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CENSO 2000 DO IBGE REVELA CONTINGENTE “INDÍGENA” POUCO CONHECIDO

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2002

701.462 brasileiros se auto-identificaram como "índios" aos recenseadores do IBGE em 2000. Isso significa um aumento surpreendente, o dobro do total apurado pelo Censo de 1991. Como explicar?

Só em 1991, o questionário da amostra do censo demográfico do IBGE incluiu a categoria “índio” na variável cor da pele, acrescentando-a às tradicionais categorias de “preto”, “amarelo”, “branco” e “pardo”. Todas são categorias excludentes de auto-identificação, à disposição dos entrevistados por amostragem.

Antes de 1991, os que se auto-identificavam como índios eram incluídos pelo IBGE na categoria “pardos”, mimetizados nessa categoria residual criada para classificar aqueles que não fossem brancos, pretos ou amarelos. Os países que realmente querem conhecer a composição étnica da população fazem censos específicos para cada etnia, pelas línguas faladas, por exemplo, como ocorre no México. Nos Estados Unidos, são realizados censos por etnias específicas nas quais os American´s indians se enquadram como Sioux , Crow etc. Há outros casos em que são feitos censos específicos para as diferentes etnias, como no Paraguai, Colômbia e Venezula.

No Brasil, o questionário do censo demográfico do IBGE de 2000 não contempla a questão da etnia. Portanto, não dá para saber se, de fato, os que se auto-classificaram como “índios” no censo 2000 reconhecem vinculação específica a uma etnia ou são apenas "índios genéricos".

Certamente a explicação para a duplicação da população que se considera indígena nos dez anos entre os censos é uma composição de fatores que inclui: (a) o crescimento demográfico real da maior parte das 218 etnias sobre as quais há informações confiáveis mesmo através de outras fontes que não o IBGE; (b) o fato de que populações indígenas urbanas que normalmente escapam aos censos tradicionalmente feitos para povos indígenas específicos se declararam como tais aos recenseadores do IBGE; (c) o aparecimento de um contingente de pessoas que se classificaram genericamente como “índios”.

Parte daqueles “índios” recenseados nas cidades pode estar inflacionando os cômputos finais do IBGE, pelo fato de que hoje em dia se pode observar o fenômeno da multilocalidade de alguns povos indígenas, os quais mantêm um domicílio na cidade e outro na comunidade situada dentro de uma terra indígena, por exemplo. Isso pode ter causado dupla contagem.

Mesmo considerando tudo isso, faltam explicações ao fato novo que os dados preliminares do IBGE revelam.
As informações que o ISA vêm divulgando permanentemente sobre populações indígenas baseiam-se em um conjunto de recenseamentos completos feitos em campo por diferentes fontes e referem-se apenas a povos indígenas específicos, que se reconhecem e são reconhecidos como tais. Frequentemente, a parte da população que se encontra fora das aldeias e das terras indígenas, vivendo em cidades, sobre as quais há estimativas vagas, costuma escapar da contagem desses censos étnicos. Porém, mesmo as estimativas mais otimistas, nunca passaram de 550 mil. Portanto, o patamar de 700 mil divulgado agora pelo IBGE é uma novidade que merece explicações apropriadas, o que somente será possível com análises dos dados decupados por localização, por exemplo.

Enquanto esses dados não vêm, vale especular sobre o que poderia explicar esse aumento surpreendente: o Brasil viveu na última década um tempo de valorização étnica, que teve início com o crescimento do movimento indígena pós- Constituição de 1988, passou pelos 500 anos da América e do Brasil.

Pode-se somar a isso o possível impacto da divulgação dos resultados de pesquisas genéticas no imaginário da população. Uma pesquisa para identificar o "DNA dos brasileiros" feita na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujos resultados foram amplamente divulgados pela mídia, revelou que cerca de 45 milhões de brasileiros têm descendência indígena.

Além do mais, desde 1999, com a implantação de 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas em todo o país, pode-se supor que uma onda de expectativa de acesso diferenciado a serviços médicos possa ter animado muita gente declarar-se "índio". Esse ambiente pode reforçar, por vários caminhos, a "síndrome da avó indígena" o que, de resto, seria tão legítima quanto o movimento de descendentes italianos de quarta geração que buscam obter passaporte europeu na esperança de facilidades para uma vida melhor.
Marta Azevedo e Fany Ricardo

 
 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 
 
 

 

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