A
descoberta da radiação
O fenômeno da
radioatividade foi descoberto pelo físico francês
Henri Becquerel, em 1896. Becquerel realizou diversos
estudos e verificou que sais de urânio emitiam
radiação semelhante à dos raios-X,
impressionando chapas fotográficas.
O fenômeno da
radiação
Se um átomo
tiver seu núcleo muito energético, ele
tenderá a estabilizar-se, emitindo o excesso
de energia na forma de partículas e ondas.
Radiação
alfa, Beta e Gama
As radiações
alfa e beta partículas que possuem massa, carga
elétrica e velocidade. Os raios gama são
ondas eletromagnéticas ( não possuem
massa ), que se propagam com a velocidade de 300.000km/s.
O que é meia-vida
dos elementos
Cada elemento radioativo
se transmuta a uma velocidade que lhe é característica.
Meia-vida é o tempo necessário para
que a sua atividade radioativa seja reduzida à
metade da atividade inicial.
Após o primeiro período de meia-vida,
somente a metade dos átomos radioativos originais
permanecem radioativos. No segundo período,
somente 1/4 , e assim por diante. Alguns elementos
possuem meia-vida de frações de segundos.
Outros, de bilhões de anos.
O que são isótopos
Isótopos são
átomos de um mesmo elemento químico,
porém com massas diferentes. Quando o isótopo
é radioativo, é chamado de radioisótopo.
Radioisótopos para uso na indústria,
na medicina, na agricultura e em pesquisas científicas
são produzidos artificialmente. Na medicina
são chamados de radiofármacos.
A irradiação
Irradiação
é a exposição de um objeto ou
um corpo à radiação, o que pode
ocorrer à distância, sem necessidade
de contato. Irradiar, portanto, não significa
contaminar.
Bomba de Cobalto: utilização de irradiação
para tratamento de tumores.
A contaminação
Contaminação,
radioativa ou não, caracteriza-se pela presença
indesejável de um material em local onde não
deveria estar.
No caso de materiais radioativos, a contaminação
gera irradiações.
Para descontaminar um local, retira-se o material
contaminante. Sem o contaminante o lugar não
apresentará irradiação, nem ficará
radioativo, irradiação não contamina,
mas contaminação irradia.
Aplicações
da radiação
A radioatividade tem
três campos de aplicação para
fins pacíficos: médico, quando se aproveita
sua capacidade de penetração e perfeita
definição do feixe emitido para o tratamento
de tumores e diversas doenças da pele e dos
tecidos em geral; industrial, nas áreas de
obtenção de energia nuclear mediante
procedimentos de fissão ou ruptura de átomos
pesados; e científico, para o qual fornece,
com mecanismos de bombardeamento de átomos
e aceleração de partículas, meios
de aperfeiçoar o conhecimento sobre a estrutura
da matéria nos níveis de organização
subatômica, atômica e molecular.
Materiais radioativos são utilizados também
na fabricação de substâncias fluorescentes
e de relógios científicos, que se baseiam
nos fundamentos da geocronologia e da cosmocronologia
para obter medidas precisas de tempo.
Quem atende à
emergências radiológicas e nucleares
Para o atendimento
à emergências no estado de São
Paulo, o IPEN mantém um grupo de técnicos
especializados.
Se você encontrar material radioativo ou tomar
conhecimento de material radioativo fora das condições
normais de uso, contate imediatamente a Área
de Atendimento à Emergências Radiológicas
e Nucleares no Estado de São Paulo.
Telefones: (11) 3816 - 9000 / (11) 9982-3860
Atendimento: 24 horas por dia
Efeitos biológicos
A atividade de uma
substância radioativa é determinada pelo
número de transformações que
ela sofre por unidade de tempo. A unidade internacional
estabelecida para medir essa grandeza, denominada
curie (Ci), se define como a quantidade de substância
radioativa que produz o mesmo número de desintegrações
que um grama de rádio e equivale a 3,7 x 1010
desintegrações por segundo.
A radiação gama, de efeitos extremamente
nocivos para a vida, se mede em röntgen (R),
como os raios X. Essa unidade é definida como
a quantidade de radiação capaz de produzir
um determinado número de íons (átomos
com carga elétrica) numa certa quantidade de
ar, sob condições fixas de temperatura
e pressão. O rad é a unidade de medida
de exposição local à radiação
e equivale a cem ergs por grama.
O efeito biológico causado pela irradiação
prolongada do corpo humano se avalia segundo o fator
de qualidade da radiação (Q), que estabelece
quantas vezes o efeito biológico causado por
um dado tipo de radiação excede aquele
provocado pela radiação gama de mesma
dose. A dose equivalente (DEQ), cuja unidade é
o rem, se define como a quantidade de radiação
que causa o mesmo efeito biológico que uma
dose de um rad de raios X ou radiação
gama.
O limite aceitável de radioatividade para o
corpo humano é de aproximadamente meio rem
por semana. A tolerância de radioatividade varia
ligeiramente entre os organismos vivos, mas uma dose
generalizada de centenas de rem ocasiona sempre graves
lesões e mesmo a morte. A administração
local de uma radiação de milhares de
rem, porém, contribui para eliminar tumores
de pele e de outros órgãos do corpo.
Radiação
no meio ambiente
A experiência
de diversos países indica que a energia nuclear
é segura e confiável e não polui
o meio ambiente. A operação de usinas
nucleares não produz gás carbônico
(CO2) ou qualquer outro gás que contribui para
o efeito "estufa" nem dióxido de
enxofre (SO2) ou óxidos de nitrogênio
(NOx), causadores da "chuva ácida".
Hoje em dia, a utilização da energia
nuclear NO MUNDO para produção de energia
elétrica evita a emissão de cerca de
2,2 bilhões de toneladas de CO2 por ano.
As usinas nucleares requerem pequenas áreas
para a sua instalação, podendo ser construídas
próximo aos grandes centros consumidores e
evitando a degradação do meio ambiente.
O que faz o Laboratório de Monitoração
Ambiental?
O Laboratório de Monitoração
Ambiental tem como objetivo principal elaborar, implementar
e executar os programas e estudos necessários
para permitir a avaliação dos possíveis
impactos causados pela operação da Central
Nuclear no meio ambiente e na população
da região.
Criado em 1978, o Laboratório fica em Mambucaba,
a aproximadamente 10 km da Central Nuclear Almirante
Álvaro Alberto (CNAAA), desenvolvendo um trabalho
ambiental permanente na região entre Angra
dos Reis e Paraty. Um grupo de 14 técnicos,
entre biólogos, físicos e químicos,
altamente especializados nas áreas de radiometria,
radioquímica, química e biologia, executa
os programas de monitoração ambiental,
cumprindo as exigências dos órgãos
fiscalizadores nacionais e internacionais.
O controle de qualidade das análises de amostras
ambientais é realizado pelo Laboratório
através da sua participação nos
Programas de Intercomparação mantidos
pela Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA), pela Agência de Proteção
Ambiental (EPA/USA) e pelo Instituto de Radioproteção
e Dosimetria, da Comissão Nacional de Energia
Nuclear (IRD/CNEN).
Entre as tarefas realizadas pelo laboratório,
destacamos os estudos pré-operacionais desenvolvidos
no período de julho de 1979 a outubro de 1981,
para a medição dos níveis de
radioatividade natural e artificial e estudos populacionais
dos seres vivos - flora e fauna - que habitam o ambiente
marinho local.
Atualmente, faz parte das suas atividades a coleta
de amostras ambientais como algas, microanimais, animais
de fundo e peixes; registro e estocagem de amostras
testemunhos, análises físico-químicas
e radiométricas de amostras, medidas instantâneas
de radiação e a avaliação
da biomassa, onde é verificado o tamanho da
população de diversos organismos do
ambiente marinho da região.
Anualmente, os resultados destes estudos são
comparados aos dados iniciais do Programa Pré-operacional,
com o objetivo de avaliar a influência da implantação
da usina nos meios monitorados. Até o presente,
as únicas variações - certa diminuição
da diversidade das algas pardas e aumento na população
de moluscos - foram observadas apenas no ponto de
coleta mais próximo da descarga de efluentes
líquidos da usina (aproximadamente 200m) e
são devidas ao incremento térmico causado
por estes efluentes. As demais populações
permanecem com as mesmas características da
fase pré-operacional.
Césio - 137:
O caso de Goiânia
Era 13 de setembro
de 1987. Um aparelho de radioterapia contendo césio-137
encontrava-se abandonado no prédio do Instituto
Goiano de Radioterapia, desativado há cerca
de 2 anos. Dois homens, Roberto e Wagner, à
procura de sucata, invadiram o local e encontraram
o aparelho, que foi levado e vendido ao dono de um
ferro-velho.
