à determinação do impacto sobre a saúde o meio ambiente do depósito dos resíduos radioativos.
(c) Fortalecimento institucional e desenvolvimento de recursos humanos
Os Estados, em cooperação com organizações internacionais pertinentes, devem oferecer, quando apropriado, assistência aos países em desenvolvimento para que estabeleçam e/ou fortaleçam a infra-estrutura de manejo de resíduos radioativos, em que se incluem a legislação, organizações, mão de obra especializada e instalações para a manipulação, processamento, armazenagem e depósito dos resíduos gerados pelas aplicações nucleares. << voltar

Perguntas e respostas sobre radioatividade

1. Qual a distância mínima recomendada para se assistir televisão por tempo prolongado?
A Dra. Letícia L. C. Rodrigues, chefe do Departamento de Calibração e Dosimetria, da Diretoria de Segurança Nuclear, responde:
Segundo trabalhos desenvolvidos no Brasil pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares sobre "Taxas de Exposição de Raios-X de Energias Baixas Emitidos por Televisores a Cores e Terminais de Vídeo", concluiu-se que a uma distância de 2 m da tela a radiação X proveniente do tubo é desprezível.
O limite recomenda pela Agência Internacional de Energia Atômica, IAEA, para trabalhadores, a uma distância de 5cm do centro geométrico da superfície da tela é de 1,3.10-7 C.kg-1.h-1 (0,50mR/h). A taxa de exposição média determinada a 5cm do centro geométrico da superfície da tela, independente do tamanho da tela e da idade dos
televisores, foi de 1,3.10-8 C.kg-1.h-1 (0,050 mR/h), dez vezes menor que o valor máximo recomendado para a mesma geometria de irradiação. Para os terminais de vídeo, à mesma distância da superfície da tela, a taxa de exposição média determinada foi de 9,0.10-9C.kg-1.h-1 (0,035mR/h). Para as distâncias entre 2 e 3m da superfície da tela dos televisores em cores apenas foi detectada a radiação natural do ambiente.
Desse modo, a distância mínima recomendada é de 2m da tela.
Foram publicados 2 trabalhos, de nossa autoria, sobre pesquisas desenvolvidas no IPEN:
"Measurements of the Exposure Rate Due to Low Energy X-Rays Emitted from Video
Display Terminals"
Campos, L. L.
Appl. Rad. and Isotopes 39, 2 (1988) 173
"Determinação de Taxas de Exposição de Televisores em Cores"
Campos, L. L.; Caldas, L.V.E.
IPEN Publ.-134 1988

2. Que tipo de rejeito radioativo é gerado em reatores nucleares?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de Rejeitos Radioativos, da Diretoria de Segurança Nuclear, responde:
Num reator nuclear, a principal fonte de geração de rejeitos radioativos é a fissão do urânio que resulta em dois fragmentos de elementos mais leves, como por exemplo, Estrôncio-90 e Praseodímio-143, Zircônio-95 e Césio-137 (não necessariamente estes, mas centenas de pares como estes cuja soma das massas é próxima de 235) e que são todos radioativos. Estes radionuclídeos ficam retidos dentro das varetas, mas uma pequena parte pode escapar para o refrigerante, contaminando-o. A outra fonte é a ativação das estruturas do reator pelos nêutrons. Os materiais de construção do vaso de pressão, das varetas, da estrutura dos elementos combustíveis etc. são escolhidos para que tenham uma baixa probabilidade de reagir com os nêutrons e formar isótopos radioativos. Mesmo assim uma pequena parte é ativada e se torna radioativa. Depois de ativadas as substâncias radioativas continuam no interior dos materiais, mas por corrosão, erosão ou dissolução, parte delas acaba por entrar no fluxo de refrigerante, contaminando-o também. Estas substâncias radioativas são continuamente removidas, concentrando-se nos filtros, mas uma parte contamina os materiais dentro do reator.
Equipamentos de proteção individual, tais como luvas, aventais, máscaras etc., ferramentas, vidraria de laboratório etc. contaminados com estas substâncias radioativas constituem o rejeito radioativo; os filtros de ar e os filtros de purificação do refrigerante são também rejeito radioativo; as partes de equipamento substituídas, idem.
Todos estes rejeitos são classificados como rejeitos de atividade baixa e média.
Os elementos combustíveis, com os produtos de fissão e o que restou de urânio, constituem os rejeitos de atividade alta.

3. Como proceder para retirar pára-raios radioativos e como encaminhá-los ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de Rejeitos Radioativos, da Diretoria de Segurança Nuclear, responde:
A Comissão Nacional de Energia Nuclear, CNEN, através da Resolução No. 4/89, de 18 de abril de 1989, suspendeu a autorização para a fabricação e instalação de pára-raios radioativos.
Os pára-raios que estiverem instalados devem ser substituídos por pára-raios convencionais, atendendo a decisão da prefeitura de cada município.
Quando substituído, um pára-raios radioativo passa a ser rejeito radioativo e deve ser recolhido à CNEN. Quem deve providenciar a substituição é o proprietário da edificação e esta substituição pode ser feita por qualquer pessoa, mas é preferível que seja feita por um profissional experiente porque em geral os pára-raios estão em locais de difícil acesso e há riscos de queda. Além disso para que o prédio fique adequadamente protegido contra raios é necessário verificar se o aterramento da instalação está adequado e se o número de captores é suficiente para o tamanho e altura do prédio. O ideal é contratar uma empresa de instalações elétricas.
Os cuidados que devem ser tomados em relação à radiação e à contaminação estão descritos em uma cartilha fornecida gratuitamente pelo IPEN aos interessados.
É muito importante que a pessoa entre em contato com o IPEN antes de realizar a substituição porque além das medidas de proteção que devem ser tomadas, a cartilha dá instruções sobre como fazer a embalagem, o transporte e a entrega do material à CNEN e é acompanhada dos documentos exigidos pelo DNER para o transporte de material radioativo.
Os telefones de contato são (011) 3816-9240 e 3816-9241

