O título
é concedido a brasileiros que se destacam
por trabalhar pelo desenvolvimento do Brasil. Manchineri,
atual dirigente da Coordenação das
Organizações Indígenas da Bacia
Amazônica (Coica), irá recebê-lo
da Câmara de Vereadores da Cidade de São
Paulo, nesta quinta-feira (18/04), antecedendo as
comemorações do Dia do Índio
A idéia de entregar o título
de Cidadão Paulistano ao líder indígena
surgiu em julho do ano passado, quando o vereador
Eliseu Gabriel (PDT) leu uma reportagem no jornal
Folha de S. Paulo sobre a intervenção
dos Estados Unidos contra o narcotráfico
na Amazônia. O que mais chamou sua atenção
na matéria foram as declarações
de Sebastião Manchineri contra a ação
norte-americana. Na época, o índio,
com 31 anos, tinha sido eleito o primeiro coordenador-geral
brasileiro da Coica , uma instituição
que reúne mais de 400 povos indígenas
dos nove países que integram a Bacia Amazônica
(Brasil, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela,
Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Bolívia).
Fundada em 1984, com sede em Quito, no Equador,
a organização tem como objetivo principal
assegurar a participação dos povos
indígenas amazônicos na agenda internacional.
Ao pesquisar a vida de Haji Yine – o nome de origem
de Sebastião entre o povo Manchineri - ,
o vereador Eliseu Gabriel descobriu que, após
deixar a aldeia Mamoadate, no Acre, aos 15 anos,
ele deu início a uma longa trajetória
no movimento indígena. Passou pela Fundação
Chico Mendes, pela Coordenação das
Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira (Coiab), pelo Conselho de Articulação
dos Povos e Organizações Indígenas
do Brasil (Capoib) e pela União Nacional
dos Índios (UNI-Acre), além de ter
sido representante indígena da Organização
das Nações Unidas (ONU) e da Organização
dos Estados Americanos (OEA).
Havia, portanto, motivos de sobra para conceder-lhe
a mais alta honraria prevista na lei orgânica
do município de São Paulo: o título
de cidadão. Para entregá-lo, será
realizada na Câmara dos Vereadores uma cerimônia
no dia 18/04, às 15 horas, onde estarão
presentes autoridades, representantes indígenas
e de organizações da sociedade civil,
além de índios Guarani de Parelheiros,
região sul da cidade de São Paulo,
que irão homenageá-lo com cantos tradicionais.
Conquistas e desafios do movimento
indígena
Em entrevista à reportagem
do Instituto Socioambiental (ISA), Manchineri destacou
sua participação em duas conquistas
do movimento indígena, desde que iniciou
seu trabalho, há 17 anos: o fim do isolacionismo
das organizações indígenas,
por meio de articulações com instituições
financeiras, ONGs e órgãos governamentais;
e o fortalecimento do próprio movimento a
partir de uma linha de ação mais propositiva,
do aumento da cooperação entre as
organizações e da elaboração
de propostas coletivas em políticas indígenas.
"O desafio agora é ampliar a compreensão
de nossa diversidade e fazer respeitar nossos ideais
fora do ambiente indígena", definiu.
Quanto aos problemas enfrentados pelos índios
na Amazônia, o combate à violência
e à invasão das Terras Indígenas
para o desenvolvimento de atividades econômicas
continuam no topo das prioridades. Manchineri fez
ainda uma ressalva quanto ao contexto social na
região: "A pobreza, a droga e a guerrilha
não são problemas inerentes à
Amazônia e sim reflexo da falta de soberania
dos governos sobre seus recursos naturais e suas
populações".
Como coordenador-geral da Coica, o líder
indígena explicou que está colocando
em prática um programa com cinco prioridades
interligadas: a elaboração de uma
agenda indígena amazônica, o estímulo
ao desenvolvimento sustentável, a proteção
dos recursos naturais, a consolidação
dos direitos indígenas e a profissionalização
e o fortalecimento institucional.
Quem são os Manchineri
Povo de língua Aruák,
esses índios se auto-denominam Yine. O nome
Manchineri ou Machineri vem do Peru, país
que faz fronteira com o estado do Acre, onde está
localizada a Terra Indígena Mamoadate, junto
à cabeceira do Rio Iaco. Segundo dados de
1999 da Comissão Pró-Índio
do Acre (CPI-AC), publicados no livro Povos Indígenas
do Brasil 1995-2000, os Manchineri somam 459 indivíduos.
Os relatos de contato com esses índios datam
do século XIX, quando esporadicamente negociavam
a troca de seus tecidos por artigos de metal.