Durante a desmontagem do aparelho, foram expostos
ao ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137
(CsCl), pó branco semelhante ao sal de cozinha,
no entanto, brilha no escuro com uma coloração
azulada.
Encantado com o brilho do pó, o dono do ferro-velho
passou a mostrá-lo e até distribuí-lo
a amigos e parentes.
Os primeiros sintomas da contaminação
(tonturas, náuseas, vômitos e diarréia)
apareceram algumas horas depois do contato com o pó,
levando as pessoas a procurar farmácias e hospitais,
sendo medicadas como portadoras de uma doença
contagiosa. Os sintomas só foram caracterizados
como contaminação radioativa em 29 de
setembro, depois que esposa do dono do ferro-velho
levou parte do aparelho desmontado até a sede
da Vigilância Sanitária.
Quatro pessoas morreram. Segundo a Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN), além delas,
de 112.800 pessoas que foram monitoradas, 129 apresentaram
contaminação corporal interna e externa.
Destas, 49 foram internadas e 21 exigiram tratamento
médico intensivo.
A propagação do césio-137 para
as casa próximas onde o aparelho foi desmontado
se deu por diversas formas. Merece destaque o fato
de o CsCl ser higroscópico, isto é,
absorver água da atmosfera. Isso faz com que
ele fique úmido e, assim, passe a aderir com
facilidade na pele, nas roupas e nos calçados.
Levar as mãos ou alimentos contaminados à
boca resulta em contaminação interna
do organismo.
Os trabalhos de descontaminação dos
locais afetados produziram 13,4 t de lixo contaminado
com césio-137: roupas, utensílios, plantas,
restos de solo e materiais de construção.
O lixo do maior acidente radiológico do mundo
está armazenado em cerca de 1.200 caixas, 2.900
tambores e 14 contêiner em um depósito
construído na cidade de Abadia de Goiás,
vizinha a Goiânia, onde deverá ficar,
pelo menos 180 anos.
Quatorze anos depois, o governo de Goiás pretende
incluir mais 600 pessoas na lista de vítimas
do acidente com o césio 137. O Ministério
Público Estadual afirma que, nos últimos
anos, oito pessoas morreram em conseqüência
de doenças provocadas pelo césio. E
estas mortes nunca entraram nas estatísticas
oficiais.
O policial militar Marques Rodrigues foi um dos soldados
que trabalharam na segurança da área
contaminada pelo Césio 137. Hoje tem câncer
no cérebro e se aposentou por invalidez.
O acidente foi em 1987. O dono de um ferro-velho em
Goiânia abriu a cápsula de Césio
de um aparelho de radioterapia. Oficialmente quatro
pessoas morreram e 250 foram contaminadas pelo material
radioativo.
Mas desde o acidente, policiais e funcionários
que trabalharam no local dizem que também foram
contaminados. "Motorista, mecânico, ajudantes,
foram os que mais trabalharam, mais sofreram. Já
morreram algum de câncer", diz o funcionário
Mario Rodrigues, funcionário aposentado.
Em março de 2001 o Ministério Público
instaurou inquérito para apurar as denúncias.
Funcionários que trabalharam na época
do acidente prestaram depoimento e fizeram exames.
E 14 anos depois do acidente com o césio 137
surge uma nova lista com nomes de vítimas.
O Ministério Público de Goiás
diz que outras 600 pessoas, entre elas o policial
Marques foram expostas à radiação.
E até agora não receberam nenhum tipo
de assistência. "São doenças
que começaram a surgir justamente a pós
a primeira década. Típico de quem sofreu
irradiação em baixas e médias
doses. E nós levantamos até agora oito
óbitos", diz o promotor Marcus Antônio
Ferreira.
O promotor mostra o atestado de óbito de um
funcionário do estado que trabalhou no local
do acidente. No atestado a causa da morte é
insuficiência respiratória. Mas os exames
mostram que ele tinha câncer nos rins e pulmões.
A Superintendência criada pelo governo do estado
para acompanhar as vítimas diz que é
difícil relacionar as mortes e as doenças
denunciadas agora ao acidente com o césio.
"Nós nunca vamos ter como provar isso.
No entanto eu acho que elas devem ser atendidas e
tratadas", acredita Maria Paula Curado, superintendente
da Fundação Leide das Neves.
O Estado e o Ministério Público fizeram
um acordo para que as novas vítimas, seus filhos
e netos recebam assistência médica e
indenização.
O que é lixo
atômico?
Lixo atômico
ou nuclear, como é conhecido popularmente,
é o que tecnicamente, nós da área,
designamos de "rejeito radioativo". Como
é sabido, toda e qualquer atividade humana
geram resíduos.
Quando estas atividades envolvem a utilização
de material radioativo.
Por Exemplo: usinas nucleoelétricas, hospitais,
industrias, clínicas, centros de pesquisas,
universidades) inevitavelmente dão origem a
rejeitos radioativos.
O rejeito radioativo é definido em norma como
sendo todo material resultante de atividades humanas,
que contém elementos radioativos acima dos
limites de isenção e para o qual não
há previsão de reutilização.
Estes limites são estabelecidos em normas da
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN-NE-6.02.
Licenciamento de Instalações Radioativas).
Quanto ao MAPA de onde está " espalhado
o lixo radioativo no mundo ", deve-se esclarecer
que o rejeito não fica espalhado, pois fica
confinado/dispostos em depósitos temporários
ou definitivos (repositórios).
O depósito temporário normalmente fica
no local das instalações geradoras.
No Brasil isto também está estabelecido
em norma, ou seja, toda instalação que
gera este tipo de rejeito deve prover meios de gerenciar
seus rejeitos e ter um local apropriado para armazená-los
até que os níveis de radioatividade
decresçam aos níveis de isenção.
O tempo necessário para isto acontecer depende
essencialmente do elemento radioativo, pois cada um
tem seu tempo de decaimento ou seja uma meia-vida.
A meia-vida é o tempo para que a radioatividade
de um elemento se reduza a metade.
Os repositórios de rejeitos são projetados
para confinar o rejeito por longos períodos
de tempo.
Os países mais desenvolvidos já possuem
estes repositórios, no BR está em estudos,
pois o volume de rejeitos não é tão
significante e os níveis de radioatividade
considerados baixos.
Manejo seguro e ambientalmente
saudável de resíduos radioativos
Base para a ação
Os resíduos radioativos são gerados
no ciclo dos combustíveis nucleares, bem como
nas aplicações nucleares (o uso de radionuclídeos
nucleares na medicina, pesquisa e indústria).
Os riscos radiológicos e de segurança
dos resíduos radioativos variam de muito baixos,
nos resíduos de vida curta e baixo nível
de radioatividade, até muito altos nos resíduos
altamente radioativos. Anualmente, cerca de 200.000
metros cúbicos de resíduos de nível
baixo e intermediário e 10.000 metros cúbicos
de resíduos de alto nível de radioatividade
(bem como de combustíveis nucleares consumidos
destinados à depósito definitiva) são
gerados em todo o mundo pela produção
de energia nuclear. Esses volumes estão aumentando
à medida que entram em funcionamento mais unidades
de geração de energia nuclear, se desmontam
instalações nucleares e aumenta o uso
de radionuclídeos. Os resíduos de alto
nível de radioatividade contêm cerca
de 99 por cento dos radionuclídeos e representam,
portanto, o maior risco radiológico. Os volumes
de resíduos das aplicações nucleares
são geralmente muito menores, de cerca de algumas
dezenas de metros cúbicos ou menos por ano,
por país. No entanto, a concentração
da atividade, especialmente em fontes de radiação
seladas, pode ser alta, justificando assim a adoção
de medidas de proteção radiológica
muito estritas. Deve-se manter sob exame cuidadoso
o crescimento dos volumes de resíduos.
O manejo seguro e ambientalmente saudável dos
resíduos radioativos, inclusive sua minimização,
transporte e depósito, é importante,
dadas as características deles. Na maioria
dos países com programas substanciais de energia
nuclear tomaram-se medidas técnicas e administrativas
para implementar um sistema de manejo dos resíduos.
Em muitos outros países, que ainda estão
na fase preparatória para um programa nuclear
nacional, ou que possuem apenas aplicações
nucleares, subsiste a necessidade de sistemas desse
tipo.
Objetivo
O objetivo desta área de programas é
assegurar que os resíduos radioativos sejam
gerenciados, transportados, armazenados e depositados
de maneira segura, tendo em vista proteger a saúde
humana e o meio ambiente, dentro do panorama mais
amplo de uma abordagem interativa e integrada do manejo
e da segurança dos resíduos radioativos.