4. O que é, exatamente, lixo atômico ?
A Dra. Laura Sakiko Endo, chefe do Departamento de Rejeitos Radioativos, da Diretoria de Segurança Nuclear, responde:
Lixo atômico ou nuclear, como é conhecido popularmente, é o que tecnicamente, nós da área, designamos de "rejeito radioativo". Como é sabido, toda e qualquer atividade humana geram resíduos. Quando estas atividades envolvem a utilização de material radioativo ( por exemplo: usinas nucleoelétricas, hospitais, industrias, clínicas, centros de pesquisas, universidades) inevitavelmente dão origem a rejeitos radioativos.
O rejeito radioativo é definido em norma como sendo todo material resultante de atividades humanas, que contém elementos radioativos acima dos limites de isenção e para o qual não há previsão de reutilização.
Estes limites são estabelecidos em normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN-NE-6.02. Licenciamento de Instalações Radioativas).
Quanto ao MAPA de onde está " espalhado o lixo radioativo no mundo ", deve-se esclarecer que o rejeito não fica espalhado, pois fica confinado/dispostos em depósitos temporários ou definitivos (repositórios).
O depósito temporário normalmente fica no local das instalações geradoras. No Brasil isto também está estabelecido em norma, ou seja, toda instalação que gera este tipo de rejeito deve prover meios de gerenciar seus rejeitos e ter um local apropriado para armazená-los até que os níveis de radioatividade decresçam aos níveis de isenção.
O tempo necessário para isto acontecer depende essencialmente do elemento radioativo, pois cada um tem seu tempo de decaimento ou seja uma meia-vida. A meia-vida é o tempo para que a radiaotividade de um elemento se reduza a metade.
Os repositórios de rejeitos são projetados para confinar o rejeito por longos períodos de tempo.
Os países mais desenvolvidos já possuem estes repositórios, no BR está em estudos, pois o volume de rejeitos não é tão significante e os níveis de radioatividade considerados baixos.

5. Quanto lixo atômico o planeta agüenta acumular ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de Rejeitos Radioativos, responde:
Como você já deve saber, as respostas as suas perguntas são complexas, envolvem muitos conhecimentos e, igualmente ao tema da geração e consumo de energia, podem estar sujeitas a preferências pessoais, crenças, ideologias e outras coisas que influem na abordagem dita estritamente científica. Contudo, vou procurar respondê-las fazendo uma explanação que mostre alguns dos argumentos que tem sido levantados contra e a favor da energia nuclear neste debate que já dura perto de 30 anos e em que se envolveram grandes cientistas, em ambos os lados da contenda.
A Terra tem uma capacidade limitada para suportar nosso lixo sem que ocorram mudanças irreversíveis. Até certas quantidades de materiais estranhos, os ecossistemas da Terra assimilam sem se degradar mas acima destes limites a capacidade de acomodação se extingue e ocorrem alterações que afetam o equilíbrio ecológico e podem impedir a sobrevivência de espécies animais e vegetais. Isto vale para os rejeitos radioativos, para os resíduos industriais, para o lixo doméstico e para o esgoto de nossas cidades. Se não forem tomadas as devidas precauções, as conseqüências podem ser graves. Alguns exemplos: as condições dos rios que atravessam São Paulo, contaminados com esgotos; o episódio da Baia de Minamata no Japão, contaminada com mercúrio; a contaminação de rios da ex-União Soviética e do lençol subterrâneo de água da Reserva de Hanford nos Estados Unidos com materiais radioativos, por causa de seus programas militares e muitos outros. Estes países tiveram ou estão tendo que gastar muito dinheiro para restaurar as condições normais nos locais afetados.
Como os rejeitos radioativos decaem, isto é, perdem a radioatividade com o passar do tempo, os órgãos de controle exigem que os rejeitos sejam tratados, embalados e armazenados de forma a que fiquem isolados da biosfera até que não ofereçam mais risco ao meio ambiente e a saúde humana. Para os rejeitos com meia-vida curta, isto é, que perdem a radioatividade rapidamente não ha dificuldades em se garantir isto por que as tecnologias empregadas já foram exaustivamente testadas em muitos países. O problema está nos rejeitos que levam milhares de anos para decair: Como garantir que continuem isolados ate decaírem totalmente num futuro
longínquo? Aqueles que trabalham neste problema, os especialistas em gerenciamento de rejeitos radioativos, garantem que as soluções encontradas são aceitáveis, isto é, que são suficientemente seguras (quando digo que eles garantem, quero dizer que demonstram cientificamente a segurança do método e que tem convicção sincera na segurança dos rejeitos e não estão brincando com a saúde de nossos descendentes). Eles propõem que os rejeitos de alta atividade sejam colocados em cavernas seladas em maciços rochosos a 800 - 1000 metros
de profundidade, de onde há muito pouca chance de virem, algum dia, causar mal a alguém. Os opositores não aceitam aquela demonstração por uma razão muito simples: não confiam que as coisas se comportarão como previsto nos modelos dos especialista em rejeitos, de que não ocorrerá intrusão de pessoas desavisadas ou mal intencionadas no repositório dos rejeitos, de que não ocorrerão mudanças ambientais que irão expor os rejeitos a biosfera, ou de que não ocorrerão catástrofes naturais ou provocadas que venham a romper o repositório e irradiar as pessoas e outros seres vivos."

