Panorama
 
 
 

ISA E ATIX PROMOVEM ENCONTRO SOBRE ORGANIZAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO PARA OS ÍNDIOS DO XINGU

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2002

Encontro realizado de 27 a 31/05 com 28 lideranças indígenas, representando cinco das 14 etnias do Parque do Xingu, abordou a estrutura e o funcionamento dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além de explicar leis que tem impacto direto sobre os povos indígenas

Um traço marcante do dia-a-dia no Parque Indígena do Xingu (PIX) é a comunicação intensa que as 14 etnias da região mantém entre si. Seja pelo contato direto, ou pela troca de informações via rádio.

Por outro lado, o intercâmbio com povos que habitam outras regiões do Brasil é mínimo e as informações que os índios xinguanos recebem sobre a vida política do país são reduzidas dificultando sua inserção em discussões importantes como a proteção de seus direitos, o acesso aos recursos genéticos e a questão da tutela e da reformulação do Estatuto dos Povos Indígenas.

Informar algumas lideranças sobre as formas de organização e ação do Estado foi o objetivo do encontro, que era também uma antiga demanda da Associação Terra Indígena Xingu (Atix), parceira local do Instituto Socioambiental (ISA). A idéia é promover novos encontros para englobar as etnias que não participaram deste primeiro evento.

Os líderes indígenas apresentaram alguns aspectos da organização do poder local, das "leis" dos índios e da importância do cacique, que tradicionalmente é o responsável pelas decisões nas comunidades. "Um chefe tem que saber organizar grande festa, saber o que acontece na aldeia, fazer o entrosamento com outras aldeias e fazer artesanato, para dar exemplo aos mais jovens", explicou o chefe Kamitawi Kaiabi. Além de explicar a estrutura e o funcionamento geral dos três Poderes constituintes do Estado brasileiro, a equipe do ISA - formada por Adriana Ramos, coordenadora do Programa Brasil Socioambiental, Ana Flávia Rocha e Raul Silva Telles do Valle, advogados do Programa Direito Socioambiental, e Marina Kahn, coordenadora do Projeto de Capacitação de Parceiros Locais- aprofundou o debate sobre temas de grande importância para os índios.

Por exemplo, o conteúdo do Artigo 231 da Constitutição Federal, que regula questões relativas às terras indígenas foi detalhado e explicado de modo a esclarecer o direito de usufruto exclusivo da terra, ou seja, alertá-los para o fato de que apenas os índios têm acesso e podem manejar os recursos naturais existentes em suas terras. Também, a questão da mineração entrou na pauta, demanda de um grupo formado por três índios Wajãpi, do Amapá, que estava participando do encontro. Esse povo vem sofrendo forte pressão de mineradores. O Artigo 231 afirma que somente os índios podem autorizar atividades de mineração em suas terras. Porém essa disposição contida no artigo ainda deve ser regulamentada por lei complementar.

Recursos Genéticos

Outro assunto em questão foi o acesso aos recursos genéticos, que atualmente é regulamentado por uma Medida Provisória e que possui um Projeto de Lei em tramitação. No centro da discussão estava a questão da repartição de benefícios da exploração dos recursos genéticos, quando esta é associada ao conhecimento tradicional dos índios.

Diversas lideranças mostraram preocupação com o fato de que pesquisadores vêm às áreas indígenas, levantam informações sobre uso de plantas com os índios e não estabelecem nenhum tipo de acordo em relação ao uso desse conhecimento. Para ilustrar os procedimentos previstos em lei para esse tipo de ação, a equipe do ISA e algumas lideranças realizaram uma simulação sobre a entrada de um pesquisador na área e as negociações e trâmites legais necessários para a aprovação de sua pesquisa e remuneração dos índios.

Sementes foi assunto de um módulo especial no encontro. Geraldo Mosimann, coordenador de projeto do Programa Xingu do ISA, fez uma apresentação sobre como as inúmeras variedades de espécies agrícolas cultivadas pelos índios são de grande importância para instituições de pesquisa que fazem manipulação genética e desenvolvem sementes com propriedades híbridas. A Lei de Cultivares determina que, quando isso ocorre, os detentores dos grãos originais não têm direito a benefícios da comercialização do produto, já que se trata de uma nova espécie, e podem ser impedidos de utilizar suas sementes tradicionais. Daí a preocupação com as sementes de terras indígenas, para não sejam levadas para fora das aldeias.

Estatuto

Finalmente houve um debate em torno do Estatuto dos Povos Indígenas. Foi explicado aos índios que essa lei permanece inalterada desde 1973 e que, até o momento, as tentativas de modificá-la não avançaram. Quando foi apresentado o conceito de tutela - a lei que considera que os índios são incapazes e precisam ser assistidos pelo Estado, papel desempenhado hoje pela Fundação Nacional do Índio (Funai), os índios ficaram indignados e protestaram. "Nós aprendemos as coisas do branco e continuamos com nossa tradição. Mas se um índio colocasse um branco na floresta, ele não conseguiria nem construir uma casa", disse Yefuka Kaiabi.

As lideranças indígenas foram unânimes ao afirmar que a realidade dos povos indígenas organizados em associações, para desenvolver projetos de desenvolvimento sustentável e lutar pelos seus direitos, não é compatível com o conceito da tutela. Para aprofundar o debate em um futuro encontro, cada liderança recebeu uma cópia do projeto de lei do deputado Luciano Pizzato, que faz alterações no Estatuto.

Balanço

Ao final do encontro, os participantes apresentaram algumas considerações sobre os assuntos discutidos e reiteraram a necessidade de novas reuniões. "A FUNAI nunca tinha esclarecido essas questões para nós, como é o seu papel. Saber como funciona o governo ajuda muito o nosso relacionamento com o branco", afirmou Makupá Kaiabi, diretor executivo da Atix.

"A valorização que os índios deram a essa oportunidade de se conseguir informação de qualidade merece destaque", disse Marina Kahn. Para Adriana Ramos, esse tipo de encontro é uma necessidade para os índios que são forçados a interagir com instituições públicas, sem ter a clareza de como funcionam. "Para quem se interessa por políticas indígenas é fundamental a interação direta, cujo acesso nem sempre é possível às ONGs da área".

 
 
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Ricardo Barretto)
 
 
 
 
 
 

 

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