Atividades
(a) Atividades relacionadas com o manejo
Os Estados, em cooperação com as organizações
internacionais pertinentes, quando apropriado, devem:
1. Promover medidas políticas e práticas
para minimizar e limitar, quando apropriado, a geração
de resíduos radioativos e cuidar para que tenham
tratamento, acondicionamento, transporte e depósito
seguros;
2. Apoiar os esforços realizados dentro da
AIEA para desenvolver e promulgar normas ou diretrizes
e códigos de prática para os resíduos
radioativos como base internacionalmente aceita para
o manejo e a depósito segura e ambientalmente
saudável desses resíduos;
3. Promover o armazenamento, o transporte e a depósito
seguro dos resíduos radioativos, bem como das
fontes de radiação esgotadas e dos combustíveis
consumidos dos reatores nucleares destinados o depósito
definitiva, em todos os países e em especial,
nos países em desenvolvimento, facilitando
a transferência de tecnologias pertinentes para
esses países e/ou a devolução
ao fornecedor das fontes de radiação
depois de usadas, de acordo com as regulamentações
ou diretrizes internacionais pertinentes;
4. Promover o planejamento adequado, incluída,
quando for o caso, a avaliação do impacto
ambiental, do manejo seguro e ambientalmente saudável
dos resíduos radioativos, inclusive dos procedimentos
de emergência, do armazenamento, do transporte
e do depósito, antes e depois das atividades
que gerem esses resíduos.
(b) Cooperação e coordenação
internacional e regional
Os Estados, em cooperação com organizações
internacionais pertinentes, quando apropriado, devem:
1. Intensificar seus esforços para implementar
o Código de Prática sobre Movimentos
Transfronteiriços de Resíduos Radioativos
e, sob os auspícios da AIEA e em cooperação
com as organizações internacionais competentes
que tratam das diferentes maneiras de transporte,
manter a questão de tais movimentos em constante
exame, inclusive a conveniência de formalizar
um instrumento juridicamente compulsório;
2. Estimular a Convenção de Londres
a acelerar os trabalhos para completar os estudos
sobre a substituição da atual moratória
voluntária do depósito de resíduos
radioativos de baixa atividade no mar por uma proibição,
levando em consideração uma abordagem
de precaução , tendo em vista adotar
uma decisão bem informada e oportuna sobre
essa questão;
3. Abster-se de promover ou permitir o armazenamento
ou depósito de resíduos radioativos
de nível alto, médio ou baixo perto
do meio marinho, a não ser que se determine
que os dados científicos disponíveis,
em conformidade com os princípios e diretrizes
internacionalmente aceitos e aplicáveis, demonstrem
que tal armazenamento ou depósito não
representa um risco inaceitável para as pessoas
e o meio marinho, nem interfira em outros usos legítimos
do mar, fazendo-se, no processo de exame da situação,
uso apropriado do conceito de abordagem de precaução;
4. Abster-se de exportar resíduos radioativos
para países que, individualmente ou por meio
de acordos internacionais, proíbem a importação
desses resíduos, como as partes contratantes
do Convênio de Bamaco sobre a proibição
de importar resíduos perigosos para a África
e o controle dos movimentos transfronteiriços
desses resíduos dentro do continente africano,
o quarto Convênio de Lomé ou outros convênios
pertinentes em que se proíbe essa importação;
5. Respeitar, em conformidade com o direito internacional,
as decisões, na medida em que sejam aplicáveis
a eles, tomadas pelas partes em outros convênios
regionais pertinentes sobre meio ambiente que tratem
de outros aspectos do manejo seguro e ambientalmente
saudável dos resíduos radioativos.
Meios de implementação
(a) Financiamento e estimativa de custos
No plano nacional, os custos do manejo e depósito
de resíduos radioativos são consideráveis
e irão variar segundo a tecnologia utilizada
para o depósito.
O Secretariado da Conferência estimou o custo
total anual médio (1993-2000) para as organizações
internacionais da implementação das
atividades deste programa em cerca de $8 milhões
de dólares a serem providos pela comunidade
internacional em termos concessionais ou de doações.
Os custos reais e os termos financeiros, inclusive
as não concessionais, dependerão, inter
alia, das estratégias e programas específicos
que os Governos decidam adotar para implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
Os Estados, em cooperação com organizações
internacionais, quando apropriado, devem:
1. Promover pesquisa e desenvolvimento de métodos
para o tratamento, o processamento e o depósito
seguros e ambientalmente saudáveis, inclusive
para o depósito geológica profunda,
dos resíduos de alto nível de radioatividade;
2. Realizar programas de pesquisa e avaliação
relativos à determinação do impacto
sobre a saúde o meio ambiente do depósito
dos resíduos radioativos.
(c) Fortalecimento institucional e desenvolvimento
de recursos humanos
Os Estados, em cooperação com organizações
internacionais pertinentes, devem oferecer, quando
apropriado, assistência aos países em
desenvolvimento para que estabeleçam e/ou fortaleçam
a infra-estrutura de manejo de resíduos radioativos,
em que se incluem a legislação, organizações,
mão de obra especializada e instalações
para a manipulação, processamento, armazenagem
e depósito dos resíduos gerados pelas
aplicações nucleares. <<
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Perguntas e respostas
sobre radioatividade
1. Qual a distância
mínima recomendada para se assistir televisão
por tempo prolongado?
A Dra. Letícia L. C. Rodrigues, chefe do Departamento
de Calibração e Dosimetria, da Diretoria
de Segurança Nuclear, responde:
Segundo trabalhos desenvolvidos no Brasil pelo Instituto
de Pesquisas Energéticas e Nucleares sobre
"Taxas de Exposição de Raios-X
de Energias Baixas Emitidos por Televisores a Cores
e Terminais de Vídeo", concluiu-se que
a uma distância de 2 m da tela a radiação
X proveniente do tubo é desprezível.
O limite recomenda pela Agência Internacional
de Energia Atômica, IAEA, para trabalhadores,
a uma distância de 5cm do centro geométrico
da superfície da tela é de 1,3.10-7
C.kg-1.h-1 (0,50mR/h). A taxa de exposição
média determinada a 5cm do centro geométrico
da superfície da tela, independente do tamanho
da tela e da idade dos
televisores, foi de 1,3.10-8 C.kg-1.h-1 (0,050 mR/h),
dez vezes menor que o valor máximo recomendado
para a mesma geometria de irradiação.
Para os terminais de vídeo, à mesma
distância da superfície da tela, a taxa
de exposição média determinada
foi de 9,0.10-9C.kg-1.h-1 (0,035mR/h). Para as distâncias
entre 2 e 3m da superfície da tela dos televisores
em cores apenas foi detectada a radiação
natural do ambiente.
Desse modo, a distância mínima recomendada
é de 2m da tela.
Foram publicados 2 trabalhos, de nossa autoria, sobre
pesquisas desenvolvidas no IPEN:
"Measurements of the Exposure Rate Due to Low
Energy X-Rays Emitted from Video
Display Terminals"
Campos, L. L.
Appl. Rad. and Isotopes 39, 2 (1988) 173
"Determinação de Taxas de Exposição
de Televisores em Cores"
Campos, L. L.; Caldas, L.V.E.
IPEN Publ.-134 1988
2. Que tipo de rejeito
radioativo é gerado em reatores nucleares?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de
Rejeitos Radioativos, da Diretoria de Segurança
Nuclear, responde:
Num reator nuclear, a principal fonte de geração
de rejeitos radioativos é a fissão do
urânio que resulta em dois fragmentos de elementos
mais leves, como por exemplo, Estrôncio-90 e
Praseodímio-143, Zircônio-95 e Césio-137
(não necessariamente estes, mas centenas de
pares como estes cuja soma das massas é próxima
de 235) e que são todos radioativos. Estes
radionuclídeos ficam retidos dentro das varetas,
mas uma pequena parte pode escapar para o refrigerante,
contaminando-o. A outra fonte é a ativação
das estruturas do reator pelos nêutrons. Os
materiais de construção do vaso de pressão,
das varetas, da estrutura dos elementos combustíveis
etc. são escolhidos para que tenham uma baixa
probabilidade de reagir com os nêutrons e formar
isótopos radioativos. Mesmo assim uma pequena
parte é ativada e se torna radioativa. Depois
de ativadas as substâncias radioativas continuam
no interior dos materiais, mas por corrosão,
erosão ou dissolução, parte delas
acaba por entrar no fluxo de refrigerante, contaminando-o
também. Estas substâncias radioativas
são continuamente removidas, concentrando-se
nos filtros, mas uma parte contamina os materiais
dentro do reator.
Equipamentos de proteção individual,
tais como luvas, aventais, máscaras etc., ferramentas,
vidraria de laboratório etc. contaminados com
estas substâncias radioativas constituem o rejeito
radioativo; os filtros de ar e os filtros de purificação
do refrigerante são também rejeito radioativo;
as partes de equipamento substituídas, idem.
Todos estes rejeitos são classificados como
rejeitos de atividade baixa e média.