6. Qual o grau de garantia dos recipientes que recebem o lixo radioativo ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de Rejeitos Radioativos, responde: "A fase mais perigosa para os recipientes esta no transporte dos rejeitos. Dependendo do grau de radiação do rejeito exige-se um tipo mais robusto de recipiente, que pode ser de um simples tambor metálico até recipientes especiais que devem suportar condições severas de acidente, tais como fogo por várias horas, o impacto de trens em alta velocidade, a queda sobre superfícies duras e pontiagudas, imersão em água etc. Na prática, estes recipientes tem demonstrado que
atendem aos requisitos de segurança impostos pelos órgãos de controle para cada grau de periculosidade dos rejeitos."

7. Há lugar suficiente para armazenar o lixo radioativo sem prejudicar a humanidade ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de Rejeitos Radioativos, responde: "O volume dos rejeitos radioativos é muito pequeno quando comparado com o volume de outros rejeitos industriais perigosos. Uma característica dos rejeitos radioativos é que são bastante concentrados em comparação com outros rejeitos, não havendo por isso problemas relacionados com o espaço que ocupam. Mesmo que toda a energia elétrica utilizada no mundo fosse de origem nuclear, ainda assim a quantidade de rejeitos radioativos seria suficientemente pequena para poder ser acomodada em repositórios adequados e que, segundo seus propositores, não prejudicaria o ser humano nem o meio ambiente."

8. Há controle sobre a permanência do lixo radioativo ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de Rejeitos Radioativos, responde: "Os rejeitos radioativos, assim como todas as substâncias radioativas, estão sob o controle de órgãos licenciadores e fiscalizadores. Desta forma, todos os locais que geram, processam ou armazenam rejeitos radioativos devem ter documentação detalhada, permanentemente a disposição das autoridades, dando conta das quantidades, atividades, condições de segurança, localização etc."

9. Qual o custo/benefício de se utilizar energia nuclear sabendo-se que geram rejeitos radioativos ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de Rejeitos Radioativos, responde:
"Esta pergunta envolve três questões:
1. qual a relação custo/beneficio da energia nuclear?;
2. quais as outras fontes de energia que podem ser utilizadas para suprir as necessidades atuais e futuras da humanidade?;
3. quais fontes aso mais "limpas"?
Respondendo de trás para frente:
Não existem fontes limpas de energia! Isto é surpreendente para muitas pessoas mas é a pura verdade. As fontes chamadas limpas, como solar, eólica, biomassa etc. tem impactos ambientais enormes que não são percebidos diretamente pelas pessoas, mas que os especialistas conhecem e já avaliaram. Alguém que diz que a energia solar não é poluente não conhece o problema. Vamos ver porque. Não se pode comparar um reator nuclear como o de
Angra que produz 600 MW (megawatts = milhões de watts) de energia com um painel solar que produz 2 kW (kilowatts = milhares de watts). É preciso igualar a produção para poder fazer a comparação. Então a comparação deve ser entre um reator de 600 MW e 300.000 painéis solares que produzam cada um 2 kW. Ocorre porem que é muito grande a quantidade de materiais que precisam ser minerados, processados e fabricados ate que se tenha os 300.000 painéis solares e mais as baterias para acumular a energia para os horários em que não ha sol.
Alguns destes materiais podem ser muito poluentes e perigosos como o chumbo, o mercúrio e o cádmio das baterias, e no final das contas, quando se vai comparar o risco real das duas fontes chega-se a conclusão que não aso muito diferentes e ha ate uma ligeira vantagem para a energia nuclear em termos de segurança. Para sermos absolutamente corretos, é preciso avaliar cuidadosamente cada uma das alternativas disponíveis, examinando todos os custos e os riscos envolvidos com cada fonte de energia, desde a mineração de cada um dos materiais ate a disposição final de todos os resíduos que forem gerados durante toda a vida dos equipamentos, inclusive eles próprios, seja um reator nuclear, seja um cata-vento, seja um painel solar, seja
uma barragem de hidroelétrica. Nos países em que estes estudos foram ou estão sendo feitos, como Canada, Sucia, Suécia, Estados Unidos, para citar alguns, o resultado surpreendente é que, em termos de proteção ao meio ambiente e a saúde humana, a energia nuclear é melhor que a maioria das fontes Uma das fontes que apresenta um desempenho ecológico melhor que a energia nuclear é o gás natural. Contudo, para voltar ao tema dos rejeitos radioativos, para se extrair o gás natural produz-se um rejeito radioativo de atividade bastante alta, devido aos radionuclídeos naturais que se acumulam nos poços de extração, tais como urânio, tório, radio e outros, e que se não for tratado adequadamente pode provocar sérios danos.
Concluindo, quero dizer que a energia nuclear não é o monstro que muitas pessoas pensam, ate porque você ficaria surpreso com o tamanho da lista de aplicações da energia nuclear na medicina, industria, agropecuária, meio ambiente, pesquisa etc. que fazem parte do seu dia a dia, ate dentro de sua casa, sem você saber e que para podermos continuar a usufruir dos benefícios temos, infelizmente, que arcar com os custos.

