O ministro do Meio Ambiente,
José Carlos Carvalho, afirmou que a discussão
sobre a questão da pobreza na Conferência
das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável (Rio+10), que será realizada
em Johanesburgo, não pode excluir os outros
graves problemas ambientais mundiais. "O modelo
econômico que permite o aumento da pobreza
é o mesmo que promove a degradação
ambiental", disse, na última quarta-feira,
ao receber a visita do vice primeiro-ministro da
Grã-Bretanha, John Prescott.
Ele informou ao vice primeiro-ministro que o Brasil
pretende discutir seriamente a mudança nos
padrões de consumo dos países desenvolvidos,
por considerar que este modelo de desenvolvimento
é diretamente responsável pelo agravamento
dos problemas ambientais. "A assimetria existente
hoje acentua o poder das economias centrais e agrava
as dificuldades dos países em desenvolvimento",
afirmou o ministro.
Carvalho destacou que os problemas ambientais se
acentuaram desde 1992 em função da
globalização. Ele disse, no encontro
com o representante do governo britânico,
que não há mais espaço para
se fazer apologia sobre a necessidade de proteger
o meio ambiente. "É preciso adotar ações
concretas e com prazos de cumprimento definidos.
Não iremos resolver o problema da pobreza
com filantropia internacional", destacou o
ministro.
Segundo John Prescot, que visita diversos países
discutindo as posições britânicas
a serem apresentadas na Conferência, a ênfase
da participação britânica em
Johanesburgo será o combate à pobreza
nos países subdesenvolvidos.
Na opinião de Carvalho, entretanto, a discussão
em Johanesburgo deve ser feita no contexto da Rio-92,
ou seja, na busca de alternativas para o desenvolvimento
sustentável. Ele defende, ainda, a definição
de instrumentos concretos de cooperação
bilateral pelos quais os países mais ricos
possam auxiliar os países pobres e os em
desenvolvimento.
Segundo o ministro, não é possível
dissociar pobreza da sustentabilidade. Ele destacou
que rediscutir a ordem econômica mundial é
fundamental para possibilitar a elevação
do padrão de renda nos países pobres
e em desenvolvimento. O ministro lembrou que o conceito
de desenvolvimento sustentável pressupõe
o combate à pobreza.
De acordo com Fábio Feldman, coordenador
da participação brasileira na Rio+10,
que também esteve presente ao encontro, se
a discussão ficar centrada na pobreza, especialmente
na pobreza africana, como pretendem os países
mais ricos, a agenda da Conferência terá
o foco alterado. "O Brasil está solidário
com os países africanos mas, se forem excluídas
as questões relativas ao desenvolvimento
sustentável, em vez de discutirmos uma agenda
Norte-Sul, estaremos discutindo uma agenda Sul-Sul",
disse Feldman.