Os elementos combustíveis, com os produtos
de fissão e o que restou de urânio, constituem
os rejeitos de atividade alta.
3. Como proceder para
retirar pára-raios radioativos e como encaminhá-los
?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de
Rejeitos Radioativos, da Diretoria de Segurança
Nuclear, responde:
A Comissão Nacional de Energia Nuclear, CNEN,
através da Resolução No. 4/89,
de 18 de abril de 1989, suspendeu a autorização
para a fabricação e instalação
de pára-raios radioativos.
Os pára-raios que estiverem instalados devem
ser substituídos por pára-raios convencionais,
atendendo a decisão da prefeitura de cada município.
Quando substituído, um pára-raios radioativo
passa a ser rejeito radioativo e deve ser recolhido
à CNEN. Quem deve providenciar a substituição
é o proprietário da edificação
e esta substituição pode ser feita por
qualquer pessoa, mas é preferível que
seja feita por um profissional experiente porque em
geral os pára-raios estão em locais
de difícil acesso e há riscos de queda.
Além disso para que o prédio fique adequadamente
protegido contra raios é necessário
verificar se o aterramento da instalação
está adequado e se o número de captores
é suficiente para o tamanho e altura do prédio.
O ideal é contratar uma empresa de instalações
elétricas.
Os cuidados que devem ser tomados em relação
à radiação e à contaminação
estão descritos em uma cartilha fornecida gratuitamente
pelo IPEN aos interessados.
É muito importante que a pessoa entre em contato
com o IPEN antes de realizar a substituição
porque além das medidas de proteção
que devem ser tomadas, a cartilha dá instruções
sobre como fazer a embalagem, o transporte e a entrega
do material à CNEN e é acompanhada dos
documentos exigidos pelo DNER para o transporte de
material radioativo.
Os telefones de contato são (011) 3816-9240
e 3816-9241
4. O que é,
exatamente, lixo atômico ?
A Dra. Laura Sakiko Endo, chefe do Departamento de
Rejeitos Radioativos, da Diretoria de Segurança
Nuclear, responde:
Lixo atômico ou nuclear, como é conhecido
popularmente, é o que tecnicamente, nós
da área, designamos de "rejeito radioativo".
Como é sabido, toda e qualquer atividade humana
geram resíduos. Quando estas atividades envolvem
a utilização de material radioativo
( por exemplo: usinas nucleoelétricas, hospitais,
industrias, clínicas, centros de pesquisas,
universidades) inevitavelmente dão origem a
rejeitos radioativos.
O rejeito radioativo é definido em norma como
sendo todo material resultante de atividades humanas,
que contém elementos radioativos acima dos
limites de isenção e para o qual não
há previsão de reutilização.
Estes limites são estabelecidos em normas da
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN-NE-6.02.
Licenciamento de Instalações Radioativas).
Quanto ao MAPA de onde está " espalhado
o lixo radioativo no mundo ", deve-se esclarecer
que o rejeito não fica espalhado, pois fica
confinado/dispostos em depósitos temporários
ou definitivos (repositórios).
O depósito temporário normalmente fica
no local das instalações geradoras.
No Brasil isto também está estabelecido
em norma, ou seja, toda instalação que
gera este tipo de rejeito deve prover meios de gerenciar
seus rejeitos e ter um local apropriado para armazená-los
até que os níveis de radioatividade
decresçam aos níveis de isenção.
O tempo necessário para isto acontecer depende
essencialmente do elemento radioativo, pois cada um
tem seu tempo de decaimento ou seja uma meia-vida.
A meia-vida é o tempo para que a radiaotividade
de um elemento se reduza a metade.
Os repositórios de rejeitos são projetados
para confinar o rejeito por longos períodos
de tempo.
Os países mais desenvolvidos já possuem
estes repositórios, no BR está em estudos,
pois o volume de rejeitos não é tão
significante e os níveis de radioatividade
considerados baixos.
5. Quanto lixo atômico
o planeta agüenta acumular ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de
Rejeitos Radioativos, responde:
Como você já deve saber, as respostas
as suas perguntas são complexas, envolvem muitos
conhecimentos e, igualmente ao tema da geração
e consumo de energia, podem estar sujeitas a preferências
pessoais, crenças, ideologias e outras coisas
que influem na abordagem dita estritamente científica.
Contudo, vou procurar respondê-las fazendo uma
explanação que mostre alguns dos argumentos
que tem sido levantados contra e a favor da energia
nuclear neste debate que já dura perto de 30
anos e em que se envolveram grandes cientistas, em
ambos os lados da contenda.
A Terra tem uma capacidade limitada para suportar
nosso lixo sem que ocorram mudanças irreversíveis.
Até certas quantidades de materiais estranhos,
os ecossistemas da Terra assimilam sem se degradar
mas acima destes limites a capacidade de acomodação
se extingue e ocorrem alterações que
afetam o equilíbrio ecológico e podem
impedir a sobrevivência de espécies animais
e vegetais. Isto vale para os rejeitos radioativos,
para os resíduos industriais, para o lixo doméstico
e para o esgoto de nossas cidades. Se não forem
tomadas as devidas precauções, as conseqüências
podem ser graves. Alguns exemplos: as condições
dos rios que atravessam São Paulo, contaminados
com esgotos; o episódio da Baia de Minamata
no Japão, contaminada com mercúrio;
a contaminação de rios da ex-União
Soviética e do lençol subterrâneo
de água da Reserva de Hanford nos Estados Unidos
com materiais radioativos, por causa de seus programas
militares e muitos outros. Estes países tiveram
ou estão tendo que gastar muito dinheiro para
restaurar as condições normais nos locais
afetados.
Como os rejeitos radioativos decaem, isto é,
perdem a radioatividade com o passar do tempo, os
órgãos de controle exigem que os rejeitos
sejam tratados, embalados e armazenados de forma a
que fiquem isolados da biosfera até que não
ofereçam mais risco ao meio ambiente e a saúde
humana. Para os rejeitos com meia-vida curta, isto
é, que perdem a radioatividade rapidamente
não ha dificuldades em se garantir isto por
que as tecnologias empregadas já foram exaustivamente
testadas em muitos países. O problema está
nos rejeitos que levam milhares de anos para decair:
Como garantir que continuem isolados ate decaírem
totalmente num futuro
longínquo? Aqueles que trabalham neste problema,
os especialistas em gerenciamento de rejeitos radioativos,
garantem que as soluções encontradas
são aceitáveis, isto é, que são
suficientemente seguras (quando digo que eles garantem,
quero dizer que demonstram cientificamente a segurança
do método e que tem convicção
sincera na segurança dos rejeitos e não
estão brincando com a saúde de nossos
descendentes). Eles propõem que os rejeitos
de alta atividade sejam colocados em cavernas seladas
em maciços rochosos a 800 - 1000 metros
de profundidade, de onde há muito pouca chance
de virem, algum dia, causar mal a alguém. Os
opositores não aceitam aquela demonstração
por uma razão muito simples: não confiam
que as coisas se comportarão como previsto
nos modelos dos especialista em rejeitos, de que não
ocorrerá intrusão de pessoas desavisadas
ou mal intencionadas no repositório dos rejeitos,
de que não ocorrerão mudanças
ambientais que irão expor os rejeitos a biosfera,
ou de que não ocorrerão catástrofes
naturais ou provocadas que venham a romper o repositório
e irradiar as pessoas e outros seres vivos."
6. Qual o grau de garantia
dos recipientes que recebem o lixo radioativo ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de
Rejeitos Radioativos, responde: "A fase mais
perigosa para os recipientes esta no transporte dos
rejeitos. Dependendo do grau de radiação
do rejeito exige-se um tipo mais robusto de recipiente,
que pode ser de um simples tambor metálico
até recipientes especiais que devem suportar
condições severas de acidente, tais
como fogo por várias horas, o impacto de trens
em alta velocidade, a queda sobre superfícies
duras e pontiagudas, imersão em água
etc. Na prática, estes recipientes tem demonstrado
que
atendem aos requisitos de segurança impostos
pelos órgãos de controle para cada grau
de periculosidade dos rejeitos."
7. Há lugar
suficiente para armazenar o lixo radioativo sem prejudicar
a humanidade ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de
Rejeitos Radioativos, responde: "O volume dos
rejeitos radioativos é muito pequeno quando
comparado com o volume de outros rejeitos industriais
perigosos. Uma característica dos rejeitos
radioativos é que são bastante concentrados
em comparação com outros rejeitos, não
havendo por isso problemas relacionados com o espaço
que ocupam. Mesmo que toda a energia elétrica
utilizada no mundo fosse de origem nuclear, ainda
assim a quantidade de rejeitos radioativos seria suficientemente
pequena para poder ser acomodada em repositórios
adequados e que, segundo seus propositores, não
prejudicaria o ser humano nem o meio ambiente."