10. Quanto tempo dura a radiação dos lixos nucleares que possa ser prejudicial à saúde ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de Rejeitos Radioativos, responde:
"O tempo que leva um rejeito radioativo para tornar-se inócuo, depende de duas coisas:
- quais os radionuclídeos estão presentes no rejeito
- qual o seu nível de radioatividade
Cada radionuclídeo tem uma meia-vida característica, ou seja, um tempo de decaimento diferente. como os rejeitos radioativos tem origem em muitas atividades humanas diferentes e, em conseqüência disto, contêm diferentes radionuclídeos, os tempos de decaimento são característicos de cada tipo de rejeito radioativo.
Para exemplificar:
O rejeito radioativo líquido que é gerado rotineiramente num reator nuclear como o da usina de Angra contém dezenas de radionuclídeos, entre eles o Césio-137, o Cobalto-60, o Estrôncio-90 e o Telúrio-132. O Césio-137 e o Estrôncio-90 têm meia-vida de 30 anos aproximadamente; o Cobalto-60 tem 5 anos e o Telúrio-132 tem 3 dias. A radioatividade do Telúrio-132 desaparece em algumas semanas mas a do Césio-137 e do Estrôncio-90, depois de 300 anos, ou seja, 10 meias-vidas, terão se reduzido somente a um milésimo da atividade inicial (metade da metade da metade da metade..., 10 vezes, que é igual a um dividido por 2 elevado a 10) e por isso serão necessários muitos séculos até que a radioatividade se torne indetectável.
Nos laboratórios de análises clínicas utilizam-se reagentes radioativos que contém Trítio, um radioisótopo do Hidrogênio, com 12 anos de meia-vida, para detectar doenças como hepatite, AIDS e outras. O reagente utilizado é jogado fora depois de cada análise e constitui-se, a partir daí, em um rejeito radioativo.
No tratamento do câncer, utiliza-se entre outras, fontes de Rádio-226 que tem 1620 anos de meia-vida. Depois de algum tempo de uso, estas fontes precisam ser descartadas, tornando-se rejeitos radioativos.
Rejeitos radioativos hospitalares contêm Iodo-131, que tem 8 dias de meia-vida e é utilizado em exames de tireóide e em tratamento de certos tipos de câncer.
Os detetores de fumaça dos alarmes de incêndio contêm fontes de Amerício-241, o qual tem 430 anos de meia-vida. Quando os detetores de fumaça são substituídos, transformam-se em rejeito radioativo.
Existem mais dezenas de aplicações na área de medicina, indústria, agropecuária, pesquisa etc.
que geram rejeitos radioativos com igual variedade de radionuclídeos, mas estes exemplos já bastam para você ter uma idéia sobre isto.
Com relação ao nível de radioatividade, em cada aplicação trabalha-se com níveis diferentes de atividade e, portanto, nos rejeitos a intensidade da radioatividade será correspondente. Por exemplo:
As fontes de Amerício-241 dos detetores de fumaça têm cerca de 10 kBq e estão entre as menores fontes utilizadas ( 1Bq = 1 Becquerel = 1 desintegração por segundo; 1 kBq = 1000 Bq).
As fontes de Polônio-210 utilizadas para controlar a espessura da folha na fábrica de papel têm cerca de 300 MBq (1 MegaBq = 1 milhão de Bq).
As fontes de Irídio-192 usadas na inspeção das soldas nas tubulações de gás encanado têm cerca de 100 GBq ( 1 GigaBq = 1 bilhão de Bq)
As fontes de Cobalto-60 utilizadas na esterilização de material cirúrgico têm atividade da ordem de 10TBq (1 TeraBq = 1 trilhão de Bq)
Combinando as duas coisas, nível de radioatividade inicial e meia-vida, percebe-se que o tempo que leva para um determinado rejeito decair até níveis que não causem riscos à saúde varia muito.
Porém, na prática, existem três alternativas de destinação dos rejeitos radioativos de modo a que não afetem a saúde da população:
Liberação imediata
Disposição em repositórios de superfície
Disposição em repositórios profundos
A primeira alternativa corresponde ao lançamento dos rejeitos no esgoto ou no lixo comum e se aplica aqueles casos em que a combinação atividade/meia-vida é tão baixa que o tempo que leva para os radionuclídeos presentes nos rejeitos chegarem ao homem é suficiente para que sejam atingidos níveis seguros.
A segunda alternativa de destinação se aplica à maioria dos rejeitos dos reatores nucleares e das aplicações que já mencionamos e corresponde à colocação dos rejeitos em recipientes adequados e ao seu confinamento em um tipo de trincheira revestida de concreto em todos os lados, onde os rejeitos permanecem isolados por tempos que variam de 50 a 300 anos.
Por fim, a última alternativa é a colocação dos rejeitos em recipientes especiais e seu confinamento em cavernas construídas especialmente, a centenas de metros de profundidade que, depois de cheias e completamente seladas e vedadas, devem isolar os rejeitos por milhares de anos.
Esta é a destinação dos elementos combustíveis queimados dos reatores, das fontes de Rádio-226, das fontes de Amerício-241 e das fontes de alta atividade, como a do exemplo que demos de esterilização de material cirúrgico."

11. Gostaria de saber se os efeitos da radioatividade são hereditários, ou seja, se os filhos de pais afetados pela radioatividade serão também atingidos.
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, da Supervisão de Monitoração Ambiental, responde:
"Os filhos de pais irradiados poderão ser afetados dependendo de qual parte do corpo dos pais foi irradiada, e isto você poderá entender lendo o texto abaixo.
Os efeitos biológicos produzidos pelas radiações ionizantes podem ser de dois tipos diferentes, que são:
Efeitos somáticos - são aqueles provenientes de danos em células somáticas, como por exemplo, as células da pele, pulmão, fígado, osso, músculo etc. Quando essas células do corpo humano são irradiadas com uma alta dose de radiação ionizante aparecerão danos no indivíduo irradiado e esses danos não serão transmissíveis aos descendentes, ou seja, não tem nenhum caráter hereditário.
Efeitos hereditários - são aqueles provenientes de danos (mutações) em células germinativas, que são, no caso da mulher, os óvulos e no caso do homem, os espermatozóides, pois são essas células que darão origem a um novo indivíduo. A radiação ionizante, como uma série de outros agentes conhecidos, pode provocar mutações nos cromossomos das células germinativas, portanto, quando um indivíduo tem as gônadas irradiadas (ovários ou testículos), poderão ocorrer mutações nos óvulos e espermatozóides, que se usados na concepção poderão acarretar defeitos genéticos nos filhos dos pais irradiados.
Os tipos de mutações provocados pelas radiações ionizantes são os mesmos que os provocados por outros agentes, ou seja, mutações dominantes, recessivas e ligadas ao sexo. Dependendo do tipo de mutação que ocorreu, o dano poderá se manifestar na primeira geração do indivíduo irradiado."

