Panorama
 
 
 

FUNDAMENTOS FALSOS PARA O DIESEL NOS VEÍCULOS LEVES

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2002

Professor José Goldemberg, secretário estadual do Meio Ambiente

Vem sendo discutida na mídia, com certa freqüência, a possibilidade de serem permitidos no Brasil os veículos leves movidos a diesel. Seus defensores se justificam pela idéia do livre mercado. Argumenta-se, inclusive, que nos outros países esta é uma prática comum.

Entretanto, trata-se de uma política que carece de fundamentos técnicos, ambientais e econômicos.
Em termos técnicos e ambientais, deve ser observado que, apesar de ser o motor a diesel mais eficiente, suas emissões poluentes são mais danosas que as dos motores a gasool (gasolina com 22% de álcool), especialmente, os óxidos de nitrogênio (NOx) que, junto com os óxidos de enxofre (SOx), são os formadores da chuva ácida, sendo também precursores da formação, nos dias quentes com intensa radiação solar, do preocupante ozônio troposférico (O3).

As emissões médias de NOx de um automóvel a diesel de última geração são mais de três vezes maiores do que aquelas dos motores a gasool ou álcool, o que é particularmente crítico para o meio ambiente de grandes cidades tropicais como São Paulo.

Há, ainda, o material particulado fino (MP2,5), formado por minúsculas partículas com diâmetros inferiores a 2,5 micra (milésimos de milímetro), que penetram nas regiões mais profundas dos pulmões (alvéolos), carregando consigo sulfatos e hidrocarbonetos policíclicos e aromáticos de altíssima toxicidade.

Recente estudo do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo mostra que as altas concentrações atmosféricas de O3 e MP2,5 na Região Metropolitana de São Paulo são correlacionadas com milhares de ocorrências de doenças respiratórias e óbitos anuais, especialmente entre crianças e idosos. Essa inflada morbi-mortalidade foi associada pelo Banco Mundial a custos sociais de centenas de milhões de reais anuais.

A "Revista Science" também publicou estudo a esse respeito, com a participação de pesquisador da Faculdade de Medicina da USP, realizado nas cidades do México, Nova Iorque, Santiago e São Paulo. Nessas quatro cidades, poderiam ser evitadas entre 2001 e 2020, com a redução em 10% das concentrações de O3 e NOx, cerca de 64 mil mortes prematuras, 65 mil casos de bronquite crônica e 37 milhões de pessoas-dia de atividades restringidas ou dias de trabalho perdidos, causados por sintomas relacionados com os altos níveis de contaminação por esses dois poluentes. Segundo os autores, esse estudo tem caráter conservador, devido ao fato de não terem sido levados em conta os efeitos na saúde por outros poluentes como o benzeno, hidrocarbonetos policíclicos e aromáticos, e outros contaminantes tóxicos que, indiretamente, também seriam reduzidos no âmbito das medidas convencionais de prevenção e controle da poluição do ar.

Por sua vez, a Agência de Proteção Ambiental da Suécia estimou que, se as vendas de veículos a diesel aumentassem de 1 para 20%, as emissões de NOx dobrariam e as de particulados seriam duas vezes e meia maiores. Segundo os mesmos estudos, as emissões de carros novos a diesel são 3 a 4 vezes mais cancerígenas do que aquelas de automóveis a gasolina e as emissões de particulados são 10 a 15 vezes maiores.

Mais ainda, esses dados se referem às especificações do diesel naquele país, onde o teor de enxofre é de 10 ppm (partes por milhão), o que não corresponde absolutamente à realidade brasileira. No Brasil, o diesel comercial comum tem ainda um teor de enxofre muito alto, de 3.500 ppm, e o Diesel Metropolitano, de 2.000 ppm (200 vezes maior que o diesel sueco!), sem perspectiva de redução no curto prazo. Considerando esses baixos teores de enxofre de seu diesel, os suecos também calcularam um custo social devido à poluição de $ 2,00 Coroas Suecas para cada litro de diesel, contra apenas $ 1,00 Coroa Sueca para a gasolina.