8. Há controle
sobre a permanência do lixo radioativo ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de
Rejeitos Radioativos, responde: "Os rejeitos
radioativos, assim como todas as substâncias
radioativas, estão sob o controle de órgãos
licenciadores e fiscalizadores. Desta forma, todos
os locais que geram, processam ou armazenam rejeitos
radioativos devem ter documentação detalhada,
permanentemente a disposição das autoridades,
dando conta das quantidades, atividades, condições
de segurança, localização etc."
9. Qual o custo/benefício
de se utilizar energia nuclear sabendo-se que geram
rejeitos radioativos ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de
Rejeitos Radioativos, responde:
"Esta pergunta envolve três questões:
1. qual a relação custo/beneficio da
energia nuclear?;
2. quais as outras fontes de energia que podem ser
utilizadas para suprir as necessidades atuais e futuras
da humanidade?;
3. quais fontes aso mais "limpas"?
Respondendo de trás para frente:
Não existem fontes limpas de energia! Isto
é surpreendente para muitas pessoas mas é
a pura verdade. As fontes chamadas limpas, como solar,
eólica, biomassa etc. tem impactos ambientais
enormes que não são percebidos diretamente
pelas pessoas, mas que os especialistas conhecem e
já avaliaram. Alguém que diz que a energia
solar não é poluente não conhece
o problema. Vamos ver porque. Não se pode comparar
um reator nuclear como o de
Angra que produz 600 MW (megawatts = milhões
de watts) de energia com um painel solar que produz
2 kW (kilowatts = milhares de watts). É preciso
igualar a produção para poder fazer
a comparação. Então a comparação
deve ser entre um reator de 600 MW e 300.000 painéis
solares que produzam cada um 2 kW. Ocorre porem que
é muito grande a quantidade de materiais que
precisam ser minerados, processados e fabricados ate
que se tenha os 300.000 painéis solares e mais
as baterias para acumular a energia para os horários
em que não ha sol.
Alguns destes materiais podem ser muito poluentes
e perigosos como o chumbo, o mercúrio e o cádmio
das baterias, e no final das contas, quando se vai
comparar o risco real das duas fontes chega-se a conclusão
que não aso muito diferentes e ha ate uma ligeira
vantagem para a energia nuclear em termos de segurança.
Para sermos absolutamente corretos, é preciso
avaliar cuidadosamente cada uma das alternativas disponíveis,
examinando todos os custos e os riscos envolvidos
com cada fonte de energia, desde a mineração
de cada um dos materiais ate a disposição
final de todos os resíduos que forem gerados
durante toda a vida dos equipamentos, inclusive eles
próprios, seja um reator nuclear, seja um cata-vento,
seja um painel solar, seja
uma barragem de hidroelétrica. Nos países
em que estes estudos foram ou estão sendo feitos,
como Canada, Sucia, Suécia, Estados Unidos,
para citar alguns, o resultado surpreendente é
que, em termos de proteção ao meio ambiente
e a saúde humana, a energia nuclear é
melhor que a maioria das fontes Uma das fontes que
apresenta um desempenho ecológico melhor que
a energia nuclear é o gás natural. Contudo,
para voltar ao tema dos rejeitos radioativos, para
se extrair o gás natural produz-se um rejeito
radioativo de atividade bastante alta, devido aos
radionuclídeos naturais que se acumulam nos
poços de extração, tais como
urânio, tório, radio e outros, e que
se não for tratado adequadamente pode provocar
sérios danos.
Concluindo, quero dizer que a energia nuclear não
é o monstro que muitas pessoas pensam, ate
porque você ficaria surpreso com o tamanho da
lista de aplicações da energia nuclear
na medicina, industria, agropecuária, meio
ambiente, pesquisa etc. que fazem parte do seu dia
a dia, ate dentro de sua casa, sem você saber
e que para podermos continuar a usufruir dos benefícios
temos, infelizmente, que arcar com os custos.
10. Quanto tempo dura
a radiação dos lixos nucleares que possa
ser prejudicial à saúde ?
O pesquisador Roberto Vicente, do Departamento de
Rejeitos Radioativos, responde:
"O tempo que leva um rejeito radioativo para
tornar-se inócuo, depende de duas coisas:
- quais os radionuclídeos estão presentes
no rejeito
- qual o seu nível de radioatividade
Cada radionuclídeo tem uma meia-vida característica,
ou seja, um tempo de decaimento diferente. como os
rejeitos radioativos tem origem em muitas atividades
humanas diferentes e, em conseqüência disto,
contêm diferentes radionuclídeos, os
tempos de decaimento são característicos
de cada tipo de rejeito radioativo.
Para exemplificar:
O rejeito radioativo líquido que é gerado
rotineiramente num reator nuclear como o da usina
de Angra contém dezenas de radionuclídeos,
entre eles o Césio-137, o Cobalto-60, o Estrôncio-90
e o Telúrio-132. O Césio-137 e o Estrôncio-90
têm meia-vida de 30 anos aproximadamente; o
Cobalto-60 tem 5 anos e o Telúrio-132 tem 3
dias. A radioatividade do Telúrio-132 desaparece
em algumas semanas mas a do Césio-137 e do
Estrôncio-90, depois de 300 anos, ou seja, 10
meias-vidas, terão se reduzido somente a um
milésimo da atividade inicial (metade da metade
da metade da metade..., 10 vezes, que é igual
a um dividido por 2 elevado a 10) e por isso serão
necessários muitos séculos até
que a radioatividade se torne indetectável.
Nos laboratórios de análises clínicas
utilizam-se reagentes radioativos que contém
Trítio, um radioisótopo do Hidrogênio,
com 12 anos de meia-vida, para detectar doenças
como hepatite, AIDS e outras. O reagente utilizado
é jogado fora depois de cada análise
e constitui-se, a partir daí, em um rejeito
radioativo.
No tratamento do câncer, utiliza-se entre outras,
fontes de Rádio-226 que tem 1620 anos de meia-vida.
Depois de algum tempo de uso, estas fontes precisam
ser descartadas, tornando-se rejeitos radioativos.
Rejeitos radioativos hospitalares contêm Iodo-131,
que tem 8 dias de meia-vida e é utilizado em
exames de tireóide e em tratamento de certos
tipos de câncer.
Os detetores de fumaça dos alarmes de incêndio
contêm fontes de Amerício-241, o qual
tem 430 anos de meia-vida. Quando os detetores de
fumaça são substituídos, transformam-se
em rejeito radioativo.
Existem mais dezenas de aplicações na
área de medicina, indústria, agropecuária,
pesquisa etc.
que geram rejeitos radioativos com igual variedade
de radionuclídeos, mas estes exemplos já
bastam para você ter uma idéia sobre
isto.
Com relação ao nível de radioatividade,
em cada aplicação trabalha-se com níveis
diferentes de atividade e, portanto, nos rejeitos
a intensidade da radioatividade será correspondente.
Por exemplo:
As fontes de Amerício-241 dos detetores de
fumaça têm cerca de 10 kBq e estão
entre as menores fontes utilizadas ( 1Bq = 1 Becquerel
= 1 desintegração por segundo; 1 kBq
= 1000 Bq).
As fontes de Polônio-210 utilizadas para controlar
a espessura da folha na fábrica de papel têm
cerca de 300 MBq (1 MegaBq = 1 milhão de Bq).
As fontes de Irídio-192 usadas na inspeção
das soldas nas tubulações de gás
encanado têm cerca de 100 GBq ( 1 GigaBq = 1
bilhão de Bq)
As fontes de Cobalto-60 utilizadas na esterilização
de material cirúrgico têm atividade da
ordem de 10TBq (1 TeraBq = 1 trilhão de Bq)
Combinando as duas coisas, nível de radioatividade
inicial e meia-vida, percebe-se que o tempo que leva
para um determinado rejeito decair até níveis
que não causem riscos à saúde
varia muito.
Porém, na prática, existem três
alternativas de destinação dos rejeitos
radioativos de modo a que não afetem a saúde
da população:
Liberação imediata
Disposição em repositórios de
superfície
Disposição em repositórios profundos
A primeira alternativa corresponde ao lançamento
dos rejeitos no esgoto ou no lixo comum e se aplica
aqueles casos em que a combinação atividade/meia-vida
é tão baixa que o tempo que leva para
os radionuclídeos presentes nos rejeitos chegarem
ao homem é suficiente para que sejam atingidos
níveis seguros.
A segunda alternativa de destinação
se aplica à maioria dos rejeitos dos reatores
nucleares e das aplicações que já
mencionamos e corresponde à colocação
dos rejeitos em recipientes adequados e ao seu confinamento
em um tipo de trincheira revestida de concreto em
todos os lados, onde os rejeitos permanecem isolados
por tempos que variam de 50 a 300 anos.