12. Quais as conseqüências se uma bomba atômica caísse hoje em algum lugar ? Qual seria seu poder de destruição ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento de Radioproteção Ambiental, responde:
"A resposta a sua pergunta é bastante complexa, mas tentaremos respondê-la da forma mais clara possível.
A energia das bombas atômicas encontra-se inicialmente como energia potencial dentro do núcleo dos átomos. Certos isótopos, chamados de fissionáveis, podem ser induzidos à fissão pela absorção de nêutrons, liberando outros nêutrons, isótopos radioativos e energia.
Ex: 235U + nêutron -> 95Mo + 134Sm + 2 nêutrons + energia
Como você pode ver pela equação acima, o núcleo de urânio fissiona-se pela interação com o nêutron, formando então dois outros isótopos radioativos (chamados produtos de fissão), mais dois nêutrons, acompanhados de liberação de energia. Os dois nêutrons formados irão então fissionar outros dois isótopos de urânio, liberando quatro nêutrons e mais energia e isto ocorrerá sucessivas vezes, portanto, o número de fissões e a quantidade de energia liberada aumenta exponencialmente, levando ao que chamamos de reação em cadeia.
Além dos nêutrons que são liberados, os produtos de fissão originados nesta reação são núcleos instáveis e para atingir a estabilidade emitem radiações ionizantes como os raios gama, raios X, elétrons, partícula alfa.
Quando a bomba atômica é detonada, forma-se uma bola de fogo (cogumelo) contendo materiais radioativos. Devido a sua alta temperatura (aproximadamente 300.000 oC) ela expande-se no ambiente ao seu redor, e os materiais nela contidos são lançados na atmosfera e posteriormente precipitam-se depositando-se sobre a superfície da terra ( "fallout").
A explosão de uma bomba atômica libera portanto grande quantidade de energia, que é transferida para o ambiente ao redor por quatro mecanismos distintos:
radiação térmica (calor) choque mecânico (grande deslocamento de ar devido à explosão) radiações nucleares
pulsos eletromagnéticos.
Os três primeiros mecanismos (calor, choque mecânico e radiações nucleares) geram significativos impactos diretos sobre os organismos vivos resultando em um fenômeno conhecido como injúria combinada, acarretando um grande número de mortes e danos materiais. Os pulsos eletromagnéticos afetam equipamentos eletrônicos e de telecomunicações.
A bomba de 12 kt ( 1 kiloton - kt - equivale a 1012 cal) lançada em Hiroshima foi responsável por 45.000 mortes e danos a 90.000 outros indivíduos.
As explosões de Hiroshima e Nagasaki foram um alerta para toda a humanidade do poder destruidor desse tipo de artefato bélico, por outro lado, foi a partir dessas explosões que o homem passou a estudar melhor esse tipo de radiação e seus efeitos, e foi, a partir daí que surgiram os usos pacíficos das radiações ionizantes. Só para você ter uma idéia, as radiações ionizantes são hoje em dia amplamente usadas na medicina, indústria, agricultura e em aplicações ambientais . Essas técnicas representam hoje um grande avanço tecnológico e seria um retrocesso muito grande se tivéssemos que abandoná-las.
Sugiro que você estude um pouco sobre os usos pacíficos da energia nuclear e você ficará surpreso diante das possibilidades abertas pelo uso dessa tecnologia."

13. O que são raios X e qual é o tipo de material utilizado como "combustível" nos aparelhos de raio X e que emitem radiação gama ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento de Radioproteção Ambiental, responde:
"Alguns tipos de radiação podem ser sentidos, outros não. As radiações emitidas pelo sol transferem energia para a terra sob forma de luz e calor. Somos capazes de senti-las pela luminosidade em nosso ambiente e pela elevação da temperatura dos materiais e do nosso corpo. Já as radiações ionizantes não podem ser sentidas, sendo sua existência comprovada através de medições realizadas com aparelhos apropriados.
Essas radiações são aquelas que ao interagir com a matéria, ionizam direta ou indiretamente seus átomos ou moléculas, por isso são chamadas de radiações ionizantes.
Fonte de radiação refere-se a qualquer aparelho ou material que emite ou é capaz de emitir radiações ionizantes.
As principais radiações ionizantes são: partículas alfa, partículas beta, raios gama e raios X.
Tanto o raio X como o gama são fótons, ou seja, radiações eletromagnéticas semelhantes à luz, mas com uma freqüência não visível muito mais alta.
Os raios X e gama possuem as mesmas características e se comportam de maneira idêntica.
Embora possuam as mesmas propriedades, eles são gerados a partir de processos diferentes.
A diferença essencial entre a radiação gama e a radiação X está na sua origem. O raio gama é originado no núcleo e os raios X na eletrosfera dos átomos.
Para que tenhamos uma fonte de radiação gama é necessário a presença de átomos radioativos ("combustível") nessa fonte. Esses átomos, por serem instáveis, tendem a emitir essas radiações para adquirir estabilidade. Como exemplo podemos citar as fontes de Cobalto-60
(utilizadas na medicina para tratamento do câncer), que são emissoras de radiação gama.
No caso dos raios X utilizados na medicina para diagnóstico, o que temos é um equipamento que quando ligado à rede elétrica emite esses raios. A parte deste equipamento onde são gerados os raios X é conhecida como tubo de raio X. Quando ligamos esse equipamento na rede elétrica, passará por ele uma corrente elétrica e esse tubo então emitirá elétrons com uma determinada velocidade. Este feixe de elétrons é dirigido para se chocar contra um alvo. A desaceleração sofrida pelos elétrons ao se chocarem no alvo produzirá o raio X. Portanto, podemos concluir que os raios X são emitidos como conseqüência da energia liberada quando os elétrons são freados.
Portanto, como você pode ver, as fontes emissoras de radiação gama possuem um material radioativo ("combustível") que é responsável por essas emissões, as quais ocorrem de forma espontânea e continua (não é possível "desligar" essa fonte). No caso dos equipamentos de raios X, não temos a presença de materiais radioativos ("combustível") e sim uma máquina que emite esses raios. Neste caso não temos uma emissão espontânea, essas emissões só ocorrem quando a máquina está ligada à rede elétrica."

