Panorama
 
 
 

ISA APONTA FRAGILIDADE DA 6º CONFERÊNCIA
SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Abril de 2002

Na avaliação de Nurit Bensusan, coordenadora de Biodiversidade do Instituto Socioambiental (ISA), que participou da conferência como observadora, a reunião não teve avanços significativos. A coordenadora faz ainda análise crítica sobre as posições da delegação brasileira na reunião, que recebeu o prêmio “motosserra de ouro”, dedicado àqueles que mais “atrapalharam” as negociações à promoção do uso sustentável e à conservação das florestas da convenção

No dia 19/04, encerrou-se, em Haia, na Holanda, mais uma conferência dos países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Derivada da Rio-92, a convenção que está completando 10 anos, possui três grandes objetivos: a conservação da biodiversidade, a promoção de seu uso sustentável e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios oriundos da utilização racional da biodiversidade. Essa foi a 6ª conferência dos membros da convenção, que já somam 183 países. É o fórum máximo de decisões, por meio do qual a implementação da CDB avança ou não.

Nessa reunião, as discussões mais importantes giraram em torno da adoção de um programa sobre biodiversidade florestal, de diretrizes para o acesso e a repartição dos benefícios derivados do uso dos recursos genéticos e de um plano estratégico de implementação da convenção. Vários outros assuntos foram debatidos, como uma estratégia global para a conservação de plantas, medidas contra espécies exóticas e invasoras e a relação entre conhecimento tradicional e acesso a recursos genéticos. Apesar da amplitude e da importância dos temas, não é possível dizer que avanços significativos foram realizados.

Diretrizes para o acesso aos recursos genéticos e repartição dos benefícios derivados desse uso

Não há dúvidas de que as diretrizes adotadas para o acesso aos recursos genéticos e para a repartição dos benefícios pelos países representam um passo importante no sentido de reforçar a importância da garantia de revelação do país de origem do recurso genético e do uso do conhecimento tradicional associado. O Brasil insistiu numa definição clara de país provedor de recurso genético, contribuindo para a que as diretrizes não se prestem a interpretações equivocadas.

A adoção dessas diretrizes é também importante para o equilíbrio entre os três objetivos da convenção e para estabelecer um mandato mais claro da CDB sobre a questão da propriedade intelectual dos recursos genéticos. Apesar de algumas interpretações positivas sobre as conseqüências dessas diretrizes, elas perdem facilmente a força pois são voluntárias, ou seja, cada país pode adotá-las ou não, conforme a sua vontade.

Um plano para a implementação da CDB

As discussões sobre um plano estratégico de implementação para a CDB ilustram a insatisfação dos países membros com sua evolução. O plano adotado apenas reitera obrigações já existentes, não possuindo objetivos ou indicadores concretos.

A única exceção, festejada por muito países, é a adoção da estratégia global para a conservação de plantas, que possui objetivos claros, indicadores concretos, cronograma explícito e potencial para ser um modelo na conciliação de prioridades internacionais e ações nacionais. Acredita-se que o enfoque adotado nessa estratégia pode servir de precedente para as futuras discussões na CDB e, mais do que tudo, pode funcionar como um instrumento de implementação da convenção.

Prêmio motosserra de ouro vai para o Brasil

Por fim, analisemos o mais triste desses casos, a adoção de um programa sobre biodiversidade florestal. Ao examinar esse tópico, é necessário levar em conta a posição brasileira nessa discussão, que mereceu das ONGs o prêmio “motosserra de ouro”, dedicado àqueles que mais “atrapalham” as negociações e impedem os avanços da promoção do uso sustentável e conservação das florestas na convenção.

O objeto dos debates na conferência era a adoção do programa elaborado pelo SBSTTA (grupo subsidiário de aconselhamento científico, técnico e tecnológico da CDB) em novembro de 2001.

O programa possui 130 atividades e o grande desafio da conferência era encontrar maneiras de priorizar algumas delas. Desde o primeiro momento, havia uma polarização entre os países que não queriam que as prioridades fossem estabelecidas no âmbito internacional e os que consideravam essencial o estabelecimento dessas medidas para assegurar o futuro do programa e das florestas.

O Brasil liderou o grupo dos partidários de prioridades decididas apenas nacionalmente. O grupo oposto foi comandado pela União Européia. A polarização da discussão em torno dessa questão fez com que os debates se arrastassem sem nenhum progresso por vários dias.

Por fim, por insistência do Brasil, adotou-se um programa sem prioridades internacionais. Em várias outras questões relativas ao programa de biodiversidade florestal, a delegação brasileira insistiu em determinadas posições, aparentemente sem nenhuma outra justificativa, a não ser retardar as discussões e talvez até mesmo colocar em risco a adoção do programa.

Questões sem resposta

Diante desse comportamento da delegação brasileira, cabe perguntar se o Brasil queria evitar a adoção do programa de biodiversidade florestal ou se o país tem interesse em impedir o estabelecimento de um programa forte e consistente de biodiversidade florestal no âmbito da CDB. Se esse for o caso, por quê?

Muito do discurso brasileiro é pontuado pela questão da soberania sobre nossos recursos biológicos. Se essa questão fosse efetivamente a fonte do temor diante de um programa forte de biodiversidade florestal, valeria indagar: soberania para quê? Soberania para desenvolver um novo modelo de ocupação da terra nos ambientes de floresta, como na Amazônia, respeitando o direito e os modos de vida dos povos indígenas e comunidades locais e usando de forma mais racional os recursos naturais, ou soberania para promover um modelo predatório de ocupação, que inclui a presença constante de corporações cujos interesses não passam sequer perto do desenvolvimento sustentável, sem nenhuma cobrança internacional?

O posicionamento de nossos representantes nesse fórum de negociação internacional traz a tona a questão da democratização da política externa do país e a participação da sociedade brasileira nesses processos. Além de não existirem meios institucionalizados para a sociedade civil e os demais setores do governo conhecerem as posições que o país leva para tais encontros, não há uma prestação de contas para a sociedade do ocorrido nos fóruns internacionais de negociação.

Aparentemente há um descompasso entre os ministérios integrantes da delegação brasileira, como assessores técnicos e o Itamaraty. É difícil crer, por exemplo, que não houvesse interesse da parte do Ministério do Meio Ambiente da adoção de um programa forte de biodioversidade florestal.

O triste resultado disso é um programa abaixo das expectativas, um prêmio “motosserra de ouro” para o currículo do país, uma série de perguntas que não querem calar sobre as posições brasileiras na sexta conferência dos países membros da CDB e um enorme abismo entre a sociedade brasileira - que mostrou recentemente, numa pesquisa de opinião, seu interesse em conservar as florestas - e os representantes brasileiros na convenção que, acima de tudo, falharam em responder a tais anseios.

 
 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Nurit Bensusan)

 
 
 
 
 
 

 

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