Por fim, a última alternativa é a colocação
dos rejeitos em recipientes especiais e seu confinamento
em cavernas construídas especialmente, a centenas
de metros de profundidade que, depois de cheias e
completamente seladas e vedadas, devem isolar os rejeitos
por milhares de anos.
Esta é a destinação dos elementos
combustíveis queimados dos reatores, das fontes
de Rádio-226, das fontes de Amerício-241
e das fontes de alta atividade, como a do exemplo
que demos de esterilização de material
cirúrgico."
11. Gostaria de saber
se os efeitos da radioatividade são hereditários,
ou seja, se os filhos de pais afetados pela radioatividade
serão também atingidos.
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, da Supervisão
de Monitoração Ambiental, responde:
"Os filhos de pais irradiados poderão
ser afetados dependendo de qual parte do corpo dos
pais foi irradiada, e isto você poderá
entender lendo o texto abaixo.
Os efeitos biológicos produzidos pelas radiações
ionizantes podem ser de dois tipos diferentes, que
são:
Efeitos somáticos - são aqueles provenientes
de danos em células somáticas, como
por exemplo, as células da pele, pulmão,
fígado, osso, músculo etc. Quando essas
células do corpo humano são irradiadas
com uma alta dose de radiação ionizante
aparecerão danos no indivíduo irradiado
e esses danos não serão transmissíveis
aos descendentes, ou seja, não tem nenhum caráter
hereditário.
Efeitos hereditários - são aqueles provenientes
de danos (mutações) em células
germinativas, que são, no caso da mulher, os
óvulos e no caso do homem, os espermatozóides,
pois são essas células que darão
origem a um novo indivíduo. A radiação
ionizante, como uma série de outros agentes
conhecidos, pode provocar mutações nos
cromossomos das células germinativas, portanto,
quando um indivíduo tem as gônadas irradiadas
(ovários ou testículos), poderão
ocorrer mutações nos óvulos e
espermatozóides, que se usados na concepção
poderão acarretar defeitos genéticos
nos filhos dos pais irradiados.
Os tipos de mutações provocados pelas
radiações ionizantes são os mesmos
que os provocados por outros agentes, ou seja, mutações
dominantes, recessivas e ligadas ao sexo. Dependendo
do tipo de mutação que ocorreu, o dano
poderá se manifestar na primeira geração
do indivíduo irradiado."
12. Quais as conseqüências
se uma bomba atômica caísse hoje em algum
lugar ? Qual seria seu poder de destruição
?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento
de Radioproteção Ambiental, responde:
"A resposta a sua pergunta é bastante
complexa, mas tentaremos respondê-la da forma
mais clara possível.
A energia das bombas atômicas encontra-se inicialmente
como energia potencial dentro do núcleo dos
átomos. Certos isótopos, chamados de
fissionáveis, podem ser induzidos à
fissão pela absorção de nêutrons,
liberando outros nêutrons, isótopos radioativos
e energia.
Ex: 235U + nêutron -> 95Mo + 134Sm + 2 nêutrons
+ energia
Como você pode ver pela equação
acima, o núcleo de urânio fissiona-se
pela interação com o nêutron,
formando então dois outros isótopos
radioativos (chamados produtos de fissão),
mais dois nêutrons, acompanhados de liberação
de energia. Os dois nêutrons formados irão
então fissionar outros dois isótopos
de urânio, liberando quatro nêutrons e
mais energia e isto ocorrerá sucessivas vezes,
portanto, o número de fissões e a quantidade
de energia liberada aumenta exponencialmente, levando
ao que chamamos de reação em cadeia.
Além dos nêutrons que são liberados,
os produtos de fissão originados nesta reação
são núcleos instáveis e para
atingir a estabilidade emitem radiações
ionizantes como os raios gama, raios X, elétrons,
partícula alfa.
Quando a bomba atômica é detonada, forma-se
uma bola de fogo (cogumelo) contendo materiais radioativos.
Devido a sua alta temperatura (aproximadamente 300.000
oC) ela expande-se no ambiente ao seu redor, e os
materiais nela contidos são lançados
na atmosfera e posteriormente precipitam-se depositando-se
sobre a superfície da terra ( "fallout").
A explosão de uma bomba atômica libera
portanto grande quantidade de energia, que é
transferida para o ambiente ao redor por quatro mecanismos
distintos:
radiação térmica (calor) choque
mecânico (grande deslocamento de ar devido à
explosão) radiações nucleares
pulsos eletromagnéticos.
Os três primeiros mecanismos (calor, choque
mecânico e radiações nucleares)
geram significativos impactos diretos sobre os organismos
vivos resultando em um fenômeno conhecido como
injúria combinada, acarretando um grande número
de mortes e danos materiais. Os pulsos eletromagnéticos
afetam equipamentos eletrônicos e de telecomunicações.
A bomba de 12 kt ( 1 kiloton - kt - equivale a 1012
cal) lançada em Hiroshima foi responsável
por 45.000 mortes e danos a 90.000 outros indivíduos.
As explosões de Hiroshima e Nagasaki foram
um alerta para toda a humanidade do poder destruidor
desse tipo de artefato bélico, por outro lado,
foi a partir dessas explosões que o homem passou
a estudar melhor esse tipo de radiação
e seus efeitos, e foi, a partir daí que surgiram
os usos pacíficos das radiações
ionizantes. Só para você ter uma idéia,
as radiações ionizantes são hoje
em dia amplamente usadas na medicina, indústria,
agricultura e em aplicações ambientais
. Essas técnicas representam hoje um grande
avanço tecnológico e seria um retrocesso
muito grande se tivéssemos que abandoná-las.
Sugiro que você estude um pouco sobre os usos
pacíficos da energia nuclear e você ficará
surpreso diante das possibilidades abertas pelo uso
dessa tecnologia."
13. O que são
raios X e qual é o tipo de material utilizado
como "combustível" nos aparelhos
de raio X e que emitem radiação gama
?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento
de Radioproteção Ambiental, responde:
"Alguns tipos de radiação podem
ser sentidos, outros não. As radiações
emitidas pelo sol transferem energia para a terra
sob forma de luz e calor. Somos capazes de senti-las
pela luminosidade em nosso ambiente e pela elevação
da temperatura dos materiais e do nosso corpo. Já
as radiações ionizantes não podem
ser sentidas, sendo sua existência comprovada
através de medições realizadas
com aparelhos apropriados.
Essas radiações são aquelas que
ao interagir com a matéria, ionizam direta
ou indiretamente seus átomos ou moléculas,
por isso são chamadas de radiações
ionizantes.
Fonte de radiação refere-se a qualquer
aparelho ou material que emite ou é capaz de
emitir radiações ionizantes.
As principais radiações ionizantes são:
partículas alfa, partículas beta, raios
gama e raios X.
Tanto o raio X como o gama são fótons,
ou seja, radiações eletromagnéticas
semelhantes à luz, mas com uma freqüência
não visível muito mais alta.
Os raios X e gama possuem as mesmas características
e se comportam de maneira idêntica.
Embora possuam as mesmas propriedades, eles são
gerados a partir de processos diferentes.
A diferença essencial entre a radiação
gama e a radiação X está na sua
origem. O raio gama é originado no núcleo
e os raios X na eletrosfera dos átomos.
Para que tenhamos uma fonte de radiação
gama é necessário a presença
de átomos radioativos ("combustível")
nessa fonte. Esses átomos, por serem instáveis,
tendem a emitir essas radiações para
adquirir estabilidade. Como exemplo podemos citar
as fontes de Cobalto-60
(utilizadas na medicina para tratamento do câncer),
que são emissoras de radiação
gama.
No caso dos raios X utilizados na medicina para diagnóstico,
o que temos é um equipamento que quando ligado
à rede elétrica emite esses raios. A
parte deste equipamento onde são gerados os
raios X é conhecida como tubo de raio X. Quando
ligamos esse equipamento na rede elétrica,
passará por ele uma corrente elétrica
e esse tubo então emitirá elétrons
com uma determinada velocidade. Este feixe de elétrons
é dirigido para se chocar contra um alvo. A
desaceleração sofrida pelos elétrons
ao se chocarem no alvo produzirá o raio X.
Portanto, podemos concluir que os raios X são
emitidos como conseqüência da energia liberada
quando os elétrons são freados.
Portanto, como você pode ver, as fontes emissoras
de radiação gama possuem um material
radioativo ("combustível") que é
responsável por essas emissões, as quais
ocorrem de forma espontânea e continua (não
é possível "desligar" essa
fonte). No caso dos equipamentos de raios X, não
temos a presença de materiais radioativos ("combustível")
e sim uma máquina que emite esses raios. Neste
caso não temos uma emissão espontânea,
essas emissões só ocorrem quando a máquina
está ligada à rede elétrica."