14. Quais as normas existentes sobre exames ocupacionais de pessoas que prestam serviços radiológicos ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento de Radioproteção Ambiental, responde:
"Duas normas, uma de âmbito federal e outra estadual, legislam sobre o assunto, como segue:
Norma CNEN-NE-3.01 (Publicada no Diário Oficial da União em 01 de agosto de 1988)
DIRETRIZES BÁSICAS DE Radioproteção (Federal)
No seu item 1.2.1 - "Esta Norma aplica-se as pessoas físicas e jurídicas envolvidas na produção, uso, posse, armazenamento, processamento, transporte ou deposição de fontes de radiação".
No seu item 8.3 - "Controle dos trabalhadores", sub-item 8.3.4 - "Os trabalhadores devem estar sujeitos a controle médico, incluindo os seguintes exames:
a. exame pré-ocupacional que verifique se o trabalhador esta em condições normais de saúde para iniciar sua ocupação, incluindo uma analise de seu histórico médico e radiologia sobre exposições anteriores;
b. exame periódico, de acordo com a natureza da função e com a dose recebida pelo trabalhador;
c. exame especial, para trabalhadores que tenham recebido dose superiores aos limites primários estabelecidos nesta Norma, ou quando o médico julgue necessário; e d. exame pós ocupacional, imediatamente após o termino da ocupação e, dependendo do seu resultado, cuidados ou exames médicos posteriores.
Resolução CNEN SS-625/94
(14 de dezembro de 1994) (Estadual)
No seu item 5.5 "Controles médicos"
Sub-item 5.5.1 - "Os trabalhadores deverão estar sujeitos a controle médico, incluindo pré-admissional, periódicos e demissional".
5.5.1.1 - O exame pré-admissional deverá incluir exame psicotécnico, histórico médico e radiologia sobre doses ocupacionais anteriores, hemograma completo e contagem de plaquetas.
5.5.1.2 - Os exames periódicos deverão ser semestrais e incluir exame clínico completo e outros exames a critério do médico; hemogramas completos e contagem de plaquetas,
poderão ser requeridos a cada dois anos para manter registro do perfil hematológico do trabalhador.
5.5.1.3 - Para o pessoal ocupacionalmente exposto ao iodo radioativo, deverá ser exigido resultado de captação na tireóide, sem administração adicional de iodo.
5.5.1.4 - O exame demissional deverá ser realizado imediatamente após o término do vínculo empregatício, devendo incluir, além de exame clínico completo, hemograma e contagem de plaquetas, resultados de todos os hemogramas e contagem de plaquetas, histórico com todas as doses ocupacionais e resultados de captação de iodo pela tireóide, quando for o caso;
5.5.1.5 - Os resultados do exame demissional, bem como os históricos, deverão ser obrigatoriamente entregues ao trabalhador e, a critério médico, acrescido de relatório de ocorrências relacionadas a exposição ocupacional;
5.5.2 - Exames especiais
5.5.2.1 - Exames especiais serão requeridos em casos de exposição a radiação acima dos limites estabelecidos nesta Norma Técnica, acidental ou deliberada em situações de emergência;
5.5.2.2 - Os exames especiais serão definidos por médico especialista ou pela autoridade sanitária, no prazo máximo de 72 horas após a ocorrência, contendo no mínimo hemograma e contagem de plaquetas."

15. Atualmente, qual a principal preocupação do IPEN em relação ao lixo nuclear brasileiro ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"Em princípio todas as atividades humanas geram resíduos, em maior ou menor quantidade apresentando maior ou menor risco ao homem e ao meio ambiente, o que não diferencia das atividades da área nuclear. Tudo é uma questão de se verificar se os benefícios introduzidos por uma determinada prática são sempre positivos em relação aos danos advindos desta mesma prática (incluindo todos os custos sociais). Todas as atividades na área nuclear devem seguir este princípio, por norma. Entre os danos computados está a geração de rejeitos. No IPEN, as atividades com materiais radioativos sempre trazem benefícios à sociedade. Podemos citar, por exemplo, citar que anualmente os radioisótopos produzidos pelo IPEN atendem a cerca de 800.000 pacientes.
Os rejeitos gerados em todas as atividades do IPEN são gerenciados pelo Departamento de Rejeitos Radioativos. A Gerência de Rejeitos é um conjunto de atividades técnico-administrativas envolvidas com a coleta, segregação, manuseio, tratamento, acondicionamento, transporte, armazenamento, controle e deposição de rejeitos radioativos, e mesmo no planejamento das atividades geradoras de rejeitos.
No IPEN, os rejeitos são coletados, segregados, tratados, acondicionados e armazenados num depósito construído para essa finalidade. O tempo do armazenamento depende da meia-vida e das atividades dos radioisótopos presentes no rejeito. Além disso, o nosso Departamento atende instituições de todo o Estado de São Paulo e da região Sul do país. O Departamento de rejeitos não só gerencia rotineiramente os rejeitos, como também mantém uma linha de pesquisa e desenvolvimento nessa área, incluindo métodos e processos para o tratamento, embalagens, materiais e métodos para a deposição segura, análises de segurança, entre outros. Juntamente com o Departamento de Monitoração Ambiental, cuidamos para que não haja descargas ambientais indevidas."

