A utilização de
fósforo em detergentes em pó, para
neutralizar o cálcio e magnésio e
melhorar a sua eficiência, está trazendo
prejuízos à qualidade da água
dos reservatórios no Estado de São
Paulo. Esse elemento químico é o principal
responsável pelo desenvolvimento de algas,
algumas potencialmente tóxicas, que promovem
alteração na qualidade da água.
As implicações ambientais do uso de
fósforo em detergentes, além dos aspectos
econômicos e de mercado, foram o centro das
discussões realizadas hoje (30/4) no auditório
da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, durante
o Workshop "Implicações Ambientais
e Alternativas quanto ao Uso de Fósforo em
Detergente em Pó". Promovido pela Câmara
Ambiental das Atividades Produtivas da CETESB -
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental,
o objetivo do encontro é buscar um consenso
com o setor produtivo, para reduzir os impactos
dessa substância nos mananciais do Estado.
Dados recentes mostram que "86% dos rios e
reservatórios no Estado de São Paulo
apresentam situação bastante preocupante",
informou o presidente da CETESB, Dráusio
Barreto. A presença de fósforo em
concentração acima dos níveis
aceitáveis já atinge as represas como
a Billings e, de maneira especial, a do Guarapiranga.
"Nos sedimentos da Billings, por exemplo, atingem
valores de até 5.000 mg/kg, concentração
dez vezes superior à encontrada em ambientes
aquáticos não comprometidos por esse
nutriente", acrescentou.
Segundo José Eduardo Bevilacqua, químico
responsável pela Divisão de Qualidade
das Águas da CETESB, concentrações
de fósforo acima dos padrões recomendados
também foram encontradas nos reservatórios
de Ponte Nova, de Pirapora do Bom Jesus e de Barra
Bonita. "O fósforo, atualmente, é
um dos principais problemas de poluição
dos nossos mananciais", afirmou.
As fontes de fósforo nos esgotos são
diversas. Mas a contribuição dos detergentes
em pó (que utiliza principalmente o tripolifosfato
de sódio, ou STPP) é significativa.
O fósforo proveniente da dieta humana é
estimada em 1,2 a 1,5 grama diário, perfazendo
3,0 g/hab/dia em decorrência do uso de detergentes
em pó. Isso representa aumento que pode chegar
a 125%, conforme pesquisas realizadas na Alemanha,
Inglaterra e Estados Unidos.
Segundo Dráusio Barreto, se considerarmos
que 70% da população da Região
Metropolitana de São Paulo, estimada em 19
milhões de habitantes, seja consumidora de
detergentes em pó, "temos um acréscimo
de fósforo da ordem de 25 toneladas diárias
nos esgotos domésticos".
De acordo com a ABIPLA - Associação
Brasileira das Indústrias de Produtos de
Limpeza e Afins, que reúne 50 empresas, o
setor movimentou US$ 4,3 bilhões em 2000.
Somente o segmento de sabões e detergentes
movimentou US$ 2,4 bilhões, oferecendo emprego
direto para 15 mil trabalhadores.
Restrições
Alguns países já
impõem pesadas restrições à
presença de fósforo na composição
de detergentes, chegando a ser proibida em alguns
estados americanos. Na Europa, apenas 25% dos detergentes
em pó contém fósforo na sua
composição, e no Japão, somente
10%. No Canadá, o limite máximo permitido
é de 2,2% em peso, enquanto no Brasil esse
percentual é, em média, de 3,5%.
O uso do fósforo deve-se principalmente à
sua capacidade de reação com elementos
como cálcio e magnésio, que dificultam
a ação surfactante dos detergentes.
O cálcio e o magnésio são os
responsáveis pela "dureza" da água
que, no Estado de São Paulo, atinge valores
entre 12 a 53 microgramas por litro, no caso de
águas brutas. Segundo a SABESP, a dureza
das águas tratadas na Região Metropolitana
de São Paulo oscila em torno de 60 microgramas
por litro. Já no Brasil, as águas
brutas apresentam valores de dureza inferiores a
80 microgramas por litro, enquanto em países
como Canadá, Estados Unidos, Alemanha e Japão
esse valor é superior a 300 microgramas por
litro.