14. Quais as normas
existentes sobre exames ocupacionais de pessoas que
prestam serviços radiológicos ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento
de Radioproteção Ambiental, responde:
"Duas normas, uma de âmbito federal e outra
estadual, legislam sobre o assunto, como segue:
Norma CNEN-NE-3.01 (Publicada no Diário Oficial
da União em 01 de agosto de 1988)
DIRETRIZES BÁSICAS DE Radioproteção
(Federal)
No seu item 1.2.1 - "Esta Norma aplica-se as
pessoas físicas e jurídicas envolvidas
na produção, uso, posse, armazenamento,
processamento, transporte ou deposição
de fontes de radiação".
No seu item 8.3 - "Controle dos trabalhadores",
sub-item 8.3.4 - "Os trabalhadores devem estar
sujeitos a controle médico, incluindo os seguintes
exames:
a. exame pré-ocupacional que verifique se o
trabalhador esta em condições normais
de saúde para iniciar sua ocupação,
incluindo uma analise de seu histórico médico
e radiologia sobre exposições anteriores;
b. exame periódico, de acordo com a natureza
da função e com a dose recebida pelo
trabalhador;
c. exame especial, para trabalhadores que tenham recebido
dose superiores aos limites primários estabelecidos
nesta Norma, ou quando o médico julgue necessário;
e d. exame pós ocupacional, imediatamente após
o termino da ocupação e, dependendo
do seu resultado, cuidados ou exames médicos
posteriores.
Resolução CNEN SS-625/94
(14 de dezembro de 1994) (Estadual)
No seu item 5.5 "Controles médicos"
Sub-item 5.5.1 - "Os trabalhadores deverão
estar sujeitos a controle médico, incluindo
pré-admissional, periódicos e demissional".
5.5.1.1 - O exame pré-admissional deverá
incluir exame psicotécnico, histórico
médico e radiologia sobre doses ocupacionais
anteriores, hemograma completo e contagem de plaquetas.
5.5.1.2 - Os exames periódicos deverão
ser semestrais e incluir exame clínico completo
e outros exames a critério do médico;
hemogramas completos e contagem de plaquetas,
poderão ser requeridos a cada dois anos para
manter registro do perfil hematológico do trabalhador.
5.5.1.3 - Para o pessoal ocupacionalmente exposto
ao iodo radioativo, deverá ser exigido resultado
de captação na tireóide, sem
administração adicional de iodo.
5.5.1.4 - O exame demissional deverá ser realizado
imediatamente após o término do vínculo
empregatício, devendo incluir, além
de exame clínico completo, hemograma e contagem
de plaquetas, resultados de todos os hemogramas e
contagem de plaquetas, histórico com todas
as doses ocupacionais e resultados de captação
de iodo pela tireóide, quando for o caso;
5.5.1.5 - Os resultados do exame demissional, bem
como os históricos, deverão ser obrigatoriamente
entregues ao trabalhador e, a critério médico,
acrescido de relatório de ocorrências
relacionadas a exposição ocupacional;
5.5.2 - Exames especiais
5.5.2.1 - Exames especiais serão requeridos
em casos de exposição a radiação
acima dos limites estabelecidos nesta Norma Técnica,
acidental ou deliberada em situações
de emergência;
5.5.2.2 - Os exames especiais serão definidos
por médico especialista ou pela autoridade
sanitária, no prazo máximo de 72 horas
após a ocorrência, contendo no mínimo
hemograma e contagem de plaquetas."
15. Atualmente, qual
a principal preocupação do IPEN em relação
ao lixo nuclear brasileiro ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento
de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"Em princípio todas as atividades humanas
geram resíduos, em maior ou menor quantidade
apresentando maior ou menor risco ao homem e ao meio
ambiente, o que não diferencia das atividades
da área nuclear. Tudo é uma questão
de se verificar se os benefícios introduzidos
por uma determinada prática são sempre
positivos em relação aos danos advindos
desta mesma prática (incluindo todos os custos
sociais). Todas as atividades na área nuclear
devem seguir este princípio, por norma. Entre
os danos computados está a geração
de rejeitos. No IPEN, as atividades com materiais
radioativos sempre trazem benefícios à
sociedade. Podemos citar, por exemplo, citar que anualmente
os radioisótopos produzidos pelo IPEN atendem
a cerca de 800.000 pacientes.
Os rejeitos gerados em todas as atividades do IPEN
são gerenciados pelo Departamento de Rejeitos
Radioativos. A Gerência de Rejeitos é
um conjunto de atividades técnico-administrativas
envolvidas com a coleta, segregação,
manuseio, tratamento, acondicionamento, transporte,
armazenamento, controle e deposição
de rejeitos radioativos, e mesmo no planejamento das
atividades geradoras de rejeitos.
No IPEN, os rejeitos são coletados, segregados,
tratados, acondicionados e armazenados num depósito
construído para essa finalidade. O tempo do
armazenamento depende da meia-vida e das atividades
dos radioisótopos presentes no rejeito. Além
disso, o nosso Departamento atende instituições
de todo o Estado de São Paulo e da região
Sul do país. O Departamento de rejeitos não
só gerencia rotineiramente os rejeitos, como
também mantém uma linha de pesquisa
e desenvolvimento nessa área, incluindo métodos
e processos para o tratamento, embalagens, materiais
e métodos para a deposição segura,
análises de segurança, entre outros.
Juntamente com o Departamento de Monitoração
Ambiental, cuidamos para que não haja descargas
ambientais indevidas."
16. Quais problemas
o lixo nuclear pode causar à saúde da
população e ao meio ambiente se não
for armazenado corretamente ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento
de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"O rejeito radioativo quando não devidamente
tratado e armazenado pelo tempo necessário,
causa os mesmos efeitos da radiação
ionizante, pois os riscos devidos ao rejeito é
a existência da radioatividade."
17. De que área
provém a maioria do rejeito nuclear no Brasil
?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento
de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"Basicamente, dividimos as origens do rejeito
em duas classes:
rejeitos do Ciclo do Combustível Nuclear (CCN)
rejeitos de aplicações nucleares O Ciclo
do Combustível Nuclear compreende todas as
fases para a obtenção do combustível
nuclear, composto por Urânio, desde a mineração,
beneficiamento do minério, purificação,
transformação no elemento combustível
e sua utilização no reator nuclear.
Rejeitos gerados em todas essas etapas contém
basicamente Urânio e seus derivados. Em termos
de volume, a maior parte é gerada na mineração
e beneficiamento do minério. Esses rejeitos
são depositados e armazenados no próprio
local da mineração. Exemplo: Poços
de Caldas.
Rejeitos de Aplicação são os
gerados na utilização de radioisótopos
na Medicina, Indústria e Pesquisa. Esses são
mais difíceis de caracterizar, por causa da
diversificação das aplicações
e dos radioisótopos utilizados, porém
são de níveis de atividade muito baixos
e de meias-vidas curtas.
Os rejeitos no Brasil, em ambos os casos, são
classificados de baixo nível. Entretanto, no
mundo existem também os rejeitos de nível
alto que são gerados nas operações
de reciclagem e recuperação do combustível
e aqueles originados em aplicações para
fins militares (EUA e antiga URSS)."
18. Quais os processos
pelos quais o lixo nuclear é submetido, desde
seu descarte até o dia que perde seu efeito
prejudicial ao homem e ao meio ambiente ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento
de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"O objetivo principal da gerência de rejeitos
é exatamente proteger o homem e seu meio ambiente
hoje e as gerações futuras dos efeitos
nocivos da radioatividade contida nos rejeitos.
Consegue-se isso através do confinamento desses
materiais. Porém, para confiná-los é
necessário fazê-lo de maneira adequada
para prevenir e evitar espalhamento, dispersão
e contaminação indevidos, além
de minimizar o volume de confinamente. Desenvolve-se
então métodos de tratamento, acondicionamento,
embalagens especiais para cumprir com esse objetivo.
O tempo necessário de confinamento depende
dos radioisótopos contidos no rejeito, e o
método de tratamento depende das características
físico-químicas do rejeito. Por isso,
antes de qualquer operação, separamos,
segregamos os rejeitos de acordo com sua natureza,
propriedades físico-químicas e radioativas
e depois partimos para o tratamento adequado.
Pode-se, assim, compactar os rejeitos sólidos,
solidificar rejeitos líquidos, imobilizar rejeitos
não compressíveis, pressurizar rejeitos
gasosos etc... Cada tipo de rejeito tem um método
adequado para o seu tratamento."
19. Existe no Brasil
um repositório nacional para rejeitos radioativos
?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento
de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"O Brasil ainda não tem o seu repositório
nacional, onde serão depositados todos os rejeitos
armazenados nas diversas instituições
do país ( IPEN em São Paulo, CDTN em
Belo Horizonte, Usina Angra I e IEN no Rio de Janeiro),
mas esta é mais uma questão política
e de aceitação pública do que
técnica."