16. Quais problemas o lixo nuclear pode causar à saúde da população e ao meio ambiente se não for armazenado corretamente ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"O rejeito radioativo quando não devidamente tratado e armazenado pelo tempo necessário, causa os mesmos efeitos da radiação ionizante, pois os riscos devidos ao rejeito é a existência da radioatividade."

17. De que área provém a maioria do rejeito nuclear no Brasil ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"Basicamente, dividimos as origens do rejeito em duas classes:
rejeitos do Ciclo do Combustível Nuclear (CCN) rejeitos de aplicações nucleares O Ciclo do Combustível Nuclear compreende todas as fases para a obtenção do combustível nuclear, composto por Urânio, desde a mineração, beneficiamento do minério, purificação, transformação no elemento combustível e sua utilização no reator nuclear. Rejeitos gerados em todas essas etapas contém basicamente Urânio e seus derivados. Em termos de volume, a maior parte é gerada na mineração e beneficiamento do minério. Esses rejeitos são depositados e armazenados no próprio local da mineração. Exemplo: Poços de Caldas.
Rejeitos de Aplicação são os gerados na utilização de radioisótopos na Medicina, Indústria e Pesquisa. Esses são mais difíceis de caracterizar, por causa da diversificação das aplicações e dos radioisótopos utilizados, porém são de níveis de atividade muito baixos e de meias-vidas curtas.
Os rejeitos no Brasil, em ambos os casos, são classificados de baixo nível. Entretanto, no
mundo existem também os rejeitos de nível alto que são gerados nas operações de reciclagem e recuperação do combustível e aqueles originados em aplicações para fins militares (EUA e antiga URSS)."

18. Quais os processos pelos quais o lixo nuclear é submetido, desde seu descarte até o dia que perde seu efeito prejudicial ao homem e ao meio ambiente ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"O objetivo principal da gerência de rejeitos é exatamente proteger o homem e seu meio ambiente hoje e as gerações futuras dos efeitos nocivos da radioatividade contida nos rejeitos.
Consegue-se isso através do confinamento desses materiais. Porém, para confiná-los é necessário fazê-lo de maneira adequada para prevenir e evitar espalhamento, dispersão e contaminação indevidos, além de minimizar o volume de confinamente. Desenvolve-se então métodos de tratamento, acondicionamento, embalagens especiais para cumprir com esse objetivo.
O tempo necessário de confinamento depende dos radioisótopos contidos no rejeito, e o método de tratamento depende das características físico-químicas do rejeito. Por isso, antes de qualquer operação, separamos, segregamos os rejeitos de acordo com sua natureza, propriedades físico-químicas e radioativas e depois partimos para o tratamento adequado.
Pode-se, assim, compactar os rejeitos sólidos, solidificar rejeitos líquidos, imobilizar rejeitos não compressíveis, pressurizar rejeitos gasosos etc... Cada tipo de rejeito tem um método adequado para o seu tratamento."

19. Existe no Brasil um repositório nacional para rejeitos radioativos ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"O Brasil ainda não tem o seu repositório nacional, onde serão depositados todos os rejeitos armazenados nas diversas instituições do país ( IPEN em São Paulo, CDTN em Belo Horizonte, Usina Angra I e IEN no Rio de Janeiro), mas esta é mais uma questão política e de aceitação pública do que técnica."

20. Quanto é gasto, por ano, aproximadamente, para se desfazer o rejeito radioativo ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"Na verdade não se desfaz do rejeito radioativo. Ele deve ser confinado sempre que estiver acima dos limites de isenção.
Com relação a custos, não tenho dados da CNEN como um todo, ou mesmo com relação a Usina de Angra I. O custo de gerenciamento do rejeito de uma planta para geração nucleoelétrica, computados o prazo de geração, tempo de armazenamento, custos de armazenamento, transporte e tratamento talvez seja da ordem de 1% da geração elétrica. Na Espanha é da ordem de 0,9% sobre a conta de energia elétrica."

21. Qual a quantidade de rejeito radioativo produzido anualmente em Angra ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"De acordo com o publicado no boletim semanal Fonte Nuclear no 34, da ABEN (Associação Brasileira de Energia Nuclear) a Usina Nucleoelétrica de Angra I operou 368 dias, 24h a plena capacidade, dos 385 dias ocorridos desde a última parada para recarga de combustível. Este valor está acima dos valores médios mundiais para esse tipo de usina. Esta regularidade de operação tem evitado blecaute na região do Rio de Janeiro nos horários de pico.
Quanto ao rejeito radioativo em Angra I, desde a entrada em operação em 1982, estão armazenados em galpão coberto cerca de 5550 tambores de 200L contendo rejeitos de baixa atividade ( final de 95). Não possuímos dados atualizados de 96. Mas uma usina do porte de Angra I (660 MW) deve gerar em torno de 400-500 tambores/ano.

22. Quais os principais locais de armazenamento do lixo nuclear no Brasil ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"Os locais de armazenamento de rejeito existentes atualmente são os chamados depósitos temporários ou provisórios, pois o armazenamento definitivo será no repositório nacional.
Os de mineração são em 3 locais; os rejeitos da Usina de Angra I em galpão na própria usina; os de aplicações no IPEN (SP), CDTN (MG) e IEN (RJ). Os rejeitos armazenados nesses institutos de pesquisa da CNEN são os gerados nas chamadas aplicações nucleares, ou seja, da grande maioria dos usuários de radioisótopos (fontes industriais, fontes de teleterapia, rejeitos de hospitais, universidades, medidores industriais, pára-raios e ouros). Existe também o repositório de Goiânia, onde estão armazenados os rejeitos gerados no acidente radiológico com a fonte de césio-137 ocorrido em 1987."