Em termos macroeconômicos, a situação é igualmente crítica. O diesel representa um gargalo significativo na matriz energética brasileira. Em vista do elevado consumo no setor de transporte de carga e no setor de geração elétrica descentralizada (principalmente nas comunidades isoladas da Amazônia), o Brasil é obrigado a utilizar um perfil de refino que produz o máximo possível de diesel, o que gera um excedente de gasolina a ser exportado.

Mesmo assim, ainda é necessário importar diesel puro, para complementar a oferta. Em 2000, por exemplo, foram gastos (segundo a Agência Nacional de Petróleo) 1,2 bilhões de dólares (FOB) com a importação de diesel puro para garantir a oferta desse combustível, montante equivalente a aproximadamente 40% do total do dispêndio financeiro na importação de derivados de petróleo.

Além disso, como se sabe, para manter reduzidos os custos de transporte coletivo e de carga no país, há subsídios especiais ao diesel - subsídios estes pagos por todos os consumidores de automóveis a gasolina. Assim, a idéia de permitir a introdução de veículos a diesel é perversa, pois iria beneficiar apenas uma parcela reduzida da população, que são os potenciais proprietários de automóveis de passeio, com prejuízos não apenas ao meio ambiente, como também à balança de pagamentos do País.

Apesar da produção crescente de petróleo nacional e dos seus derivados no país - a produção do diesel aumentou em 10 milhões de m3 entre 1991 e 2000 -, ainda permanece a dependência externa de combustíveis, em vista do consumo cada vez mais elevado.

Por todos esses motivos, a redução no consumo de diesel no país, tanto no setor de transporte como no setor elétrico, deve ser um objetivo a ser atingido a curto prazo.

Mais ainda, essa necessidade vai ao encontro da tendência mundial de redução nas emissões de carbono responsáveis pelo efeito estufa, dentro das negociações do Protocolo de Quioto.

A defesa da liberação da produção e comercialização de veículos leves a diesel vem, portanto, na contramão da tendência mundial de implementação de políticas sustentáveis. Na verdade, dever-se-ia estudar possibilidades para a substituição do óleo diesel por outros energéticos de forma técnica e ambientalmente adequada, como os combustíveis renováveis.

(Artigo publicado no jornal Gazeta Mercantil, edição de 10 de maio de 2002, página 3, seção Análises e Perspectivas)

 
 

Fonte: SMA – Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo (www.ambiente.sp.gov.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 
 
 

 

Universo Ambiental  
 
 
 
 
     
SEJA UM PATROCINADOR
CORPORATIVO
A Agência Ambiental Pick-upau busca parcerias corporativas para ampliar sua rede de atuação e intensificar suas propostas de desenvolvimento sustentável e atividades que promovam a conservação e a preservação dos recursos naturais do planeta.

 
 
 
 
Doe Agora
Destaques
Biblioteca
     
Doar para a Agência Ambiental Pick-upau é uma forma de somar esforços para viabilizar esses projetos de conservação da natureza. A Agência Ambiental Pick-upau é uma organização sem fins lucrativos, que depende de contribuições de pessoas físicas e jurídicas.
Conheça um pouco mais sobre a história da Agência Ambiental Pick-upau por meio da cronologia de matérias e artigos.
O Projeto Outono tem como objetivo promover a educação, a manutenção e a preservação ambiental através da leitura e do conhecimento. Conheça a Biblioteca da Agência Ambiental Pick-upau e saiba como doar.
             
       
 
 
 
 
     
TORNE-SE UM VOLUNTÁRIO
DOE SEU TEMPO
Para doar algumas horas em prol da preservação da natureza, você não precisa, necessariamente, ser um especialista, basta ser solidário e desejar colaborar com a Agência Ambiental Pick-upau e suas atividades.

 
 
 
 
Compromissos
Fale Conosco
Pesquise
     
Conheça o Programa de Compliance e a Governança Institucional da Agência Ambiental Pick-upau sobre políticas de combate à corrupção, igualdade de gênero e racial, direito das mulheres e combate ao assédio no trabalho.
Entre em contato com a Agência Ambiental Pick-upau. Tire suas dúvidas e saiba como você pode apoiar nosso trabalho.
O Portal Pick-upau disponibiliza um banco de informações ambientais com mais de 35 mil páginas de conteúdo online gratuito.
             
       
 
 
 
 
 
Ajude a Organização na conservação ambiental.