20. Quanto é
gasto, por ano, aproximadamente, para se desfazer
o rejeito radioativo ?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento
de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"Na verdade não se desfaz do rejeito radioativo.
Ele deve ser confinado sempre que estiver acima dos
limites de isenção.
Com relação a custos, não tenho
dados da CNEN como um todo, ou mesmo com relação
a Usina de Angra I. O custo de gerenciamento do rejeito
de uma planta para geração nucleoelétrica,
computados o prazo de geração, tempo
de armazenamento, custos de armazenamento, transporte
e tratamento talvez seja da ordem de 1% da geração
elétrica. Na Espanha é da ordem de 0,9%
sobre a conta de energia elétrica."
21. Qual a quantidade
de rejeito radioativo produzido anualmente em Angra
?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento
de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"De acordo com o publicado no boletim semanal
Fonte Nuclear no 34, da ABEN (Associação
Brasileira de Energia Nuclear) a Usina Nucleoelétrica
de Angra I operou 368 dias, 24h a plena capacidade,
dos 385 dias ocorridos desde a última parada
para recarga de combustível. Este valor está
acima dos valores médios mundiais para esse
tipo de usina. Esta regularidade de operação
tem evitado blecaute na região do Rio de Janeiro
nos horários de pico.
Quanto ao rejeito radioativo em Angra I, desde a entrada
em operação em 1982, estão armazenados
em galpão coberto cerca de 5550 tambores de
200L contendo rejeitos de baixa atividade ( final
de 95). Não possuímos dados atualizados
de 96. Mas uma usina do porte de Angra I (660 MW)
deve gerar em torno de 400-500 tambores/ano.
22. Quais os principais
locais de armazenamento do lixo nuclear no Brasil
?
A pesquisadora Laura Sakiko Endo, do Departamento
de Rejeitos Radioativos do IPEN, responde:
"Os locais de armazenamento de rejeito existentes
atualmente são os chamados depósitos
temporários ou provisórios, pois o armazenamento
definitivo será no repositório nacional.
Os de mineração são em 3 locais;
os rejeitos da Usina de Angra I em galpão na
própria usina; os de aplicações
no IPEN (SP), CDTN (MG) e IEN (RJ). Os rejeitos armazenados
nesses institutos de pesquisa da CNEN são os
gerados nas chamadas aplicações nucleares,
ou seja, da grande maioria dos usuários de
radioisótopos (fontes industriais, fontes de
teleterapia, rejeitos de hospitais, universidades,
medidores industriais, pára-raios e ouros).
Existe também o repositório de Goiânia,
onde estão armazenados os rejeitos gerados
no acidente radiológico com a fonte de césio-137
ocorrido em 1987."
23. Qual é o
limite de dose para pessoas que trabalham com Energia
Nuclear ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento
de Radioproteção Ambiental, responde:
Existem dois tipos de limites interdependentes, isto
é, ambos devem ser satisfeitos O primeiro é
para efeitos estocásticos, isto é, efeitos
biológicos probabilísticos (canceres),
o seu valor é de 50 mSv/ano.
O segundo é para efeitos determinísticos,
isto é, efeitos biológicos que apresentam
um limiar de dose abaixo do qual o malefício
(doença) não é clinicamente detectado;
os seus valores são:
150 mSv/ano para o cristalino
500 mSv/ano para os demais órgãos
Os fatores de transformação das doses
nos órgãos para dose de corpo inteiro
para contribuírem na probabilidade de efeitos
estocásticos são conhecidos como fatores
de ponderação do tecido e representados
por WT.
24. Quantas fontes
nucleares existem no Brasil ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento
de Radioproteção Ambiental, responde:
Se considerarmos todas as fontes desde aquelas de
atividade muito pequena, geralmente utilizadas para
aferição de equipamento até aquelas
de grande porte utilizada na esterilização
de material cirúrgico, na produção
de radioisótopos como aceleradores e reatores,
na geração de energia elétrica,
reatores de potência, e na pesquisa teremos
várias dezenas de milhares de fontes.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear, entre
instituições ligadas à agricultura,
indústria, medicina e pesquisa tem catalogado
cerca de 5000 e a tendência é aumentar
a cada ano que passa.
25. Qual é a
diferença que existe entre a radiação
e a contaminação ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento
de Radioproteção Ambiental, responde:
Dizemos que um indivíduo é irradiado
quando ele recebe dose de radiação somente
durante a sua permanência no campo de radiação
. Quando ele sai do campo indo para outro lugar a
irradiação cessa.
Dizemos que o indivíduo está contaminado
quando, mesmo saindo do campo de radiação,
ele continua sendo irradiado, até a completa
eliminação do material radioativo que
carrega consigo.
Portanto, a contaminação pode ser de
dois tipos, externa e interna.
É externa, quando o material radioativo se
depositou sobre a pele do indivíduo e o irradia.
Existem processos químicos de remoção
do material radioativo sobre a pele, mas o cuidado
que se deve tomar é que o material, via poros
não penetre internamente no corpo e entre na
corrente sangüínea.
Diz-se que a contaminação é interna
quando o material radioativo entra na corrente sangüínea
e isto pode ser feito via pulmão para gases
(respiração), via intestino por deglutição
e via poros por contaminação externa.
O material radioativo uma vez na corrente sangüínea,
em parte é eliminado via urina passando pelos
rins e bexiga e em parte vai para órgãos
preferenciais de deposição. Por exemplo,
o iodo radioativo vai se depositar na tiróide,
o estrôncio radioativo nos ossos, o urânio
no pulmão, rins e ossos, etc.
A eliminação do material radioativo
depositado nos órgãos se dá por
dois processos, perda de sua atividade por processo
físico conhecido como decaimento radioativo
e processo biológico por eliminação
via corrente sangüínea pelo próprio
corpo. Os parâmetros que representam estes processos
são conhecidos como meia vida física
e meia vida biológica.
A soma de suas contribuições é
conhecida como meia vida efetiva. Atualmente existem
algumas drogas químicas capazes de acelerar
a eliminação biológica, exemplo
o azul da Prussia, usado em Goiânia para césio
137. Existem outras drogas que, se tomadas antes da
contaminação interna, saturam o órgão
de deposição e quando o material radioativo
chega encontra o órgão bloqueado e então
passa a ser rapidamente eliminado pelas vias urinárias.
26. Como as pessoas
podem se proteger da radiação ?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento
de Radioproteção Ambiental, responde:
As pessoas podem se proteger da radiação
de três maneiras diferentes, a saber: mantendo
distancia da fonte, permanecendo o tempo mínimo
possível próximo à fonte e quando
estas duas não forem suficientes interpondo
um meio absorvedor de radiação entre
a fonte e o indivíduo, conhecido como blindagem.
Até um metro de distância, sem duvida
este é o melhor método de se proteger
da radiação, pois para aquela pouco
penetrante geralmente não alcança esta
distancia e aquela muito penetrante a sua intensidade
diminuí com o inverso da quadrado da distancia,
isto é, quando a distancia de 1 cm vai para
100 cm a intensidade diminuí de um fator.
100^2 = l0.000, porém quando vamos de 1 m para
4 m a intensidade diminui de fator 4^2 = 16 e portanto
muito pouco.
Com relação ao tempo de permanência
próximo a fonte, a dose de radiação
é diretamente proporcional ao tempo e portanto
se reduzirmos o tempo à metade também
a dose será reduzida à metade.
No caso da necessidade de blindagem deveremos usar
manipuladores manuais ou telemanipuladores para o
manuseio da fonte enquanto que até 1 m de distancia
do corpo do indivíduo basta o uso de pinças
ou garras.
27. Que tipo de blindagem
é mais adequada que deter a radiação
?
A pesquisadora Sandra Ap. Bellintani, do Departamento
de Radioproteção Ambiental, responde:
Depende do tipo de radiação, para aquela
pouco penetrante como radioisótopos emissores
alfa basta uma folha de papel comum para que a radiação
seja totalmente absorvida; já para os emissores
beta são necessários 0,5 cm de espessura
de plástico. Para a radiação
muito penetrante como raios X e gama que são
radiações eletromagnéticas similares
a luz visível, mas com um comprimento de onda
muito menor são necessários materiais
de grande densidade específica; daí
o uso do chumbo, mais barato, urânio empobrecido
e tungstênio , o mais caro. Poderia também
ser usada a platina, mas seu preço a torna
proibitiva.
No caso dos nêutrons, para a sua absorção
são necessários materiais de numero
atômico pequeno e o melhor seria o hidrogênio
mas é gasoso, e por isso mesmo usam-se materiais
hidrogenados como água ou parafina. Também
são usados o boro e o carbono.
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