23. Qual é o limite de dose para pessoas que trabalham com Energia Nuclear ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento de Radioproteção Ambiental, responde:
Existem dois tipos de limites interdependentes, isto é, ambos devem ser satisfeitos O primeiro é para efeitos estocásticos, isto é, efeitos biológicos probabilísticos (canceres), o seu valor é de 50 mSv/ano.
O segundo é para efeitos determinísticos, isto é, efeitos biológicos que apresentam um limiar de dose abaixo do qual o malefício (doença) não é clinicamente detectado; os seus valores são:
150 mSv/ano para o cristalino
500 mSv/ano para os demais órgãos
Os fatores de transformação das doses nos órgãos para dose de corpo inteiro para contribuírem na probabilidade de efeitos estocásticos são conhecidos como fatores de ponderação do tecido e representados por WT.

24. Quantas fontes nucleares existem no Brasil ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento de Radioproteção Ambiental, responde:
Se considerarmos todas as fontes desde aquelas de atividade muito pequena, geralmente utilizadas para aferição de equipamento até aquelas de grande porte utilizada na esterilização de material cirúrgico, na produção de radioisótopos como aceleradores e reatores, na geração de energia elétrica, reatores de potência, e na pesquisa teremos várias dezenas de milhares de fontes.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear, entre instituições ligadas à agricultura, indústria, medicina e pesquisa tem catalogado cerca de 5000 e a tendência é aumentar a cada ano que passa.

25. Qual é a diferença que existe entre a radiação e a contaminação ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento de Radioproteção Ambiental, responde:
Dizemos que um indivíduo é irradiado quando ele recebe dose de radiação somente durante a sua permanência no campo de radiação . Quando ele sai do campo indo para outro lugar a irradiação cessa.
Dizemos que o indivíduo está contaminado quando, mesmo saindo do campo de radiação, ele continua sendo irradiado, até a completa eliminação do material radioativo que carrega consigo.
Portanto, a contaminação pode ser de dois tipos, externa e interna.
É externa, quando o material radioativo se depositou sobre a pele do indivíduo e o irradia.
Existem processos químicos de remoção do material radioativo sobre a pele, mas o cuidado que se deve tomar é que o material, via poros não penetre internamente no corpo e entre na corrente sangüínea.
Diz-se que a contaminação é interna quando o material radioativo entra na corrente sangüínea e isto pode ser feito via pulmão para gases (respiração), via intestino por deglutição e via poros por contaminação externa. O material radioativo uma vez na corrente sangüínea, em parte é eliminado via urina passando pelos rins e bexiga e em parte vai para órgãos preferenciais de deposição. Por exemplo, o iodo radioativo vai se depositar na tiróide, o estrôncio radioativo nos ossos, o urânio no pulmão, rins e ossos, etc.
A eliminação do material radioativo depositado nos órgãos se dá por dois processos, perda de sua atividade por processo físico conhecido como decaimento radioativo e processo biológico por eliminação via corrente sangüínea pelo próprio corpo. Os parâmetros que representam estes processos são conhecidos como meia vida física e meia vida biológica.
A soma de suas contribuições é conhecida como meia vida efetiva. Atualmente existem algumas drogas químicas capazes de acelerar a eliminação biológica, exemplo o azul da Prussia, usado em Goiânia para césio 137. Existem outras drogas que, se tomadas antes da contaminação interna, saturam o órgão de deposição e quando o material radioativo chega encontra o órgão bloqueado e então passa a ser rapidamente eliminado pelas vias urinárias.

26. Como as pessoas podem se proteger da radiação ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento de Radioproteção Ambiental, responde:
As pessoas podem se proteger da radiação de três maneiras diferentes, a saber: mantendo distancia da fonte, permanecendo o tempo mínimo possível próximo à fonte e quando estas duas não forem suficientes interpondo um meio absorvedor de radiação entre a fonte e o indivíduo, conhecido como blindagem.
Até um metro de distância, sem duvida este é o melhor método de se proteger da radiação, pois para aquela pouco penetrante geralmente não alcança esta distancia e aquela muito penetrante a sua intensidade diminuí com o inverso da quadrado da distancia, isto é, quando a distancia de 1 cm vai para 100 cm a intensidade diminuí de um fator.
100^2 = l0.000, porém quando vamos de 1 m para 4 m a intensidade diminui de fator 4^2 = 16 e portanto muito pouco.
Com relação ao tempo de permanência próximo a fonte, a dose de radiação é diretamente proporcional ao tempo e portanto se reduzirmos o tempo à metade também a dose será reduzida à metade.
No caso da necessidade de blindagem deveremos usar manipuladores manuais ou telemanipuladores para o manuseio da fonte enquanto que até 1 m de distancia do corpo do indivíduo basta o uso de pinças ou garras.

27. Que tipo de blindagem é mais adequada que deter a radiação ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento de Radioproteção Ambiental, responde:
Depende do tipo de radiação, para aquela pouco penetrante como radioisótopos emissores alfa basta uma folha de papel comum para que a radiação seja totalmente absorvida; já para os emissores beta são necessários 0,5 cm de espessura de plástico. Para a radiação muito penetrante como raios X e gama que são radiações eletromagnéticas similares a luz visível, mas com um comprimento de onda muito menor são necessários materiais de grande densidade específica; daí o uso do chumbo, mais barato, urânio empobrecido e tungstênio , o mais caro. Poderia também ser usada a platina, mas seu preço a torna proibitiva.
No caso dos nêutrons, para a sua absorção são necessários materiais de numero atômico pequeno e o melhor seria o hidrogênio mas é gasoso, e por isso mesmo usam-se materiais hidrogenados como água ou parafina. Também são usados o boro e o carbono.


Fonte: Ipen
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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